O Experimento do Rat Park


Os experimentos tradicionais sobre dependência em ratos geralmente envolviam isolar os animais em pequenas gaiolas e oferecer-lhes livre acesso a drogas ou a água. A maioria dos ratos, acabavam por consumir muita droga e nessas condições, desenvolvia uma dependência severa.

O Psicólogo Canadense Bruce Alexander questionou essas condições experimentais. Ele acreditava que o ISOLAMENTO SOCIAL INTERFERIA NA BUSCA FÁCIL PELA DROGA e a falta de estímulos SOCIAIS poderiam estar contribuindo para o desenvolvimento da dependência.


Para testar sua hipótese, ele criou o "Rat Park": um ambiente rico e estimulante, com outros ratos, brinquedos, túneis e tudo o que um rato poderia desejar. Ele ofereceu tanto água com drogas quanto água pura aos ratos nesse ambiente.
S
ua pesquisa inovadora sobre a dependência de drogas ficou mundialmente conhecido por um experimento que desafiou as ideias convencionais sobre o vício. O experimento do Rat Park consistia em comparar o comportamento de ratos em dois ambientes distintos: um isolado e sem estímulos, e outro rico em estímulos sociais e ambientais. Os resultados foram surpreendentes: os ratos no ambiente rico consumiam muito menos drogas do que aqueles em isolamento, sugerindo que a dependência não é apenas uma questão individual, mas também um problema social e ambiental. Ele repetiu o experimento algumas vezes antes de publica-lo na década de 1970.


Os resultados foram surpreendentes:

  • Os ratos no Rat Park preferiram a água pura: Mesmo com livre acesso às drogas, a maioria dos ratos escolheu a água pura, mostrando que a dependência não era inevitável.

  • A interação social e o ambiente rico eram fatores protetores: A presença de outros ratos e um ambiente estimulante reduziu significativamente o consumo de drogas.

O que isso significa?

Alexander concluiu que a dependência de drogas não é apenas uma questão individual, mas também um problema social e ambiental. A falta de conexões sociais, o estresse e a falta de propósito podem aumentar a vulnerabilidade ao vício.

Implicações para os Humanos

Os resultados do Rat Park têm implicações importantes para a nossa compreensão da dependência em humanos. Sugerem que:

  • O ambiente social é crucial: A qualidade das relações sociais e o nível de apoio social podem influenciar o desenvolvimento e a manutenção da dependência.

  • O tratamento da dependência deve ser holístico: Além do tratamento da substância em si, é fundamental abordar os problemas sociais e psicológicos subjacentes.

  • A prevenção deve focar na criação de ambientes saudáveis: Promover comunidades fortes, reduzir o estresse e oferecer oportunidades de desenvolvimento pessoal são formas de prevenir a dependência.

Críticas e Debates

A pesquisa de Alexander gerou muita discussão e debate. Alguns críticos argumentam que os ratos não são humanos e que os resultados não podem ser generalizados. Outros defendem que os experimentos de Alexander revelam uma verdade fundamental sobre a natureza da dependência.

Independentemente das críticas, o trabalho de Alexander nos convida a repensar a forma como abordamos a dependência. Ele nos mostra que a dependência é um problema complexo com raízes sociais e ambientais, e que a solução não está apenas nas mãos do indivíduo, mas também da sociedade como um todo.

Fica algumas questões para analisar:
  • Até que ponto podemos generalizar os resultados dos estudos com ratos para os humanos?
  • A importância das conexões sociais na saúde mental e como as relações sociais podem proteger contra a dependência e outros problemas de saúde mental?

  • As implicações das pesquisas de Alexander para as políticas públicas: Como os resultados desses estudos podem informar as políticas de prevenção e tratamento da dependência?




https://www.facebook.com/reel/892511172471192 https://www.observatoriodasadicoes.com.br/justificativa/


Downshifting!

Downshifting é um estilo de vida que envolve simplificar a vida, reduzir o estresse e focar em coisas mais importantes, como tempo com a família e hobbies. Em vez de buscar mais bens materiais, os downshifters priorizam a qualidade de vida e a satisfação pessoal.

Downshifting - do inglês - significa "reduzir a marcha" com o objetivo literal de desacelerar. Esse conceito migrou para o campo sociológico e suas premissas já aparecem nas críticas ao mundo do trabalho em Lafargue (1983), Russel (2001) e De Masi (2003).

Mas o que isso quer dizer? Muitas vezes, envolve mudar para um emprego menos estressante ou com menos horas, mesmo que isso signifique ganhar menos dinheiro.

Organizar seu consumo para comprar apenas o essencial, optar por produtos usados ou reciclados, e evitar compras impulsivas, ou focar na qualidade real e não no rótulo ou na etiqueta.

Outras escolhas recorrentes nessa "filosofia" esta em reduzir compromissos sociais desnecessários, passar mais tempo em atividades que proporcionam felicidade e bem-estar, como hobbies ou exercícios físicos. O que significa mudança de Estilo de Vida! Pode incluir mudar para uma casa menor, usar transporte público ou bicicleta em vez de um carro, e adotar práticas mais sustentáveis.

O objetivo é encontrar um equilíbrio melhor entre trabalho e vida pessoal, e muitas vezes resulta em uma vida mais sustentável e satisfatória. Você já considerou adotar algum desses princípios?

Lentamente eu, muito organicamente passei a viver assim.

Acho que isso começou em momentos diferentes da minha vida e foram se somando até se estruturarem de forma despretensiosa em minha vida.

Em um momento eu me percebi insatisfeito com o estresse do trabalho... e da sensação de que eu trabalhava para o banco e não para mim ou minha família!

Comecei a me interessar por comida "Slow Food" (movimento com objetivo de promover uma maior apreciação da comida, melhorar a qualidade das refeições e uma produção que valorize o produto, o produtor e o meio ambiente) que fez me dedicar em fazer comida de qualidade com alimentos de feiras de rua e de produtores de próximo da minha cidade.

De outro lado eu passei a praticar meditação Zen pra tentar alinhar minha cabeça barulhenta e estressada dos plantões na UTI...

E por fim tive de lidar com a morte da minha mãe...

Essas coisas foram me trazendo uma percepção de que eu estava fora do meu próprio ritmo e precisava me afastar das "marés sociais". Enquanto todos queriam empreender e ganhar mais dinheiro eu passei a querer tempo livre, tranquilidade e simplicidade...

Troquei um trabalho que pagava mais e eu era acostumado e passei a trabalhar menos horas em um trabalho que me permite fazer a faculdade de psicologia que tanto desejava...

Vivo uma vida muito mais simples e muito mais prazerosa, atenta e feliz.


CONVERSAS ANÔNIMAS: Minha mulher me trai e me abandona... mas eu volto!




Membro Anônimo, bom dia!

Vamos por partes, pois espero que essa resposta possa ser útil para você, mas para outras pessoas também.

Então, vamos lá! Sigmund Freud percebeu, a um século atrás, que muitas das dinâmicas da nossa infância organizam nossas ações e pensamentos na vida adulta SEM a nossa consciência perceber! Então, uma forma de se avaliar o seu texto é que, SEM VOCÊ SE DAR CONTA, você "escolheu" a sua parceira e "responde" a "sua" "mulher" baseado em estruturas de pensamentos e ideias que forjou lá na infância.

Vários autores e pesquisadores da saúde mental no último século revisaram ou tentaram criar outras respostas para justificar as escolhas das pessoas e nisso se criaram diversas linhas (escolas, teorias) psicológicas até hoje!

O psiquiatra e psicanalista John Bowlby, trabalhou nas décadas de 1950 e 1960 essa teoria e desenvolveu a partir daí a "Teoria do Apego" onde ele comparou os "vínculos" formados na primeira infância e que papel eles desempenhavam no desenvolvimento emocional e mental de um adulto...

A teoria do apego, então, descreve a dinâmica de longo prazo das relações entre humanos, especialmente entre crianças e seus cuidadores. De acordo com essa teoria, existem quatro tipos mais comuns de apego e cada pessoa reage a essa dinâmica na vida adulta.

Por exemplo: se uma criança se sente segura e protegida pelos seus cuidadores e explora livremente o seu ambiente infantil, enquanto o cuidador está presente e ficam angustiadas na ausência dele, mas retorna a tranquilidade quando percebe o cuidador lhe dando atenção... Tudo bem! Essa criança será um adulto com "apego seguro" e tendem a ter uma visão positiva de si mesmos e de suas relações, com habilidades saudáveis de comunicação e uma confiança básica de que podem depender dos outros.

Agora pense em uma criança que PERDE A REFERÊNCIA do adulto e não tem certeza se esta protegida ou que pode se virar (se proteger) no ambiente infantil!!! Acaba se desenvolvendo uma criança excessivamente dependente, ansiosa, insegura e temendo o abandono, demonstrando "desespero" quando o cuidador está ausente.

Quando se torna adulto essa pessoa pode ser excessivamente carente, inseguro e ansioso em suas relações, constantemente buscando validação e temendo rejeição. Aceitando relações que vão falhar com ele... certamente.

Não porque ele se odeie...

Não por não saber amar...

Mas porque foi a única maneira de SER AMADO que ele conheceu!

Se ele se habituou a ser traído e abandonado pelos cuidadores e PASSOU A ACREDITAR QUE ISSO É AMOR... ele não conhece outra forma de ser amado!

Então, essa sua situação pode ser interpretada como um padrão de apego inseguro, possivelmente ansioso.

Esse tipo de apego tende a ter um medo profundo de abandono e uma necessidade constante de validação, o que pode levar a uma tolerância excessiva ao comportamento nocivo de parceiros.

Pessoas nessa estrutura de apego podem estar aceitando a traição e voltando para a relação por medo de ficar sozinha e pela esperança de receber amor e validação, mesmo que de forma torta e dolorosa. Isso cria um ciclo onde a busca por "segurança emocional" e a "evitação do abandono" que resultam em uma dinâmica prejudicial e autodestrutiva.

Em uma terapia com você eu tentaria pesquisar com você as raízes do seu sentimento de o que é "AFETO", o que é "AMOR" e o que deveria ser : "Ser amado!" em primeiro lugar.

Te ajudar a compreender SEUS reais "padrões" e a construir um sentido de segurança interna, que não dependa das ações voláteis das parceiras.

Você já pensou em como esses padrões de apego podem estar presentes em outras áreas da sua vida?

NECESSIDADES EMOCIONAIS BÁSICAS - uma leitura!


A Teoria do Esquema, desenvolvida pelo psicoterapeuta Jeffrey Young, é uma abordagem terapêutica que se baseia na ideia de que existem "necessidades emocionais" que se não são adequadamente satisfeitas na infância podem levar a padrões de comportamento disfuncionais na vida adulta. Essas necessidades emocionais básicas são fundamentais para o desenvolvimento saudável e incluem:

Aceitação e Conexão: Sentir-se aceito e conectado com os cuidadores, incluindo segurança, estabilidade e cuidado;

Autonomia e Competência: Ter a oportunidade de tentar coisas sozinho(a) e experimentar o mundo, passando pelo sucesso ou fracasso de suas tentativas;

Limites Realistas: Desenvolver uma compreensão realista dos próprios limites e do mundo ao redor;

Espontaneidade e Lazer: Ter a liberdade de se expressar e se divertir sem medo de julgamento;

Liberdade de Expressão e Emoções Válidas: Ser capaz de expressar suas emoções e necessidades de maneira saudável.

Essas necessidades emocionais surgem naturalmente no processo da infância no contexto ambiental, variam em suas manifestações em contextos culturais diversos e não ocorrem de uma forma linear no desenvolvimento... mas se manifestam em toda trajetória de vida em que as crianças são criadas e são "atendidas" principalmente pelos pais ou responsáveis: os cuidadores, resultam em um ótimo desenvolvimento do adulto que se formará. Isso quer dizer que o Adulto que tem essas necessidades básicas atendidas não ai sofrer ou seja uma garantia de felicidade? NÃO... quer dizer que esse adulto terá garantido as FERRAMENTAS emocionais necessárias para enfrentar a vida!

Mas e quem NÃO TEM ESSAS NECESSIDADES ATENDIDAS? A evolução garantiu uma capacidade de adaptação para aproveitar ao máximo o ambiente criado por esses cuidadores "
faltantes". Mesmo quando essas necessidades não são satisfeitas a pleno, a criança desenvolve "esquemas" que lhe adaptam ao ambiente como ele se apresenta, como formas de proteger a criança da "pior das hipótese", do pior cenário, e aí surgem os "esquemas desadaptativos", que são padrões de pensamento e comportamento disfuncionais que persistem na vida adulta.

Em uma simplificação: Um adulto com comportamentos emocionais disfuncionais esta usando os "esquemas" que a sua infância precisou criar para se proteger do ambiente que precisou enfrentar.

No melhor senário possível o papel evolutivo dessas "necessidades" é garantir que a criança se sinta segura, amada e capaz de explorar o mundo ao seu redor, o que é essencial para o desenvolvimento de uma personalidade saudável e funcional. Quando essas necessidades são atendidas, a criança cresce com uma base emocional sólida, o que facilita a resiliência e a capacidade de lidar com desafios futuros. Mas não é só isso, o cérebro infantil se desenvolve de maneira saudável, promovendo o crescimento de áreas críticas de suas estruturas neurais.

Por exemplo: A adequada relação com a necessidades emocionais de ser aceita e de desenvolver conexão com os cuidadores promove a liberação de oxitocina, que fortalece os laços afetivos e a segurança emocional.

Uma contínua demonstração de aceitação na sua autonomia e o estímulo em demonstrar confiança na suas competências instrumenta o desenvolvimento do córtex pré-frontal, essencial para a tomada de decisões e controle dos impulsos.

Ajudar a formar uma compreensão clara do mundo lhe apresentando limites realistas para suas capacidades e entendimento de progressos e esforço, além de contribuir para a regulação emocional e comportamental lhe ajuda a perceber que o mundo é composto de regras que vão além de nossos desejos...

Ainda assim demonstra que existirão ambientes onde a expressão criativa e a resiliência emocional será bem vinda, promovendo um ambiente seguro para explorar e aprender.

Isso permite que a criança desenvolva habilidades de comunicação eficaz e regulação emocional saudável. Esses fatores combinados contribuem para um desenvolvimento cerebral equilibrado, preparando a criança para enfrentar desafios futuros com resiliência e adaptabilidade.

Os humanos, como animais sociais, dependem fortemente de interações e vínculos emocionais para sobreviver e prosperar. As necessidades emocionais básicas são parte essencial para o desenvolvimento neurológico e social da criança, permitindo que elas cresçam de maneira saudável em seus ambientes sociais e, quando adultos, sejam capazes de gerarem ambiente seguros para as próximas gerações.

Essas necessidades garantem que as crianças desenvolvam habilidades como empatia, cooperação e comunicação eficaz, fundamentais para a vida em sociedade.

Em termos evolutivos, atender a essas necessidades fortalece os laços sociais e a coesão grupal, aumentando as chances de sobrevivência e bem-estar coletivo. Assim, criar um ambiente que satisfaça essas necessidades básicas é crucial tanto para o desenvolvimento individual quanto para a prosperidade de nossa espécie.

Jeffrey Young desenvolveu a sua base teórica para a Terapia do Esquema integrando várias abordagens psicológicas para tratar transtornos psicológicos crônicos que não respondiam bem a outras terapias.

As principais escolas e linhas psicológicas que ele incorporou são:

Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): Young expandiu os conceitos da TCC tradicional, desenvolvida por Aaron T. Beck, para incluir um foco mais profundo nos padrões de pensamento e comportamento desadaptativos que se formam na infância.

Gestalt: Elementos da terapia Gestalt são usados para ajudar os pacientes a se tornarem mais conscientes de suas experiências e emoções no momento presente.

Psicanálise: Young incorporou conceitos psicanalíticos, especialmente no que diz respeito à importância das experiências da infância e dos relacionamentos iniciais na formação dos esquemas.

Teoria do Apego: A teoria do apego de John Bowlby também é uma influência significativa, enfatizando como os vínculos emocionais formados na infância afetam o desenvolvimento emocional e comportamental.

Construtivismo: Esta abordagem enfatiza a construção ativa do conhecimento e da realidade pelo indivíduo, influenciando como os esquemas são formados e mantidos.

Ainda autores como Jean Piaget e seus trabalhos sobre o desenvolvimento cognitivo, que descrevem como as crianças constroem ativamente seu conhecimento do mundo e Diana Baumrind e seus estudos sobre estilos parentais (autoritário, autoritativo e permissivo) ajudaram Young a entender como diferentes práticas parentais influenciam o desenvolvimento de esquemas mentais nas crianças.

Esses teóricos forneceram uma base sólida para Young integrar conceitos de desenvolvimento infantil em sua abordagem terapêutica, permitindo uma compreensão mais profunda de como os esquemas desadaptativos se formam e se mantêm ao longo da vida.

Essas influências combinadas permitem que a Terapia do Esquema aborde uma ampla gama de problemas emocionais e comportamentais, oferecendo uma abordagem mais integrativa e abrangente para o tratamento.

Então, vamos conhecer as Necessidade Emocionais Básicas que Jeffrey Young elencou em seu trabalho:


A Aceitação e Conexão

"Aceitação e Conexão" são necessidades emocionais essenciais no desenvolvimento infantil, e envolvem sentir-se amado, seguro e valorizado pelos cuidadores. Isso cria uma base emocional sólida, promovendo esquemas adaptativos, que são padrões saudáveis de comportamento e pensamento.

 - Esquemas AdaptativosQuando uma criança se sente aceita e conectada, ela desenvolve confiança e autoestima. Ela aprende que suas necessidades e emoções são importantes e que pode contar com os outros para suporte. Isso resulta em esquemas adaptativos como:

Confiança em Relacionamentos: A capacidade de formar laços seguros e confiáveis com os outros.


Autovalor: Sentimento de merecimento de amor e respeito.


- Esquemas Desadaptativos - Por outro lado, a falta de aceitação e conexão pode levar a esquemas desadaptativos. Por exemplo:

Desconfiança/Abuso: Expectativa de que os outros irão machucar, enganar ou abusar.


Isolamento Social: Sensação de ser diferente dos outros e não pertencente.

Esses esquemas desadaptativos podem surgir de experiências como negligência, rejeição ou críticas excessivas. A criança pode crescer sentindo-se insegura, não merecedora de amor ou desconfiando das intenções dos outros.

Então, o cultivo de aceitação e conexão é vital não só para a felicidade imediata da criança, mas também para seu desenvolvimento psicológico a longo prazo. Se você deseja explorar mais algum aspecto específico, sinta-se à vontade para me dizer!


Autonomia e Competência 

Quando as crianças têm a oportunidade de explorar o mundo ao seu redor, tomar decisões e enfrentar desafios, elas desenvolvem um senso de independência e habilidade, formando esquemas adaptativos importantes.

 - Esquemas Adaptativos - Em um ambiente que promove a autonomia, a criança aprende que pode confiar em si mesma para resolver problemas e lidar com dificuldades. Isso contribui para:

Autoeficácia: A crença de que é capaz de realizar tarefas e objetivos.

Independência: A capacidade de tomar decisões e agir por conta própria.


- Esquemas Desadaptativos - Por outro lado, a falta de oportunidades para desenvolver autonomia e competência pode levar a esquemas desadaptativos, como:

Dependência/Incompetência: Sensação de não ser capaz de lidar com responsabilidades e de depender excessivamente dos outros.

Fracasso: Crença de que é incapaz de alcançar o sucesso em atividades importantes.

Esses esquemas desadaptativos podem surgir em ambientes onde a criança é superprotegida ou excessivamente criticada, impedindo-a de desenvolver a confiança em suas próprias habilidades.

A promoção de autonomia e competência é essencial para o desenvolvimento emocional e psicológico saudável das crianças, permitindo que cresçam como indivíduos resilientes e capazes.


Limites Realistas 

Estabelecer limites realistas é vital para o desenvolvimento infantil pois estes ajudam as crianças a entenderem o que é aceitável e o que não é, contribuindo para o desenvolvimento de autocontrole e responsabilidade.

 - Esquemas Adaptativos - Quando os pais ou cuidadores estabelecem e mantêm limites claros e consistentes, as crianças desenvolvem esquemas adaptativos saudáveis, como:

Autodisciplina: Capacidade de controlar seus impulsos e comportamentos.

Responsabilidade: Entendimento das consequências de suas ações.

 

- Esquemas Desadaptativos - Por outro lado, a ausência de limites claros ou a imposição de limites excessivamente rígidos pode levar a esquemas desadaptativos. Por exemplo:


Permissividade/Indisciplina: Sensação de que podem fazer qualquer coisa sem consequências, levando à falta de autocontrole.


Submissão: Sentimento de estar constantemente sob controle e incapaz de tomar decisões independentes, resultando em conformidade excessiva ou rebeldia.

Estabelecer limites realistas, que são adequados à idade e às necessidades da criança, ajuda a formar um senso de segurança e compreensão do mundo. Eles aprendem que existem regras e que essas regras servem para protegê-los e guiá-los.

Esses limites não devem ser vistos apenas como restrições, mas como uma estrutura que permite às crianças explorar e crescer dentro de um ambiente seguro.


Espontaneidade e Lazer

Outro aspecto que desempenha um papel crucial no desenvolvimento infantil é o que envolve o estímulo ou permissão para a Espontaneidade e Lazer. Eles permitem que as crianças explorem suas emoções, se expressem livremente e desenvolvam uma sensação de bem-estar e alegria.

 - Esquemas Adaptativos - Quando as crianças têm oportunidades para serem espontâneas e se envolverem em atividades lúdicas, elas desenvolvem esquemas adaptativos proativos como:

Criatividade: Capacidade de pensar fora da caixa e encontrar novas soluções para problemas.

Alegria de Viver: Sentimento de felicidade e satisfação com a vida.


- Esquemas Desadaptativos -  Por outro lado, a falta de espontaneidade e lazer pode levar a esquemas desadaptativos. Por exemplo:

Repressão Emocional: Dificuldade em expressar emoções e sentimentos de maneira saudável.

Rigidez: Inabilidade de lidar com mudanças e falta de flexibilidade em situações novas.

O papel evolutivo da espontaneidade e do lazer é permitir que as crianças aprendam a regular suas emoções, façam conexões sociais e desenvolvam habilidades de resolução de problemas em um ambiente seguro e divertido. Atividades lúdicas também ajudam a desenvolver habilidades motoras e cognitivas, contribuindo para um desenvolvimento equilibrado.

Fomentar um ambiente onde as crianças podem ser espontâneas e se envolver em brincadeiras não estruturadas é essencial para um crescimento emocional e psicológico saudável. Isso as prepara para enfrentar os desafios da vida com resiliência e criatividade. Se quiser explorar mais algum aspecto, estou aqui!


Liberdade de Expressão e Emoções Válidas

Para Jeffrey Young, a possibilidade de liberdade de expressão e validação emocional é a capacidade de expressar emoções de maneira saudável e sentir que essas emoções são reconhecidas e valorizadas pelos outros. Essa validação emocional expressa pelos cuidadores e pais permitem que as crianças se sintam seguras para expressar seus sentimentos e necessidades sem medo de julgamento ou punição. 

 - Esquemas Adaptativos - Quando o ambiente familiar consegue naturalmente atender essas necessidades elas promovem esquemas adaptativos, como:

Aceitação Emocional: A criança aprende que suas emoções são válidas, o que promove a autocompreensão e a autoaceitação.

Capacidade de Resolução de Conflitos: Estimula a ser capaz de expressar emoções de maneira saudável e facilita a resolução de problemas e a comunicação eficaz.


- Esquemas Desadaptativos - Mas quando o ambiente familiar é limitado e não permite a liberdade de expressão e a manifestação de emoções como sendo válidas essas repressões promovem respostas como:

Supressão Emocional: Se a criança é criticada ou punida por expressar suas emoções, pode aprender a reprimi-las, levando a problemas de saúde mental e dificuldades em relacionamentos.

Insegurança Emocional: A falta de validação pode causar sentimentos de invalidez e insegurança, dificultando a confiança nas próprias emoções.

O papel evolutivo dessas necessidades é garantir que a criança desenvolva um senso de identidade e autoestima saudável. Validação emocional ensina que todas as emoções são válidas e dignas de serem expressas. Isso ajuda a criança a desenvolver resiliência emocional e a habilidade de lidar com desafios de maneira eficaz.

Ambientes que encorajam a expressão livre e a validação emocional tendem a produzir indivíduos mais equilibrados, empáticos e emocionalmente inteligentes. Através da evolução, quando se pode garantir a satisfação dessas necessidades se fortaleceu as conexões sociais, essenciais para o desenvolvimento individual e prosperidade da espécie humana.



Elucubrações sobre a Força, Fragilidade e Evolução! Três leituras e alguma ideias...

A Biosfera 2 foi uma tentativa ambiciosa de criar um ecossistema fechado e autossustentável no deserto do Arizona em meados de 1991. A ideia era simular as situações de uma estação fora do planeta terra e produzir um laboratório auto suficiente em alimentos e oxigênio... O projeto envolveu oito voluntários vivendo dentro da estrutura por dois anos, com o objetivo de simular uma colônia humana em Marte ou na Lua! Uma das coisa interessantes foram as tentativas de cultivar árvores nesse ambientes controlados, lhes trazendo água e nutrientes de forma ótima para o bom desenvolvimento destas...


Curiosamente, no ambiente fechado e autossuficiente montado para simular a biosfera terrestre, as árvores lá cultivadas não desenvolveram corretamente! Muitas até morreram 
ou não cresceram adequadamente, caindo sob próprio peso! Segundo estudos posteriores as árvores não desenvolveram a "resistência" necessária porque estavam protegidas do vento e de outras adversidades naturais.  Suas raízes eram incompatíveis com a função natural de sustentá-las 

Uma árvore criada na natureza é periodicamente empurrada pelas brisas, pelo vento e pela chuva... nessa contínua interação com o ambiente e com a natureza lhe dá uma firmeza progressiva e maleabilidade. Obrigando a criar RAÍZES que sejam compatíveis com o clima e com o terreno onde esta plantada.

O Matemático e financista Nassim Taleb menciona o programa Biosfera 2 em seu livro “Antifrágil”, usa o exemplo dessa experiência para ilustrar como sistemas protegidos de estressores externos acabam por se tornar frágeis. Taleb usa esse exemplo das árvores para argumentar que ele chama de a exposição a estressores e desafios parte são essencial para o desenvolvimento da condição de "antifragilidade". Isso quer dizer que sistemas que são protegidos de qualquer tipo de estresse tendem a se tornar frágeis e menos capazes de lidar com adversidades quando elas inevitavelmente surgem. Mas o contrário (sistemas que geram padrões rígidos) também são ruins, pois a rigidez não permitem adaptações e mudanças necessárias.

O "senso comum" nos faz crer que a "felicidade" e o "sucesso individual" não é muito diferente de uma grande maratona, que exige disciplina e perseverança. Poucas pessoas tem capacidade de suportar fracasso atrás de fracasso até alcançar a vitória. Mas afinal, é isso mesmo? E a estabilidade emocional se dá pela mesma estratégia?

Seja Forte?

Se buscarmos definições de
Força teremos em comum a noção de que é a capacidade de um corpo ou sistema de resistir a uma carga ou pressão sem se deformar ou quebrar. É algo que NÃO MUDA diante das circunstâncias e do ambiente. Algo que não muda sob pressão. 


Nassim Taleb chama a força de "Robustez", a capacidade de um sistema ou pessoa de resistir e se manter forte diante de desafios e adversidades. Em engenharia e ciência dos materiais, robustez refere-se à resistência de um material a falhas sob condições variadas. Não muda.

Uma pessoa que é extremamente rígida e inflexível em suas decisões, com ideas duras, recusando-se a considerar novas ideias ou adaptar-se a mudanças se percebe como uma "pessoa forte", determinada. Difícil até... Embora possa sentir-se forte, essa rigidez vai lhe trazer sérios problemas quando surgem situações inesperadas, pois a falta de adaptabilidade vai resultar em falhas. Falhas por ser rígido e inflexível. Então, o forte acaba sendo frágil!

Seja fragil?

Já a Fragilidade é a condição de algo ou alguém que possui pouca resistência e é facilmente alterado ou danificado. Pode ser aplicada em diferentes contextos: Física: Refere-se a objetos ou materiais que são delicados e suscetíveis a danos, como um copo de vidro. Emocionalmente se refere à sensibilidade e vulnerabilidade emocional de uma pessoa, que pode ser mais suscetível a estresse e ansiedade. Ou à vulnerabilidade de determinados grupos ou indivíduos em relação às condições sociais e econômicas, como pessoas em situação de pobreza ou idosos. Essas definições ajudam a entender como esses conceitos se aplicam em diferentes áreas e contextos. Se precisar de mais detalhes ou exemplos, estou aqui para ajudar!

Nesse contexto a Fragilidade seria
 uma pessoa que foi super protegida quando criança. Resguardada de perigos sociais, como criminalidade e violência, bem alimentada e com cuidados com a saúde. Ela naturalmente foi "educada" a evitar qualquer tipo de conflito ou desafio, foi incapacitada de adquirir ferramentas emocionais para lidar com conflitos, preferindo sempre a zona de conforto. Potencialmente essa pessoa será alguém que nunca tenta aprender novas habilidades por medo de se expor! Não esta acostumada a lidar com falhas. Essa pessoa é frágil porque qualquer pequena adversidade pode causar um grande impacto negativo em sua vida.

Da mesma forma, muitas crianças e adolescentes hoje foram podadas de experiências que lhe dessem parâmetros de frustração saudáveis e simplesmente não sabem lidar com opiniões adversas e alteridades. 

Nessa interpretação uma pessoa forte e uma pessoa frágil tem um problema comum: Respostas ruins as adversidades naturais da vida... e nesse sentido são iguais!

Segundo o psicólogo social Jonathan Haidt, pesquisador e autor do livro “A Geração Ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais” o entendimento errado dos conceitos de "resiliência", de "força" e de "fragilidade" somados a cultura da hiperconectividade e o uso excessivo de telas estão reforçando os erros e afetando negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes... e de adultos.


Brené Brown é uma pesquisadora Social e autora renomada, conhecida por seu trabalho sobre vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia. Ela argumenta que a vulnerabilidade não é uma fraqueza, mas sim uma medida de coragem. Segundo Brown, a vulnerabilidade é essencial para a autenticidade e a conexão genuína com os outros.

Em seu livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, Brown explora como aceitar nossa vulnerabilidade pode nos levar a uma vida mais plena e significativa. Ela destaca que, ao nos permitirmos ser vulneráveis, estamos nos abrindo para experiências de incerteza, risco e exposição emocional, o que pode ser assustador, mas também extremamente recompensador. Brown inclusive aponta a importância de abraçar a vulnerabilidade no ambiente de trabalho inclusive, argumentando que líderes que evitam a vulnerabilidade tendem a evitar conversas difíceis e feedbacks honestos, o que pode levar a um ambiente de pouca confiança e inovação.

O caminho do meio: Não é a luta, mas Aceitar a fragilidade e as adversidades da vida! E se permitir A APRENDER com elas.

Assim como as árvores na Biosfera 2, que não desenvolveram a resistência necessária devido à ausência dos ventos, tão naturais no mundo externo, os seres humanos também precisam voltar a enfrentar desafios, adversidades e contrariedades para se tornarem verdadeiramente resilientes, diferente do que tem sido quando tutelados pelos algoritmos e suportes das redes sociais e "sites" de busca. Então não é exposição as dificuldades que é o maior problema, mas não se permitir interagir com DIVERSIADES de opiniões e pontos de vista divergentes que são responsáveis por fundamentarem a nossa capacidade de nos adaptar as idiossincrasias alheias, que são essenciais para o desenvolvimento da “antifragilidade”. Evoluir não é apenas "resistir" ao estresse, e se recondicionar, mas principalmente  se fortalecer "com" ele. Se permitir MUDAR!

Portanto, ao invés de buscar desenvolver uma posição rígida para com o mundo presumido ser "
força" e inflexibilidade para si mesmo, como uma armadura, é muito mais benéfico cultivar uma "resiliência adaptativa", que nos permita crescer e evoluir diante das adversidades. Buscar propositadamente conviver com pessoas que não tenham as mesmas afinidades e opiniões distintas nos torna melhores! A verdadeira força está na capacidade de se adaptar para prosperar, não na rigidez de vencer. Encara o que nos torna vulneráveis e as inevitáveis mudanças e desafios da vida depende de nos permitirmos nos expor e encarar o que a vida nos apresenta.

A rigidez na forma de pensar e sentir é antiadaptativa. A
o invés de nos isolarmos em bolhas de pensamento homogêneo, devemos buscar ativamente ambientes que nos desafiem a pensar de maneira diferente e a crescer com essas experiências. A rigidez na forma de pensar e sentir é, portanto, antiadaptativa e nos torna mais vulneráveis às inevitáveis mudanças e desafios da vida. Cultivar uma resiliência adaptativa, que nos permita prosperar em meio às adversidades, é a verdadeira força que devemos almejar



A era dos exaustos: por que estamos cada vez mais cansados?
Por Marília Marasciulo, com edição de Nathalie Provoste 22/09/2024

Cansaço vem se tornando reclamação tão comum e generalizada que está sendo chamado de "a grande exaustão".

Acompanhado do aumento alarmante em casos de burnout, fenômeno levanta questões sobre o porquê estarmos tão cansados e quais são as consequências disso.

Aumento dos casos de burnout levar pesquisadores a refletirem sobre o cansaço nos tempos atuais

O cansaço é tanto, que até atividades que sempre considerei relaxantes, como ir à praia, me parecem cansativas — ficar deitada na cama é mais atrativo do que a função de preparar a bolsa e arrumar tudo quando voltar. Quanto mais reclamo, porém, mais percebo que não sou a única.

Uma amiga me contou que se tornou o que ela mais temia: a pessoa que dorme no sofá por não ter energia para ir até a cama.

Outra disse sentir que está somente existindo, e tentando descansar entre trabalhar e voltar a trabalhar.

Uma terceira parou de se exercitar porque estava muito cansada para isso, mas acabou com menos energia do que antes.

O cansaço vem se tornando tão comum e generalizado que o fenômeno ganhou até nome: a grande exaustão.

Em um artigo publicado na revista The New Yorker em dezembro de 2023, o cientista da computação e professor da Universidade de Georgetown Cal Newport sugeriu que, no mundo pós- pandemia, o que começou como a grande renúncia (fenômeno observado a partir de 2021, quando um grande número de trabalhadores passou a pedir demissão) se transformou na grande exaustão.


“Alguma coisa ainda está errada e vai além dos desafios usuais da vida no escritório. Todos estão cansados”, escreveu Newport.

Pesquisas recentes sobre burnout, síndrome que tem como uma das dimensões o sentimento de exaustão, apontam um aumento alarmante de casos. Em junho, um levantamento realizado pela consultoria Boston Consulting Group com 11 mil trabalhadores de oito países revelou que 48% desse grupo está sofrendo de burnout.

No Brasil, a Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT) estima que 40% das pessoas economicamente ativas sofram de burnout. E os afastamentos por burnout aumentaram quase 1.000% em uma década, segundo dados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). 

“Certamente parece que a nossa era é a da exaustão, uma era caracterizada acima de tudo pelo cansaço, pela desilusão e pelo burnout”, escreve a historiadora cultural e especialista em burnout Anna Katharina Schaffner no livro Exhaustion: A History (Exaustão: Uma História, em tradução livre, publicado em 2016 pela Columbia University Press e sem edição no Brasil). Segundo a autora, a exaustão pode ser entendida não só como um estado físico, mental ou espiritual individual, mas como um fenômeno cultural mais amplo.



E, em sua obra mais recente, Exhausted: An A–Z for the Weary (Exausto: Um A–Z para os cansados, em tradução livre, publicado em janeiro deste ano pela Profile Books e sem edição no Brasil), Schaffner considera que o burnout é o sentimento que define o mundo pós-pandemia. Mas por que estamos tão cansados? E quais podem ser as consequências de tamanha exaustão?

Mal antigo Embora seja geralmente considerada uma aflição relacionada à vida moderna, a exaustão é um fenômeno milenar cujo próprio entendimento variou ao longo da história.

A exaustão é um estado que podemos quantificar cientificamente, ou é uma experiência completamente subjetiva?

É uma condição mental ou física?

É uma experiência individual ou sociocultural?

É realmente um problema da modernidade ou outros períodos da história também se consideraram os mais cansados?

Na Grécia Antiga, por exemplo, o poema épico Argonáuticas, de Apolônio de Rodes, sobre a expedição de Jasão e seus companheiros (os argonautas) em busca de um carneiro mitológico com pelagem de ouro, descreve a exaustão como resultante da influência da mente sobre o corpo.

Séculos depois, no período romano, o médico Galeno de Pérgamo aprofundou a teoria humoral do grego Hipócrates para sugerir exatamente o oposto: a exaustão seria o resultado de desequilíbrios no corpo, que então afetariam a mente.

Na Idade Média, virou sinônimo de uma falha espiritual e moral.

No Renascimento, os astros entraram no jogo: Saturno foi associado à exaustão por seus supostos vínculos com a melancolia e sua influência nos estados intelectual e existencial. O planeta era visto como moldador do intelecto por causa de sua posição como o mais alto dos planetas e, se não bem administrado, poderia influenciar as energias humanas e, potencialmente, provocar exaustão. 

Na era moderna, a partir principalmente do século 19, o entendimento sobre a exaustão ganhou contornos mais parecidos com os atuais: esse cansaço passou a ser visto como uma reação à urbanização, industrialização e os estresses da vida moderna.

Em 1869, o neurologista americano George Beard cunhou o termo neurastenia para descrever um quadro de exaustão física e psicológica que seria o resultado de fatores endógenos e exógenos — uma combinação de predisposição genética para ansiedade, depressão e para o cortisol (hormônio envolvido na resposta ao estresse) com situações que poderiam incluir desde um trabalho frustrante a problemas familiares. Entre os principais sintomas estavam as dores de cabeça e no corpo, fraqueza e dormência, dificuldade de concentração, transtornos do sono (insônia ou excesso de sono) e problemas gastrointestinais. Os tratamentos incluíam mudanças na alimentação, atividade física, repouso e psicoterapia. 

Meu argumento principal é que o burnout é como um canário em uma mina de carvão. Ele avisa que há um problema — Christina Maslach, professora emérita da Universidade da Califórnia em Berkeley

Pouco mais de um século depois, entre os anos 1970 e 1980, a neurastenia foi rebatizada de burnout, e o esgotamento antes relacionado a diferentes situações passou a ser atribuído somente ao trabalho.

No início dos anos 1970, o psicólogo alemão Herbert J. Freudenberger, que atuava nos Estados Unidos, sentiu napele os efeitos do excesso de trabalho: após um ano de uma rotina que incluía 10 horas de atendimentos em uma clínica privada durante o dia e mais um turno em uma reabilitação para dependentes químicos, ele não conseguiu levantar da cama no dia em que deveria sair de férias.

Resolveu então investigar o próprio episódio e, em 1974, publicou um artigo em que descreveu os sintomas do burnout e quem estaria mais propenso a sofrer dele — trabalhadores dedicados e comprometidos, que trabalham por muito tempo e muito intensamente, com pouco reconhecimento ou compensação financeira.

Mais ou menos na mesma época, a psicóloga Christina Maslach, professora emérita da Universidade da Califórnia em Berkeley, também iniciava suas pesquisas sobre burnout. Em 1981, ela desenvolveu o Maslach Burnout Inventory (MBI), um instrumento de avaliação psicológica composto por 22 itens de sintomas que têm relação com o esgotamento ocupacional.

Quase meio século depois, as três dimensões fundamentais do burnout identificadas pelo MBI — exaustão, despersonalização (ou ceticismo) e a baixa realização profissional — serviram como base para o entendimento atual da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Antes descrito como um estado de exaustão vital, em 2022 o burnout passou a ser reconhecido na Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde (CID) como uma síndrome resultante de estresse crônico no ambiente de trabalho.

Até onde vai o burnout?

A psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (Isma-BR), destaca que, embora similares ou quase idênticos, burnout e grande exaustão não são sinônimos. “A grande exaustão é a sensação de que a pessoa está além dos seus recursos, mas não se configura como burnout porque não tem duas dimensões [despersonalização e baixa realização profissional]”, afirma.

Enquanto no burnout a pessoa culpa o trabalho pelas sensações desagradáveis, na grande exaustão as causas estariam mais relacionadas a incertezas, inseguranças ou falta de perspectiva. “Tenho visto uma deturpação muito grande do que é burnout, com o uso de termos como burnout da mulher, da maternidade digital. Não sei de onde as pessoas estão tirando essas informações, porque não tem pesquisa que ateste isso”, reforça Rossi.

O problema é que, desde o surgimento do termo burnout e a popularização do fenômeno, os limites entre a vida pessoal ou o lazer e o trabalho ficaram cada vez mais difusos. Para a psicóloga Emily Ballesteros, autora do recém-lançado A Cura do Burnout: Como encontrar equilíbrio e recuperar sua vida após o esgotamento (Editora Rocco, setembro de 2024), existem muitos espaços e situações não limitados ao ambiente do trabalho em que as pessoas podem ter os mesmos sinais e sintomas de burnout. “Não me parecia justo excluir essas experiências das conversas sobre burnout só porque elas aconteceram em um espaço diferente”, afirma Ballesteros, em entrevista a GALILEU. Ela divide o burnout em três categorias: por volume (quando há mais tarefas do que a pessoa consegue fazer), social (resultante do excesso de demandas interpessoais) e por tédio (desinteresse crônico pela vida). “Eu defino burnout como um estado de exaustão, estresse e desalinhamento (com os rumos que sua vida está levando) durante um período prolongado”, escreve no seu livro.

Se é difícil diferenciar burnout da grande exaustão ou mesmo outros transtornos que têm o cansaço como sintoma, talvez ainda mais desafiador seja definir quando essa sensação é motivo de alerta. “Embora as culturas ocidentais se preocupem em teorizar patologias centradas no esgotamento de energia, é interessante notar que, além do modelo prosaico de ingestão de calorias, não há atualmente modelos cientificamente aceitos para medir energia humana na medicina ocidental”, escreve Anna Katharina Schaffner em Exhaustion: A History.

Segundo a presidente da Isma-BR, dores musculares, distúrbios de sono (como insônia, excesso de sono, sono fragmentado ou prematuro) e problemas gastrointestinais são alguns dos sinais de que você pode estar esgotado. Ballesteros acrescenta que a exaustão não é somente física, mas também mental e emocional. “Dá para perceberbem rápido. Quando ficamos exaustos por muito tempo, nossas vidas começam a desmoronar um pouco”, afirma. Isso pode significar desde deixar de ir à praia por preguiça de limpar tudo depois, até adormecer no sofá com mais frequência, deixar de ir à academia ou aumentar a frequência dos pedidos de delivery. A longo prazo, a exaustão crônica pode ser um fator de risco para doenças como hipertensão e transtornos do humor como ansiedade e depressão.

A pioneira nas pesquisas sobre burnout, Christina Maslach, afirma que associar burnout a outros aspectos além do trabalho tem se tornado mais popular do que nunca, mas não é algo novo. “O problema é que quanto mais for usado de diferentes formas, menos significado passa a ter, por que o que não é burnout?”, aponta. Para a especialista, o mais importante é se questionar se chamar tudo de burnout nos ajuda a entender como o problema se insere em um contexto social mais amplo. “Meu argumento principal é que o burnout é como um canário em uma mina de carvão. Ele avisa que há um problema”, continua. O mesmo se aplicaria à grande exaustão, segundo Maslach. Mais importante do que tentar classificá-la é olhar para o fato de que é algo generalizado e compartilhado, e buscar compreender o que pode estar causando isso.

Sociedade do cansaço

Coincidência ou não, no mesmo período em que as pesquisas de burnout eram realizadas, a sociedade começou a passar por transformações que favoreceram o esgotamento. “Passamos de uma sociedade disciplinar, que tinha o paradigma da obediência, para um modelo empresarial, que tem o paradigma da ação”, avalia o sociólogo Elton Corbanezi, professor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e autor do livro Saúde mental, depressão e capitalismo (Editora Unesp, 2021). Enquanto na sociedade disciplinar as pessoas eram limitadas por uma negatividade externa que limitava suas ações, sem as máximas de obediência ao outro, do cumprimento da lei e do dever, nessa nova sociedade do desempenho o indivíduo vira uma espécie de “empresário de si mesmo”. Ele passa a ser o responsável por sua própria condição social, econômica e de saúde mental, em um excesso de positividade que faz tudo parecer possível. É a onda do “sim, nós podemos”: bastaria ter motivação, iniciativa e flexibilidade para realizar o que se deseja.

Embora à primeira vista tudo isso possa parecer sinônimo de liberdade, o sujeito acaba preso na exploração de si mesmo. Tal diagnóstico foi sintetizado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han, professor da Universidade de Artes de Berlim, no livro Sociedade do Cansaço (Editora Vozes, 2015). Na obra, Han avalia que esse excesso de positividade faz as próprias pessoas se cobrarem por resultados e produtividade. Ao fazerem isso, elas setornam tanto vigilantes quanto carrascas de suas próprias ações. É como aquela sensação de culpa que pode bater quando você se deitar no sofá sem fazer nada.

"A sensação de cansaço é subjetiva ou individual, mas a produção de exaustão é social. E uma sociedade que busca desempenho só pode produzir a exaustão ou o esgotamento." — Elton Corbanezi, sociólogo e professor da Universidade Federal.


O antropólogo Michel Alcoforado, que entre outros temas pesquisa sobre como as transformações tecnológicas alteram as formas de viver, concorda. Na visão dele, com o avanço das plataformas digitais, já vínhamos observando mudanças no perfil do trabalho, que acabou “engolindo a nossa vida de uma forma que não aconteceu com nenhuma outra geração”. “A pandemia exacerbou isso por uma digitalização mais intensa da economia e por nos fazer abrir mais nacos da nossa vida para a digitalização de uma forma que não estava dado antes”, opina o antropólogo, que recentemente lançou o livro De tédio ninguém morre: pistas para entender os nossos tempos (Editora Telha,2024). Nessa transformação, virou normal conversar com o chefe online a qualquer hora ou mesmo trabalhar durante as férias.

A pesquisadora Christina Maslach também destaca que, nos últimos tempos, temos ouvido cada vez mais que “temos que fazer mais com menos”. “Esse é basicamente o mantra do burnout. Nós somos péssimos em subtrair”, afirma. Segundo a especialista, é importante prestar atenção ao estresse crônico. “Isso significa sentir estresse todo o tempo ou na maior parte do tempo — não importa o que você faça, não importa quão duro você trabalhe. A gente [pesquisadores] sabe que as pessoas não se recuperam tão bem de estressores crônicos como se recuperam de estressores agudos ou ocasionais”, pontua.

Ao sermos pressionados a fazer mais com menos, talvez o mais grave é passarmos a vender até coisas que não deveríamos ter que vender, na visão de Alcoforado. Ele cita como exemplo o debate corrente sobre a priorização das soft skills (competências subjetivas, como a resiliência) em detrimento das hard skills (habilidades técnicas) no trabalho. “Isso me preocupa, porque colocamos à disposição do mercado não aquilo que sabemos fazer, mas aquilo que somos. E aquilo que somos, somos 24 horas por dia. Então estamos 24 horas por dia trabalhando, e nem sempre estamos sendo pagos para isso, o que traz esse sentimento de exaustão ad infinitum”, destaca.

No contexto pós-pandemia, a pressa para se ajustar de volta à normalidade pode ter contribuído para um “rebote” na forma de exaustão, observa Ballesteros. “Nós tentamos empurrar a pandemia para baixo do tapete muito rapidamente sem reconhecer os anos de vidaque as pessoas perderam e as mudanças no trabalho”, aponta. “Mas muito trabalho individual vem sendo feito para tentar criar esses bolsões de normalidade. Algumas pessoas estão conseguindo se ajustare se adaptar, mas outras estão realmente lutando.” O cansaço é um efeito lógico e esperado quando o indivíduo não consegue realizar os valores da sociedade em que está inserido, completa Elton Corbanezi.

Boca no trombone
Na visão do sociólogo da UFMT, aliviar ou mesmo solucionar a grande exaustão passa por repensar elementos da nossa sociabilidade que podem provocar esgotamento. Ele considera que a sociedade atual reconhece que existe um problema gravíssimo de saúde mental, mas tende a relacioná-lo a fatores socioeconômicos — e também não invoca uma transformação social. Além disso, ele compara a grande exaustão ao esgotamento climático e ambiental. “O capitalismo se mostrou insustentável durante dois séculos e agora tentamos falar em desenvolvimento sustentável. Isso envolve uma contradição grande, porque o modelo de desenvolvimento capitalista não é sustentável. Não adianta querer mudar o clima, tem que mudar o sistema”, diz.


Para Christina Maslach, é preocupante o fato de conhecermos as causas e as consequências do estresse crônico há décadas, e mesmo assim nada ter sido feito para realmente provocar mudanças. “Costumamos focar em como ajudar as pessoas a lidar com o cansaço, como fazê-las se sentirem melhor. A estrutura ainda aponta para a vítima e diz: a culpa é sua”, aponta. “Nós temos um ditadoem inglês que é ‘se você não aguenta o calor, saia da cozinha’ que eu acho que diz mais ou menos o mesmo, como se o problema fosse a gente, não a cozinha. Mas, alô, a gente poderia deixar a cozinha menos quente.” Ela reforça que isso não significa não ajudar as pessoas a se sentirem melhor; é só que essa não é a solução completa. É preciso olhar para o que está causando o problema.

"Colocamos à disposição do mercado não aquilo que sabemos fazer, mas aquilo que somos. E aquilo que somos, somos 24 horas por dia. Então estamos 24 horas por dia trabalhando." — Michel Alcoforado, antropólogo e autor de De tédio ninguém morre: pistas para entender os nossos tempos.

As psicólogas Ana Maria Rossi e Emily Ballesteros, porém, entendem que nem sempre é possível esperar por mudanças sociais. “Gosto de começar pelo aspecto individual só porque é o de que temos mais controle e é a abordagem de baixo para cima. E aí, quando você fez tudo o que podia no seu lado da rua, pode olhar para o outro lado; pode ver o que precisaria mudar para ajudar as pessoas em diferentes espaços”, afirma Ballesteros.

A lista de medidas individuais para evitar ou minimizar a exaustão é tão longa quanto óbvia: ter consciência dos próprios limites (e realmente respeitá-los); inserir na rotina momentos de pausa ou relaxamento (vale de caminhada a respirações profundas e até orações, para quem é religioso); cuidar da alimentação, evitando o consumo de bebidas alcoólicas e cafeína; praticar atividade física; regular o sono; cultivar relacionamentos (em alguns casos, um animal de estimação pode ajudar a trazer conforto); e priorizar momentos de lazer. Para que lidar com o próprio cansaço não se torne exaustivo, a presidente da Isma-BR sugere começar aos poucos. “Não adianta querer mudar tudo ao mesmo tempo, porque isso vai causar mais tensão, mais estresse e sensação de impotência”, pontua.

Nós tentamos empurrar a pandemia para baixo do tapete muito rapidamente, sem reconhecer os anos de vida que as pessoas perderam e as mudanças no trabalho
— Emily Ballesteros, psicóloga e autora de A Cura do Burnout: Como encontrar equilíbrio e recuperar sua vida após o esgotamento

Embora concorde que o problema não é individual e passa por uma solução coletiva, o antropólogo Michel Alcoforado considera que ações coletivas tradicionais — como sindicatos ou movimentos sociais — não dão conta de atender a indivíduos tão distintos. Nesse contexto, iniciar conversas ou simplesmente reclamar talvez seja “a grande sacada” em uma sociedade ordenada por discurso, segundo Alcoforado. É também o que sugere Anna Katharina Schaffner no epílogo de Exhaustion: A History. A autora destaca que é impossível provar se realmente vivemos no período mais exausto da história, mas pode ser que tenha se tornado mais aceitável articular e buscar remédios para o sentimento de estresse, cansaço e desesperança.

“Em um mundo totalmente individualizado, fica muito difícil pensar em uma solução global. Mas, individualmente, a gente precisa colocar a boca no trombone para coletivamente por isso como um problema no debate público”, opina Alcoforado. Na medida em que mais pessoas começassem a questionar o modo de vida imposto, a grande exaustão se transformaria em uma anomia (conceito usado para descrever uma situação em que os valores e regras que guiam o comportamento da sociedade estão enfraquecidos). Para o antropólogo, a conversa recém está começando — mas está acontecendo. “A exaustão é um sintoma e um resultado de um mundo que não faz mais sentido. Toda anomia é a porta de entrada para um caminho de transformação”, avalia. Resta saber quão exaustos estaremos para participar dessas mudanças.

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