Uma vozinha debaixo da trouxa
Eis aqui a história de um monge cujo amor a um rapaz o enlouqueceu. O rapaz morrera vitimado por uma enfermidade, e o monge chorou sobre o corpo dele dias a fio; acabou devorando o cadáver.
Depois disso, espalhava o pânico na aldeia do vale, pois descia durante a noite para comer cadáveres.
Um mestre zen, Kwaian, que passava pela aldeia, resolveu tentar libertar aquele homem do seu demônio. Subiu ao templo, encontrou seu hospedeiro e deitou-se para dormir.
Enquanto ele dormia, o outro errou à sua procura para comê-lo, mas não o achou. Por isso mesmo, no dia seguinte, cheio de respeito, disse ao mestre zen:
- O mestre, na verdade, é um buda ... instruí-me nos princípios capazes de libertar-me.
kwaian ordenou-lhe que meditasse nos seguintes versos:
Sobre o rio brilha a lua.
Nos pinheiros sopra o vento.
Fresca e pura manhã de uma longa noite tranqüila,
Qual a razão disso?
No ano seguinte Kwaian voltou ao templo, que achou invadido pelo mato e pelos caniços. Mas nessa noite de outono ouviu uma vozinha que murmurava o poema. Aproximou-se da silhueta acocorada do velho monge mas, no momento em que a tocou, ela caiu, desfeita em pó. Nada mais restava além dos ossos e da velha trouxa azul do monge.
Kwaian mandou restaurar o templo, que veio a ser um grande templo do soto zen.
Fonte: A tigela e o bastão - Taisen Deshimaru
Postado por Shinpo Sodô aqui:http://silenciozen.blogspot.com/2010/08/uma-vozinha-debaixo-da-trouxa.html
Amuletos melhoram a sorte...
Procurem este trabalho alemão: Lysann Damisch, Departamento de Psicologia, Universität zu Köln, Richard-Strauss-Straße 2, 50931 Köln, Alemanha
“Boa sorte”, “cruze os dedos”, “bate na madeira”, “pedra da sorte”… Os céticos e pseudo-céticos normalmente atribuem um valor nulo a este tipo de ação, chamando de “superstição” ou outros nomes pejorativos para parecerem mais inteligentes.
Mas aí aparece um Estudo Científico da Universidade de Colônia, na Alemanha, para mostrar que, no fim das contas, não, não é nulo. Pelo contrário: segundo os pesquisadores, se agarrar a amuletos (tipo trevos de quatro folhas) ou dizeres de sorte (o próprio “boa sorte!”) aumenta MESMO as chances de sucesso.
Em quatro experimentos, voluntários com a superstição aguçada tiveram melhor performance em jogos de golfe, anagramas, testes de coordenação motora e de memória. No golfe, por exemplo, os que acreditavam estar jogando com “bolas da sorte” se saíram 35% melhor.
Superstições são tipicamente vistos como criações da mente inconseqüente irracional.
No entanto, muitas pessoas dependem de pensamentos e práticas supersticiosas em suas rotinas diárias, a fim de ganhar boa sorte.
Até agora, pouco se sabe sobre as conseqüências e os benefícios potenciais de tais superstições.
A presente pesquisa abre esta lacuna, demonstrando os benefícios de desempenho de superstições e identificar seus mecanismos psicológicos subjacentes.
Especificamente, experimentos mostram que a ativação de sorte relacionadas superstições positivas através de um rito verbal comum ou ação (por exemplo, dizer: "quebrar a perna" ou mantendo os dedos um cruzado) ou até amuletos da sorte melhora o desempenho posterior em golfe destreza motora, memória, e jogos de anagrama.
Além disso, outros experimentos demonstram que esses benefícios de desempenho são produzidas por mudanças na auto-eficácia percebida.
Ativando um rito ou amuleto aumenta a confiança dos participantes em dominar tarefas futuras, o que melhora o desempenho.
Ainda um outro experimento mostra que aumentou a persistência do trabalho constitui um dos meios pelos quais a auto-eficácia, reforçado pela superstição, melhora o desempenho.
E isso feito com amuletos “leigos”. Seria bacana que testassem também com amuletos consagrados em datas propícias e seguindo rituais apropriados. Claro que, segundo os testes, “só funcionam se você acreditar”. Os testados que declararam não acreditar no sobrenatural (aliás, péssimo isso… dá a impressão que magia é algo “fora da natureza”) não conseguiam usufruir dos amuletos da sorte, tendo resultados semelhantes aos que obtiveram com bolas de golfe normais.
A explicação ortodoxa foi: “A superstição impulsiona a confiança no próprio sucesso em dada tarefa, o que melhora a dedicação e, por consequência, a performance”… Então tá.
“Boa sorte”, “cruze os dedos”, “bate na madeira”, “pedra da sorte”… Os céticos e pseudo-céticos normalmente atribuem um valor nulo a este tipo de ação, chamando de “superstição” ou outros nomes pejorativos para parecerem mais inteligentes.
Mas aí aparece um Estudo Científico da Universidade de Colônia, na Alemanha, para mostrar que, no fim das contas, não, não é nulo. Pelo contrário: segundo os pesquisadores, se agarrar a amuletos (tipo trevos de quatro folhas) ou dizeres de sorte (o próprio “boa sorte!”) aumenta MESMO as chances de sucesso.
Em quatro experimentos, voluntários com a superstição aguçada tiveram melhor performance em jogos de golfe, anagramas, testes de coordenação motora e de memória. No golfe, por exemplo, os que acreditavam estar jogando com “bolas da sorte” se saíram 35% melhor.
Superstições são tipicamente vistos como criações da mente inconseqüente irracional.
No entanto, muitas pessoas dependem de pensamentos e práticas supersticiosas em suas rotinas diárias, a fim de ganhar boa sorte.
Até agora, pouco se sabe sobre as conseqüências e os benefícios potenciais de tais superstições.
A presente pesquisa abre esta lacuna, demonstrando os benefícios de desempenho de superstições e identificar seus mecanismos psicológicos subjacentes.
Especificamente, experimentos mostram que a ativação de sorte relacionadas superstições positivas através de um rito verbal comum ou ação (por exemplo, dizer: "quebrar a perna" ou mantendo os dedos um cruzado) ou até amuletos da sorte melhora o desempenho posterior em golfe destreza motora, memória, e jogos de anagrama.
Além disso, outros experimentos demonstram que esses benefícios de desempenho são produzidas por mudanças na auto-eficácia percebida.
Ativando um rito ou amuleto aumenta a confiança dos participantes em dominar tarefas futuras, o que melhora o desempenho.
Ainda um outro experimento mostra que aumentou a persistência do trabalho constitui um dos meios pelos quais a auto-eficácia, reforçado pela superstição, melhora o desempenho.
E isso feito com amuletos “leigos”. Seria bacana que testassem também com amuletos consagrados em datas propícias e seguindo rituais apropriados. Claro que, segundo os testes, “só funcionam se você acreditar”. Os testados que declararam não acreditar no sobrenatural (aliás, péssimo isso… dá a impressão que magia é algo “fora da natureza”) não conseguiam usufruir dos amuletos da sorte, tendo resultados semelhantes aos que obtiveram com bolas de golfe normais.
A explicação ortodoxa foi: “A superstição impulsiona a confiança no próprio sucesso em dada tarefa, o que melhora a dedicação e, por consequência, a performance”… Então tá.
Esta é uma adaptação de uma história tibetana.
Havia uma velha senhora, muito devota a Buddha, que tinha um profundo desejo de obter uma relíquia de Buddha, um dente de Buddha. Havia na época um pujante comércio de relíquias de Buddha, algumas com certificados de autenticidade que datavam de séculos. O filho era um ocupado comerciante, que sempre prometia a sua mãe que conseguiria uma dessas relíquias em suas viagens aos grandes centros. Devido às suas ocupações acabava sempre se esquecendo. Um dia sua mãe lhe falou que acabaria morrendo se não ganhasse uma relíquia.
O filho foi de novo a uma grande cidade, mas depois de vários compromissos novamente se esqueceu. No caminho de volta, viu um cachorro morto na estrada e lembrou-se de sua velha mãe. Tomado de terror pela idéia que sua mãe morreria se não tivesse a tal relíquia, decidiu fazer uma loucura: pegou um dente do cachorro morto e enrolou-o cuidadosamente em uma rica seda dourada. Ao chegar em casa entregou-a a sua mãe, recomendando-lhe que a colocasse no altar e tratasse dela com todo o cuidado, pois era uma relíquia muito preciosa. A mãe foi tomada de indescritível alegria.
O filho foi novamente viajar por algumas semanas. Logo acometeu-lhe um terrível arrependimento pela mentira, e resolveu que contaria a sua mãe toda a verdade quando retornasse, mesmo que isso a fizesse sofrer. No caminho de volta para casa, reparou num movimento de peregrinação de pessoas fora do comum naquela direção. Ao aproximar-se de casa, uma multidão de pessoas aglomerava-se no entorno. Comentavam até sobre milagres que estavam acontecendo. Quanto mais se aproximava da casa, maior era o clima de veneração e paz.
Quando finalmente conseguiu entrar em casa, encontrou sua velha mãe, muito feliz. Perguntou-lhe o que estava ocorrendo e ela lhe respondeu: "O que você esperava de uma autêntica relíquia de Buddha?" Ainda sem acreditar no que estava acontecendo, entrou na sala do altar e tomou um susto - o dente do cachorro brilhava!"
Postado por Jouken San.
Postado por Monge Genshô
O filho foi de novo a uma grande cidade, mas depois de vários compromissos novamente se esqueceu. No caminho de volta, viu um cachorro morto na estrada e lembrou-se de sua velha mãe. Tomado de terror pela idéia que sua mãe morreria se não tivesse a tal relíquia, decidiu fazer uma loucura: pegou um dente do cachorro morto e enrolou-o cuidadosamente em uma rica seda dourada. Ao chegar em casa entregou-a a sua mãe, recomendando-lhe que a colocasse no altar e tratasse dela com todo o cuidado, pois era uma relíquia muito preciosa. A mãe foi tomada de indescritível alegria.
O filho foi novamente viajar por algumas semanas. Logo acometeu-lhe um terrível arrependimento pela mentira, e resolveu que contaria a sua mãe toda a verdade quando retornasse, mesmo que isso a fizesse sofrer. No caminho de volta para casa, reparou num movimento de peregrinação de pessoas fora do comum naquela direção. Ao aproximar-se de casa, uma multidão de pessoas aglomerava-se no entorno. Comentavam até sobre milagres que estavam acontecendo. Quanto mais se aproximava da casa, maior era o clima de veneração e paz.
Quando finalmente conseguiu entrar em casa, encontrou sua velha mãe, muito feliz. Perguntou-lhe o que estava ocorrendo e ela lhe respondeu: "O que você esperava de uma autêntica relíquia de Buddha?" Ainda sem acreditar no que estava acontecendo, entrou na sala do altar e tomou um susto - o dente do cachorro brilhava!"
Postado por Jouken San.
Postado por Monge Genshô
“Na ausência da capacidade de dirigir nossa consciência ela será conduzida pelas respostas cármicas, e a mercê disso teremos sucessivos ciclos de mortes e renascimentos.
O Buda ofereceu ensinamentos para o benefício de todos os seres.
Aqueles que acolhem esses ensinamentos aspirando a liberação, com a motivação de afastar-se do sofrimento, gerar benefício aos seres e interromper o infindável ciclo de mortes e renascimentos, põem fim ao engajamento cármico que caracteriza os processos ilusórios que a mente pode operar.”
Lama Padma Samten
Sempre será assim. Buscando superar o "nosso" sofrimento descobrimos este sofrimento esta ligado ao sofrimento de todos os seres... trabalhando para superar o sofrimento dos outros nos libertamos do que nos prende ao conceito de "eu", "meu", e o nosso ser todos...
O Buda ofereceu ensinamentos para o benefício de todos os seres.
Aqueles que acolhem esses ensinamentos aspirando a liberação, com a motivação de afastar-se do sofrimento, gerar benefício aos seres e interromper o infindável ciclo de mortes e renascimentos, põem fim ao engajamento cármico que caracteriza os processos ilusórios que a mente pode operar.”
Lama Padma Samten
Sempre será assim. Buscando superar o "nosso" sofrimento descobrimos este sofrimento esta ligado ao sofrimento de todos os seres... trabalhando para superar o sofrimento dos outros nos libertamos do que nos prende ao conceito de "eu", "meu", e o nosso ser todos...
Um peixe Vermelho em Gramado...
Prezados,
Compartilho o novo blog da nossa Membro-praticante-monitor, Andreia Sôtoku:
http://andreiavigo.wordpress.com/
Também informo que o curta-metragem dela "Peixe Vermelho" será exibido amanhã no Festival de Gramado. Parabéns, Andreia! Um bom festival para você! E vai ser exibido em mais dois festivais (um nos Estados Unidos) que estamos sabendo por enquanto.
Mais um praticante da Sanga em pleno crescimento! Vamos firmes, passo-por-passo, todo juntos!
Cuidem-se bem!
Gassho,
Isshin
David Lynch estreia como ator em curta gaúcho.
O diretor fez filmes como o Homem Elefante, Veludo Azul e Twin Peaks, entre outras obras polêmicas.
Da Redação Comente esta notícia | Letra
Gramado - Com três indicações ao Oscar na categoria de melhor diretor, o norte americano David Lynch estreia agora como ator em um curta gaúcho, Peixe Vermelho de Andréia Vigo, selecionado para a Mostra Gaúcha.
Na trama o diretor e agora ator divide a cena com a atriz gaúcha Sandra Dani, e a linha argumentativa segue a linha dos filmes feitos por Lynch, com acontecimentos bizarros, trama sem uma linearidade convencional e atuações marcantes. Para Sandra, contracenar com um grande diretor foi um orgulho e ela se diz ansiosa para assistir o curta.
O diretor fez filmes como o Homem Elefante, Veludo Azul e Twin Peaks, entre outras obras polêmicas. Peixe Vermelho será exibido na quinta-feira a partir das 10 horas.
Compartilho o novo blog da nossa Membro-praticante-monitor, Andreia Sôtoku:
http://andreiavigo.wordpress.com/
Também informo que o curta-metragem dela "Peixe Vermelho" será exibido amanhã no Festival de Gramado. Parabéns, Andreia! Um bom festival para você! E vai ser exibido em mais dois festivais (um nos Estados Unidos) que estamos sabendo por enquanto.
Mais um praticante da Sanga em pleno crescimento! Vamos firmes, passo-por-passo, todo juntos!
Cuidem-se bem!
Gassho,
Isshin
David Lynch estreia como ator em curta gaúcho.
O diretor fez filmes como o Homem Elefante, Veludo Azul e Twin Peaks, entre outras obras polêmicas.
Da Redação Comente esta notícia | Letra
Gramado - Com três indicações ao Oscar na categoria de melhor diretor, o norte americano David Lynch estreia agora como ator em um curta gaúcho, Peixe Vermelho de Andréia Vigo, selecionado para a Mostra Gaúcha.
Na trama o diretor e agora ator divide a cena com a atriz gaúcha Sandra Dani, e a linha argumentativa segue a linha dos filmes feitos por Lynch, com acontecimentos bizarros, trama sem uma linearidade convencional e atuações marcantes. Para Sandra, contracenar com um grande diretor foi um orgulho e ela se diz ansiosa para assistir o curta.
O diretor fez filmes como o Homem Elefante, Veludo Azul e Twin Peaks, entre outras obras polêmicas. Peixe Vermelho será exibido na quinta-feira a partir das 10 horas.
Amada Professora, continuo no caminho... PRAJNA PARAMITA HRIDAYA SUTRA
texto compilado por Karma Tenpa Dharguye
“Os homens mundanos estão andando por um caminho perigoso e vagando em um oceano amargo, mas ainda não querem olhar para a grande sabedoria. Realmente, suas intenções não podem ser adivinhadas! A grande sabedoria é como uma espada afiada, que corta todas as coisas que toca, tão afiadamente que elas nem sabem que foram cortadas. Quem, além dos sábios e santos, pode fazer uso dela? Certamente, não os ignorantes”.
Han-shan, séc. VII
CANTANDO O SUTRA DO CORAÇÃO
Os ensinamentos da vacuidade sobre a verdadeira natureza da realidade são considerados o coração do budismo Mahayana, o grande caminho do meio. Estes ensinamentos são explicados em cem mil versos conhecidos como os Prajna Paramitas Sutras, cuja tradução seria As Escrituras da Sabedoria Transcendental. Estes sutras também estão condensados em formas mais curtas. A mais curta de todas é o chamado Sutra do Coração – a essência central, ou o coração das Escrituras da Sabedoria. Muitas pessoas dizem que este é o sutra favorito delas. O Sutra do Coração é cantado diariamente, estudado e ensinado em quase todos os mosteiros e centros budistas, no oriente ou no ocidente. Eu chamo carinhosamente de Sutra Nenhum; vocês verão por quê. [...]
Os budistas acreditam que a energia sagrada, a benção e a sabedoria emanadas deste canto, combinadas com a focalização da atenção, beneficiam de muitas formas sutis todos os seres visíveis e invisíveis. A eficácia das orações depende tanto ou mais, da concentração e a intenção do praticante, quanto da oração em si. Algumas vezes em mosteiros tibetanos, quando alguém está doente os monges cantam esse sutra o dia todo; observando isto detectei um campo energético quase palpável ao redor dos monges que cantavam.
Se você cantar ao ar livre na natureza, em seu quintal, por exemplo, lembre-se de que a fala Vajra (iluminada) está transmitindo e espalhando o Dharma para tudo e todos que estão lá fora, tanto pessoas e animais domésticos quanto grilos, vaga-lumes, besouros, mosquitos animais silvestres e até mesmo pulgas e carrapatos. A energia do Dharma, que abençoa e edifica a terra e tudo que está sobre ela, é generosamente compartilhada com todos. Os lamas dizem que onde quer que este sutra seja recitado, cantado, estudado, copiado ou ensinado, os ensinamentos da iluminação criarão raízes e ali florescerão. Então, nós fazemos a nossa parte ao cantarmos o Sutra do Coração.
Extraído do livro: O DESPERTAR DO BUDA INTERIOR – Lama Surya Das.
PRAJNAPARAMITA - Em sânscrito:
OM NAMO BHAGAVATYAI ARYA-PRAJNAPARAMITAYAI
ARYA AVALOKITESHVARO BODHISATTVO GAMBHIRAM
PRAJNAPARAMITA CHARYAM CHARAMANO
VYAVALOKAYATI SMA PANCHA SKANDHAS TAMSH CHA
SVABHAVA SHUNYAN PASHYATI SMA
IHA SHARIPUTRA RUPAM SHUNYATA SHUNYATA EVA RUPAM
RUPAN NA PRITHAK SHUNYATA
SHUNYATAYA NA PRITHAK RUPAM
YAD RUPAM SA SHUNYATA
YA SHUNYATA TAD RUPAM
EVAM EVA VEDANA SAMJNA SAMSKARA VIJNANAM
IHA SHARIPUTRA SARVA DHARMA SHUNYATA LAKSHANA
ANUTPANNA ANIRUDDHA AMALA AVIMALA ANUNA APARIPURNAH
TASMAT SHARIPUTRA SHUNYATAYAM NA RUPAM
NA VEDANA NA SAMJNA NA SAMSKARA NA VIJNANAM
NA CHAKSHU SHROTRA GHRANA JIHVA KAYA MANAMSI
NA RUPA SHABDA GANDHA RASA SPRASHTAVYA DHARMAH
NA CHAKSHUR DHATUR YAVAN NA MANO VIJNANAM DHATUH
NA AVIDYA NA AVIDYA KSHAYO YAVAN JARA MARANAM
NA JARA MARANA KSHAYO NA DUHKHA SAMUDAYA NIRODHA MARGA
NA JNANAM NA PRAPTIR NA BHISMAYA TASMAI NA APRAPTIH
TASMAT SHARIPUTRA APRAPTIVAD BODHISATTVO
PRAJNAPARAMITAM ASHRITYA
VIHARATYA CHITTA VARANAH
CHITTA AVARANA NASTITVAD ATRASTO
VIPARYASA ATIKRANTO NISHTHA NIRVANA PRAPTAH
TRYADHVA VYAVASTHITAH SARVA BUDDHAH
PRAJNAPARAMITAM ASHRITYA ANUTTARAM
SAMYAK SAMBODHIM ABDHISAMBUDDHAH
TASMAT JNATAVYAM PRAJNAPARAMITA MAHA MANTRO
MAHA VIDYA MANTRO 'NUTTARA MANTRO SAMASAMA MANTRAH
SARVA DUHKHA PRASHAMANAH SATYAM AMITHYATVAT
PRAJNAPARAMITAYAM UKTO MANTRAH
TAYATHA
OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA
ITY ARYA PRAJNAPARAMITA HRIDAYAM SAMAPTAM
Bhagavati prajna paramita hridaya sutra
O abençoado coração da Sabedoria Transcendental,
inconcebível, inexprimível, prajna-paramita
não-nascido, incessante, por natureza semelhante ao céu,
vivenciado pela cognição prístina da consciência auto-reflexiva
mãe de todos os vitoriosos dos três tempos, A você presto homenagem!
Assim eu ouvi.
Certa época o Abençoado estava em Rajagriha, na montanha do Pico dos Abutres,
em companhia de um grande número de monges e Bodhisattvas.
Naquela ocasião, o Abençoado estava absorto na concentração dos inúmeros aspectos dos fenômenos, denominado profunda iluminação.
O “Abençoado” refere-se ao Budha Shakyamuni. Budha encontrava-se absorto num estado de contemplação sobre a vacuidade, ou natureza última, dos inúmeros aspectos dos fenômenos. O Budha contemplava todos os fenômenos como expressões do Tatagathagharba. Ele praticava o samadhi da inseparatividade.
Nessa mesma ocasião o Nobre Avalokithesvara1, o Bodhisattva, o Grande Ser, observava perfeitamente a prática da Profunda Perfeição da Sabedoria que observa perfeitamente a vacuidade da existência inerente também dos cinco agregados.
Enquanto Budha permanecia em samadhi, Avalokiteshvara contemplava porque os cinco agregados são vazios de existência inerente. A palavra “também” indica que o Grande Ser já havia realizado a vacuidade da existência inerente do “eu” ou pessoa.
Então, pelo poder do Budha, o venerável Shariputra disse ao Nobre Avalokiteshvara, o Grande Ser: “Como deve proceder um filho ou filha que queira praticar a Profunda Perfeição da Sabedoria?”.
“A prática da Profunda Perfeição da Sabedoria” refere-se, neste contexto, à vacuidade. É qualificada como profunda porque, se a realizarmos, seremos capazes de cumprir o grande propósito – alcançar a liberação da existência cíclica [samsara]. Praticar profundamente significa ser capaz de ver através da superfície.
Assim ele falou e o superior Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, respondeu ao venerável Shariputra como segue:
“Shariputra, qualquer filho, ou filha, de nobres qualidades que queira praticar o profundo Prajna-paramita deveria observar assim de maneira perfeita e correta: a vacuidade da existência inerente também dos cinco agregados”.
Evidentemente quando Budha afirmou a inexistência inerente do “eu”, estava assim negando implicitamente os cinco agregados que o compõe, bem como todos os fenômenos. Nada existe por si mesmo, nenhuma entidade tem substância própria. Vacuidade significa interdependência, impermanência e não-eu. Para a maioria das pessoas, a primeira mente que realiza a vacuidade é uma sabedoria advinda do ouvir. Se, depois continuarmos a contemplar e a meditar, poderemos atingir uma realização mais poderosa. Isso será uma sabedoria advinda da contemplação. Então, se continuarmos a meditar sobre a vacuidade, obteremos, pelo poder da meditação, uma experiência válida da vacuidade.
Forma é vazia
Refere-se à vacuidade de existência inerente dos fenômenos, ou a ausência de substância própria dos fenômenos. A vacuidade é a natureza última dos fenômenos. Forma, nesse contexto, refere-se a um dos cinco agregados. Quando tivermos realizado a vacuidade usando como base a forma, não será difícil estabelecermos a vacuidade dos demais fenômenos. Para compreendermos o que significa existência inerente [substância própria] precisamos entender quais seriam as características de um objeto inerentemente existente. Para ser inerentemente existente, uma coisa teria que existir por si mesma, independente de outros fenômenos. Normalmente, nunca nos ocorre que haja qualquer envolvimento de nossa parte na existência desses fenômenos. O modo como tais objetos existem difere bastante da maneira como parecem existir. Um corpo inerentemente existente seria um corpo independente dos outros fenômenos. Saber se os objetos existem inerentemente, ou não, é assim uma questão extremamente importante, porque todos os nossos sofrimentos e insatisfações remontam ao agarramento à existência inerente, nossa e dos demais fenômenos. É necessário realizarmos que os fenômenos carecem de existência inerente, para podermos nos liberar dos sofrimentos.
Ver as coisas como elas são realmente é acabar com o sofrimento. Não que não haja algum sofrimento, a vida é dolorosa. Mesmo que possamos ser salvos do sofrimento, isto não significa que não iremos sofrer, mas que devemos saber como aceitar nossa dor, e saber como aceitar a alegria. Tudo o que surge, isto é nossa vida. Quando é doloroso, é apenas doloroso. Quando é prazeroso é apenas prazeroso. Apenas aceitamos cada momento como é, com o que é, com profunda aceitação. Então, dizemos que a meditação é não discriminar, sem apego e rejeição. Se examinarmos bem, compreenderemos que os mundos dos estados despertos e oníricos existem de maneira muito semelhante. Ambos aparecem-nos de modo muito vívido e parece ter existência própria, independente da mente. Acreditamos que essa aparência é verdadeira e reagimos a ela gerando desejo, aversão, medo etc. exatamente como num sonho.
Vazio é Forma
A primeira profundidade de um fenômeno é a vacuidade de existência inerente do mesmo [Forma é Vazia]. A segunda profundidade é o fenômeno enquanto manifestação da vacuidade. Verdade Última e vacuidade de existência inerente são sinônimas. As formas são exibições da vacuidade. Logo, podemos dizer que nosso corpo é uma manifestação da vacuidade. Isso implica que nosso corpo não está separado de sua vacuidade, mas é uma aparência que surge dela. Para entender melhor a relação entre nosso corpo e sua vacuidade, podemos evocar o exemplo da moeda de ouro. A natureza intrínseca da moeda é o ouro; a moeda é o próprio ouro que aparece sob a forma da moeda. A moeda por nós percebida não está separada do seu ouro e não poderá existir sem ele. Logo, podemos dizer que a moeda é uma manifestação do seu ouro.
A vacuidade não é outra do que a forma;
a forma também não é outra do que a vacuidade.
Aqui compreendemos que a natureza relativa e a natureza última dos fenômenos não existem separadamente. A vacuidade da forma é a ausência de existência inerente da forma. Se quisermos saber o que é a ausência inerente da forma, a resposta será: a forma ela mesma. Não existe vacuidade da forma separada da forma e não existe forma separada da vacuidade da forma. Portanto, a forma e a vacuidade da forma são a mesma entidade.
Da mesma maneira, sensação, percepção, formação mental, e consciência são vazias.
A “sensação” só seria inerente se existisse independente de todos os outros fenômenos. Assim, do mesmo modo “percepção”, “formações mentais”, e “consciência” são vazias e interdependentes. Se houvesse um “eu” inerentemente existente, ele teria que poder ser física e mentalmente separado dos outros fenômenos, pois não dependeria deles. A maioria dos estados mentais deludidos está enraizada na crença de que existe um eu, inerentemente existente. [existe separadamente por si só].
Shariputra, assim sendo, todos os fenômenos são vazios, não têm características. Não são produzidos e não cessam. Não são puros nem impuros.
Não diminuem, e nem aumentam.
“Não produzidos” significa que a produção dos fenômenos não é inerentemente existente; não negamos que sejam produzidos de algum modo. Todos os fenômenos impermanentes, inclusive nosso corpo, são produzidos a partir de causas e condições. O corpo que temos hoje é uma transformação do corpo anterior, como um fluxo contínuo. Assim, podemos investigar a produção do nosso corpo até os corpos de nossos pais, e daí até o aparecimento da vida no planeta. A mente também surge de seus momentos anteriores, num continuum [fluxo psico-mental] sem início e sem fim. Ao investigarmos descobriremos que todo universo e seus seres foram ‘produzidos’ [transformados] a partir de causas e condições. Entretanto, o ensinamento principal é que a produção dos fenômenos não é inerentemente existente, porque depende de causas e condições; se as causas apropriadas não estiverem reunidas, a ‘produção’ [transformação] não ocorrerá. Conforme vimos, algo que dependa de outros fenômenos será necessariamente vazio de existência inerente. A frase “e não cessam” indica um fluxo interminável de transformações. O mesmo pode ser dito a respeito da experiência interior que temos da felicidade e sofrimento; tudo surge a partir de causas e condições que formam o continuum da nossa existência. A ‘produção’ é vazia de existência inerente, pois depende de causas e condições. Conforme foi visto, algo que dependa de outros fenômenos será necessariamente vazio de existência inerente.
A cessação de um objeto é um fenômeno meramente imputado. Por exemplo, a transformação gradual da semente em broto, envolve a cessação da semente. Contudo, não existe um ponto em que a semente deixa de existir. Semente e broto, ambos são fenômenos imputados pela nossa concepção e o ponto onde a semente cessou e o broto foi produzido não pode ser encontrado.
“Não são puros ou impuros”, pureza e impureza são julgamentos relativos de nossa mente conceitual, a coisa em si não é pura nem impura.
“Não há diminuição nem aumento”, significa que, embora um fenômeno possa diminuir ou aumentar, essa diminuição não é inerentemente existente. Sabemos que os fenômenos passam de estado de diminuição para o estado de aumento, e vice-versa, na dependência de causas e condições. É da natureza de todos os fenômenos impermanentes passarem por aumento ou diminuição; contudo eles surgem na dependência de causas e condições e são vazios de existência inerente. Em suma, ao revelar que a natureza e os atributos dos fenômenos são, eles próprios, vazios de existência inerente, essa secção do sutra ensina, em essência, que os fenômenos são totalmente desprovidos de existência inerente. Além de revelar a natureza última dos fenômenos, ele também ensina, implicitamente, os diversos aspectos de sua natureza relativa, como a impermanência, a interdependência, a lei de causa e efeito e o abandono de máculas.
Portanto, Shariputra, na vacuidade não há forma, SENSAÇÃO, percepção, formação mental, nem consciência. Não há visão, audição, olfato, paladar, tato, nem mente; não há aparência, som, cheiro, sabor, tato, nem pensamento.
Não existem os elementos da consciência relacionados aos olhos, ouvidos... e mente, e não há tampouco o elemento consciência mental.
Não há ignorância, nem extinção da ignorância e assim por diante; até velhice e morte nem extinção de velhice e morte.
Do mesmo modo não há sofrimento, nem origem, nem cessação, nem caminho; nem excelsa percepção, nem aquisição, tampouco não-aquisição.
Quando obtemos pela primeira vez uma realização direta da vacuidade e atingimos o caminho da visão, nossa contemplação sobre a vacuidade é capaz de superar as delusões intelectualmente formadas, mas não tem o poder de superar as delusões inatas. Permanecendo no caminho da visão desenvolvemos a contemplação do equilíbrio meditativo que serve como liberação do nível mais denso das delusões inatas. Ao gerar essa sabedoria, atingimos o caminho da meditação.
A causa raiz das delusões inatas é o auto-agarramento inato. Ao contrário das intelectualmente formadas, as delusões inatas não provêm da adoção de filosofias e pontos de vistas equivocados, mas surgem intuitivamente em todos os seres no samsara, inclusive nos animais. O auto-agarramento inato é uma mente que se desenvolve de modo natural e apreende os fenômenos como inerentemente existentes. Ele causa o surgimento da força básica de auto-preservação, inclusive nas formas animais mais primitivas. Como resultado surgem os três venenos. Durante o caminho da meditação, abandonamos progressivamente as delusões inatas.
O encontro dos seis objetos e das seis faculdades leva ao desenvolvimento das seis consciências. Estamos operando automaticamente os olhos, e os outros sentidos, a mente está associada a cada um deles. Vemos os objetos como se fossem separados de nós. Para cada sentido temos o órgão, o objeto e a consciência relativa que percebe o objeto. Então para os seis sentidos, temos os dezoito dhatus3. Embora os seis órgãos e seus objetos sejam condições essenciais para gerarmos a consciência, elas não são inerentemente existentes. O simples desenvolver da consciência visual provoca o surgimento de delusões produzindo obstáculos. Assim como acontece com os demais fenômenos, as Quatro Nobres Verdades não têm existência inerente, bem como os Doze Elos da Originação Interdependente. O antídoto direto à ignorância é a Sabedoria que realiza a vacuidade. Entretanto, a própria sabedoria de um ser que realiza a vacuidade também é vazia de existência inerente. Se continuarmos a meditar desta maneira, nossa realização direta da vacuidade tornar-se-á cada vez mais poderosa. Por fim, ela agirá como antídoto contra os níveis mais sutis das delusões, possibilitando ultrapassá-las por completo, removendo até as marcas das delusões, ou seja, os obstáculos à onisciência.
Em sua resposta, Avalokiteshvara descreve qual é a experiência de um bodhisattva no caminho da meditação, quando medita sobre a vacuidade. Para sua mente, todos os fenômenos absorvem-se e se dissolvem na vacuidade. Até a mente que está apreendendo a vacuidade é, ela mesma, vacuidade e não aparece ao meditante. Como resultado, a distinção entre a mente e seu objeto desaparece. (a dualidade terminou)
Portanto, Shariputra, porque não há aquisição os bodhisattvas confiam e permanecem na perfeição da sabedoria; suas mentes não têm obstruções nem medo. Transcendendo completamente as falsas visões atingem o nirvana final. Todos os budhas dos três tempos por terem confiado na perfeição da sabedoria, realizam completamente a iluminação perfeita e insuperável.
Se entendermos a natureza convencional dos fenômenos, iremos compreender que o ambiente e a maneira de experimentá-lo dependem de nossa mente e de suas potencialidades. Um animal e um ser humano percebem este mundo de forma muito diferente. Visto que a aparência do ambiente depende da mente, conforme nossa mente se purifica a aparência do ambiente também se purifica.
“Portanto, Shariputra, porque não há aquisição”. Tais palavras reafirmam que as aquisições de um bodhisattva, em particular a aquisição do caminho do não-mais aprender, são vazias de existência inerente. A própria aquisição da budeidade não existe em si-mesma, mas é uma mera imputação feita pela mente. Se as aquisições de um bodhisattva fossem inerentemente existentes, elas existiriam de modo independente e não se apoiariam em causas. Por isso a budeidade não é uma questão de aquisição, pois a temos desde o princípio sem esforço. Na realidade, as aquisições de um bodhisattva carecem de existência inerente.
Portanto, o mantra da perfeição da sabedoria, o mantra do grande conhecimento, o mantra insuperável, o mantra que torna igual o que é desigual, o mantra que apazigua por completo todo sofrimento, visto que não é falso, deve ser conhecido como a verdade.
A frase: “O mantra da perfeição da sabedoria” qualifica a perfeição da sabedoria como mantra. De modo geral, mantra significa “proteção da mente”. Aqui, a perfeição da sabedoria é denominada mantra, pois seu papel principal consiste em proteger a mente das obstruções e delusões. “O mantra do grande conhecimento” refere-se ao conhecimento do Grande Selo, ou Vacuidade.
“O mantra que torna igual o que é desigual”, pois todos os fenômenos são iguais em sua essência, a vacuidade. “O mantra que apazigua por completo todo o sofrimento”, pois é isso que acontece quando ele é praticado sinceramente.
O mantra do Prajnaparamita é proclamado:
TAYATHA OM GATE GATE PARAGATE PARASANGATE BODHI SOHA
Tayatha significa “Assim é”. Om significa “As imensuráveis qualidades dos corpos, da fala e das mentes dos seres iluminados”. Gate significa “ir”, Paragate significa “ir perfeitamente”, Parasangate sgnifica “ir perfeita e completamente”, Bodhi significa “iluminação”, Soha significa “construir o fundamento”.
“Shariputra, um bodhisattva, um grande ser, deve treinar a profunda sabedoria desse modo”: Podemos treinar com os cinco sentidos, com a mente associada aos sentidos, com os doze elos, com as quatro nobres verdades, com os vários tópicos do próprio sutra. Vemos assim, que o Sutra do Coração, além de ser a expressão da sabedoria, é também um grande roteiro de meditação.
Então, o Abençoado retornou do seu samadhi e louvou o Nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, dizendo: muito bom, muito bom! Oh filho de nobres qualidades.
Assim é! Assim é! Exatamente como revelou, dessa maneira a profunda perfeição da sabedoria deve ser praticada e os Tathagatas também irão regozijar-se.
A questão de Shariputra e a resposta de Avalokiteshvara surgiram pelo poder do Budha. Também nesse caso, não significa que tal poder tenha sido a única razão desses fatos. O carma coletivo daqueles que estavam presentes também foi uma condição necessária para que recebessem tais ensinamentos.
“Quando o abençoado assim falou, o venerÁvel Shariputra, o Nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, e todo o círculo de discípulos, juntamente com os seres mundanos – deuses, humanos, semi-deuses, espíritos – deleitaram-se e louvaram imensamente o que fora proferido pelo Abençoado.
Isso conclui o “Sutra do Coração do Prajna-paramita”.
[Este texto do Sutra foi traduzido do tibetano para o português e feita a transcrição fonética pelo trabalho conjunto de Phurbu Tsering (Pema chime dorje) e Lama Padma Samten, na sede do Caminho do Meio, Viamão no último dia do ano de 1998, com a motivação de trazer benefício aos de fala brasileira-lusitana]
[Os comentários sobre o Sutra foram feitos baseados em comentários de diversos mestres]
http://www.nossacasa.net/shunya/default.asp?menu=1325
“Os homens mundanos estão andando por um caminho perigoso e vagando em um oceano amargo, mas ainda não querem olhar para a grande sabedoria. Realmente, suas intenções não podem ser adivinhadas! A grande sabedoria é como uma espada afiada, que corta todas as coisas que toca, tão afiadamente que elas nem sabem que foram cortadas. Quem, além dos sábios e santos, pode fazer uso dela? Certamente, não os ignorantes”.
Han-shan, séc. VII
CANTANDO O SUTRA DO CORAÇÃO
Os ensinamentos da vacuidade sobre a verdadeira natureza da realidade são considerados o coração do budismo Mahayana, o grande caminho do meio. Estes ensinamentos são explicados em cem mil versos conhecidos como os Prajna Paramitas Sutras, cuja tradução seria As Escrituras da Sabedoria Transcendental. Estes sutras também estão condensados em formas mais curtas. A mais curta de todas é o chamado Sutra do Coração – a essência central, ou o coração das Escrituras da Sabedoria. Muitas pessoas dizem que este é o sutra favorito delas. O Sutra do Coração é cantado diariamente, estudado e ensinado em quase todos os mosteiros e centros budistas, no oriente ou no ocidente. Eu chamo carinhosamente de Sutra Nenhum; vocês verão por quê. [...]
Os budistas acreditam que a energia sagrada, a benção e a sabedoria emanadas deste canto, combinadas com a focalização da atenção, beneficiam de muitas formas sutis todos os seres visíveis e invisíveis. A eficácia das orações depende tanto ou mais, da concentração e a intenção do praticante, quanto da oração em si. Algumas vezes em mosteiros tibetanos, quando alguém está doente os monges cantam esse sutra o dia todo; observando isto detectei um campo energético quase palpável ao redor dos monges que cantavam.
Se você cantar ao ar livre na natureza, em seu quintal, por exemplo, lembre-se de que a fala Vajra (iluminada) está transmitindo e espalhando o Dharma para tudo e todos que estão lá fora, tanto pessoas e animais domésticos quanto grilos, vaga-lumes, besouros, mosquitos animais silvestres e até mesmo pulgas e carrapatos. A energia do Dharma, que abençoa e edifica a terra e tudo que está sobre ela, é generosamente compartilhada com todos. Os lamas dizem que onde quer que este sutra seja recitado, cantado, estudado, copiado ou ensinado, os ensinamentos da iluminação criarão raízes e ali florescerão. Então, nós fazemos a nossa parte ao cantarmos o Sutra do Coração.
Extraído do livro: O DESPERTAR DO BUDA INTERIOR – Lama Surya Das.
PRAJNAPARAMITA - Em sânscrito:
OM NAMO BHAGAVATYAI ARYA-PRAJNAPARAMITAYAI
ARYA AVALOKITESHVARO BODHISATTVO GAMBHIRAM
PRAJNAPARAMITA CHARYAM CHARAMANO
VYAVALOKAYATI SMA PANCHA SKANDHAS TAMSH CHA
SVABHAVA SHUNYAN PASHYATI SMA
IHA SHARIPUTRA RUPAM SHUNYATA SHUNYATA EVA RUPAM
RUPAN NA PRITHAK SHUNYATA
SHUNYATAYA NA PRITHAK RUPAM
YAD RUPAM SA SHUNYATA
YA SHUNYATA TAD RUPAM
EVAM EVA VEDANA SAMJNA SAMSKARA VIJNANAM
IHA SHARIPUTRA SARVA DHARMA SHUNYATA LAKSHANA
ANUTPANNA ANIRUDDHA AMALA AVIMALA ANUNA APARIPURNAH
TASMAT SHARIPUTRA SHUNYATAYAM NA RUPAM
NA VEDANA NA SAMJNA NA SAMSKARA NA VIJNANAM
NA CHAKSHU SHROTRA GHRANA JIHVA KAYA MANAMSI
NA RUPA SHABDA GANDHA RASA SPRASHTAVYA DHARMAH
NA CHAKSHUR DHATUR YAVAN NA MANO VIJNANAM DHATUH
NA AVIDYA NA AVIDYA KSHAYO YAVAN JARA MARANAM
NA JARA MARANA KSHAYO NA DUHKHA SAMUDAYA NIRODHA MARGA
NA JNANAM NA PRAPTIR NA BHISMAYA TASMAI NA APRAPTIH
TASMAT SHARIPUTRA APRAPTIVAD BODHISATTVO
PRAJNAPARAMITAM ASHRITYA
VIHARATYA CHITTA VARANAH
CHITTA AVARANA NASTITVAD ATRASTO
VIPARYASA ATIKRANTO NISHTHA NIRVANA PRAPTAH
TRYADHVA VYAVASTHITAH SARVA BUDDHAH
PRAJNAPARAMITAM ASHRITYA ANUTTARAM
SAMYAK SAMBODHIM ABDHISAMBUDDHAH
TASMAT JNATAVYAM PRAJNAPARAMITA MAHA MANTRO
MAHA VIDYA MANTRO 'NUTTARA MANTRO SAMASAMA MANTRAH
SARVA DUHKHA PRASHAMANAH SATYAM AMITHYATVAT
PRAJNAPARAMITAYAM UKTO MANTRAH
TAYATHA
OM GATE GATE PARAGATE PARASAMGATE BODHI SVAHA
ITY ARYA PRAJNAPARAMITA HRIDAYAM SAMAPTAM
Bhagavati prajna paramita hridaya sutra
O abençoado coração da Sabedoria Transcendental,
inconcebível, inexprimível, prajna-paramita
não-nascido, incessante, por natureza semelhante ao céu,
vivenciado pela cognição prístina da consciência auto-reflexiva
mãe de todos os vitoriosos dos três tempos, A você presto homenagem!
Assim eu ouvi.
Certa época o Abençoado estava em Rajagriha, na montanha do Pico dos Abutres,
em companhia de um grande número de monges e Bodhisattvas.
Naquela ocasião, o Abençoado estava absorto na concentração dos inúmeros aspectos dos fenômenos, denominado profunda iluminação.
O “Abençoado” refere-se ao Budha Shakyamuni. Budha encontrava-se absorto num estado de contemplação sobre a vacuidade, ou natureza última, dos inúmeros aspectos dos fenômenos. O Budha contemplava todos os fenômenos como expressões do Tatagathagharba. Ele praticava o samadhi da inseparatividade.
Nessa mesma ocasião o Nobre Avalokithesvara1, o Bodhisattva, o Grande Ser, observava perfeitamente a prática da Profunda Perfeição da Sabedoria que observa perfeitamente a vacuidade da existência inerente também dos cinco agregados.
Enquanto Budha permanecia em samadhi, Avalokiteshvara contemplava porque os cinco agregados são vazios de existência inerente. A palavra “também” indica que o Grande Ser já havia realizado a vacuidade da existência inerente do “eu” ou pessoa.
Então, pelo poder do Budha, o venerável Shariputra disse ao Nobre Avalokiteshvara, o Grande Ser: “Como deve proceder um filho ou filha que queira praticar a Profunda Perfeição da Sabedoria?”.
“A prática da Profunda Perfeição da Sabedoria” refere-se, neste contexto, à vacuidade. É qualificada como profunda porque, se a realizarmos, seremos capazes de cumprir o grande propósito – alcançar a liberação da existência cíclica [samsara]. Praticar profundamente significa ser capaz de ver através da superfície.
Assim ele falou e o superior Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, respondeu ao venerável Shariputra como segue:
“Shariputra, qualquer filho, ou filha, de nobres qualidades que queira praticar o profundo Prajna-paramita deveria observar assim de maneira perfeita e correta: a vacuidade da existência inerente também dos cinco agregados”.
Evidentemente quando Budha afirmou a inexistência inerente do “eu”, estava assim negando implicitamente os cinco agregados que o compõe, bem como todos os fenômenos. Nada existe por si mesmo, nenhuma entidade tem substância própria. Vacuidade significa interdependência, impermanência e não-eu. Para a maioria das pessoas, a primeira mente que realiza a vacuidade é uma sabedoria advinda do ouvir. Se, depois continuarmos a contemplar e a meditar, poderemos atingir uma realização mais poderosa. Isso será uma sabedoria advinda da contemplação. Então, se continuarmos a meditar sobre a vacuidade, obteremos, pelo poder da meditação, uma experiência válida da vacuidade.
Forma é vazia
Refere-se à vacuidade de existência inerente dos fenômenos, ou a ausência de substância própria dos fenômenos. A vacuidade é a natureza última dos fenômenos. Forma, nesse contexto, refere-se a um dos cinco agregados. Quando tivermos realizado a vacuidade usando como base a forma, não será difícil estabelecermos a vacuidade dos demais fenômenos. Para compreendermos o que significa existência inerente [substância própria] precisamos entender quais seriam as características de um objeto inerentemente existente. Para ser inerentemente existente, uma coisa teria que existir por si mesma, independente de outros fenômenos. Normalmente, nunca nos ocorre que haja qualquer envolvimento de nossa parte na existência desses fenômenos. O modo como tais objetos existem difere bastante da maneira como parecem existir. Um corpo inerentemente existente seria um corpo independente dos outros fenômenos. Saber se os objetos existem inerentemente, ou não, é assim uma questão extremamente importante, porque todos os nossos sofrimentos e insatisfações remontam ao agarramento à existência inerente, nossa e dos demais fenômenos. É necessário realizarmos que os fenômenos carecem de existência inerente, para podermos nos liberar dos sofrimentos.
Ver as coisas como elas são realmente é acabar com o sofrimento. Não que não haja algum sofrimento, a vida é dolorosa. Mesmo que possamos ser salvos do sofrimento, isto não significa que não iremos sofrer, mas que devemos saber como aceitar nossa dor, e saber como aceitar a alegria. Tudo o que surge, isto é nossa vida. Quando é doloroso, é apenas doloroso. Quando é prazeroso é apenas prazeroso. Apenas aceitamos cada momento como é, com o que é, com profunda aceitação. Então, dizemos que a meditação é não discriminar, sem apego e rejeição. Se examinarmos bem, compreenderemos que os mundos dos estados despertos e oníricos existem de maneira muito semelhante. Ambos aparecem-nos de modo muito vívido e parece ter existência própria, independente da mente. Acreditamos que essa aparência é verdadeira e reagimos a ela gerando desejo, aversão, medo etc. exatamente como num sonho.
Vazio é Forma
A primeira profundidade de um fenômeno é a vacuidade de existência inerente do mesmo [Forma é Vazia]. A segunda profundidade é o fenômeno enquanto manifestação da vacuidade. Verdade Última e vacuidade de existência inerente são sinônimas. As formas são exibições da vacuidade. Logo, podemos dizer que nosso corpo é uma manifestação da vacuidade. Isso implica que nosso corpo não está separado de sua vacuidade, mas é uma aparência que surge dela. Para entender melhor a relação entre nosso corpo e sua vacuidade, podemos evocar o exemplo da moeda de ouro. A natureza intrínseca da moeda é o ouro; a moeda é o próprio ouro que aparece sob a forma da moeda. A moeda por nós percebida não está separada do seu ouro e não poderá existir sem ele. Logo, podemos dizer que a moeda é uma manifestação do seu ouro.
A vacuidade não é outra do que a forma;
a forma também não é outra do que a vacuidade.
Aqui compreendemos que a natureza relativa e a natureza última dos fenômenos não existem separadamente. A vacuidade da forma é a ausência de existência inerente da forma. Se quisermos saber o que é a ausência inerente da forma, a resposta será: a forma ela mesma. Não existe vacuidade da forma separada da forma e não existe forma separada da vacuidade da forma. Portanto, a forma e a vacuidade da forma são a mesma entidade.
Da mesma maneira, sensação, percepção, formação mental, e consciência são vazias.
A “sensação” só seria inerente se existisse independente de todos os outros fenômenos. Assim, do mesmo modo “percepção”, “formações mentais”, e “consciência” são vazias e interdependentes. Se houvesse um “eu” inerentemente existente, ele teria que poder ser física e mentalmente separado dos outros fenômenos, pois não dependeria deles. A maioria dos estados mentais deludidos está enraizada na crença de que existe um eu, inerentemente existente. [existe separadamente por si só].
Shariputra, assim sendo, todos os fenômenos são vazios, não têm características. Não são produzidos e não cessam. Não são puros nem impuros.
Não diminuem, e nem aumentam.
“Não produzidos” significa que a produção dos fenômenos não é inerentemente existente; não negamos que sejam produzidos de algum modo. Todos os fenômenos impermanentes, inclusive nosso corpo, são produzidos a partir de causas e condições. O corpo que temos hoje é uma transformação do corpo anterior, como um fluxo contínuo. Assim, podemos investigar a produção do nosso corpo até os corpos de nossos pais, e daí até o aparecimento da vida no planeta. A mente também surge de seus momentos anteriores, num continuum [fluxo psico-mental] sem início e sem fim. Ao investigarmos descobriremos que todo universo e seus seres foram ‘produzidos’ [transformados] a partir de causas e condições. Entretanto, o ensinamento principal é que a produção dos fenômenos não é inerentemente existente, porque depende de causas e condições; se as causas apropriadas não estiverem reunidas, a ‘produção’ [transformação] não ocorrerá. Conforme vimos, algo que dependa de outros fenômenos será necessariamente vazio de existência inerente. A frase “e não cessam” indica um fluxo interminável de transformações. O mesmo pode ser dito a respeito da experiência interior que temos da felicidade e sofrimento; tudo surge a partir de causas e condições que formam o continuum da nossa existência. A ‘produção’ é vazia de existência inerente, pois depende de causas e condições. Conforme foi visto, algo que dependa de outros fenômenos será necessariamente vazio de existência inerente.
A cessação de um objeto é um fenômeno meramente imputado. Por exemplo, a transformação gradual da semente em broto, envolve a cessação da semente. Contudo, não existe um ponto em que a semente deixa de existir. Semente e broto, ambos são fenômenos imputados pela nossa concepção e o ponto onde a semente cessou e o broto foi produzido não pode ser encontrado.
“Não são puros ou impuros”, pureza e impureza são julgamentos relativos de nossa mente conceitual, a coisa em si não é pura nem impura.
“Não há diminuição nem aumento”, significa que, embora um fenômeno possa diminuir ou aumentar, essa diminuição não é inerentemente existente. Sabemos que os fenômenos passam de estado de diminuição para o estado de aumento, e vice-versa, na dependência de causas e condições. É da natureza de todos os fenômenos impermanentes passarem por aumento ou diminuição; contudo eles surgem na dependência de causas e condições e são vazios de existência inerente. Em suma, ao revelar que a natureza e os atributos dos fenômenos são, eles próprios, vazios de existência inerente, essa secção do sutra ensina, em essência, que os fenômenos são totalmente desprovidos de existência inerente. Além de revelar a natureza última dos fenômenos, ele também ensina, implicitamente, os diversos aspectos de sua natureza relativa, como a impermanência, a interdependência, a lei de causa e efeito e o abandono de máculas.
Portanto, Shariputra, na vacuidade não há forma, SENSAÇÃO, percepção, formação mental, nem consciência. Não há visão, audição, olfato, paladar, tato, nem mente; não há aparência, som, cheiro, sabor, tato, nem pensamento.
Não existem os elementos da consciência relacionados aos olhos, ouvidos... e mente, e não há tampouco o elemento consciência mental.
Não há ignorância, nem extinção da ignorância e assim por diante; até velhice e morte nem extinção de velhice e morte.
Do mesmo modo não há sofrimento, nem origem, nem cessação, nem caminho; nem excelsa percepção, nem aquisição, tampouco não-aquisição.
Quando obtemos pela primeira vez uma realização direta da vacuidade e atingimos o caminho da visão, nossa contemplação sobre a vacuidade é capaz de superar as delusões intelectualmente formadas, mas não tem o poder de superar as delusões inatas. Permanecendo no caminho da visão desenvolvemos a contemplação do equilíbrio meditativo que serve como liberação do nível mais denso das delusões inatas. Ao gerar essa sabedoria, atingimos o caminho da meditação.
A causa raiz das delusões inatas é o auto-agarramento inato. Ao contrário das intelectualmente formadas, as delusões inatas não provêm da adoção de filosofias e pontos de vistas equivocados, mas surgem intuitivamente em todos os seres no samsara, inclusive nos animais. O auto-agarramento inato é uma mente que se desenvolve de modo natural e apreende os fenômenos como inerentemente existentes. Ele causa o surgimento da força básica de auto-preservação, inclusive nas formas animais mais primitivas. Como resultado surgem os três venenos. Durante o caminho da meditação, abandonamos progressivamente as delusões inatas.
O encontro dos seis objetos e das seis faculdades leva ao desenvolvimento das seis consciências. Estamos operando automaticamente os olhos, e os outros sentidos, a mente está associada a cada um deles. Vemos os objetos como se fossem separados de nós. Para cada sentido temos o órgão, o objeto e a consciência relativa que percebe o objeto. Então para os seis sentidos, temos os dezoito dhatus3. Embora os seis órgãos e seus objetos sejam condições essenciais para gerarmos a consciência, elas não são inerentemente existentes. O simples desenvolver da consciência visual provoca o surgimento de delusões produzindo obstáculos. Assim como acontece com os demais fenômenos, as Quatro Nobres Verdades não têm existência inerente, bem como os Doze Elos da Originação Interdependente. O antídoto direto à ignorância é a Sabedoria que realiza a vacuidade. Entretanto, a própria sabedoria de um ser que realiza a vacuidade também é vazia de existência inerente. Se continuarmos a meditar desta maneira, nossa realização direta da vacuidade tornar-se-á cada vez mais poderosa. Por fim, ela agirá como antídoto contra os níveis mais sutis das delusões, possibilitando ultrapassá-las por completo, removendo até as marcas das delusões, ou seja, os obstáculos à onisciência.
Em sua resposta, Avalokiteshvara descreve qual é a experiência de um bodhisattva no caminho da meditação, quando medita sobre a vacuidade. Para sua mente, todos os fenômenos absorvem-se e se dissolvem na vacuidade. Até a mente que está apreendendo a vacuidade é, ela mesma, vacuidade e não aparece ao meditante. Como resultado, a distinção entre a mente e seu objeto desaparece. (a dualidade terminou)
Portanto, Shariputra, porque não há aquisição os bodhisattvas confiam e permanecem na perfeição da sabedoria; suas mentes não têm obstruções nem medo. Transcendendo completamente as falsas visões atingem o nirvana final. Todos os budhas dos três tempos por terem confiado na perfeição da sabedoria, realizam completamente a iluminação perfeita e insuperável.
Se entendermos a natureza convencional dos fenômenos, iremos compreender que o ambiente e a maneira de experimentá-lo dependem de nossa mente e de suas potencialidades. Um animal e um ser humano percebem este mundo de forma muito diferente. Visto que a aparência do ambiente depende da mente, conforme nossa mente se purifica a aparência do ambiente também se purifica.
“Portanto, Shariputra, porque não há aquisição”. Tais palavras reafirmam que as aquisições de um bodhisattva, em particular a aquisição do caminho do não-mais aprender, são vazias de existência inerente. A própria aquisição da budeidade não existe em si-mesma, mas é uma mera imputação feita pela mente. Se as aquisições de um bodhisattva fossem inerentemente existentes, elas existiriam de modo independente e não se apoiariam em causas. Por isso a budeidade não é uma questão de aquisição, pois a temos desde o princípio sem esforço. Na realidade, as aquisições de um bodhisattva carecem de existência inerente.
Portanto, o mantra da perfeição da sabedoria, o mantra do grande conhecimento, o mantra insuperável, o mantra que torna igual o que é desigual, o mantra que apazigua por completo todo sofrimento, visto que não é falso, deve ser conhecido como a verdade.
A frase: “O mantra da perfeição da sabedoria” qualifica a perfeição da sabedoria como mantra. De modo geral, mantra significa “proteção da mente”. Aqui, a perfeição da sabedoria é denominada mantra, pois seu papel principal consiste em proteger a mente das obstruções e delusões. “O mantra do grande conhecimento” refere-se ao conhecimento do Grande Selo, ou Vacuidade.
“O mantra que torna igual o que é desigual”, pois todos os fenômenos são iguais em sua essência, a vacuidade. “O mantra que apazigua por completo todo o sofrimento”, pois é isso que acontece quando ele é praticado sinceramente.
O mantra do Prajnaparamita é proclamado:
TAYATHA OM GATE GATE PARAGATE PARASANGATE BODHI SOHA
Tayatha significa “Assim é”. Om significa “As imensuráveis qualidades dos corpos, da fala e das mentes dos seres iluminados”. Gate significa “ir”, Paragate significa “ir perfeitamente”, Parasangate sgnifica “ir perfeita e completamente”, Bodhi significa “iluminação”, Soha significa “construir o fundamento”.
“Shariputra, um bodhisattva, um grande ser, deve treinar a profunda sabedoria desse modo”: Podemos treinar com os cinco sentidos, com a mente associada aos sentidos, com os doze elos, com as quatro nobres verdades, com os vários tópicos do próprio sutra. Vemos assim, que o Sutra do Coração, além de ser a expressão da sabedoria, é também um grande roteiro de meditação.
Então, o Abençoado retornou do seu samadhi e louvou o Nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, dizendo: muito bom, muito bom! Oh filho de nobres qualidades.
Assim é! Assim é! Exatamente como revelou, dessa maneira a profunda perfeição da sabedoria deve ser praticada e os Tathagatas também irão regozijar-se.
A questão de Shariputra e a resposta de Avalokiteshvara surgiram pelo poder do Budha. Também nesse caso, não significa que tal poder tenha sido a única razão desses fatos. O carma coletivo daqueles que estavam presentes também foi uma condição necessária para que recebessem tais ensinamentos.
“Quando o abençoado assim falou, o venerÁvel Shariputra, o Nobre Avalokiteshvara, o bodhisattva, o Grande Ser, e todo o círculo de discípulos, juntamente com os seres mundanos – deuses, humanos, semi-deuses, espíritos – deleitaram-se e louvaram imensamente o que fora proferido pelo Abençoado.
Isso conclui o “Sutra do Coração do Prajna-paramita”.
[Este texto do Sutra foi traduzido do tibetano para o português e feita a transcrição fonética pelo trabalho conjunto de Phurbu Tsering (Pema chime dorje) e Lama Padma Samten, na sede do Caminho do Meio, Viamão no último dia do ano de 1998, com a motivação de trazer benefício aos de fala brasileira-lusitana]
[Os comentários sobre o Sutra foram feitos baseados em comentários de diversos mestres]
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