RESUMO das práticas da política de saúde do Bolsonaro!
Em março de 2020, o Bolsonaro queria uma solução rápida pra crise do coronavírus, porque pra ele era inadmissível que as pessoas deixassem de sair de casa e estragassem a suposta recuperação econômica dele (que nem existia, aliás, balela do Paulo Guedes, já que a recessão estava instalada e nenhuma medida Econômica apontava ter algum sucesso)
Daí apareceram algumas pesquisas muito preliminares falando da cloroquina para o tratamento de COVID em camundongos. Como é comum em pesquisas do tipo, a cloroquina foi bem nas primeira fases de testes, mas... logo precisa ser descartada pois se verificou alta toxicidade na dose que faria efeito.
Mas Bolsonaro, desesperado pra acabar com o "lockdown dos governadores", abraçou a cloroquina com tudo. Demitiu dois ministros da saúde por causa da cloroquina. Três dias antes da demissão do Mandetta, ele teve reunião surpresa com a Nise Yamaguchi, que defendia o medicamento.
A cloroquina tinha outra vantagem estratégica:
1. A matéria prima era razoavelmente barata;
Imagina esse monte de informação circulando na cabeça de Homer Simpson do Bolsonaro:
--> Sairia como "herói" e
Daí ele mandou o exército "produzir" milhões de cápsulas de cloroquina. E O EXÉRCITO, sabendo que a medicação não tinha ainda sequer comprovação de que funcionaria TOPOU fabricar mesmo assim.
Só faltou combinar com o vírus.
Mas as cápsulas já estavam lá, produzidas.
E produzir medicamento sem eficácia no meio de uma pandemia e distribuir é crime.
SIM, É CRIME de responsabilidade.
E é sujeito a impeachment.
No limite, pode até ser considerado genocídio (inclusive um dos argumentos usados pela Ucrânia pra considerar o Holodomor um genocídio independente do dolo é esse).
Aviso Legal histórico: o caso de Holodomor como genocídio, o argumento é de que quando Stálin permitiu a Trofim Lysenko fazer suas políticas agrícolas anti ciência assumiu o risco pela morte de milhões de pessoas por inanição independente de dolo, que foi EXATAMENTE o que rolou no caso Bolsonaro. Juridicamente, é possível usar esse argumento contra Bolsonaro também: ao financiar um tratamento ineficaz para COVID e insistir nisso mesmo quando a ineficácia estava clara, Bolsonaro assumiu o risco pela morte das pessoas que foram tratadas com cloroquina.
POIS BEM: desde então, tudo o que Bolsonaro tem feito é para se livrar de todas essas acusações. Até o Trump desistiu da cloroquina (ele tinha uma eleição pra perder), mas Bolsonaro não. Por que? Porque ele precisa ter argumentos políticos e jurídicos pra se safar dessa.
Por que estou falando tudo isso? Porque Mandetta foi demitido ao não querer embarcar na loucura da cloroquina. Teich foi demitido ao não querer embarcar na loucura da cloroquina. O critério pra um novo ministro assumir era "embarcar na loucura da cloroquina". Zero médicos toparam.
Quem é que estava junto com Bolsonaro na loucura da cloroquina?
SIM Os militares.
Daí Bolsonaro contratou UM MILITAR para o Ministério da Saúde.
Um militar "especialista em logística".
Pra que?
Pra despachar as milhões de cápsulas de cloroquina produzidas por ordem do presidente.
Mais do que despachar as milhões de cápsulas, a missão era ao menos deixar dúvidas na cabeça da galera quanto à eficácia do medicamento. Como? Fazendo cortinas de fumaça e dando sinais confusos sobre outras cousas estilo vacina.
Então, a distribuição de toda essa cloroquina produzida foi errática até o momento.
Agora o governo age em duas frentes: assumir o controle das vacinas, inclusive as produzidas pelos estados, e... despachar cloroquina. Tudo ao mesmo tempo.
O Ministério do gestor/milico prevê gastar R$ 250 milhões para pôr 'kit-covid' em farmácias populares.
SIM: gastar R$ 250 milhões para pôr um "'kit-covid'" que se sabe que NÃO FUNCIONA em farmácias populares.
Isso porquê o EXÉRCITO tem mais de 2,5 milhões de comprimidos de hidroxicloroquina encalhados nos estoques.
E por que tudo junto? Porque Bolsonaro nunca admite erro ou derrota.
O objetivo é sempre ajustar a narrativa para sair triunfante das circunstâncias. Então o engodo chamado Kit Covid vai ser distribuído AO MESMO TEMPO que as vacinas vão ser distribuidas.
O motivo?
Daí, na cabeça dele, ele mata três coelhos numa cajadada só:
-> despacha a cloroquina represada,
-> ainda sai como herói da pandemia, pronto para ser reeleito em 2022 e enfraquecendo possíveis adversários como Dória.
Vai dar certo?
Claro que não, mas talvez seja o suficiente para colocar um pouquinho de dúvida na cabeça de uma parcela da população e para enfraquecer os argumentos de acusação de crime de responsabilidade e de genocídio.
E ainda limpa um pouco a barra do Exército.
Bolsonaro, como protótipo de ditador, só pensa nas coisas sob um viés: o dele mesmo. Então, sempre que a gente pensar em uma reação dele, tem que pensar sob a lógica do interesse individual imediato. Normalmente é se livrar de acusações ou livrar os filhos. Ele é baixo assim.
Inclusive eu espero estar errado e espero que o Bolsonaro quebre a cara da pior maneira possível. Ele está literalmente rifando vidas nessa brincadeira. Mas é nesses momentos que fica mais claro que nem valores universais como a vida estão acima de seus interesses pessoais.
Paralelo a isso é preciso acrescentar o quanto ele usa as igrejas e a religião para convencer cristãos que é um mártir. Que busca uma cura e que sofre retaliações constantes.Esse e o pensamento de muitos cristãos convencidos numa lavagem cerebral. Manipular pessoas simples.
Estou errado?
Escute seu corpo!
Em nossa sociedade, a mente predomina cada vez mais. Em nosso centro de operações, gerenciamos a cada dia milhares de estímulos que chegam até nós por e-mail, aplicativos de mensagens no celular, redes sociais, veículos de comunicação e pessoas com quem interagimos. Nossa mente é submetida a uma superestimulação constante, o que pode provocar estresse, ansiedade e esgotamento geral. O protagonismo da nossa mente, além disso, ocorre em detrimento da atividade do corpo, considerado por muitos um mero recipiente que contém os órgãos e permite que nos movamos −menos do que precisaríamos− de um espaço para outro. E ao sedentarismo típico da era tecnológica se somaram os efeitos colaterais das várias restrições da pandemia.
Quanto mais horas de televisão e telas, embora seja para conversar com nossos seres queridos, menos cuidado e tonificação corporal. Um exemplo bem simples: em vez de caminhar até o cinema local, o que significaria talvez alguns milhares de passos entre ir e voltar, damos um clique com um dedo, sem sair do sofá. Isso sem falar das horas que passamos sentados diante do computador durante o nosso trabalho. Cedo ou tarde, o corpo reclamará dos nossos maus-tratos e nos mandará mensagens que, se forem abertas, podem ser cruciais para nossa qualidade de vida.
Por outro lado, se silenciarmos os problemas ou as dores com analgésicos ou qualquer outro meio, como o álcool, para fazer o sintoma desaparecer, estaremos matando o mensageiro.
O psiquiatra e pesquisador Bessel van der Kolk explica em seu clássico O Corpo Guarda as Marcas (Editora Sextante) o risco de não ouvir os apelos do nosso veículo para a vida: “Enquanto você guardar segredos e suprimir informações, estará fundamentalmente em guerra consigo mesmo... Uma questão crucial é permitir a si mesmo saber o que você sabe. Isso pode precisar de uma enorme quantidade de coragem”.
Por meio da dor nas costas, o corpo pede que mudemos nossa postura, que nos movimentemos. Uma dor de cabeça recorrente nos convida a reduzir o ritmo. O desconforto e a fadiga de uma digestão pesada são avisos do organismo de que não estamos fazendo as coisas bem.
O corpo fala conosco para que possamos fazer uma pausa ou promover mudanças em nossa vida. Se o silenciamos ou ignoramos, por estarmos concentrados no mental, corremos o risco de que na próxima vez que decidirmos satisfazê-lo seja tarde demais.
Sobre isso, a terapeuta corporal Anna Sólyom estabelece, em seu livro Reconecta con tu Cuerpo (Reconecte-se com seu corpo), a seguinte analogia: “Assim como quando um carro começa a falhar ou faz ruídos estranhos nós o levamos à oficina porque não queremos ficar parados na estrada, vale a pena ouvir as mensagens de dor. A dor é nossa amiga, nossa melhor aliada, já que busca nossa sobrevivência, busca corrigir o que fazemos mal para prolongar a vida do organismo (...). Estamos diante de um professor que ninguém quer”.
Vejamos quatro medidas cotidianas para aprender a ouvir nosso corpo e ficar amigo dele:
Fazer um scanner corporal. Uma técnica muito usada em mindfulness é a meditação focada em cada parte do corpo para saber como ele se sente. Deitados, devemos prestar atenção em diferentes partes e “escutar” o que elas nos dizem.
Dar um passeio diário. A ferramenta mais simples para sair do sedentarismo são nossas pernas. Nosso celular tem aplicativos que nos permitem definir uma meta diária −por exemplo, 5.000 passos.
Alimentar o corpo e a mente. Os japoneses aplicam a regra dos 80%, comendo um pouco menos do que a fome que têm, para promover a leveza corporal. Por outro lado, não devemos reduzir as horas de sono de que nosso sistema necessita para um bom reset diário.
Honrar o mensageiro. Em vez de abafar os sintomas com comprimidos, se escutarmos nosso corpo, ele nos dirá do que precisa. Jenny Moix, professora de psicologia da Universidade Autônoma de Barcelona, resume desta forma: “Nosso corpo precisa ser levado em conta, cuidado, mimado. Normalmente nos esquecemos dele, só a dor nos lembra de que ele existe. É como se fosse o grito do nosso corpo para prestarmos um pouco de atenção nele”.
Francesc Miralles é escritor e jornalista especialista em psicologia.
“Destruição é a agenda do Tradicionalismo”. A ideologia por trás de Bolsonaro e Trump.
Benjamin Teitelbaum passou 15 meses entrevistando os principais ideólogos conservadores atuais para escrever ‘Guerra pela eternidade’, que mostra a relação entre os gurus Olavo de Carvalho e Steve Bannon com esta ideologia antimodernista e de fundamentos religiososO pesquisador da extrema direita e etnógrafo americano Benjamin Teitelbaum.ED. UNICAMP
Steve Bannon, ex-estrategista, ao deixar a Corte Federal de Manhattan, em 20 de agosto, após ser acusado de fraude e conspiração. ANDREW KELLY / REUTERS
BENJAMIN TEITELBAUM, AUTOR DE 'GUERRA PELA ETERNIDADE' E PROFESSOR DA UNIVERSIDADE DO COLORADO.
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Redes Sociais: os idiotas sempre tiveram voz, a diferença está em quem os ouve
As redes sociais deram voz a uma legião de idiotas. Desde que o filósofo italiano Umberto Eco fez o raciocínio em 2015, ele virou uma verdade absoluta da internet, já que o idiota é sempre o outro. Quando recebia o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, o escritor fez um discurso sobre a sociedade do espetáculo. Começou com o idiota da aldeia, algo que sempre existiu. Com a TV, o idiota da aldeia já conseguiu um patamar superior e, na internet, "têm o mesmo direito à palavra de um Prêmio Nobel", defendeu. Na aldeia, a baderna do idiota era logo calada. Na internet, ele é mais ouvido que os demais.
Evidente que, ao possibilitar contato imediato o tempo inteiro com pessoas em todos os cantos do planeta, a internet nos apresenta idiotas e formas de ser idiota que ainda não conhecíamos. Ocorre que também apresenta muita coisa que presta. O problema está no idiota, na possibilidade do idiota falar, no tipo de coisa que o idiota fala ou na aldeia? Inspirada pela colorista digital Marina Amaral, especializada em história e ícone mundial em sua área, trago a vocês o desafio de comparar o que escrevemos nas redes com o que se escrevia em 79 d.C..
Quem visita a fascinante Pompéia, ao pé do vulcão Vesúvio, no sul da Itália, geralmente chega atraído pelos corpos petrificados na erupção há 2 mil anos. Mas é no lupanar, a "casa de tolerância", que a gente reconhece a essência da alma humana que segue sendo a mesma tanto tempo depois. As frases escritas na parede por prostitutas, clientes e frequentadores do local são frases que, nos anos 80, caberiam na porta de um banheiro público e hoje são mundialmente unificadas no Twitter.
As redes sociais encorajam anônimos a despejar publicamente toda sua frustração, insegurança, inveja e recalque em forma de discurso violento e maldoso. Será? Recentemente, arqueólogos começaram a coletar frases pichadas em 79 d.C. por toda Pompeia, além do lupanar. Será que as redes sociais mudaram o que dizemos ou o que escolhemos ouvir e reverberar? Confira.
Há 2 anos, uma maledicência escrita numa casa particular mudou a história que conhecemos de Pompéia. Até então, a data da erupção do Vesúvio era estimada entre agosto e setembro, mas com base na transcrição de um documento oficial, feito pelo historiador Pliny com o relato da tragédia 25 anos depois que ela aconteceu. Essa pichação é a prova científica de que a erupção foi depois, no inverno, pelo menos em outubro. Como foi feita em carvão, que se apaga com facilidade, foi preservada apenas porque toda a cidade acabou atingida pela erupção no máximo uma semana depois da inscrição, explicou a arqueóloga Kristina Killgrove na Revista Forbes norte-americana.
Nos acostumamos a ver a história da humanidade contada a partir de grandes atos e grandes feitos, como se as miudezas do nosso dia a dia estivessem apartada de tudo o que nos faz evoluir. A descoberta da diferença de dois meses pode parecer uma bobagem, mas é algo fundamental para todos os estudos mais avançados sobre epidemias, pandemias e doenças recorrentes.
Os bioarqueólogos estudam os restos mortais de cadáveres ancestrais encontrados pelo mundo em busca de patógenos que se assemelhem aos que hoje causam doenças, então comparam os dados históricos do que ocorreu com aquela população, se a doença migrou, voltou, acabou. Dois meses são a diferença entre inverno e outono. Ou seja, uma doença recorrente de inverno é causada por um patógeno que age melhor em temperatura mais baixa. Agora, na pandemia, vemos o quanto a questão da temperatura influi nos estudos sobre o vírus e sobre possíveis vacinas e remédios.
É uma frase que pode ter um impacto enorme nos estudos de história, arqueologia e biologia. Sem dúvida, é uma frase histórica de 79 d.C., que ficou durante 2 mil anos escondida até escavações recentes. O que dizia? Em latim: "XVI (ante) K(alends) Nov(embres) in[d]ulsit pro masumis esurit[ioni]." Em português: "No dia 17 de outubro, ele se empanturrou de comida".
O pé do Vesúvio é um terreno arqueológico que não temos nem ideia de quando terminará de ser estudado. Em Pompéia, as escavações ainda prosseguem. Já foi encontrada uma cidade mais antiga, que também sucumbiu a uma erupção e está embaixo da que conhecemos. Outras áreas continuam sendo escavadas e analisadas com tecnologia cada vez mais moderna. É uma amostra de que a natureza humana, essa que conhecemos das pequenas alegrias e sofrimentos do cotidiano, permanece a mesma.
As "redes sociais" de Pompéia
Trago aqui uma coletânea de frases encontradas nos mais diversos lugares de Pompéia. Algumas são anônimas, as outras são assinadas, mas impossível saber se pelo real autor ou se com nome de outra pessoa. A maioria era feita com materiais que logo se apagavam e em locais onde outras pessoas podiam ver. Podemos imaginar que a única diferença entre as pichações e as redes sociais é que antes não tinha print. Pois é, só que estamos aqui 2 mil anos depois vendo todas essas frases na internet.
"O ministro das finanças do imperador Nero disse que esta comida é veneno", anônimo, na casa de Cuspius Pansa, integrante de uma família de políticos poderosos.
"Floronius, soldado privilegiado da 7a legião, esteve aqui. As mulheres nem perceberam a presença dele. Só 6 mulheres vieram aqui para conhecê-lo, bem poucas para tal garanhão", anônimo, no quartel dos gladiadores.
“Para aquele que anda defecando aqui. Cuidado com a maldição. Se você desprezar esta maldição, pode ter um Júpiter zangado como inimigo” - inscrição na porta da casa de Pascius Hermes.
Neste pequeno quadrado da parede da basílica, temos 3 frases:
"Virgula para seu amigo Tertius: você é repugnante."
"Lucius Istacidius, eu trato como estranho qualquer um que não me convida para jantar."
"Samius para Cornelius: se enforque!"
Todas as paredes têm inscrições. Vamos a mais exemplos:
"Phileros é eunuco."
"Ephapra, você é careca!"
"Chie, espero que suas hemorróidas se esfreguem tanto que doam mais do que antes!"
"Ephapra joga bola mal."
"O homem com quem eu estou jantando é um bárbaro."
"Eu poderia acariciar as costelas de Vênus com um pedaço de pau e chicotear suas nádegas com uma alavanca: ela perfurou meu coração, e eu ficaria feliz em quebrar sua cabeça com um porrete!"
Sabem essa história de "fake news" e campanhas eleitorais difamatórias? Então, também tinha em Pompéia. O print é eterno.
"Os bandidinhos pedem que Vadia seja eleito para aedile (administrador da cidade)."
"Todos o bando que bebe até tarde é a favor da eleição de Vadia."
"Vesonius Primus apóia a eleição de Gnaeus Helvius para aedile, um homem à altura do cargo."
"Os ourives de forma unânime apóiam a eleição de Gaius Caspius Pansa para aedile." (É o mesmo que recebeu, em outro grafitti uma "crítica" à comida que serve em sua casa.)
Estas inscrições anteriores não são feitas por cidadãos comuns, são inscrições encomendadas a profissionais, utilizados nas campanhas políticas e também nos anúncios comerciais de Pompéia, colocados nos locais mais movimentados da cidade. No caso, era um bar, onde também há inscrições de pessoas comuns, como:
"Dois amigos estiveram aqui. Enquanto estavam, eles receberam um serviço ruim em todos os sentidos de um cara chamado Epafrodito. Eles o expulsaram e gastaram 105 e meio sestércios (moeda local) mais agradavelmente com prostitutas."
"Manuseie com cuidado." - ao lado da pintura de um pênis.
Nos livros de história, as pessoas que viveram no tempo de Cristo parecem muito diferentes de nós. Eu não consigo encontrar palavras para descrever a sensação de constatar que estamos há 2 mil anos reclamando das mesmas coisas e repetindo as mesmas pequenas maldades indefinidamente. Por que só agora as pessoas enlouquecem tanto e parecem hipnotizadas? O que mudou é a configuração da praça pública e a maioria de nós ainda não percebeu.
Fake News eleitorais: Pompéia x Brasil
Após anos de estudo e dedicação, fico sabendo que as campanhas políticas na época de Cristo falavam exatamente as mesmas coisas que falamos hoje. A diferença está no impacto, distribuição e reação ao conteúdo. Imagine se fosse possível controlar essas variáveis para favorecer ou prejudicar um candidato. Vamos voltar à parede do bar para um exemplo prático.
Todos os que passavam por lá viam, ao mesmo tempo, as seguintes frases:
"Os bandidinhos pedem que Vadia seja eleito para aedile (administrador da cidade)."
"Todos o bando que bebe até tarde é a favor da eleição de Vadia."
"Vesonius Primus apóia a eleição de Gnaeus Helvius para aedile, um homem à altura do cargo."
"Os ourives de forma unânime apóiam a eleição de Gaius Caspius Pansa para aedile."
Imagine se fosse possível mostrar às pessoas só as frases que interessam, por exemplo, a Vesonius Primus, que era o então administrador de Pompéia.
A primeira providência seria diminuir o máximo possível o alcance informação do apoio unânime dos ourives a Gaius Caspius Pansa e maximizar o alcance do apoio de Vesonius Primus a Gnaeus Helvius. Depois, seria necessário fazer os boatos sobre Vadia chegarem a pessoas que já nutrem alguma antipatia por ele, melhor ainda se tivessem sido vítimas dos pequenos ladrões da cidade ou não gostassem dos bêbados que ficavam pelas ruas até tarde. Quanto mais os simpatizantes de Vadia demorassem para saber dos ataques, melhor.
As informações selecionadas deveriam chegar às pessoas num momento em que não estivessem perto de ninguém em que confiam e que duvidasse do que foi dito. O cenário perfeito seria montar essa operação enquanto as pessoas pensassem que todas elas estão vendo as mesmas frases na parede. Isso hoje tem o nome de Facebook, Twitter, Google, YouTube e Instagram. Não é à toa que são bilionários e tornaram os políticos e a imprensa reféns.
Todos os jornalistas estão inseridos no mesmo contexto. Dessa forma, a percepção de mundo que boa parte da imprensa passa a ter é construída a partir de informações selecionadas de acordo com o perfil individual. A própria imprensa passa a dar importância àquilo que é mais visível e causa mais indignação aos indivíduos que compõem uma redação. Ocorre que esses processos são artificiais e se atribui importância a fatos sem que se tenha acesso ao todo.
Prender o jornalismo no ecossistema das redes sociais faz com que se tornem o tema do dia os não-fatos ou as passagens anedóticas, como o conflito Bolsonaro-Dória sobre a vacina que ainda nem existe. Enquanto isso, assuntos espinhosos que não interessam a quem gasta com os anúncios passam despercebidos. Um exemplo? O Fundo Eleitoral não está sendo gasto com campanhas, falta menos de um mês para as eleições e a maioria do dinheiro não foi repassada para os candidatos, principalmente mulheres.
Na semana passada, o Wall Street Journal publicou uma reportagem investigativa mostrando que o próprio Mark Zuckerberg, depois de jantar com políticos e lobistas importantes, pediu e supervisionou mudanças no algoritmo do Facebook para maximizar a distribuição de alguns produtores de conteúdo e diminuir a de outros. Os atingidos pela redução já haviam percebido, mas julgavam ser questão ideológica. Não era. Os que esclarecem as pessoas sobre como as plataformas desinformam são os alvos, em qualquer espectro ideológico. O que produzem tem menos alcance, gente falando bem tem menos alcance e a difamação é maximizada.
Logo após as eleições presidenciais nos Estados Unidos, as plataformas foram chamadas ao Congresso Nacional para esclarecer a lambança que haviam feito. Em seguida, explodiu o escândalo da Cambridge Analytica, até então a empresa mais famosa em capturar a história de vida e comportamento das pessoas para direcionar informação que interessa a seus clientes. O Facebook declarou oficialmente que iria mexer no algoritmo para reduzir o alcance de postagens políticas e aumentar o que vemos de posts pessoais dos nossos amigos, objetivo inicial da plataforma.
Isso foi feito, mas iria afetar demais clientes gordíssimos do Facebook, os novos "comunicadores independentes", gente paga por políticos, empresas e instituições para emitir opiniões sensacionalista mexendo com os medos e traumas das pessoas. Eles são os melhores clientes das plataformas porque, como a incoerência no comportamento pode ser percebida até por crianças, precisam apelar para a manipulação das emoções individuais para ganhar confiança do público. Isso custa dinheiro e é legalizado, chama-se impulsionamento e marketing segmentado.
Na primeira mudança, um dos clientes mais gordos teve um impacto além do esperado e, conforme noticiado pela imprensa na época, os donos do empreendimento jantaram com Mark Zuckerberg na mesma época em que ele manteve reuniões com órgãos tradicionais de mídia, que foram menos afetados porque têm reputação mas queriam acertar as coisas. Agora, o WSJ informou que os engenheiros do Facebook foram chamados a fazer uma segunda mudança, pessoalmente supervisionada por Zuckerberg. Era preciso dar um grau extra de diminuição aos veículos que combatiam esses clientes.
Você já deve ter visto reclamações de diminuição de alcance de postagens tanto à direita quanto à esquerda e isso nos faz questionar qual a ideologia das plataformas. Chama-se dinheiro. Os que mais precisam colocar dinheiro na plataforma para chegar às pessoas são os que têm conteúdo com potencial explosivo, sem credibilidade e bancado por algum interesse econômico que não pode ser dito abertamente. Quem os incomodar sofrerá as consequências.
Este não é um problema do Facebook. Citei o caso específico porque é o mais novo. O que mais me incomodou, particularmente, é em outra plataforma. No ano de 2018, foi criado o YouTube Kids, para que nossos filhos não fossem expostos a conteúdo adulto, violento, malicioso ou de desinformação. Pois bem, 3 anos depois que a plataforma estava no ar e milhões de pais em todo o mundo pensavam ter resolvido um problema, a Business Insider descobriu que o algoritmo do YouTube oferecia às nossas crianças teorias conspiratórias em vez de conhecimento.
A reportagem fez buscas simples, dessas que a gente fazia em enciclopédia. Procuraram, por exemplo, "chegada do homem à Lua". Todos os vídeos que apareciam no YouTube Kids eram diferentes teorias de como a NASA nunca foi à Lua e de que forma encenou uma mentira para o mundo todo. Ao vê-los, a crianças era sugada para um universo paralelo de medo: seres humanos híbridos vivendo entre nós a serviço de extraterrestres, sacrifícios humanos feitos em lojas maçônicas, o governo dos EUA planejando o assassinato do presidente Kennedy, os aliens que vivem na Lua, difamação de vítimas de tiroteios em escolas. Isso era o conteúdo para crianças.
A resposta do YouTube para a Business Insider foi: "O aplicativo YouTube Kids oferece uma grande variedade de conteúdo que inclui vídeos enriquecedores e divertidos para famílias. Esse conteúdo é exibido usando sistemas treinados por humanos. Dito isso, nenhum sistema é perfeito e às vezes erramos o alvo. Quando o fazemos, tomamos medidas imediatas para bloquear a exibição de vídeos ou, conforme necessário, canais no aplicativo. Continuaremos trabalhando para melhorar a experiência do aplicativo YouTube Kids."
Um novo mundo?
Há dois mil anos temos as mesmas ambições, as mesmas irritações, as mesmas frustrações e reagimos a tudo isso do mesmo jeito. A qualidade humana, sagrada e imperfeita, atravessa os séculos com as mesmas glórias, os mesmos defeitos e uma única segurança: a união nos equilibra. Seja uma família, uma empresa, uma pequena comunidade ou um país, viver sabendo que somos parte de um todo e iguais em dignidade e direitos é o que possibilita que as qualidades de um supram os defeitos do outro.
O que o nosso mundo novo trouxe não é uma nova teoria nem uma nova forma de negócio. Dividir para governar é ancestral. A diferença é que isso antes só era possível para uns poucos, os que têm instinto, talento para governar, força, poder e aliados. Agora, está ao alcance de qualquer um que queira pagar por impulsionamento e segmentação de anúncios. É uma espécie de integração homem-máquina em que a máquina supre a capacidade que falta a um indivíduo para causar divisão social e ganhar com ela.
Não é um mecanismo feito para a política. Como na nossa ancestral Pompéia e seus letreiros profissionais, começou para promover negócios e depois o mundo político achou uma boa ideia. O problema da nossa era é matar a galinha dos ovos de ouro, distorcer a praça pública e fragmentar a sociedade de uma forma que nos deixa vulneráveis como indivíduos e como povos. Precisamos urgentemente sair da zona de conforto que é debater apenas conteúdo, nosso futuro está em entender e controlar o contexto.
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