“O gratuito significa sempre uma forma de dominação”

Trecho da entrevista do sociólogo Richard Sennett.

Richard Sennett: “O gratuito significa sempre uma forma de dominação”

Este sociólogo e violoncelista disseca uma sociedade em que as novas tecnologias escravizam mais pessoas do que nunca.



Em seus ensaios o senhor adiantou muitos dos problemas da sociedade atual: a fragmentação das experiências, os perigos da flexibilidade que iria melhorar nossa vida e acabou levando o trabalho a cada minuto e local de nossa vida privada...
 
Simplesmente vejo o que acontece. Muitas vezes as pessoas enxergam mais com a imaginação do que com os olhos.

O que aconteceu para que o que nós entendíamos como direitos hoje sejam vistos como privilégios? 
O capitalismo moderno funciona colonizando a imaginação do que nós consideramos possível. Marx já havia percebido que o capitalismo tinha mais a ver com a apropriação do entendimento do que com a apropriação do trabalho. O Facebook é a penúltima apropriação da imaginação: o que víamos como útil agora se revela como uma forma de entrar na consciência das pessoas antes de que possamos agir. As instituições que se apresentavam como libertadoras se transformam em controladoras. Em nome da liberdade, o Google e o Facebook nos levaram pelo caminho em direção ao controle absoluto.

Como detectar o perigo nas novas tecnologias sem se transformar em um paranoico que suspeita de tudo? 
Devemos nos perguntar sobre o que se apresenta como real. Isso é o que fazem os escritores e os artistas. Eu não suspeito. Suspeitar significa que existe algo oculto e eu não acho que o Facebook tenha algo oculto. Simplesmente não queremos ver. Não queremos enfrentar que o gratuito significa sempre uma forma de dominação.

Em tempos de redes sociais, como preservar a intimidade? 
O que aconteceu com a Cambridge Analytica é um crime: alguém roubou e vendeu informação privada. Não existe mistério. É um negócio ilegal que camuflaram com conversas sobre proteção de dados. Quem recebeu a informação pagou por ela. Mas o truque é levar uma discussão que não deveria existir à imprensa. Os crimes devem ser punidos.

Seus ensaios são lidos de outra forma após a quebra do Lehman Brothers? 
Após esse colapso, as vendas do meu livro A Cultura do Novo Capitalismo dispararam. Até então as críticas à ordem econômica eram consideradas nostálgicas. Muitas das coisas que estão acontecendo são tão incríveis que tendemos a não acreditar, mesmo com elas na nossa frente.

“Obama falava com uma eloquência maravilhosa, mas a desigualdade aumentava. Ele teria sido um grande juiz do Supremo, mas não um grande presidente”
O senhor não previu Trump. E nem o Brexit.
 Ficaram além dos meus poderes. Mas tive uma intuição. O problema de Obama é que falava com uma eloquência maravilhosa, mas a desigualdade continuava aumentando. Não conseguiu controlá-la. Deu apoio à saúde pública, mas o resto ficou nas palavras. E isso é muito perigoso. Ele teria sido um grande juiz do Supremo Tribunal, mas não agiu como um grande presidente.

De que maneiras podem agir hoje os políticos para defender os direitos das pessoas contra as pressões dos poderes econômicos? 
A história explica. Há 100 anos Theodore Roosevelt decidiu que o Estado deveria romper os monopólios. Era conservador. Mas era o presidente de todos os americanos. O capitalismo tem a tendência a passar com grande facilidade do mercado ao monopólio. E aí, com a repressão da concorrência, começam os grandes problemas, a grande desproteção. Com monopólios, o capitalismo passa de ser o sistema da concorrência a ser o da dominação. Aumentar a diferença salarial entre os ricos e os pobres de tal maneira como ocorre agora é o caminho a todos os populismos. Isso foi Trump. No Reino Unido tivemos o equivalente a Obama em Tony Blair. Pior do que Obama. Obama é um homem de total integridade pessoal. E Blair é somente um político.
Por que o Estado de bem-estar só parece sustentável nos países nórdicos? 
Eu resisto a essa ideia. Não é preciso ser rico para que esse sistema prospere e se mantenha. Na Colômbia existe com recursos muito menores. Em Botsuana há um modelo justo, ainda que a equidade quando se tem pouco signifique pouco. Bismarck construiu o Estado de bem-estar na Alemanha com más intenções: queria evitar que os trabalhadores se rebelassem. Com o Estado de bem-estar as pessoas se tornam conservadoras. A destruição dessas políticas que ocorre hoje na Espanha é uma tragédia. Sabe que meus pais lutaram na Guerra Civil Espanhola?

Eu li que por ser filho de brigadistas lhe ofereceram a nacionalidade espanhola. 
Eu gostaria. Escreva isso: eu gostaria. Aceitaria na hora. Sou americano e britânico, mas também gostaria de ser espanhol. Escreva.

Ele se levanta para contar a sua esposa, a socióloga Saskia Sassen, que trabalha no cômodo ao lado. 
“Você já sabe o que nossos amigos espanhóis irão perguntar: Espanhola ou catalã?’. Precisamos ter cuidado”, responde ela.

O senhor cresceu em um bairro pobre de Chicago, Cabrini Green. 
Minha mãe era assistente social. Trabalhou para o partido comunista e foi perseguida por McCarthy até que, como quase todos os comunistas americanos, percebeu no que o comunismo soviético havia se transformado e deixou de ser comunista. Dedicou quase uma década a criar a legislação de um sistema de saúde pioneiro. Mas ela e meu pai eram os típicos comunistas burgueses.

Conheceu seu pai? 
Não. E isso faz parte de meu drama pessoal. Conheci seu irmão mais velho, meu tio Bill, que também lutou na Espanha com os republicanos.

Sabe por que seu pai foi embora? 
Tenho certeza de que foi por outra mulher. Minha mãe não me deu nenhuma explicação. Mas, já que pergunta, o momento de maior tensão com minha mãe não foi por isso. Foi por minha decisão de me transformar em violoncelista profissional. Tinha medo de qualquer coisa que se afastasse dessa segurança. E via a música como uma vida boêmia.

Mas o senhor escolheu essa vida.
Tive um período de vida boêmia em Nova York. Depois voltei à ordem. Fui convocado para ir à guerra do Vietnã e decidi evitá-la retornando a Chicago para voltar à universidade. Depois, em Harvard, me operaram porque o túnel do carpo na mão de muitos músicos e alguns atletas se tensiona de tal forma que os músculos se enrolam uns com os outros. Nos últimos 40 anos, precisei encontrar maneiras de compensar a fraqueza de alguns dedos quando toco violoncelo. Isso me afastou da música profissional.

Em A Corrosão do Caráter o senhor descreve a falácia de que a flexibilidade trabalhista melhora a vida. Que tipo de caráter produzirão o Uber e o Deliveroo?
 Vidas sem coluna vertebral. Um caráter cujas experiências não constroem um todo coerente. Algo muito circunscrito a nosso tempo e preocupante porque os humanos precisam de uma história própria, uma coluna vertebral.

Como vê o futuro de seus estudantes?
 Tento tirar de suas cabeças que a vida intelectual depende das universidades. Em qualquer profissão a pessoa pode e deve ter uma vida intelectual ativa. É fundamental que qualquer pessoa tenha consciência de sua capacidade intelectual e de sua necessidade de contribuir a esse desenvolvimento. Até mesmo se não tiver uma carreira universitária.

O senhor não parece um teórico. Como sociólogo utiliza o trabalho de campo, não as estatísticas. Fala de pessoas com nomes e sobrenomes... 
Sempre me senti arraigado na antropologia da vida cotidiana. Isso era suspeito para a Escola de Frankfurt dos anos trinta, exceto para Benjamin, que usava suas próprias experiências para tentar entender o mundo. Por isso sofreu o desprezo da Escola de Frankfurt. A única pessoa que o protegeu foi Hannah Arendt.
“Tento tirar da cabeça dos jovens estudantes que a vida intelectual depende das universidades”
O senhor é considerado discípulo de Arendt. O que lembra dela? 
Eu a conheci em 1959. Meu grupo tocava os quartetos de Bartók na Universidade de Chicago e ao terminar uma mulher pequenininha subiu ao palco para nos cumprimentar. Disse que havia conhecido Bartók. Quando voltei a Chicago, fiz seu curso de estética e odiei a estética. Acho que a decepcionei e que ela significou muito mais para mim do que eu signifiquei para ela.

O que ela significou para o senhor?
Foi uma pedra de toque intelectual em minha trajetória. Mas mostrei a ela um rascunho do meu livro O declínio do homem público: As tiranias da intimidade e o odiou. Foi esse tipo de relação... Ela tinha uma conexão melhor com pessoas que eram filosoficamente mais sofisticadas do que eu. Por isso me dá medo que essa relação seja supervalorizada. Eu gostaria de ter sido seu discípulo, mas não acho que seja. Acho que é difícil para as pessoas entenderem que alguém pode te influenciar profundamente sem exercer um papel possessivo sobre você. Senti uma grande tristeza por ela quando publicou Eichmann em Jerusalém e se transformou em uma pária diante da maioria da comunidade judaica que fugiu dos nazistas.

O senhor escreveu que os professores dão lições e os grandes professores, dúvidas. E acabou questionando Arendt. 
O que me chocava nela era que tinha certa surdez cultural. Era contra forçar algumas formas de integração racial na América, escreveu um artigo muito obscuro sobre isso. Não ignorava que os negros precisavam forçar esse caminho. Mas ficava na análise da proposta abstrata. Os negros devem ser forçados a conviver com os brancos? Theodor Adorno disse que odiava o jazz porque era uma música primitiva. É o mesmo, para mim essa geração de filósofos tinha um problema: a surdez diante do presente. Vimos isso com a geração de nossos pais: eles custavam a entender que não cairíamos rendidos nos braços do partido comunista. Em sua equação, ser anticomunista era igual a ser nazista, ou algo assim.

Hoje, em que lugar o senhor se situa politicamente? 
Atravessei um período muito conservador. Fui liberal. Mas agora estou novamente à esquerda. Sou um socialista de Bernie Sanders.
Por que a esquerda já não se conecta com a vontade de mudança das pessoas? 
Isso é o que me deixa tão triste sobre a esquerda espanhola. Os interesses dos partidos de esquerda – de direita já não falamos – passaram a ser mais importantes do que os interesses da população. E dessa forma não se pode avançar.

O que acontecerá depois de Trump?
É evidentemente um criminoso. A questão é se será considerado responsável ou não por seus crimes. O mundo está cheio de criminosos soltos. E pode ser que ele se junte a esse grupo. A única coisa que me consola é que Trump é um juiz tão ruim dos demais que isso o faz cometer grandes erros. Quando se é tão egocêntrico, é difícil ver o resto. Mas... por enquanto é o homem mais poderoso do mundo. Até mesmo seus eleitores sabem que é um delinquente.

E por que o apoiam?
 É um enigma. Mas não é um fenômeno unicamente americano. Já o presenciamos com Berlusconi. As pessoas sabiam como era e, ainda assim, o queriam para demonstrar sua irritação, para incomodar. Trump é a expressão da política da ofensa. Nesse país já deixamos para trás a ideia de caçá-lo. Já foi caçado. O que ainda não sabemos é se pagará ou não por isso. Berlusconi foi capaz de destroçar o sistema judicial italiano. E pode ser que Trump consiga fazê-lo aqui.

Hoje a criatividade é fundamental em todos os trabalhos? 
Sim. Em sociologia, criativo é procurar uma voz própria. Mas só a temos falando para alguém. Não se tem voz própria para falar sozinho.

Você é um ESCRAVO de um Canalha!!!

Quais os efeitos colaterais do discurso motivacional???


O mercado de palestras e livros motivacionais está crescendo como nunca desde o início do século XXI e não mostra sinais de desaquecimento. 

As "Religiões tradicionais" estão perdendo adeptos para novas igrejas que trocam o discurso do pecado pelo encorajamento, pela "realização pessoal" e até pela autoajuda.

As instituições políticas e empresariais mudaram o sistema de punição, hierarquia e combate ao concorrente pelas positividades do estímulo, eficiência e reconhecimento social pela superação das próprias limitações.

Byung-Chul Han mostra que a sociedade disciplinar e repressora do século XX descrita por Michel Foucault perde espaço para uma nova forma de organização coercitiva: a violência neuronal.

As pessoas se cobram cada vez mais para apresentar resultados - tornando elas mesmas vigilantes e carrascas de suas ações. 

Em uma época onde poderíamos trabalhar menos e ganhar mais, a ideologia da positividade opera uma inversão perversa: nos submetemos a trabalhar mais e a receber menos. 

Essa onda do 'eu consigo' e do 'yes, we can' tem gerado um aumento significativo de doenças como depressão, transtornos de personalidade, síndromes como hiperatividade e burnout. 

Este livro transcende o campo filosófico e pode ajudar educadores, psicólogos e gestores a entender os novos problemas do século XXI.

Na Amazon tem o livro "Sociedade do cansaço" escrito por Byung-Chul Han no formato livro de bolso. Byung-Chul Han é um filósofo e teórico cultural da Alemanha nascido na Coréia do Sul. Ele foi professor na Universidade de Artes de Berlim e ainda dá aulas ocasionalmente.



Fala da alienação e dominação, do inferno do igual, da sociedade do cansaço e da exploração a que nos submetemos. 

É um filósofo de origem sul-coreana que fez sua carreira na Alemanha e em alemão, inspirado na obra de alguns dos mais célebres – e mais difíceis – pensadores desse país, de Hegel a Martin Heidegger. Tem um livro, inclusive, chamado "No Enxame: reflexões sobre o digital", que é uma crítica demolidora do papel das redes sociais na sociedade atual. Não parecem argumentos para o sucesso viral e, entretanto, a matéria sobre o pensamento de Byung Chul-Han publicada na quarta-feira pelo EL PAÍS teve mais de meio milhão de usuários únicos nos dois primeiros dias e foi o conteúdo mais visto do site durante mais de 30 horas. A versão em português também se transformou na matéria mais lida do jornal em toda a América Latina. Conversamos com outros filósofos e escritores para falar dos motivos do sucesso do pensamento de um autor cujas principais obras – A Sociedade do Cansaço, A Sociedade da Transparência e a Agonia do Eros – estão traduzidas ao português.

Algo parecido já aconteceu à época com a morte de Zygmunt Bauman e o surgimento de Slavoj Zižek, conhecido como o filósofo viral. Em maior ou menor grau, são todos eruditos, controversos e politicamente incorretos. “É uma leitura crítica do mundo acelerado que tem a ver com a transparência e as tecnologias e isso para ele funciona e gera cumplicidade. É o tipo de pensamento que acompanha as solidões”, explica o filósofo e jornalista Josep Ramoneda.

“Existem quatro aspectos essenciais”, comenta o professor de Filosofia Contemporânea da Universidade de Barcelona Manuel Cruz. “Por um lado, acertou no formato. Esses textos de intervenção curta e clara são fundamentais. Além disso, há o estilo. Tem um modo de colocar as coisas especialmente atrativo. Parte de um conceito intuitivamente aparente – a transparência, por exemplo – ou uma metáfora – a sociedade do cansaço – e consegue um grau de acessibilidade muito grande. Também está muito preocupado pela experiência. Por último, afiança solvência. Você pode ou não gostar, mas não pode dizer que ele é um charlatão”.


Contra o mito das redes ~ por Cecilia Dreymüller


Quase sete em cada dez leitores da matéria do EL PAÍS, tanto em espanhol como em português, chegaram a ela através das redes sociais, fundamentalmente o Facebook. É quase uma ironia, porque Han ataca com dureza o papel das redes e se pergunta se no final será o algoritmo a construir o homem e não o inverso.

A ensaísta Remedios Zafra, autora de El Entusiasmo (O Entusiasmo), um estudo sobre a precariedade e a desilusão, reflete sobre a pertinência da análise de Han: “Na vida contemporânea (online) são tão poucos os tempos vazios que não é fácil ativar a consciência, o que prima é a inércia. A vida tal como a conhecíamos parece estar em risco, fagocitada por trabalhos e tarefas derivados da conexão permanente. Que grande parte dessas tarefas tenham a ver com a própria visibilidade e com o protagonismo do eu na vida digital está muito relacionado com o mecanismo que faz a conexão. O que não tenho claro é até que ponto essa “autoexploração” sugerida por Han é promovida pelo próprio indivíduo”.

A aparente simplicidade é outra de suas virtudes. “Han utiliza uma linguagem inteligível, também simplificando muito. Daí a enganosa sensação de que tudo pode ser explicado, algo que reconforta muito. Acho que o sucesso de Han se deve em boa parte a esse fator reconfortante”, afirma Cecilia Dreymüller, tradutora especializada em literatura alemã e escritora. “São livros muito curtos, isso é importante nos tempos atuais. Bastante contundentes e fáceis de se ler”, acrescenta Ramoneda. “É uma mistura de profundidade filosófica (principalmente à base de citações indiscriminadas de toda a filosofia ocidental) com questões da cotidianidade mais comum. Tudo reconhecível. E esse é outro grande fator de seu sucesso”, diz Dreymüller.

Por trás da fama de Byung Chul-Han há uma carreira de fundo contra a lógica da vida. Nascido em 1959 em Seul, Han decidiu ir à Alemanha após abandonar seus estudos de metalurgia. Em 1994 se doutorou pela Universidade de Munique com uma tese sobre Heidegger e pouco depois começou a trabalhar como professor universitário. Surpreendente para alguém que não dominava o alemão quando chegou. “É assombroso o domínio do idioma de Han, verdadeiramente. Mas uma pessoa disciplinada e inteligente como ele consegue fazê-lo com muita aplicação. Parece ter uma enorme força de vontade. Ele adora poesia, recita Goethe de memória assim como Leopardi – em italiano”, afirma Dreymüller.

Vamos conversar sobre racismo.

Sou negra e sou mulher.

Sou muitas outras coisas, mas vivo com essas duas características todos os dias.

Eles não são características que eu possa esconder ou evitar.

Como esta é a minha primeira vez que me aprofundo em um tópico básico, quero fornecer um pouco de uma cartilha e fornecer um conjunto de definições para ajudá-lo no futuro.

Vou tentar revisar essas definições sem que ninguém fique na defensiva, porque é a última coisa que quero.

No entanto, se você ficar na defensiva sobre qualquer coisa que leia aqui, pergunte-se por quê.

Provavelmente há uma razão convincente.

OK, então este é um assunto muito complicado.

Vamos começar devagar.

Um equívoco comum sobre o racismo é que as pessoas pensam que é composto de ódio consciente, e isso é tudo.

Isso absolutamente não é verdade.

Se você abrir um dicionário, a definição que geralmente se enquadra em "racismo" é a seguinte:
Uma crença ou doutrina de que diferenças inerentes entre os vários grupos raciais humanos determinam conquistas culturais ou individuais, geralmente envolvendo a ideia de que a própria raça é superior e tem o direito de dominar os outros ou que um determinado grupo racial é inferior aos outros.

E tenho certeza que você está familiarizado com essa definição.


Adivinha?

O racismo é muito mais complicado que isso.

O racismo é sistêmico. O racismo é institucional.

O racismo não é acreditar que você é melhor que o outro por algum motivo.

Isso é realmente preconceito.

Então, o que é racismo?

Racismo é preconceito mais poder.

Eu não estou falando sobre eletricidade; Estou falando de influência, status e autoridade.

Nos Estados Unidos, políticas e dinâmicas raciais são específicas por país.

Leis, restrições e outras normas em nossa sociedade foram criadas pela maioria para criar esses preconceitos contra outro grupo diferente.

Essas coisas podem incluir:

- Escravidão

- Diferenças salariais

- White Flight (o fenômeno de pessoas brancas saindo de áreas urbanas, particularmente aquelas com populações minoritárias significativas, e se mudando para áreas suburbanas.)

- Discriminação no local de trabalho e no emprego

- Brutalidade policial

- Estereótipos em entretenimento

- Leis de votação

O exposto acima são apenas alguns exemplos de como os negros foram perpetuados para permanecerem em um estado opressivo.

Existem muitas outras definições e conceitos que compõem essa teia gigante emaranhada.

Por exemplo, com o “privilégio branco”, os brancos se beneficiam dessas estruturas sociais simplesmente por existir nelas.

Obviamente, algumas pessoas não optam conscientemente por se beneficiar, mas isso não significa que não haja um tipo de vantagem para elas.

Você não pode odiar alguém pela cor de sua pele, mas ainda se beneficia dos sistemas que foram configurados.

Sim, eu sei que a escravidão não é mais uma instituição na América.

Lembre-se que não é o que é racismo.

Não estou dizendo que, como uma pessoa branca, você ou alguém que você conhece cresceu com tudo entregue a ela.

Ser privilegiado não significa que alguém tenha uma vida fácil.

Não é assim que o privilégio é definido nesta instância específica.

Portanto, antes de emitir um sinal de parada e começar a descartar essas palavras, lembre-se de que isso é uma questão de perspectiva.

Na conversa sobre raça, estou falando do privilégio intrínseco de ser branco.

A questão do privilégio é que ele pode tornar as pessoas cegas às lutas das quais não estão conscientes.

Se uma pessoa de cor é preconceituosa com você porque você é branca, provavelmente não prejudicará sua qualidade de vida geral, porque a sociedade não é construída dessa maneira.

Ser branco também provavelmente não afetará negativamente a capacidade de uma pessoa prosperar na sociedade.

O preconceito existe em todos nós.

No entanto, para que o racismo exista, essas estruturas de poder devem ser um componente próspero.

A principal questão sobre o racismo é como essas leis e ideais do passado ainda estão causando danos às pessoas hoje.

Resultado de imagem para Irene SarumiO racismo ilustra como as leis e os ideais cimentaram uma estrutura que faz parte da história de nossa nação.

Basta dar uma olhada no experimento de preconceito da Dra. Jane Elliott* para ver do que estou falando.”

— Irene Sarumi

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(*) Dra. Jane Elliot é mais conhecida como a professora que, em 5 de abril de 1968, no dia seguinte ao assassinato de Martin Luther King Jr., colocou seus alunos todos brancos da terceira série em um exercício ousado para ensiná-los sobre preconceito racial.
Resultado de imagem para Dra. Jane ElliotNo primeiro dia do exercício, ela designou as crianças de olhos azuis como o grupo superior. Elliott forneceu colares de tecido marrom e pediu aos alunos de olhos azuis que os enrolassem no pescoço de seus colegas de olhos castanhos como um método para identificar facilmente o grupo minoritário. Ela deu às crianças de olhos azuis privilégios extras, como segundas porções no almoço, acesso ao novo trepa-trepa e cinco minutos extras no recreio. As crianças de olhos azuis estavam sentadas na frente da sala de aula e as crianças de olhos castanhos foram enviadas para sentar nas fileiras de trás. As crianças de olhos azuis foram incentivadas a brincar apenas com outras crianças de olhos azuis e a ignorar as de olhos castanhos. Elliott não permitia que crianças de olhos castanhos e de olhos azuis bebessem no mesmo bebedouro e frequentemente castigava os alunos de olhos castanhos quando não seguiam as regras do exercício ou cometiam erros. Ela muitas vezes exemplificava as diferenças entre os dois grupos, destacando os alunos e usava aspectos negativos de crianças de olhos castanhos para enfatizar um ponto.
No início, houve resistência entre os estudantes do grupo minoritário à idéia de que crianças de olhos azuis eram melhores do que crianças de olhos castanhos. Para combater isso, Elliott mentiu para as crianças, afirmando que a melanina estava ligada à sua maior inteligência e capacidade de aprendizado. Pouco tempo depois, essa resistência inicial caiu. Aqueles que eram considerados "superiores" tornaram-se arrogantes, mandões e desagradáveis ​​aos colegas de classe "inferiores". Suas notas em testes simples eram melhores e eles concluíram tarefas matemáticas e de leitura que antes pareciam fora de sua capacidade. Os colegas de classe "inferiores" também se transformaram - em crianças tímidas e subservientes, que obtiveram uma pontuação mais baixa nos testes e até mesmo durante o recreio isolaram-se, incluindo aquelas que antes haviam sido dominantes na classe. O desempenho acadêmico dessas crianças sofreu, mesmo com tarefas que antes eram simples.
Na segunda-feira seguinte, Elliott reverteu o exercício, tornando as crianças de olhos castanhos superiores. Enquanto as crianças de olhos castanhos provocavam as crianças de olhos azuis de maneira semelhante ao que ocorreu no dia anterior, Elliott relata que era muito menos intensa. Às duas e meia da quarta-feira, Elliott disse às crianças de olhos azuis que tirassem o colarinho. Para refletir sobre a experiência, ela pediu às crianças que anotassem o que haviam aprendido.

Bodhidharma! As Duas Entradas no Caminho...


Muitas são as formas de entrada no Caminho, mas podem ser resumidas em duas. Existem a "Entrada da Inteligência e a Entrada da Conduta". A primeira é a compreensão da essência dos ensinamentos do Buddha por meio das escrituras, pela qual surge a profunda confiança na natureza verdadeira, a qual é compartilhada por todos os seres sencientes. Ela não se manifesta porque é obscurecida pelos objetos exteriores e os falsos pensamentos. Pelo abandono do falso e a proximidade com o verdadeiro, o homem com mente unificada senta-se em meditação, descobrindo que não existem nem eu, nem outro, e que o homem e o santo possuem a mesma essência. Nisto ele coloca sua firme confiança e dela não se aparta. Sendo silenciosamente um com a Inteligência, das palavras ele não é escravo, e é livre da consciência discriminativa. Ele é sereno e situa-se além da ação. Esta é a "Entrada da Inteligência".


A "Entrada da Conduta" inclui as quatro condutas, nas quais estão todas as ações. Que quatro?

Conhecer como se livrar do ódio;
Aceitar o karma;
Nada desejar;
Estar de acordo com o Dharma.

1. O que é conhecer como se livrar do ódio?
Quem se disciplina no Caminho, quando encontra condições adversas, deverá pensar assim: "Por incontáveis eras no passado vaguei por multitudes de existências, apegando-me à trivialidade e desprezando o essencial. Criei com isso inúmeras situações propícias ao ódio, à má-vontade e às ações não-saudáveis. Mesmo que nesta vida transgressões não fossem feitas, ainda assim os frutos das ações maléficas do passado se manifestariam. Nem os seres luminosos, nem os homens poderiam saber o que a mim está reservado. De boa vontade e com paciência aceitarei os males que a mim sobrevierem e deles não me lamentarei. Nos sutras é dito que não devo me agitar pelos males que surgem, pois, quando com inteligência as coisas são penetradas, os fundamentos da causalidade são conhecidos". Quando tais pensamentos surgem num homem, com a Inteligência ele estará de acordo, fazendo do ódio o melhor uso possível e colocando-o à serviço do Caminho.

2. Aceitar o karma significa:
Nos seres produzidos pelas condições do karma, nenhuma substância imutável pode ser encontrada, e a alegria, bem como o sofrimento, são também resultados de ações intencionais do passado. Se vêm a riqueza, o louvor, etc., estes são resultados de ações passadas que, devido à causalidade, afetam minha vida no presente. Esgotada a força das ações, os resultados que agora desfruto se acabam. Por que, então, alegrar-me com eles? Ocorrendo o ganho ou a perda, que eu aceite o karma. O coração nada sabe de aumentos ou diminuições. Na harmonia silenciosa com o Caminho o vento do prazer não me abala. Isso é o significado de aceitar o karma.

3. Nada desejar significa:
Neste mundo, os homens continuamente confusos, apegam-se sempre aqui e ali. A isto se chama desejo. Os sábios, porém, compreendem a verdade, e em nada se assemelham aos ignorantes. Serenamente seus corações repousam no não-criado, enquanto o corpo se move de acordo com as leis da causalidade. Todas as coisas são vazias e nada vale a pena buscar. Lá onde está o mérito do brilho, também está o demérito da escuridão. Este mundo tríplice, no qual convivemos por tão longo tempo, é como uma casa em chamas. Tudo o que tem um corpo sofre e ninguém sabe realmente o que é a paz. Os sábios nunca se apegam a nada, pois conhecem intimamente esta verdade. Com os pensamentos serenos nada desejam. Assim diz o sutra: "Quando há o desejo, há o sofrimento. Com a cessação do desejo vem a felicidade". Sabemos, deste modo, que nada desejar é o caminho para a verdade. Isto é o que significa "nada desejar".

4. "Estar de acordo com o Dharma" significa:
Que a Inteligência a que chamamos Dharma é pura em sua essência e é o princípio da vacuidade em tudo que se manifesta. Está além das manchas e dos apegos. Nela não há nem eu nem outro. Diz o sutra: "No Dharma não há seres sencientes, pois ele está livre da mancha do ser. No Dharma não há "eu", pois ele está livre da mancha do eu". O entendimento e a confiança nesta verdade tornam as ações dos sábios conformes ao Dharma.
A essência do Dharma é o não desejar e, assim, os sábios estão prontos para a generosidade do corpo, da vida e das propriedades. Em nada lamentam e são livres da má-vontade. Sua compreensão da natureza tríplice da vacuidade, os leva para além da parcialidade e do apego. Devido à sua vontade de limpar as manchas dos seres, eles se adaptam a eles sem se apegar à forma. Esta é a fase do benefício próprio em suas vidas. Mas eles sabem também como ajudar aos demais e louvar a verdade do Despertar. Como é com a virtude da generosidade, assim também com as outras cinco virtudes. Os sábios praticam as seis virtudes transcendentes afastando os pensamentos confusos sem esperarem pelos resultados meritórios destas ações. Isto é o que significa "estar de acordo com o Dharma".

(Atribuído a Bodhidharma em A Transmissão da Lâmpada, XXX
tradução de Ricardo Sasaki)

COLETÂNEA PARA APRESENTAR JUNG