“O vírus mexe com a maneira que o cérebro produz energia”, diz Professor do Instituto de Biologia da Unicamp

“O vírus mexe com a maneira que o cérebro produz energia”, diz neurocientista

Professor do Instituto de Biologia da Unicamp, Daniel Martins de Souza é um dos coordenadores do grupo de cientistas que descobriu alterações no sistema neurológico causados pela Covid-19 
Você está entre aqueles que acham melhor pegar o coronavírus logo para se ver livre dele? Faz parte do grupo que pensa que ter a doença com sintoma leves deixa a pessoa mais livre das sequelas? Cuidado. A recomendação é do neurocientista Daniel Martins de Souza, do Departamento de Neurologia da Universidade de Campinas, a Unicamp.


O professor do Instituto de Biologia da Unicamp é um dos coordenadores do grupo de cientistas que descobriu alterações na estrutura do córtex cerebral, mesmo em pessoas com sintomas leves de Covid-19. Parte desse estudo foi liderada pela cientista Clarissa Yasuda, do Instituto Brasileiro de Neurociência e Neurotecnologia/Brainn/Unicamp. Ela analisou imagens do cérebro de 81 pessoas que tiveram Covid-19 com sintomas leves.


O mesmo grupo, que envolve 75 autores, comprovou que o coronavírus infecta células cerebrais e afeta as funções, o que pode ter consequências graves, como depressão e ansiedade.


– Nossos dados mostram o quão perigoso é se expor ao coronavírus ou “querer pegar logo isso para ficar livre”. Mas, se nessa de pegar logo, a pessoa sofre uma complicação neurológica? Nossa pesquisa mostra que é melhor fugir dessa ideia, pois não há como afirmar se a doença será grave ou não – observa o neurocientista.


Além da Unicamp, o estudo inclui a Universidade de São Paulo (USP) em colaboração com o Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor) e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O neurocientista dá mais detalhes do estudo na entrevista a seguir:


Professor, os efeitos do novo coronavírus em todo o sistema imunológico dos infectados ainda não são totalmente conhecidos. Por outro lado, a medicina prova que as variações de sintomas em cada paciente não ficam restritas às vias aéreas. A pesquisa da Unicamp descobriu como age o vírus no sistema neurológico. Como vocês chegaram a esta conclusão?


A equipe examinou o cérebro de 81 pacientes acometidos pelo coronavírus de forma leve, e sem necessidade de hospitalização. A ressonância magnética provou alterações significativas em parte do cérebro. Os exames foram feitos 54 dias depois do diagnóstico. Essas alterações têm sintomas associados, e observados na clínica, como depressão, ansiedade e distúrbios cognitivos, ou seja, dificuldade de raciocinar de forma apropriada.


Convém salientar que os sintomas neurológicos necessariamente não estão ligados ao vírus no cérebro, mas pode ser pela presença no organismo e inflamação que causa no organismo como um todo.


Já é possível determinar os efeitos do novo coronavírus no cérebro dos pacientes acometidos pela doença?


Nosso segundo passo foi examinar o cérebro de pessoas que morreram por causa da Covid-19 e tentar detectar o vírus, o que conseguimos em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), de Ribeirão Preto e de São Paulo. Em 20% dos cérebros dessas pessoas que foram a óbito tinha a presença do vírus. Temos provas científicas a partir dos cérebros escaneados de que o vírus chega a esta parte do organismo.


Mas o que o vírus causa no cérebro?


O vírus mexe com a maneira que o cérebro produz energia. Isso acaba sendo tóxico para os neurônios. Quando chega ao cérebro, o vírus toma conta das células para se replicar. O Sars-CoV-2 é capaz de infectar e se replicar nos astrócitos, células de suporte e as mais numerosas do sistema nervoso central. Ao afetar os astrócitos, o coronavírus pode prejudicar o funcionamento dos neurônios, que precisam dos astrócitos para se nutrir.


O vírus ataca os astrócitos e, infectados, eles morrem ou deixam de cumprir o papel de suporte aos neurônios. Estes então passam a não levar mais direito os sinais nervosos. O resultado pode ser uma gama de problemas, tão variados quanto dificuldade de raciocínio, perda de memória e depressão.


Há um pensamento de que os pacientes que tiveram a doença de forma mais leve teoricamente estão livres de sequelas. Isso procede?

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De maneira alguma. As alterações são significativas e em pessoas que tiveram a doença de forma leve. Há relatos, por exemplo, de problemas de memória. Não podemos nos enganar – quem teve a doença, ainda que leve, não está livre das sequelas. Saber o quanto tempo vai durar estas sequelas exige mais tempo de estudos. Este tempo nos dirá se será um sintoma persistente (vírus fora do corpo) ou uma sequela do que ele deixou.


Gostaria que o senhor descrevesse sobre a possibilidade de conexão entre coronavírus e a diminuição do cérebro e questões cognitivas.


Por enquanto não temos evidências de neurodegeneracão, ou seja, não identificamos diminuição do cérebro. Mas alterações discretas e relações com doenças cognitivas, mesmo na forma leve da Covid-19. Estes pacientes, mais de 50 dias depois, mostram não conseguir raciocinar tão bem quanto no período anterior da Covid-19 e comparando com pacientes mentalmente sadias.


O senhor reitera nas suas entrevistas a necessidade de que as pessoas continuem, apesar da possibilidade de vacinação em massa, se protegendo. Este é o caminho?


Com certeza. A única coisa efetiva que temos hoje é higienizar as mãos, usar máscara e manter o distanciamento seguro. Não existe nenhum tratamento comprovadamente científico para a Covid-19. A nossa maior esperança, e que parece mais próxima, é a vacina


Pazuello montou e financiou força-tarefa para disseminar cloroquina em Unidades Básicas de Saúdes

 Pazuello montou e financiou força-tarefa para disseminar cloroquina em Unidades Básicas de Saúdes
Em meio à falta de leitos e de oxigênio para pacientes com Covid-19 em Manaus, o Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro montou e financiou força-tarefa de médicos defensores do que chamam de “tratamento precoce” da Covid-19 para visitarem Unidades Básicas de Saúde na capital amazônica.

Essa abordagem prega o uso de remédios incensados pelo governo federal, mas que estudos científicos dizem não ter eficácia contra o coronavírus, como cloroquina e ivermectina.

Segundo alguns dos envolvidos, eles não receberam pela participação, mas tiveram diárias de hotel e alimentação pagas pelo governo federal.

O Painel enviou três e-mails sobre o tema para o Ministério da Saúde ao longo de três dias, mas não obteve qualquer resposta. Entre outras questões, a coluna perguntou sobre o critério de escolha dos médicos, o valor gasto para realizar a empreitada e se há outras similares previstas.

A força-tarefa agiu na segunda-feira (11), um dia após o governador Wilson Lima (PSC) pedir socorro ao governo federal e a outros estados devido à falta de oxigênio no estado.

Nesse dia, os médicos estavam na plateia quando Eduardo Pazuello (Saúde) subiu o tom na defesa desses medicamentos e disse não existir “outra saída”.

Médicos da força-tarefa do tratamento precoce posam para foto com Eduardo Pazuello (Saúde)

Médicos da força-tarefa do tratamento precoce posam para foto com Eduardo Pazuello (Saúde) - Reprodução/Instagram

Os médicos também deram palestras em defesa do tratamento precoce da Covid-19, que cientistas dizem não existir.

Na audiência estavam membros do Ministério da Saúde, entre eles Mayra Pinheiro, secretária da pasta que assinou ofício que pressionava a Prefeitura de Manaus a distribuir essas medicações sem eficácia aos seus pacientes.

Ela é a principal ponte da pasta de Pazuello com os defensores da hidroxicloroquina e da ivermectina. Mayra foi alçada aos holofotes em 2013 ao hostilizar em aeroporto os médicos cubanos que participavam de curso do programa Mais Médicos.

Esse ofício do Ministério da Saúde, revelado pelo Painel, classificava como “inadmissível” a não-utilização de medicações como o antimalárico cloroquina e o antiparasitário ivermectina para controlar a pandemia em Manaus.

Ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus

Ofício enviado pelo Ministério da Saúde à Prefeitura de Manaus - Reprodução

O grupo da força-tarefa envolve aproximadamente dez médicos de diferentes especialidades (infectologistas, oncologista, dermatologista) e recebeu o apelido de “Missão Manaus”.

Eles passaram em Unidades Básicas de Saúde e falaram com profissionais da área, para os quais defenderam o uso de ivermectina e hidroxicloroquina, medicamento que já foi associado à arritmia cardíaca.

O ofício do Ministério da Saúde pedia permissão à prefeitura para que esses profissionais fizessem essa ronda pelas UBSs para que fosse “difundido e adotado o tratamento precoce como forma de diminuir o número de internamentos e óbitos decorrentes da doença".

O Painel obteve vídeo de uma dessas visitas (veja abaixo). Nele, a médica dermatologista Helen Brandão, de Goiás, exalta o exemplo de Porto Feliz (SP), onde o prefeito, Dr. Cássio (PTB), optou por adotar o uso de hidroxicloroquina e ivermectina.

A cidade desde então virou objeto da produção de fake news diversas, como as que dizem que 100% da população tomou hidroxicloroquina e que nenhuma pessoa morreu de Covid-19 na cidade depois de tomar a medicação.

“Ivermectina. O tratamento precoce era azitromicina, hidroxicloroquina, zinco, vitamina D. Lá eles davam até enoxaparina. Até enoxaparina tinha na unidade. Fizeram um trabalho muito bonito. E corticóide, dose alta. Só de fazer isso... A cidade tem 50 mil habitantes e até agora, do começo do Covid até agora, eles tem 20 óbitos, sendo que apenas um fez tratamento precoce, os outros 19 não fizeram. E esse paciente tinha muitas comorbidades. É um case de sucesso ou não é?”, diz Brandão a profissionais da UBS.

Procurada pela Folha, Brandão não comentou a missão, sugeriu que a reportagem contactasse o Ministério da Saúde, disse que a Folha não é um jornal sério e que não deveria ousar citar seu nome.

Drama em Manaus

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Ela escreveu em suas redes sociais que Raphael Câmara, secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, mostrou em evento do qual participaram em Manaus que “deixar de atender o doente precocemente já virou caso de polícia e [de] punição ética aos médicos”. Procurada, a pasta não comentou a fala de Câmara.

Ela também publicou nas suas redes sociais um levantamento da quantidade de remédios que distribuíram em Manaus: 20 caixas de ivermectina com sessenta comprimidos, 40 caixas de hidroxicloroquina, 36 caixas de reuquinol (sulfato de hidroxicloroquina), 50 caixas de Clexane (anticoagulante), 63 caixas de enoxaparina (anticoagulante).

Caixas de medicações doadas pelos médicos da força-tarefa criada pelo Ministério da Saúde

Caixas de medicações doadas pelos médicos da força-tarefa criada pelo Ministério da Saúde - Reprodução/Instagram

Ela também compartilhou mensagem que diz que em vez de se perguntarem sobre a falta de oxigênio para pacientes em Manaus, as pessoas deveriam questionar “quantos pacientes tiveram negado o acesso ao tratamento precoce, agravando a doença e obrigando suas internações”.

Esses médicos foram chamados a participar de evento com Eduardo Pazuello em Manaus também na segunda-feira (11). Foi nessa ocasião que o ministro disse que “não existe outra saída” para além dos remédios sem eficácia comprovada.

“Nós não estamos mais discutindo se esse profissional ou aquele concorda. Os conselhos federais e regionais já se posicionaram, são a favor do tratamento precoce, do diagnóstico clínico", afirmou.

Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista e professor da USP, diz ao Painel que a ação terá de ser usada no futuro “para demonstrar cabalmente que o Ministério da Saúde abandonou sua tarefa de salvar vidas e passou a espalhar crenças”.

“O uso dessas medicações só se justifica pela crença. Podiam levar também os feijõezinhos do pastor Valdemiro [Santiago]. Devem fazer o mesmo efeito”, completa.

Na terça-feira (12), Bolsonaro disse que havia enviado Pazuello a Manaus porque a cidade estava “um caos” e não fazia tratamento precoce. Ele disse que teve que “interferir”.

O médico Ricardo Ariel Zimerman, do Rio Grande do Sul, foi um dos chamados a participar da chamada “Missão Manaus” e foi convidado a dar uma palestra no mesmo evento, quando defendeu o “tratamento precoce”, assim como faria ao participar da ronda pelas UBSs.

Ele não quis falar com o Painel. Ao site da Prefeitura de Manaus, disse que reforçaram “o uso precoce, principalmente nos primeiros dias de sintomas, de medicações antivirais, de preferência em combinação, com várias alternativas que podem ser escolhidas para a prescrição”.

Médicos da "Missão Manaus" durante visita às UBSs de Manaus

Médicos da "Missão Manaus" durante visita às UBSs de Manaus - Prefeitura de Manaus

Outro dos membros do grupo, Gustavo Pasquarelli é diretor técnico da unidade da Baixada Santista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, do governo de São Paulo. Em suas redes sociais, ele compartilhou mensagem que diz: “ser contra Bolsonaro é um direito democrático seu. Ser contra a cloroquina é uma monstruosidade ideopata de quem acha moral politizar pandemias e capitalizar mortes”.

A secretaria de Saúde do governo João Doria (PSDB-SP) disse ao Painel, por telefone, que o Emilio Ribas não teve participação na viagem do médico, que foi custeada pelo Ministério da Saúde no período de férias do profissional.

A anestesiologista Luciana Cruz, de São Paulo, tem 50 mil seguidores nas redes sociais e é a mais conhecida do grupo de defensores do tratamento precoce.

Ela diz ao Painel que os médicos não receberam nada do Ministério da Saúde pela viagem a não ser as estadias e o valor de alimentação. Ela afirma que eles brincavam que estavam pagando para estar lá, pois deixaram seus consultórios para participarem da força-tarefa.

Cruz conta que o grupo foi pego de surpresa pelo convite e teve menos de 24h para se organizar e partir para Manaus. Nas malas, afirma, levou hidroxicloroquina e ivermectina.

Após colapso da saúde em Manaus, capitais têm panelaço contra Bolsonaro

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“Dizer que o tratamento precoce é controverso é apenas uma narrativa. A gente já tem mais do que as evidências científicas e as experiências práticas. Para quem quiser, é muito claro. Muitos médicos nos procuram e quando têm acesso a essas informações eles ficam em choque”, afirma.

“Uma coisa era questionar o tratamento precoce no início do ano passado. Hoje em dia, não é mais questionável. Não tem mais por que ser questionável”, completa Cruz.

Ela diz ter receitado os medicamentos para sua família e para ela mesma. “Não perdi ninguém. Não acho que tenha sido coincidência todos os obesos e diabéticos que a gente tratou [não morreram]”.

“Não recebi um real para fazer o que fiz lá, que foi ir para as UBSs e expor… Eu sabia que estava indo para as UBSs e que havia suspeita de uma cepa mutante, confirmada no dia que fomos. Como confio no que eu defendo, fui com a profilaxia. Acredito no poder preventivo dessas medicações. Não sou nenhuma camicase, prezo muito pela minha vida, pela minha profissão, sou muito ética. Tomei as medicações e fui confiando nisso. Tanto a ivermectina quanto a hidroxicloroquina, fui tomando ambas as medicações”, conclui.

VEJA TEMAS ABORDADOS PELA COLUNA

  1. Com Manaus sem oxigênio, Pazuello montou e financiou força-tarefa para disseminar cloroquina em UBSs

  2. Podiam levar os feijões do pastor Valdemiro, diz sanitarista sobre força-tarefa da cloroquina montada por Pazuello

  3. Transporte de vacinas pode ter que ser feito por terra em ao menos sete estados

  4. PT e PSOL querem interromper recesso na Câmara de SP para debater agravamento da pandemia

  5. Diretório de SP do PSDB critica tucanos do Senado por não escolherem candidato


TIROTEIO

Governo não pode fingir que não tem nada com isso e o Congresso tem que abrir suas portas imediatamente

Da senadora Simone Tebet (MDB-SP), sobre o colapso do sistema de saúde em Manaus em razão do aumento de casos da Covid-19


Painel

Editado por Camila Mattoso, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Mariana Carneiro e Guilherme Seto.

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A Rede Mundial de Centros de Mídia Independentes e Jornalistas Elegeu BOLSONARO “Personalidade CORRUPTA do Ano”!



Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, foi eleito Personalidade do Ano do Projeto de Relatórios Contra o Crime Organizado e Corrupção em 2020 por seu papel na PROMOÇÃO ao crime organizado e a corrupção. Eleito após o escândalo Lava Jato como “candidato anticorrupção”, Bolsonaro se cercou de figuras corruptas, usou propaganda propositadamente falsa para promover sua agenda populista, “minou” o sistema judiciário e travou uma guerra destrutiva contra a Amazônia região o que enriqueceu alguns dos piores proprietários de terras do país.
Bolsonaro venceu por pouco dois outros líderes populistas, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump e o presidente turco Recep Erdogan, pelo duvidoso prêmio. Ambos os “finalistas” também lucraram com propaganda falsa, minaram as instituições democráticas em seus países, politizaram seus sistemas de justiça, rejeitaram acordos multilaterais, recompensaram círculos internos corruptos e moveram seus países da lei e da ordem democráticas para a autocracia. O oligarca ucraniano Ihor Kolomoisky completou a lista dos finalistas.
Bolsonaro foi acusado de coletar salários para funcionários fantasmas - uma prática conhecida como “repartição de salários” (rachadinha). Mas os juízes o escolheram por causa de sua hipocrisia - ele assumiu o poder com a promessa de combater a corrupção, mas não apenas se cercou de pessoas corruptas, como também acusou erroneamente outros de corrupção.

“Esse é o tema central do ano”, disse Louise Shelley, diretora do Centro Transnacional de Crime e Corrupção (TraCCC) da George Mason University, que participou do painel do prêmio. “Todos são populistas causando grandes danos aos seus países, regiões e ao mundo. Infelizmente, eles são apoiados por muitos, que é a chave do populismo. ”
“A família de Bolsonaro e seu círculo íntimo parecem estar envolvidos em uma conspiração criminosa em andamento e têm sido regularmente acusados ​​de roubar as pessoas.” disse Drew Sullivan, editor do OCCRP e juiz do painel. “Essa é a definição de livro de uma gangue do crime organizado.”

Essas conexões incluem :

Seu amigo e aliado Marcelo Crivella, o prefeito do Rio de Janeiro, foi preso por operar o que os promotores disseram ser uma organização criminosa destinada a arrancar lucros do gabinete do prefeito.

Seu filho Carlos, vereador do Rio de Janeiro, está sendo investigado por um esquema de repartição de salários na cidade. A ex-mulher de Jair também está envolvida em um esquema de divisão de salários.

Seu filho Flavio e outros associados estão envolvidos em um longo escândalo envolvendo suas atividades como deputado, onde ele supostamente dirigia uma rede de corrupção que lavava dinheiro e cometia fraudes.


Mais sinistro, Flavio contratou os familiares de um homem acusado de dirigir um esquadrão da morte paramilitar que invadiu violentamente áreas do Rio de Janeiro por meio de violência e execuções sumárias, incluindo o assassinato de uma vereadora LGBT negra do Rio.

Quando personalidades dos órgãos jurídicos e anticorrupção do país investigaram seu filho Flavio, Bolsonaro tentou minar as investigações mudando o chefe da Polícia Federal.

Aliados importantes e seu filho Eduardo fizeram uma campanha de propaganda PROPOSITADAMENTE FALSA para enganar os eleitores.
As ações do Bolsonaro não afetam apenas o Brasil. Ele abriu grandes extensões da Amazônia à exploração por aqueles que já haviam se beneficiado da destruição da região crítica e ameaçada.
“A destruição contínua da Amazônia está ocorrendo por causa de escolhas políticas corruptas feitas por Bolsonaro. Ele encorajou e alimentou os incêndios devastadores ”, disse o jurado Rawan Damen, diretor do Arab Reporters for Investigative Journalism. “O Bolsonaro fez campanha com o compromisso explícito de explorar - ou seja, destruir - a Amazônia, que é vital para o meio ambiente global.”
No final das contas, os juízes levaram várias cédulas para escolher um vencedor. Um corpo internacional de jornalistas investigativos, acadêmicos e ativistas seleciona o vencedor a cada ano. “É difícil escolher. São tantos candidatos dignos ”, disse o cofundador da OCCRP, Paul Radu. “A corrupção é uma indústria em crescimento.”
O segundo lugar: Trump foi considerado apesar do fato de ainda não ter sido indiciado por nenhum crime em particular. Os juízes acreditam que sob a liderança de Trump, os EUA deixaram de ser um líder global em esforços anticorrupção e, em vez disso, recuaram para dentro. Trump tem cortejado e elogiado bajulando os líderes mais corruptos do mundo. Seu círculo íntimo está igualmente preenchido com uma série de oportunistas acusados, investigados e completamente corruptos com ligações com o crime organizado, bilionários antidemocráticos e atores estatais estrangeiros que influenciaram o presidente enquanto eram recompensados ​​com perdões.


Terceiro lugar: Erdogan foi considerado porque seu governo autocrático de uma década na Turquia transformou cada vez mais o poder regional em um ator criminoso intrometido. Aprendendo com seu vizinho Vladimir Putin, Erdogan minou as instituições democráticas, atacou o sistema de justiça, esmagou a sociedade civil, recompensou seus comparsas e transformou o sistema político da Turquia em um culto de um homem só. Sob seu governo, o Halkbank, estatal, ajudou o Irã a evitar sanções, lavando suas vendas de petróleo para a Turquia. Quando pessoas próximas a ele foram investigadas por corrupção, incluindo suborno para facilitar a lavagem de dinheiro, promotores, juízes, jornalistas e políticos da oposição foram presos e encarcerados.
Quarto lugar: Além disso, o oligarca ucraniano Ihor Kolomoisky completou os finalistas. O oligarca politicamente envolvido emprestou mais de US $ 5 bilhões de um banco que ele controlava para si mesmo sem garantias. O dinheiro desapareceu em uma série de offshores. As perdas representaram 40% de todos os depósitos privados do país. Mas Kolomoisky não foi preso e agora está fazendo lobby para recuperar o controle do banco depois que ele foi socorrido pelo estado. Kolomoisky, que supostamente financiou a corrida do atual presidente ao cargo, deixou um histórico de invasões corporativas, fraude, roubo de ativos do Estado e intriga política e representa os muitos bilionários ideológicos e corruptos dos irmãos Koch a Aaron Banks que o fizeram minou a democracia para ganho pessoal.

Os vencedores anteriores do prêmio de pessoa do ano incluíram Vladimir Putin, o presidente do Azerbaijão Ilham Aliyev e o presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte.

OCCRP é uma plataforma de reportagem investigativa para uma rede mundial de centros de mídia independentes e jornalistas e uma das maiores organizações de reportagem investigativa do mundo, publicando mais de 150 histórias investigativas por ano. OCCRP acredita que é preciso uma rede para lutar contra uma rede. Desenvolvemos e equipamos uma rede global de jornalistas investigativos e publicamos suas histórias para que o público possa responsabilizar-se. https://www.occrp.org/en/poy/2020/


“Ciência da Percepção de Risco”: “Os indivíduos seletivamente creditam e descartam os perigos declarados de uma maneira que apóia sua forma preferida de organização social”,





Embora seja certamente verdade que Trump mantém um número significativo de seguidores entre as mulheres brancas, seus partidários mais fervorosos tendem a ser brancos e homens. Distribuídos por uma ampla faixa de status socioeconômico, esses homens têm firmemente - e até mesmo violentamente - apoiado o presidente, apesar dos riscos históricos que sua administração representa para a saúde pública, segurança e estruturas e ideais democráticos americanos. Não faltam especialistas e “prognosticadores” que especulam sobre os fatores subjacentes a esse apoio:
Racismo ? A economia ? Masculinidade frágil ? Ansiedade de classe ? Medo político? Sectarismo ? Em um artigo de opinião do New York Times em outubro passado, Michael Sokolove sugeriu que o abismo político entre os homens brancos e quase todos os outros deveria ser apelidado de “a lacuna do homem branco” ou “o problema do homem branco”.

Mas os cientistas cognitivos há muito cunharam um termo para as forças psicológicas que deram origem à divisão política de gênero e racialização que vemos hoje. Essa pesquisa e décadas de trabalho acadêmico subsequente sugerem que, se você deseja compreender o fenômeno Trump, faria bem em primeiro compreender a “ciência da percepção de risco”.

Vamos voltar a 1994. Naquele ano, um grupo de pesquisadores liderado por Paul Slovic publicou um estudo que perguntou a cerca de 1.500 americanos em todo o país como eles percebiam os diferentes tipos de riscos, principalmente os riscos para a saúde ambiental. Slovic e sua equipe descobriram que os homens brancos diferiam das mulheres brancas e dos homens e mulheres não-brancos na maneira como percebiam os riscos. Para cada categoria de ameaça, os homens brancos consideravam o risco muito menor e muito mais aceitável do que outros grupos demográficos. Isso é o que eles apelidaram de "efeito masculino branco". Eles também descobriram que as mulheres brancas percebiam os riscos, em geral, como muito maiores do que os homens brancos, mas que isso não era verdade para mulheres e homens não-brancos, que percebiam o risco praticamente nos mesmos níveis, sugerindo complexidades dignas de exploração adicional. Eventualmente, as expansões deste estudo incluiriam uma ampla gama de riscos, incluindo armas de fogo, aborto ,ameaça nuclear e pena capital .

Com o passar dos anos, estudos subsequentes acrescentariam camadas de nuances à compreensão e interpretação dos resultados de 1994. Em 2007, os pesquisadores estavam explicando o efeito do homem branco no contexto da cognição cultural, demonstrando que era apenas indiretamente um produto de gênero e raça - que em um nível fundamental, decorria de diferenças na identidade cultural, segurança socioeconômica e atitudes em relação igualitarismo e comunidade . Mas o ponto principal é que grupos diferentes podem perceber o mesmo risco por meio de lentes muito diferentes. E, no caso dos homens brancos, muitas vezes é uma lente que busca preservar a identidade cultural institucionalizada e o status social. Como muitos observaram, há uma grande diferença entre a resposta e o tratamento dos milhares de manifestantes do Stop the Steal na quarta-feira e a resposta e o tratamento dos milhares que se reuniram em DC em junho de 2020 em apoio ao Black Lives Matter. 

Grupos diferentes podem perceber o mesmo risco por meio de lentes muito diferentes. E, no caso dos homens brancos, muitas vezes é uma lente que busca preservar a identidade cultural institucionalizada e o status social.

Isso ajuda a explicar por que uma faixa ampla e bem definida do público dos EUA - desde os Proud Boys e outros grupos extremistas que aterrorizaram Washington DC nas últimas semanas, até os senadores destruindo as raízes da democracia no Congresso - estão dispostos a aceitar o riscos da rejeição de Trump de uma eleição legítima. Eles percebem uma ameaça ainda maior em torno do horizonte: uma ameaça a um status social elevado que eles imaginam que apenas Trump pode preservar e restaurar, um status social que está inevitavelmente ligado a raça, gênero e religião. 

“Os indivíduos seletivamente creditam e descartam os perigos declarados de uma maneira que apóia sua forma preferida de organização social”, escreveram Slovic e colaboradores em um artigo de pesquisa de 2007 que parece não menos verdadeiro hoje. Em outras palavras, para certos indivíduos, apoiar Trump é uma resposta psicologicamente paliativa aos riscos percebidos. 


O professor de psicologia da Universidade de Oregon, Paul Slovic, estuda o julgamento humano, a tomada de decisões e a análise de risco.

Visual: Jim Barlow / University of Oregon

Quando essa necessidade percebida de proteger a identidade de alguém é alimentada por pessoas em posições de poder, ela pode se tornar perigosa e feia. A cognição protetora de identidade pode levar ao que Slovic e outros pesquisadores chamam de “violência virtuosa” - violência que as pessoas apóiam ou cometem porque acreditam que é moralmente correta. Em um estudo de agosto de 2020 , Slovic e uma equipe de pesquisadores descobriram que os homens conservadores brancos eram mais propensos do que todos os outros a apoiar a violência virtuosa e "se sentiam socialmente distantes do inimigo, os desumanizavam e acreditavam que as vítimas eram as culpadas por seus destino."

Claro, ecos dessas ideias podem ser encontrados em grande parte da teorização especulativa sobre a polarização política e o sectarismo de hoje. E não é difícil imaginar por que o termo “efeito homem branco” teria dificuldades para ganhar força em um cenário de mídia dominado por homens brancos. Mas dado o poder desta pesquisa para explicar as percepções do público sobre questões tão diversas como regulamentação nuclear, mudança climática , sistemas alimentares, política e tecnologia, seria útil compartilhar uma linguagem comum e entender seu significado.

Talvez, no final das contas, o nome que usamos para descrever diferenças sociais e culturais na percepção de risco importe menos do que o que fazemos a respeito. Esta pesquisa acadêmica é valiosa, mas não deve ofuscar a violência e os danos do mundo real. A violência virtuosa ainda é violência e não há nada abstrato sobre o papel da cognição protetora de identidade na supremacia masculina branca. O que a ciência parece sugerir claramente - e o que pessoas como Paul Slovic observam há décadas - é que as múltiplas crises sobrepostas da sociedadenão pode ser resolvido quando corpos governamentais compostos principalmente de homens brancos, que são discrepantes em termos de percepção de risco, têm a tarefa de tomar decisões sobre riscos para toda a população. Os indivíduos que detêm o poder sobre as decisões sobre o que é arriscado e o que não é devem ser representativos da comunidade em geral, e esses indivíduos devem ter a agência e autoridade para fazer parte da tomada de decisão final.

A rica e rigorosa ciência cognitiva de identidade, status e risco une muitos dos fios matizados na discussão de nossa atual crise política. Deve ser um componente essencial de qualquer análise que tente explicar como chegamos a essa divisão política violenta e será uma ferramenta inestimável para eliminá-la.





Catherine Buni ( @ckbuni ) e Soraya Chemaly ( @schemaly ) são escritores premiados e colaboradores frequentes, cobrindo moderação de conteúdo online, risco e segurança em colaboração com Type Investigations. Suas histórias e ensaios foram publicados por TheAtlantic.com, The Verge, OneZero, NBC Think e outros.

GONZALO VECINA NETO, MÉDICO SANITARISTA Vivemos um caos sanitário pela inação de Bolsonaro

 O professor da faculdade de Saúde Pública da USP, Gonzalo Vecina Neto, de 65 anos, é um homem dedicado a salvar vidas. Médico sanitarista, ele esteve à frente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de 1999 a 2003 e conhece suas engrenagens por dentro. Hoje, é um crítico contumaz do governo Jair Bolsonaro, que considera um desastre absoluto. Para ele há uma simbiose macabra entre a inépcia do governo e a propagação descontrolada do coronavírus e essa combinação está colocando o Brasil numa situação de caos. 

Ele percebe que assim como o Ministério da Saúde, o comando a Anvisa foi afetado pela politização negacionista de Bolsonaro e isso contribuiu para que o País alcançasse a terrível marca de 200 mil mortes. “Foi um desastre sanitário provocado pela inação do presidente da República. Não há meias palavras para se dizer isso. E esse desastre sanitário significa responsabilização por mortes que seriam evitáveis”, afirma Vecina. “Se tivéssemos valorizado o distanciamento social, o uso de máscaras, o não uso de medicamentos ineficazes contra a doença, e agido rápido na busca pela vacina, a situação estaria muito melhor”.


O Brasil voltou a apresentar números em torno de mil mortes diárias. Por que a situação não melhora?
Não podemos esquecer que só conseguimos reagir a essa epidemia quando a grande maioria do comércio não essencial estava fechado. Isso fez com que a movimentação de pessoas fosse muito pequena, o que garantiu a queda do número de casos. Esse índice não caiu por um gesto mágico. O número caiu porque diminuímos os encontros entre as pessoas. Hoje não existe comércio fechado e há muita gente na rua. Não tem milagre: enquanto não tivermos vacina, sair de casa significa elevar o número de casos e de óbitos.

Entramos numa segunda onda?
Não existe esse negócio de primeira e segunda onda. No momento estamos nos referindo ao mesmo vírus. Ele está sofrendo mutações como as registradas na Inglaterra e que já foram confirmadas aqui no Brasil, mas precisamos ver como essa mutação evoluirá. A doença teve um pico importante por volta de abril, maio, e depois houve uma queda. Essa queda chegou aos 30%, mas em seguida voltou a subir porque tivemos a desmobilização social. A alta coincide com esse relaxamento. Então, na verdade, nós não temos uma segunda onda. Temos um recrudescimento, uma piora da primeira onda.

O plano nacional de vacinação do governo é adequado?
No primeiro plano feito, o governo retirou do público prioritário os presidiários, quilombolas, populações de rua e ribeirinhos e manteve apenas a população indígena. Depois o plano foi refeito e esses grupos foram incluídos. A estratégia está baseada nos planos europeus, onde os países não têm a mesma desigualdade como a nossa. No Brasil, os pobres é que estão morrendo. O plano correto teria que dar prioridade aos profissionais de saúde, e depois, aos mais pobres, como os que recebem o Bolsa Família, por exemplo.

O governo conseguirá bancar o custo da vacinação?
O dinheiro não é problema. Se fossemos imunizar a maioria da população, teríamos que vacinar pelo menos 160 milhões de brasileiros. Se considerarmos cada dose a dez dólares, estamos falando de algo em torno de R$ 8 bilhões. O Sistema Único de Saúde (SUS) consumiu no ano passado cerca de R$ 270 bilhões. Então, o problema não é falta de recursos. É falta de vacina. Para este ano, temos 140 milhões de doses da vacina da AstraZeneca e mais 140 milhões de doses da Coronavac. Uma parte já vem pronta, quarenta milhões de doses, a outra parte será envasada aqui. Perto de 100 milhões de doses deverão ser fabricadas no segundo semestre, após a transferência de tecnologia para o Brasil. Mas o que temos hoje, de forma concreta, não será suficiente para atender todo mundo.

Há outras opções de vacinas?
Existe um esforço internacional, mas não há vacina excedente para mandar para o Brasil. A Organização Mundial de Saúde (OMS) não conseguirá nos ajudar. As fábricas que conseguiram produzir, já venderam tudo. Se não fosse o Butantan e a Fiocruz, nós estaríamos na rua da amargura.

Como assim?

O governo não tem uma política de produção de imunobiológicos. A Fiocruz e o Butantan, que são os principais produtores e compradores de vacina no Brasil, estão fazendo tudo sozinhos. São esses órgãos que foram atrás dos acordos com fabricantes para fazer testes clínicos no País e levaram as propostas ao Ministério da Saúde, que as aprovou, mas o presidente Jair Bolsonaro tem feito de tudo para atrapalhar. A Fiocruz e o Butantan têm reconhecimento internacional e as empresas lá fora sabem da sua capacidade. Como no Brasil a doença está matando mais, seria adequado fazer os testes aqui, como está acontecendo.


Qual é a dificuldade para a Anvisa aprovar uma vacina?
A Anvisa, como todas as agências reguladoras, recebe pedidos para fazer testes no País. Aprovados os testes clínicos, ai se requer o registro e a agência aceita ou não o registro. Depois, quem pretende comercializar o produto vai ao Ministério da Saúde e diz que tem vacina para vender. No caso da produção de vacina contra a Covid-19 as coisas aconteceram no atropelo. Os diretores da Anvisa, especialmente seu presidente, são influenciados pelo negacionismo de Bolsonaro.

Ele perturba o processo de aquisição de vacinas?
O presidente pediu ao ministro Pazuello que voltasse atrás no apoio que o Ministério da Saúde daria à produção da Coronavac. Mas aí, surgiu essa briga entre o presidente e o governador de São Paulo, culminando com a história do sujeito que morreu durante os testes, levando o presidente a dizer que tinha ganhado mais uma. Bolsonaro tripudia da vida dos brasileiros. Isso é muito grave. O Butantan precisa do dinheiro do Ministério para fabricar as vacinas. É o governo federal que custeia o Sistema Único de Saúde. Não é o governo do estado.

E se o ministério resolver não financiar essas compras?
No limite, o governo do Estado pode pagar, mas nesse caso só os paulistas seriam beneficiados. Seria um desastre. Espero que isso não aconteça dessa forma. Ter vacina em São Paulo, mas não ter no resto do País, é inadmissível. Espero que o governo federal volte atrás e aceite que a Coronavac esteja presente no Plano Nacional de Imunização.

Qual é a vacina mais adequada para o Brasil?
A mais adequada é aquela que estiver pronta. O que a vacina tem de ter? São seguras? Sim, todas são. Tem de ter eficácia e capacidade de produzir anticorpos. As vacinas que estão sendo testadas são a de RNA mensageiro, da Pfizer/BioNTech, a de vetor viral, que é a da Janssen, a russa, e a da AstraZeneca. Todas estão demonstrando grande capacidade de produção de anticorpos e uma taxa de eficácia em torno de 70%. A Coronavac ainda não apresentou o resultado dos estudos de fase 3, mas ,até agora, o que sabemos é que ela está em torno de 70% também. Então, qual é a melhor vacina? A de RNA mensageiro. Em segundo lugar estão empatadas a de vetor viral com a de vírus inativado.

O que o senhor acha da exigência das pessoas assinarem um termo de responsabilidade para serem vacinadas?
É terrível. Ele fez isso para nos deixar bravos. É sacanagem.

E sobre a possibilidade de uma vacinação privada?

A venda de vacina durante uma pandemia é imoral. Será criada uma fila paralela e desigual, formada pelos mais ricos.


Como o senhor vê o trabalho do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde?
O trabalho dele é um desastre completo. Não tem salvação. Para colocar um monte de militares no Ministério, o governo remanejou funcionários que tinham vinte anos de carreira. E a turma que entrou, não conhece nada de Saúde. O general nunca se interessou em conhecer o sistema de saúde pública.

E sobre a frequente troca de ministros da Saúde?
É uma coisa muito ruim trocar no meio de uma pandemia três vezes o líder que está trabalhando com a gestão da crise. No meio de uma guerra não se trocam os líderes. Não consigo explicar uma barbaridade dessas.

Qual é a importância do SUS no combate à pandemia?
Em muitos estados, particularmente no Norte e Nordeste, o SUS é muito mais importante do que a rede privada. Nessas localidades, a rede privada é muito pequena, em torno de 5%. Em São Paulo, a cobertura é de 50%. Então, quem salvou a população foi a rede pública. Inclusive, socorrendo a rede privada, que colapsou muito rapidamente. No começo da pandemia, o SUS teve problemas porque faltaram equipamentos de proteção individual, mas isso foi resolvido logo no início.

Continuaremos dependendo dos serviços públicos?
Temos que garantir o funcionamento do SUS. Sem o SUS, será um desastre absoluto. Por isso, é preciso tomar cuidado com o orçamento, cobrar maior empenho do ministro Paulo Guedes com a Saúde. Afinal, este ano ainda vai ter pandemia. Se não melhorar o orçamento, não pode piorar. O SUS é financiado por estados, municípios e pelo governo federal, que põe metade do valor. Outros 50% são divididos entre estados e municípios.

Levaremos muito tempo para controlar a pandemia?
Até o final do ano vamos ter que vacinar 70% da população. Será um ano de aprendizado. Teremos que acompanhar a taxa de reincidência e a capacidade de produção de anticorpos. Vamos dar tempo ao tempo.

O senhor imaginou que chegaríamos a 200 mil óbitos?
Foi um desastre sanitário provocado pela inação do presidente. Não há meias palavras para se dizer isso. E esse desastre sanitário significa responsabilização por mortes que seriam evitáveis. Se tivéssemos valorizado o distanciamento social, o uso de máscara, o não uso de medicamentos ineficazes contra a doença, e sido rápido na busca pela vacina, a situação estaria melhor. Temos que melhorar nossa capacidade de reconhecer crises sanitárias, e antecipando o diagnóstico de novos vírus. Temos que melhorar a vigilância epidemiológica. E temos de aprender, de uma vez por todas, a resolver nossos problemas da desigualdade social. Uma sociedade civilizada combate a desigualdade. As pessoas pobres não são pobres porque querem. A sociedade brasileira cria desigualdades e tem que combatê-las com os instrumentos de Estado.

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