O garantismo que os golpistas amam ~ Leandro Demori










Uma discussão necessária sobre a prisão de Daniel Silveira
Muito se falou na ilegalidade da prisão de Daniel Silveira. A tese ganhou força também na esquerda. A situação é cinza, e tanto quem acha motivos para a prisão do deputado do PSL quanto quem acredita em abuso de poder do STF têm seus argumentos. Mas a dimensão política e o momento histórico são o que mais me interessa aqui, e é disso que quero falar.

Antes, alguns fatos para quem estava em Marte.

Em um vídeo postado nas redes, Silveira disse:
Sobre Gilmar Mendes: “vende sentenças";
Sobre Edson Fachin: "moleque, mimado, mau caráter, marginal da lei, vagabundo, cretino e canalha, a nata da bosta do STF";
Sobre Alexandre de Moraes: "Xandão do PCC";
Sobre Luís Roberto Barroso: "gosta de culhão roxo"

E por aí vai.

Mas não foi isso que levou Silveira à cadeia. 

Não acreditem em quem diz que ele está preso por xingar ministros. O deputado incitou o fechamento do STF, esse é o motivo. Ou seja: o representante de um poder estava inflamando a população para que se feche outro poder. É crime.

Lei de Segurança Nacional (7.170/1983), Artigos 22 e 23:

Art. 22 – Fazer, em público, propaganda:
I – de processos violentos ou ilegais para alteração da ordem política ou social;
Pena: detenção, de 1 a 4 anos.

Art. 23 – Incitar:
I – à subversão da ordem política ou social;
II – à animosidade entre as Forças Armadas ou entre estas e as classes sociais ou as instituições civis;
Pena: reclusão, de 1 a 4 anos.


Eu gosto da Lei de Segurança Nacional? 
Não. 
Ela foi criada pela ditadura militar? 
Sim. 
Mas é a lei que temos para barrar golpistas, pessoas como o deputado Silveira, que passam dias e noites sonhando com um regime militar no qual, para que possa escrever o que estou escrevendo agora, eu tenha que sair do país em que nasci e onde vivo com minha família. É simples assim.

O que os muitos e bons juristas que defendem um garantismo de pedra a Silveira talvez não percebam é justamente o momento histórico em que fazem isso. Temos diante de nós a ideologização intensa da parte podre das polícias militares, a pressão perigosa das tropas, a rebelião armada e quase assassina em quartéis, os decretos de armas legalizando milícias particulares, um apresentador de TV hiper popular dizendo, em horário nobre e rede nacional, que sonha com um general no Brasil que diga a todos os “denunciados” (gente como nós?) que eles “têm 24 horas para deixar o país ou serão fuzilados”. É sobre este pântano imundo que penosamente caminhamos. Um lodo que quer nos engolir.

O cenário está armado, e o STF é, hoje, a última fronteira da legalidade – e não precisamos gostar disso. Estamos vivendo o nosso 1961. Queremos pular direto para o nosso 1968, agarrados a interpretações dos códigos que só favorecem os nossos futuros carrascos?

Leiam Lênio Streck: “Deus morreu e agora pode tudo? Não. Se Deus morreu, agora é que não pode, para trazer à lume a grande discussão da modernidade. É na ausência de uma instância superior transcendente que se impõem os interditos. Para segurar essa bagunça toda”.

Leiam Christian Lynch: “Podem me chamar de maquiavélico à vontade, mas eu no momento assumo a defesa incondicional das decisões do STF em defesa da democracia. Estamos vivendo tempos anômalos, que outros querem transformar em tempos de exceção. A cada circunstância, seu remédio”.

A democracia constitucional não pode ser um pacto suicida. Se há remédios melhores dos que os tomados pelo STF, que sejam debatidos e usados. Se em nossa Constituição não há vacina contra a destruição da República, que se crie para ontem. O que não podemos fazer é ver a banda do caos passar enquanto abanamos lenços.

Daniel Silveira matou 12 pessoas. Segundo ele, “tudo dentro da legalidade”. Não há dúvida sobre qual legalidade devemos defender agora. Ou alguém quer provar a legalidade de Daniel Silveira antes de decidir?




Editor Executivo

A reinvenção do açúcar

 

A reinvenção do açúcar

Esqueça os adoçantes artificiais. A nova arma da indústria alimentícia são os açúcares de alta tecnologia, que foram redesenhados em laboratório e prometem o mesmo gosto do açúcar comum – com 40% a 90% menos calorias.

Durante a semana, Eran Baniel sempre recebe três alertas no celular, todos os dias às 10h, 12h e 15h: “hora da prova”. Hoje é segunda de manhã e estamos num complexo de escritórios perto de Tel Aviv, em Israel. Baniel está sentado a uma mesa, com dois pratos de bolachas de chocolate. Parecem iguais, mas não são: o prato à esquerda contém a amostra 792, e o da direita tem a amostra 431. Baniel toma um gole d’água, prova as bolachas e me convida a fazer o mesmo. A 431 me parece mais gostosa – um pouco mais cremosa, talvez –, mas não é isso que ele está avaliando. As duas bolachas foram feitas seguindo a mesma receita, mas uma delas contém 40% menos açúcar. Baniel tem de descobrir qual é.


Em 2014, ele fundou a DouxMatok, uma startup israelense que agora está lançando seu primeiro produto: um açúcar modificado, que foi redesenhado para ficar mais doce e permite preparar alimentos, como as bolachas que estamos comendo, usando muito menos dele. O produto foi batizado de Incredo, uma referência à incredulidade envolvida: será que realmente dá para fazer doces idênticos aos originais colocando metade do açúcar?


Na sede da empresa, todos os cantos estão abarrotados de guloseimas preparadas com Incredo – cookies, chocolates, balas de goma, potes de creme de avelã. Em testes cegos conduzidos por um instituto independente, mais de 2/3 dos consumidores preferiram as bolachas com Incredo àquelas preparadas com açúcar comum, e 74% disseram que comprariam Nutella feita com o novo produto. Logo eles poderão fazer isso: neste ano, o Incredo começará a ser fabricado em escala industrial pela Sudzucker, maior produtora de açúcar da Europa, e por uma grande empresa dos EUA – cujo nome é mantido em segredo.



O sigilo faz parte de uma disputa entre multinacionais, que estão investindo em pesquisa e desenvolvimento para  para tentar alcançar a mesma meta: continuar vendendo coisas doces num mundo que se mostra cada vez mais resistente ao açúcar.


Muitos países começaram a incluir advertências na comida industrializada [no Brasil, a regra começa a valer em outubro] e até aumentar os impostos sobre os produtos altamente açucarados. Essas medidas parecem estar fazendo efeito. Com a opinião pública se voltando contra o açúcar, a indústria de alimentos tem prometido reduzir sua quantidade. O problema é que ele não é fácil de substituir. Nenhuma das alternativas artificiais criadas no último século é tão irresistível, ou tão versátil, quanto o açúcar. A imposição de novas regras, a pressão das autoridades e o sentimento do público criaram uma espécie de pânico, e uma onda de inovação, na indústria. A corrida não é para criar um substituto ao açúcar; é para desenhar um novo açúcar.


O método da Doux Matok para reestruturar os cristais de açúcar foi inventado pelo pai de Eran, o químico industrial Avraham Baniel. Ele patenteou a técnica em 2015, quando tinha 96 anos de idade; hoje tem 101, e finalmente está aposentado. Avraham começou a refletir sobre o açúcar na década de 1990, quando trabalhou como consultor para uma empresa inglesa de adoçante. O produto estava vendendo mal, e pesquisas mostraram que as crianças, em especial, continuavam preferindo açúcar de verdade. Então Avraham se lembrou de um caso da década de 1940, quando o açúcar era racionado em Israel.


A vizinha dele perguntou se Avraham, como químico, conseguiria um pouco de farinha de milho, pois ela queria fazer um pudim. Ela achava que a consistência grossa e grudenta da farinha envolveria a língua, deixando o pudim gostoso mesmo com bem pouco açúcar. 


Avraham ajudou a vizinha, e depois foi fazer o próprio pudim. Descobriu que ela estava certa: quanto mais viscoso o pudim, mais doce ele ficava. Então, para reduzir a quantidade de açúcar, talvez o melhor caminho fosse redesenhá-lo. Quando você coloca algo doce na boca, a sua saliva dissolve os cristais de açúcar, mas só 20% deles se conectam aos receptores de sabor na língua. Todo o resto é simplesmente engolido e desce pela garganta – você consome aquelas calorias, mas nem sente o sabor delas. Avraham começou a estudar uma maneira de melhorar a conexão dos cristais com os nossos receptores gustativos, e passou a misturar sacarose (açúcar comum) com outras substâncias. Depois de algum tempo, teve a ideia de usar sílica.


A sílica, ou dióxido de silício (SiO2), já é usada pela indústria de alimentos como “agente de fluidez” (para evitar o empedramento de farinhas, por exemplo), e passa pelo sistema digestivo sem ser metabolizada. Cada grãozinho de sílica é cinco vezes mais fino do que um fio de cabelo – invisível a olho nu e indetectável pela língua. A DouxMatok inventou um processo químico que gruda sílica nos cristais de açúcar. Eles continuam sendo 99% sacarose, mas a adição da sílica tem dois efeitos. Primeiro, ela se desprende do açúcar dentro da boca, e isso aumenta a superfície de contato entre a saliva e os cristais de sacarose [veja infográfico abaixo]. E os pontinhos onde a sílica estava grudada são “amorfos”, com átomos desordenados – que, por isso, se dissolvem muito mais facilmente na língua.


Como é muito mais solúvel, o Incredo satura rapidamente as papilas gustativas, produzindo uma forte sensação de doçura. É mais ou menos como o algodão-doce, cujo açúcar é derretido numa panela – e, por isso, se torna amorfo. Ele parece bem mais doce do que o chocolate ou os refrigerantes, por exemplo, mas contém muito menos açúcar.



Avraham e Eran patentearam sua tecnologia, fecharam acordos com investidores e grandes empresas de alimentos, e em 2014 fundaram a DouxMatok (o nome significa “duplamente doce”, em hebraico).


OS AÇÚCARES LIVRES


Até o final do século 18, quando a produção de açúcar começou a ser mecanizada, a maioria das pessoas consumia muito pouco dos chamados açúcares “livres”, que são adicionados aos alimentos. Um americano médio podia passar a vida inteira sem comer nenhum doce industrializado, muito menos os iogurtes, cereais matinais, bolachas e bebidas adoçadas que encontramos nos supermercados.


Hoje, esse mesmo americano médio ingere nada menos que 19 colheres de chá, ou 76 gramas, de açúcar “livre” por dia. É assim, também, porque nossos receptores gustativos que detectam o sabor doce são menos sensíveis do que os outros. A língua consegue detectar o sabor amargo mesmo em baixíssimas concentrações, de poucas partes por milhão – mas, para que um copo d’água fique doce, precisamos colocar nele uma colherada de açúcar.


“Faz sentido, é para isso que o sistema foi desenhado”, diz o biólogo Robert Margolskee. Ele trabalha no Monell Chemical Senses Center, na Filadélfia, estudando os mecanismos moleculares por trás dos gostos doces. Os humanos evoluíram num ambiente cheio de substâncias tóxicas, e por isso são altamente sensíveis a sabores que possam significar perigo. Mas os venenos da natureza geralmente não são doces. Além disso, a coisa mais doce que os hominídeos primitivos tinham para comer eram as frutas. Hoje vivemos cercados por alimentos muito doces, mas nossos receptores ainda estão calibrados para a delicada doçura de uma banana. “Seria bom se os receptores se tornassem mais sensíveis, porque aí comeríamos menos açúcar”, diz Margolskee. “Mas isso ainda vai demorar mais algumas centenas de milhares de anos, no mínimo.”


Essa discrepância entre os nossos receptores gustativos, que são pouco sensíveis, e a alimentação ultradoce do mundo moderno levou médicos e gurus das dietas a recomendar adoçantes artificiais. O primeiro foi a sacarina, um derivado do alcatrão que chegou ao mercado no final do século 19. Depois vieram vários outros, dos quais o mais famoso é o aspartame, lançado na década de 1980. Os adoçantes foram ganhando má reputação – muita gente acha o gosto ruim, e que eles fazem mal à saúde. Em 1951, quando os refrigerantes e sobremesas diet começaram a proliferar, o ciclamato foi banido pela FDA, porque causava câncer de bexiga em ratos. A sacarina também foi banida por muitos anos, depois que alguns estudos preocupantes surgiram na década de 1970. Hoje, o consenso é que os adoçantes não são cancerígenos nas quantidades em que são consumidos.


Mas o sabor deles é um desafio mais difícil de resolver. A sacarina é mais doce que o açúcar, e o aspartame também (quase 200 vezes mais), mas eles não são clones do açúcar. “Você sabe, inconscientemente, qual é o ‘perfil temporal’ da sacarose”, diz Russell Keast, cientista de alimentos da Deakin University, na Austrália. “A onda de sabor doce, a duração do pico, o retrogosto”, explica. Com a sucralose, por exemplo, esse padrão é diferente, de um jeito que a maioria das pessoas acha desagradável. E muitos adoçantes têm notas metálicas ou amargas, que precisam ser disfarçadas com outros ingredientes.   


Além disso, nenhum substituto artificial reproduz as funções do açúcar. Ele evita a formação de gelo no sorvete, dá volume às massas, crocância a bolos e bolachas e viscosidade às bebidas; melhora a estabilidade de molhos, dá cremosidade ao chocolate, e até aumenta o prazo de validade de certos produtos. Por isso, os fabricantes o utilizam promiscuamente, até em alimentos – como maionese, pão e molho de pimenta – que não são doces. Já a sacarina deixa as bolachas farinhentas, o aspartame se decompõe quando é aquecido, e os bolos feitos com sucralose não crescem. O açúcar é simplesmente indispensável para a culinária.


Mas a sacarose, que é obtida da cana-de-açúcar ou da beterraba, não é o único tipo de açúcar. Ao longo dos anos, cientistas identificaram dúzias de sacarídeos naturais: todos são variações da estrutura básica do acúçar, uma matriz molecular de carbono, hidrogênio e oxigênio. Alguns desses açúcares são bem conhecidos: além da lactose e da frutose, existe a amilose (presente no amido das batatas, do trigo e do arroz) e a maltose (do malte, um cereal). Eles são metabolizados como açúcares, e por isso têm os mesmos problemas nutricionais da sacarose.


Também existem açúcares extremamente raros – encontrados em fontes improváveis, como algas, secreções de insetos, resina de árvores e até em meteoritos. Alguns deles se comportam de forma diferente nos nossos corpos, e isso levanta a esperança de que possam ser capazes de entregar a doçura do açúcar comum sem sua carga metabólica.


Até bem recentemente, sabia-se muito pouco sobre esses compostos. A pesquisa de açúcares raros deu um salto em 1991, quando Ken Izumori, um professor do departamento de agricultura da Universidade de Kagawa, no Japão, descobriu uma enzima capaz de mudar o ângulo de três átomos de carbono presentes na frutose, e com isso transformá-la num açúcar totalmente diferente: a alulose, que existe naturalmente, embora em quantidades minúsculas, nos figos e no xarope de bordo (maple syrup). Izumori passou 20 anos pesquisando micróbios do mundo inteiro até achar um que produzisse essa enzima. Ele o encontrou no chão, atrás do café da universidade.


A multinacional Tate & Lyle, que produz açúcar há mais de 100 anos, já começou a vender alulose para a indústria de alimentos, com o nome de Dolcia Prima [o produto não está disponível no Brasil, pois a alulose ainda não foi aprovada pela Anvisa]. Na minha visita à sede da empresa, nos arredores de Chicago, encontrei cientistas fazendo bolachas doces para testar o produto. Visualmente, o Dolcia Prima é idêntico ao açúcar comum: um pouco menos brilhante, talvez, porque os cristais de alulose têm um formato diferente (são bastões, não cubos como os cristais de sacarose). Na boca, ele se comporta mais ou menos como a sacarose. Sua doçura cresce em intensidade e e depois permanece, mas é um pouco mais fraca, como acontece com os sabores quando você está gripado.

“Isso acontece porque ele [o Dolcia Prima] é 30% menos doce”, explica Abigail Storms, vice-presidente de inovação da empresa. “Mas tem 90% menos calorias.” Na verdade, explica ela, os primeiros testes revelaram que o corpo não consegue digerir a alulose e simplesmente a excreta, o que faz dela um produto de zero caloria. Mas a FDA decidiu que ainda não há estudos suficientes para determinar o real teor calórico do produto.


Enquanto me mostra o departamento de testes da empresa, o diretor de tecnologia da Tate & Lyle, Jim Carr, me dá um caramelo feito com manteiga, baunilha e alulose. Ele é denso, grudento, delicioso – como um caramelo comum. A alulose carameliza, cresce, estabiliza, dá textura e crocância aos alimentos. “Ela se comporta como o açúcar, porque é um”, diz Carr. Mas, mesmo se comportando quase exatamente como a sacarose na cozinha, esse açúcar é alien o suficiente para passar pelo intestino humano sem ser digerido ou fermentado.


A Tate & Lyle criou um método que usa milho para produzir alulose, e isso torna o produto barato (embora não tão barato quanto o açúcar comum). Apesar disso, a indústria alimentícia inicialmente o encarou com cautela. A alulose precisa ser listada como um “açúcar adicionado” nos rótulos dos produtos, o que poderia afastar os consumidores. Então a Tate & Lyle passou cinco anos tentando convencer a FDA, com estudos independentes mostrando que a alulose não aumentava o nível de glicose no sangue nem causava cáries. No ano passado, a agência finalmente cedeu e determinou que, nos rótulos, a alulose não precisa ser discriminada como um açúcar. Aí a indústria rapidamente procurou a Tate & Lyle, querendo incluir o Dolcia Prima em seus produtos.

Antes de eu ir embora, Storms e Carr me fazem provar mais doces feitos com alulose: sorvete, cookies, bolachinhas e uma barra de proteína sabor blueberry, tão doce que fez meus dentes doerem. “Você não precisa comer inteira”, disse Carr ao notar minha dificuldade. No caminho de volta para o aeroporto, dei duas trufas de alulose para o motorista do meu táxi. Ele comeu uma, gostou (“hummm”) e disse que ia guardar a outra para a namorada. “Zero caloria?”, me perguntou, incrédulo. “Você tem certeza?”. Assim que chegamos ao aeroporto e eu saltei do carro, vi o taxista pegar e comer a outra trufa.


O BOM E O RUIM

Em 2018, a gigante alimentícia Nestlé lançou um novo produto na Europa, o Milkybar Wowsomes. Era uma barrinha de chocolate, branco ou comum, que continha 30% menos sacarose – porque era feita com um novo açúcar, “aerado e poroso”. O açúcar reinventado pela Nestlé explora um princípio similar ao Incredo, da DouxMatok. Para criar um cristal de açúcar que se dissolve mais facilmente na língua, os cientistas da empresa misturaram sacarose com leite, e aí borrifaram um spray da mistura e o secaram sob pressão. Olhando no microscópio, cada grãozinho parece um queijo suíço, com reentrâncias e bolsas de ar que diminuem a quantidade de sacarose por cristal.


Mas o Wowsomes não vendeu bem, e a Nestlé o tirou do mercado no ano passado. Os consumidores reclamaram que a parte de dentro era massuda e seca, não derretia. Também disseram que o Wowsomes era muito caro. Ele custava mais para fabricar que o chocolate comum. Mas, “psicologicamente, as pessoas sentem que, se você está tirando algo de um produto, ele tem de ser mais barato”, diz a nutricionista Petra Klassen-Wigger, do setor de pesquisas da Nestlé. Ela diz que a empresa provavelmente irá usar seu açúcar redesenhado em outros produtos, e também está desenvolvendo uma nova tecnologia de redução de açúcar, que será lançada este ano (os detalhes são confidenciais, mas ela é baseada em fermentação).


Cada um dos açúcares alternativos tem suas vantagens e desvantagens. A alulose da Tate & Lyle tem menos calorias que os produtos da DouxMatok e da Nestlé. Ela também pode ser usada em bebidas, enquanto os outros não (a sacarose modificada se decompõe em contato com a água). Mas, se você substituir o açúcar comum pela mesma quantidade de alulose, vai acabar excedendo os limites permitidos pela FDA na maioria dos alimentos. Isso se deve a uma particularidade nas regras impostas pela agência. Para evitar que as pessoas ingiram alulose acima da quantidade diária considerada segura, a FDA pegou esse limite e repartiu entre várias categorias de produto – iogurte, cookies, doces, bebidas, etc.


O resultado é que o nível de alulose permitido em cada um desses alimentos acabou sendo significativamente menor. Na prática, isso quer dizer que a alulose quase sempre terá de ser combinada a outros ingredientes: farinha de milho, para dar volume; talvez um adoçante natural, como a estévia; e “álcoois de açúcar”, como o xylitol e o erythritol. E cada um desses ingredientes tem seus próprios problemas, como sabor estranho, doçura retardada ou persistente demais, sensação gelada na boca ou consequências digestivas indesejadas.



Já o produto da Doux Matok não está sujeito a restrições da FDA, porque é 99% sacarose. Mas ele também exige que as receitas sejam reformuladas. Se você tirar as 57 colheres de chá de açúcar presentes num pote de Nutella, e substituí-las por 35 colheres de Incredo, o pote vai ficar nitidamente vazio. E o creme seria doce o suficiente, mas todas as suas outras características estariam erradas.


A chef Estella Belfer, que é especialista em doces e jurada do programa de TV Bake-Off Israel, me contou alguns dos desafios de cozinhar com o Incredo. “Fazer chocolate é fácil. Eu simplesmente substituo o açúcar por uma quantidade menor [do Incredo]. E os cookies ficam até melhores, mais crocantes”, diz. “Mas em bolos e cupcakes, aí tem uma arte envolvida.” O açúcar é altamente responsável pela textura macia e fofinha de um bom bolo.


O Incredo se comporta exatamente da mesma forma, mas você usa uma quantidade muito menor dele, e isso cria problemas. Belfer diz que conseguiu recuperar as características dos bolos misturando outros ingredientes ao Incredo, como fibras solúveis e proteínas vegetais, “mas não é fácil”. Eran Baniel, o CEO da DouxMatok, diz que já viu muitos fabricantes de alimentos tendo dificuldades com o produto, e agora só envia amostras junto com um funcionário da própria empresa. “Nosso açúcar precisa de uma babá”, diz.


Provo um dos bonitos cookies feitos por Estella com o novo açúcar, e tenho um momento de preocupação. Biologicamente, a nossa capacidade de sentir sabores doces não existe apenas para dar prazer, mas também preparar o resto do corpo para uma onda de açúcar: ao receber o sinal das papilas gustativas, o pâncreas começa a produzir mais insulina. Quando esses processos param de funcionar como deveriam, o resultado é diabetes. Será que é uma boa ideia ficar enganando o meu pâncreas, dizendo para ele se preparar para uma certa quantidade de açúcar, e depois entregar só a metade? “Sim, o seu pâncreas falaria algo assim: ‘ei, vocês estão me excitando por nada’”, diz o biólogo Robert Margolskee. Mas ele explica que o corpo humano tem um mecanismo de segurança para garantir que o nível de insulina no sangue só aumente quando o açúcar cai na corrente sanguínea (e não, apenas, quando ele é detectado na língua).



Há outra questão. A sacarose e os adoçantes artificiais, mesmo em concentrações indetectáveis pelas papilas gustativas, estimulam áreas diferentes do cérebro. E tipos diferentes de açúcar interagem de maneiras distintas com os micróbios do sistema digestivo. Incrivelmente, nós temos receptores de sabor doce não só na língua, mas em todo o corpo. Vinte anos atrás, cientistas da Universidade de Liverpool encontraram receptores desse tipo, idênticos aos presentes na boca, na parede do intestino. De lá para cá, células receptoras de sabor também foram encontradas em outras partes do trato gastrointestinal, no sistema nervoso, na pele, nos testículos e nos pulmões.


A ciência ainda desconhece os efeitos provocados pela maioria dessas células. Yanina Pepino, professora de nutrologia na Universidade de Illinois, me contou uma descoberta surpreendente. Em uma experiência recente, os voluntários secretaram menos insulina em resposta à glicose quando haviam provado sucralose antes. Simplesmente bochechar um líquido com esse adoçante artificial, sem engolir, já era suficiente para desregular os mecanismos de insulina do corpo.


Yanina acredita que o sabor doce, tendo calorias ou não, seja capaz de afetar o metabolismo por si só. “Ele é um sinal muito potente”, diz. “E eu acho que nós estamos mirando no alvo errado quando tentamos criar produtos com o mesmo nível de doçura, e simplesmente reduzir as calorias.” O cientista de alimentos Russell Keast pensa na mesma linha. “Toda vez que a gente tenta driblar a nossa biologia, vai haver danos colaterais em algum lugar”, diz. Já Margolskee é mais otimista. “Eu acho que daqui a cinco anos será possível reduzir 80% a 90% do açúcar da comida, e manter a mesma sensação doce”, diz. “Não é um sonho impossível.”


Depois de experimentar tantos produtos feitos com novos tipos de açúcar, eu meio que perdi minha noção de preferências alimentares. Antes da pandemia, quando recebi amigos em casa para jantar, dei a eles amostras dos doces exóticos que eu tinha guardado. Caramelos de alulose, um potinho de Nutella feita com Incredo, uma versão limitada do Kit Kat, só vendida no Japão, que é adoçada com polpa de cacau, e até um dos malfadados Wowsomes, que consegui comprar num site. Recebi respostas como “isso está estragado?”, “parece papelão” e “por que o gosto é tão ácido?”. Mas duas das guloseimas agradaram minhas visitas: os Wowsomes (“eu comeria tranquilamente”) e os caramelos de alulose (“isso é um produto multimilionário!”).


Enquanto eu guardava os doces que sobraram, pensei em todo o dinheiro e a engenhosidade científica colocados neles. E comecei a refletir: será que nós não poderíamos, simplesmente, comer menos açúcar? Os gatilhos biológicos estudados por pesquisadores como Margolskee parecem incontornáveis, mas eles só viraram um problema quando o açúcar se tornou barato e onipresente. A indústria de alimentos descobriu nossa queda para o doce, e a amplificou: hoje, 75% de toda a comida industrializada contém açúcar “livre”, adicionado. E, se continuarmos na trajetória atual, metade da população mundial terá sobrepeso ou obesidade até 2035. Um em cada seis americanos será diabético.


Antes de se tornar CEO da Tate & Lyle, o executivo Nick Hampton trabalhou na PepsiCo (dona da marca de salgadinhos Elma Chips). Lá, ele conseguiu cortar em 50% a quantidade de sal nas batatinhas fritas vendidas na Inglaterra, ao longo de um período de cinco anos, sem que os consumidores percebessem. “Dá para fazer isso com o açúcar também? Seria interessante”, diz.


Nos últimos anos, vários fabricantes conseguiram reduzir o açúcar dos cereais matinais sem prejudicar as vendas dos produtos. Mas Margolskee e seus colegas encontraram indícios de que satisfazer o desejo humano pelo sabor doce talvez não seja tão fácil quanto ajustar o nosso uso de sal.


Assumindo que seja possível, reduzir o teor de açúcar nos alimentos exigiria a cooperação da indústria numa escala gigantesca, que nunca foi tentada. Mesmo os cientistas que estão tentando redesenhar o açúcar admitem que o melhor caminho é ir reduzindo os níveis dele aos poucos, para recalibrar nosso paladar – e as inovações tecnológicas são uma solução sofisticada, mas temporária. Da mesma forma que o único bom substituto para o açúcar é o próprio açúcar, a única maneira de ingerir menos açúcar, infelizmente, é comer menos dele.


Falabella, seu Caco Antibes não saiu de cena. Apenas perdeu a graça


POR MATHEUS PICHONELLI



Caco Antibes (Miguel Falabella) em Sai de Baixo (Foto: Reprodução/TV Globo)
Imagem: Reprodução/TV Globo


"Sai de Baixo" foi um programa de estilo sitcom da TV Globo exibido nas noites de domingo entre 1996 e 2002. Um de seus personagens mais marcantes era Caco Antibes, o protótipo do brasileiro médio e decadente, tomado de ódio e preconceito de classe, interpretado por Miguel Falabella.

"Eu tenho horror a pobre" era seu bordão.

Em uma entrevista publicada no Estadão, no último fim de semana, o ator e dramaturgo afirmou que seu antigo personagem "não teria como existir hoje em dia". "Ele é representativo de uma época. Idiota seria eu se quisesse repetir o Caco Antibes", disse Falabella.

Eu não poderia concordar menos.

Quando o sitcom estava no ar, Caco Antibes era o apelido de todos os parentes que causavam mal-estar à mesa quando, depois da segunda cerveja, começavam a expelir perdigotos e planos higienistas para nossa cidade. A exemplo do personagem fictício, quase nunca eram levados a sério.

Como uma risca de chão imaginária, estava claro que Caco Antibes era uma caricatura resguardada pela impotência. Falava, falava e falava absurdos porque era tudo o que podia fazer.

Por isso provocava riso.

"Sai de Baixo" foi o programa que marcou o fim dos anos 1990. E foi na década seguinte que o Brasil botou para funcionar um dos mais bem-sucedidos programas de distribuição de renda do planeta. O Bolsa Família reduziu as taxas de extrema pobreza em 25% e as de pobreza, em 15%, entre 2001 e 2017. Naquele ano, 6,6 milhões de pessoas saíram da pobreza ou da extrema pobreza. Era o equivalente à população do Maranhão, segundo dados do Ipea.

Como contrapartida, o Bolsa Família tirou do armário o espírito insepulto do personagem.

O ranço nascido ali fez explodir o discurso de ódio, manifestado nas iminentes redes sociais, a começar pelo Orkut. Chegou ao Twitter e se espalhou pela deepweb.

O que era piada virou força política.

Jair Bolsonaro, em seus tempos de deputado, dizia que o programa do governo era uma mentira. Para ele, tratava-se de um projeto para "tirar dinheiro de quem produz e dar a quem se acomoda". Ele lamentava que, no Nordeste, já não se conseguia pessoas para trabalhar por causa do programa, que se tornara uma ferramenta de "cabresto".

Na época, o futuro presidente defendia um polêmico programa de planejamento familiar para que "o cara que faz três, quatro, cinco, dez filhos" não virasse problema do Estado. "Esse cara já vai viver de Bolsa Família, não vai fazer nada, não produz bens e serviços, não colabora com o PIB. Aqueles oito filhos vão ter que ter creche, escola, depois vão ter cota lá na frente. Para ser o que na sociedade? Nada."

Já candidato a presidente, Bolsonaro provocou aplausos ao calcular o peso de quilombolas em arrobas. Dizia que eles não serviam sequer para procriar.

Depois de eleito, apostou alto as fichas na imunidade de rebanho quando chegou a pandemia. Tinha a seu favor uma tese peculiar: os brasileiros, sobretudo os mais pobres, precisavam ser estudados, porque porque nadavam em esgoto e não acontecia nada com eles. Não seria diferente em contato com o coronavírus. Hoje o país soma 230 mil mortos e ele pergunta "e daí?".

A ironia é que o deputado que fazia cosplay de Caco Antibes para ganhar engajamento tem hoje a popularidade atrelada ao auxílio emergencial — e não perde chance de posar nas redes como um político de base humilde, que fala a língua do seu povo. Haja leite condensado no pão para adoçar a fantasia vestida no condomínio Vivendas da Barra.

Bolsonaro deu corpo e empoderou o espírito cacoantibeano, mas não está só. Seu Posto Ipiranga é um ministro da Economia que acredita que a maior inimiga do meio ambiente é a pobreza, que pobres são pobres porque consomem tudo e não guardam nada, e que já demonstrou alívio com o fim da farra dos governos anteriores em que até a empregada doméstica podia viajar para a Disney.

A ascensão de Bolsonaro e sua turma não é resultado de uma conversão repentina dos brasileiros à cartilha de Caco Antibes. Há muitos elementos que explicam a sua chegada ao Planalto, inclusive a implosão do sistema político e partidário a partir da Lava Jato.

Na semana passada, a divulgação de trocas de mensagens entre procuradores da força-tarefa e o então juiz Sergio Moro mostrou que a bronca dos responsáveis pelas investigações não era só pelos supostos malfeitos dos investigados.

Ex-operário nascido em Garanhuns (PE), Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente que colocou em campo o Bolsa Família, era ridicularizado sistematicamente pelos investigadores no grupo do Telegram. Deltan Dallagnol o chamava de "9", em referência ao acidente de trabalho que fez o ex-presidente perder um dos dedos.

E Januário Paludo, o "pai" da equipe, dizia não ter dúvidas de que o sítio em Atibaia, alvo das investigações, era do ex-presidente porque, "além de deprimente, tinha muita roupa brega de mulher, decoração horrorosa e vinhos de boa qualidade, mas muito mal conservados."

Se fechar os olhos, é possível ouvir Caco Antibes pronunciando cada linha.

Só não dá para escutar as risadas ao fundo.

Desculpa discordar, Falabella. Mas seu personagem nunca foi tão atual nem teve tanta força política. Apenas perdeu a graça.

Doria quer expulsar Aécio e atrair Maia para posicionar PSDB pelo Planalto ~

Você conhece o Meio? Faça sua inscrição no site! Não custa nada: www.canalmeio.com.br






Sacudido violentamente pelas eleições para a presidência da Câmara e do Senado, o tabuleiro político começa a se rearranjar. O movimento agora é do PSDB, que procura faturar com a crise entre o presidente do DEM, ACM Neto, e o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (DEM-RJ). O governador de São Paulo, João Doria, quer expurgar do PSDB o grupo do deputado Aécio Neves (MG) e absorver dissidentes do DEM, liderados por Maia. Aécio, muito ligado ao novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), é visto por Doria como foco do governismo entre os tucanos e obstáculo à candidatura do governador ao Planalto no ano que vem. (Folha)

A candidatura de Doria ganhou um afago ontem do senador Tasso Jereissati (CE), veterano do partido. Em entrevista, ele destacou a atuação e a candidatura do governador paulista, mas também lembrou os nomes do governador gaúcho, Eduardo Leite, e do apresentador Luciano Huck. Disse que qualquer partido gostaria de ter Rodrigo Maia e foi enfático ao dizer que “seu” PSDB não vai estar ao lado de Bolsonaro em 2022. (UOL)

Lauro Jardim: “Tasso cometeu um ato falho ao criticar duramente a aliança dos Democratas com o governo Bolsonaro, sob a liderança de ACM Neto: “O meu PSDB não estará de maneira alguma com o Doria.” Mas corrigiu-se imediatamente: “Desculpa, com o Bolsonaro.” (Globo)

Enquanto os tucanos afinam o discurso, ACM Neto e Maia seguem trocando pontapés. Após este acusar o DEM de voltar “à extrema-direita dos anos 1980”, o presidente da legenda disse, segundo Bela Megale, que Maia busca culpados pelos próprios erros e que “o poder lhe subiu à cabeça”. (Globo)

Painel: “ACM Neto passou o fim de semana numa ofensiva para evitar que a crise na legenda afaste Luciano Huck, visto como opção presidencial do partido. Por telefone, disse que não pode descartar já o apoio a Jair Bolsonaro em 2022 por respeito à ala da sigla que defende o presidente. O ex-prefeito de Salvador (BA) frisou, porém, que prefere não apoiar a reeleição, segundo pessoas próximas ao político e a Huck. Por enquanto, a articulação fez efeito. O apresentador de TV não descartou se filiar ao antigo PFL.” (Folha)


Onyx Lorenzoni, que já foi ministro da Casa Civil e hoje ocupa a cobiçada pasta da Cidadania, vai ser deslocado de novo. O presidente Jair Bolsonaro confirmou que, nas próximas semanas, o aliado vai para a Secretaria-Geral da Presidência. Seu substituto será um político do Centrão, possivelmente do Republicanos, partido de seus dois filhos mais velhos do presidente. Bolsonaro, porém, negou que pretenda fazer uma ampla reforma ministerial, o que coincide com a estratégia de entregar cargos a conta-gotas, conforme a base no Congresso aprove pautas de interesse do Executivo. (Folha)

Então... O nome do baiano João Roma já foi submetido à análise do Planalto para a pasta. Apesar de estar no Republicanos, ele é ligado ao presidente do DEM, ACM Neto. (Folha)

De olho no Ministério da Agricultura, o Centrão quer que Bolsonaro transfira Tereza Cristina para o Itamaraty, o que de quebra livraria a diplomacia brasileira de Ernesto Araújo. (Globo)

Bolsonaro, aliás, deu uma guinada de 180º e defendeu enfaticamente a volta do auxílio emergencial “para ontem”, após ter dito que a retomada do pagamento “quebraria o país”. Por trás da mudança está a pressão de parlamentares e a queda na sua aprovação, detectada em pesquisas de opinião. Na mais recente, divulgada pelo XP/Ipespe, o percentual dos que consideram o governo ruim ou péssimo chegou a 42%, enquanto os que acham bom ou ótimo caíram para 30%. Em outubro, quando o auxílio emergencial estava em vigor, a reprovação era de 31%. (Estadão)


Meio em vídeo. O Brasil virou cenário de uma política feita por ressentidos. E isso é um desastre. Por quê? Porque tem um bode na sala e tirá-lo dali deveria ser prioridade. Os jogos para formar candidaturas já estão começando — no esfacelamento do DEM, na união ou não de Rede, Cidadania e PV, nos encontros que começam a ocorrer dentro da esquerda. Mas conversas são necessárias. Confira no YouTube.


Começa hoje, no Senado americano, o julgamento do segundo impeachment do ex-presidente Donald Trump. Seu Partido Republicano entra rachado. Um grupo quer expurgar a memória de Trump mas teme cindir a legenda ao fazê-lo. Outro gostaria que os republicanos assumissem ser o partido de Trump. A defesa vai argumentar que, por já ter deixado a Casa Branca, o impeachment seria inconstitucional. Trump é acusado de ter incitado uma multidão a invadir a sede de outro Poder, o Capitólio. (New York Times)





Num tempo em que as redes sociais acirram as conversas, polarizam o debate e privilegiam versões parciais, um espaço para o jornalismo se torna mais importante. Aquele momento do dia para refletir com tranquilidade: este é nosso objetivo com o Meio. Faça uma assinatura Premium e receba, também, a edição de sábado.



Viver




Desde que a crise de oxigênio em Manaus levou à transferência de 570 pacientes para outros estados, 37 deles morreram. Com a demora do sequenciamento genético do vírus nesses casos, médicos e gestores não têm como saber se esses óbitos foram provocados pela variante P.1., surgida no Amazonas. Os dados fazem parte de um relatório enviado pela Casa Civil da Presidência da República ao Supremo Tribunal Federal. (Folha)

Aliás... O ministro Ricardo Lewandowski determinou que o Ministério da Saúde defina com clareza a ordem de grupos prioritários para a imunização. A preocupação não é injustificada. Em diversas cidades da Grande São Paulo, por exemplo, profissionais de saúde que não atuam na linha de frente contra a pandemia, como biólogos e psicoterapeutas, estão sendo vacinados antes de idosos. Tanto que o próprio ministério já alertou secretários de Saúde de estados e municípios contra a alteração na ordem de prioridade. (G1)

E ainda no campo jurídico da pandemia, o Tribunal de Contas da União deu dez dias para o governo do Amazonas confirmar se houve pressão do Ministério da Saúde para a adoção no estado de tratamentos sem eficácia comprovada. (G1)

Pressão de um lado, pressão do outro. O Ministério da Saúde formalizou a compra de mais 54 milhões de doses da CoronaVac a serem produzidos pelo Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo. Embora, por contrato, a União tivesse até 30 de maio para formalizar o negócio, o diretor do Butantan, Dimas Covas, pressionou para que a decisão saísse antes, ameaçando exportar as vacinas ou negociá-las diretamente com estados. (Poder360)

E o governo brasileiro pediu diretamente ao sócio majoritário da AstraZeneca, Marcus Wallenberg, rapidez no envido de insumos e doses da vacina que o laboratório desenvolveu em parceria com a Universidade de Oxford. (UOL)

A pressa se justifica. Já são 19 dias com a média móvel de mortes acima de mil, contando os 687 óbitos da segunda-feira. Entre eles está o senador José Maranhão (MDB-PB), de 87 anos, que faleceu ontem após estar internado desde o fim de novembro. É o segundo integrante do Senado a morrer de Covid-19. O primeiro foi Arolde de Oliveira (PSD-RJ), que morreu em outubro, aos 83 anos. (Globo)

Fora da esfera oficial, um grupo de empresários começou ontem um movimento que tem objetivo ambicioso: vacinar toda a população até setembro. A líder do grupo, Luiza Trajano, do Magazine Luiza, divulgou um manifesto, mas não explicou como pretende atingir essa meta. (UOL)

E... Sempre no lobby, ainda sem ter testado devidamente sua vacina, a União Química contratou um ex-diretor da Anvisa, Fernando Mendes, para defender a aprovação do imunizante Sputnik V e vendê-lo ao Brasil. (G1)

A vacinação contra a Covid-19 não é obrigatória, mas um trabalhador que se recuse a ser imunizado pode perder o emprego, e por justa causa. Essa é a orientação que o Ministério Público do Trabalho está dando às empresas, embora recomende que a medida seja tomada em último caso, após campanhas de conscientização e tentativas de acordo. (Estadão)


A alta de casos de Covid-19 e de mortes pela doença no Rio fez com que a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) adiasse seu vestibular. Marcado inicialmente para o próximo dia 28, será em 2 de maio. O formato também mudou, com o cancelamento da prova discursiva. Agora, os mais de 46 mil inscritos farão somente a prova de múltipla escolha e uma redação. A capital fluminense ultrapassou São Paulo e é a cidade com maior número de óbitos pela doença. (G1)

E o MEC divulgou nesta segunda-feira a relação dos candidatos aprovados em segunda chamada no Programa Universidade para Todos (Prouni), que oferece mais de 162 mil bolsas em universidades privadas para estudantes de baixa renda. Os selecionados têm até o dia 24 para comprovar a situação financeira. (Globo)


Panelinha no Meio. Diz uma anedota que uma das boas coisas da culinária baiana é que ela já vem mastigada. Mas tem outra coisa mais importante: é deliciosa. Esta receita aqui junta a qualidade da piada com a qualidade da vida real: o vatapá baiano. Alma do acarajé, o vatapá é versátil e se alia com quase tudo, incluindo arroz e farofa. Começa com um bom caldo de peixe (a receita dele está no link também) e combina tudo que manda a música de Dorival Caymmi: camarão seco, castanha de caju, leite de coco, azeite de dendê, e não fica só aí.





Cultura




Uma foto em preto e branco pode evocar cores, brilhos? Se o olhar por trás da câmera fosse de Madalena Schwartz (1923-1993), certamente. Quem duvida pode visitar a exposição Madalena Schwartz – As Metamorfoses, que fica de hoje até 13 de junho no Instituto Moreira Salles, em São Paulo. Em 112 fotos, feitas entre 1971 e 1976, a fotógrafa de origem húngara retratou um paradoxo cultural. Num dos períodos de pior repressão política, a noite paulistana viveu seu período de maior desbunde (termo da época), com grupos de teatro e musicais, como Dzi Croquetes e Secos & Molhados, desafiando a cada noite, com muito brilho e cor, os limites da “seriedade” e da moral quatrocentona. A exposição é gratuita, mas as visitas devem ser agendadas e seguir protocolos de segurança. (Folha)


Com 56 anos de carreira, Maria Bethânia se prepara para algo inédito. No próximo sábado, às 22h, ela fará sua primeira live, transmitida com sinal aberto pela Globoplay. A data não foi escolhida à toa. Em 13 de fevereiro de 1965 ela substituiu Nara Leão no lendário show Opinião, com Zé Kéti e João do Vale, o que a projetou nacionalmente. Bethânia demorou a aderir às apresentações via internet na pandemia exatamente pela ausência do público, com a qual sempre teve uma interação intensa. “Agora, aceitei porque aprendi muito com as lives que vi. Foi uma escola bonita”, conta a cantora. (Globo)





Cotidiano Digital




Apenas um mês após ter confirmado conversas iniciais, a Hyundai e sua subsidiária Kia disseram ontem que não estão mais negociando com a Apple para criar carros elétricos autônomos. Para analistas, as conversas podem ter fracassado por causa do vazamento do plano de parceria ou da possível insistência da Apple de que o papel da Hyundai seria apenas de um fabricante, ao invés de um parceiro estratégico. Com a paralisação das negociações, o plano da big tech de começar a produção em 2024 deve ser adiado.


A China lançou novas diretrizes antitruste com alvo nas big techs, como Alibaba e Tencent. As novas regras formalizam um projeto de lei antimonopólio lançado em novembro e proíbem as empresas de diversos comportamentos, inclusive de obrigar lojistas a escolherem entre os principais players do país na internet, prática antiga no mercado, e de fixar preços, restringir tecnologias e usar dados e algoritmos para manipular o mercado.

E mal estreou na China, o Clubhouse já foi bloqueado, como acontece com Twitter, Facebook e outras redes sociais. Apesar da exclusão estar ligada à política do governo chinês, o app tem enfrentado criticas até mesmo nos EUA. O receio é que, por ter uma moderação de conteúdo ineficaz, abra espaço para grupos que promovem discurso de ódio e práticas criminosas.

Por falar em bloqueio… Após golpe militar, o governo de Myanmar continua restringindo as redes sociais no país. Depois do Facebook, Instagram e Twitter entraram na lista.









Ainda não é assinante do Meio? Faça sua inscrição no nosso site.
Não custa nada: www.canalmeio.com.br


O curador que não se cura...

  Quirão ou  Quíron  (  Χείρων,  transliterado de   Kheíron , "mão"  em grego )  nessa mitologia, é uma figura complexa e fascinan...