Personalidade, temperamento e caráter têm conceitos distintos, mas totalmente interligados
Temperamento é o componente psíquico inato, geneticamente herdado, mas não deve ser tratado como imutável
A personalidade é o resultado final do efeito do ambiente sobre a base inata do temperamento
Caráter pode se moldar de acordo com o desenvolvimento, sendo que educação e cultura podem interferir nesse resultado
Personalidade, temperamento e caráter têm conceitos distintos, mas totalmente interligados. Talvez por esse motivo as pessoas tendem a confundir cada um deles e muitas vezes criam estereótipos ou realizam julgamentos por conta dessa confusão. Por isso, vale compreender um pouco mais sobre cada um.
Para Marcela Mansur Alves, mestre em psicologia e docente na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a personalidade pode ser entendida como um sistema maior. "Temperamento e caráter não mudam a personalidade porque fazem parte dela", diz.
Definindo a personalidade
Personalidade é um conceito individual e único. Ela reúne um conjunto de condutas, emoções e cognições que irão compor um padrão comportamental de uma pessoa. "De maneira simples, se considera que a personalidade de cada indivíduo é formada pelo temperamento (base biológica-genética dos comportamentos) e todas as influências das aprendizagens ambientais a partir do nascimento (caráter e demais aprendizagens)", define Wainer.
A personalidade pode ser modificada pelos acontecimentos da vida. Entretanto, a partir do momento em que está constituída de forma mais estável, fica mais difícil mudá-la. Segundo Alves, a personalidade tende à estabilidade, embora acontecimentos específicos possam alterar alguns desses elementos que a compõem.
Já Eduardo Legal, professor na disciplina de psicopatologia da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), explica que a personalidade não deve ser tratada como um padrão fixo, pois as experiências ao longo da vida podem influenciá-la. "As pessoas são muito diferentes e são mais plásticas do que o conhecimento popular imagina", defende.
Definindo o temperamento
O temperamento é o componente psíquico inato, geneticamente herdado. Ainda assim, não deve ser tratado como imutável. De acordo com Wainer, as experiências de vida, principalmente na infância (mais ainda na primeira infância), irão constituir novas tendências no modo do indivíduo ser e agir no mundo. "Entretanto, estudos mais atuais, demonstram que não temos como reverter 100% de nossa tendência genética. Por exemplo, um sujeito que nasceu com uma tendência baixa à extroversão, poderá se tornar uma pessoa sociável, mas jamais será aquele que se destaca dos demais por sua desinibição", explica o psicólogo.
Existem diversos estudos para definir se existem tipos específicos de temperamento. As duas teorias mais aceitas e com maiores evidências são:
Busca estudar as dimensões do temperamento por sua base de neurotransmissão mais prevalente, apresenta quatro dimensões:
Evitação de dano: caracterizada por uma natureza esquiva, passiva e tímida devido à inibição de comportamentos frente à possibilidade de frustração ou ameaça;
Busca de novidades: caracterizada por uma natureza impulsiva, curiosa e impaciente frente à possibilidade de satisfação;
Dependência de recompensa: caracterizada por uma natureza sentimental, voltada ao apego e à empatia;
Persistência: caracterizada por uma natureza determinada e perfeccionista, capaz de persistir em tarefas de longa duração e representar obstáculos como desafios.
Diz que a personalidade final será a combinação de cinco grandes aspectos da dinâmica psíquica e que tais combinações são quase infinitas em suas possibilidades de combinação. Os cinco fatores são:
Abertura: atividade proativa e apreciação das experiências; tolerância e exploração do que não é familiar. Curiosidade exploradora;
Consciência: grau de organização, persistência e motivação do indivíduo no comportamento dirigido para objetivos. Compara pessoas confiáveis e obstinadas com aquelas que são apáticas e descuidadas;
Extroversão: quantidade e intensidade de interações interpessoais; nível de atividade e capacidade de se alegrar;
Amabilidade: qualidade da orientação interpessoal do indivíduo ao longo de um contínuo da compaixão ao antagonismo em pensamentos, sentimentos e ações;
Neuroticismo: avalia ajustamento versus instabilidade emocional. Identifica indivíduos propensos a perturbações psicológicas.
Definindo o caráter
Segundo Alves, o caráter pode se moldar de acordo com o desenvolvimento, sendo que educação e cultura podem interferir nesse resultado. "Ele é parte da personalidade, majoritariamente desenvolvido por meio da experiência e aprendizagem. Seriam valores em ação ligados ao significar as consequências das nossas experiências no mundo", confirma a psicóloga.
Portanto, caráter são todos os componentes mais previsíveis de nossas reações morais em contextos interpessoais, nossas regras de convivência e respeito aos outros. "O caráter são as características que foram aprendidas ao longo da vida, podendo demarcar o caminho do sujeito", finaliza Legal.