Diferenças entre personalidade, temperamento e caráter

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Escrito por Simone Cunha em Colaboração para o VivaBem 18/05/2021

Resumo

  • Personalidade, temperamento e caráter têm conceitos distintos, mas totalmente interligados

  • Temperamento é o componente psíquico inato, geneticamente herdado, mas não deve ser tratado como imutável

  • A personalidade é o resultado final do efeito do ambiente sobre a base inata do temperamento

  • Caráter pode se moldar de acordo com o desenvolvimento, sendo que educação e cultura podem interferir nesse resultado


Personalidade, temperamento e caráter têm conceitos distintos, mas totalmente interligados. Talvez por esse motivo as pessoas tendem a confundir cada um deles e muitas vezes criam estereótipos ou realizam julgamentos por conta dessa confusão. Por isso, vale compreender um pouco mais sobre cada um.


A personalidade, padrões mais estáveis e arraigados no modo de cada um se comportar, emocionar, pensar e se motivar, é construída durante a infância e parte da adolescência. "Neste processo, o recém-nascido vem com uma série de tendências comportamentais, emocionais e cognitivas (incluindo potencial intelectual) sobre a qual todas as suas vivências e aprendizagens (influência do ambiente) se somarão, resultando nas características mais duradouras e globais de sua personalidade", diz o psicólogo Ricardo Wainer, professor da Faculdade de Psicologia da PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul).


Dessa forma, a personalidade compõe o resultado final do efeito do ambiente sobre a base inata do temperamento. Isso porque a partir do nascimento, o indivíduo pode ter suas tendências temperamentais (biológicas) potencializadas, minimizadas ou consolidadas. Já o caráter é um conjunto de aprendizagens relacionado às regras de conduta moral que norteiam a sociedade. "Ou seja, tem a ver com o desenvolvimento moral e ético do indivíduo e pode ter variabilidade conforme a cultura em que está inserido", completa Wainer.


Para Marcela Mansur Alves, mestre em psicologia e docente na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), a personalidade pode ser entendida como um sistema maior. "Temperamento e caráter não mudam a personalidade porque fazem parte dela", diz.

Definindo a personalidade

Personalidade é um conceito individual e único. Ela reúne um conjunto de condutas, emoções e cognições que irão compor um padrão comportamental de uma pessoa. "De maneira simples, se considera que a personalidade de cada indivíduo é formada pelo temperamento (base biológica-genética dos comportamentos) e todas as influências das aprendizagens ambientais a partir do nascimento (caráter e demais aprendizagens)", define Wainer.


A personalidade pode ser modificada pelos acontecimentos da vida. Entretanto, a partir do momento em que está constituída de forma mais estável, fica mais difícil mudá-la. Segundo Alves, a personalidade tende à estabilidade, embora acontecimentos específicos possam alterar alguns desses elementos que a compõem.


Já Eduardo Legal, professor na disciplina de psicopatologia da Univali (Universidade do Vale do Itajaí), explica que a personalidade não deve ser tratada como um padrão fixo, pois as experiências ao longo da vida podem influenciá-la. "As pessoas são muito diferentes e são mais plásticas do que o conhecimento popular imagina", defende.

Definindo o temperamento

O temperamento é o componente psíquico inato, geneticamente herdado. Ainda assim, não deve ser tratado como imutável. De acordo com Wainer, as experiências de vida, principalmente na infância (mais ainda na primeira infância), irão constituir novas tendências no modo do indivíduo ser e agir no mundo. "Entretanto, estudos mais atuais, demonstram que não temos como reverter 100% de nossa tendência genética. Por exemplo, um sujeito que nasceu com uma tendência baixa à extroversão, poderá se tornar uma pessoa sociável, mas jamais será aquele que se destaca dos demais por sua desinibição", explica o psicólogo.


Existem diversos estudos para definir se existem tipos específicos de temperamento. As duas teorias mais aceitas e com maiores evidências são:


1) A teoria de Cloninger

Busca estudar as dimensões do temperamento por sua base de neurotransmissão mais prevalente, apresenta quatro dimensões:

  • Evitação de dano: caracterizada por uma natureza esquiva, passiva e tímida devido à inibição de comportamentos frente à possibilidade de frustração ou ameaça;

  • Busca de novidades: caracterizada por uma natureza impulsiva, curiosa e impaciente frente à possibilidade de satisfação;

  • Dependência de recompensa: caracterizada por uma natureza sentimental, voltada ao apego e à empatia;

  • Persistência: caracterizada por uma natureza determinada e perfeccionista, capaz de persistir em tarefas de longa duração e representar obstáculos como desafios.


2) A teoria do big five

Diz que a personalidade final será a combinação de cinco grandes aspectos da dinâmica psíquica e que tais combinações são quase infinitas em suas possibilidades de combinação. Os cinco fatores são:

  • Abertura: atividade proativa e apreciação das experiências; tolerância e exploração do que não é familiar. Curiosidade exploradora;

  • Consciência: grau de organização, persistência e motivação do indivíduo no comportamento dirigido para objetivos. Compara pessoas confiáveis e obstinadas com aquelas que são apáticas e descuidadas;

  • Extroversão: quantidade e intensidade de interações interpessoais; nível de atividade e capacidade de se alegrar;

  • Amabilidade: qualidade da orientação interpessoal do indivíduo ao longo de um contínuo da compaixão ao antagonismo em pensamentos, sentimentos e ações;

  • Neuroticismo: avalia ajustamento versus instabilidade emocional. Identifica indivíduos propensos a perturbações psicológicas.

Definindo o caráter

Segundo Alves, o caráter pode se moldar de acordo com o desenvolvimento, sendo que educação e cultura podem interferir nesse resultado. "Ele é parte da personalidade, majoritariamente desenvolvido por meio da experiência e aprendizagem. Seriam valores em ação ligados ao significar as consequências das nossas experiências no mundo", confirma a psicóloga.


Portanto, caráter são todos os componentes mais previsíveis de nossas reações morais em contextos interpessoais, nossas regras de convivência e respeito aos outros. "O caráter são as características que foram aprendidas ao longo da vida, podendo demarcar o caminho do sujeito", finaliza Legal.



Departamentos de psicologia no futebol!



Desde a final da Copa Libertadores da América, em novembro do ano passado, Andreas Pereira tem sido alvo de críticas da torcida do Flamengo. Essa perseguição por parte dos rubro-negros parece afetar diretamente o desempenho do meio-campista e, mais do que isso, deixa em evidência a discussão sobre saúde mental no esporte, cada vez mais comum.

Ano passado, na decisão contra o Palmeiras, o atleta falhou no lance que resultou no gol do título do adversário. Contra o Vasco da Gama, no último jogo da equipe carioca, voltou a errar e os torcedores não pouparam os xingamentos das arquibancadas no estádio Nilton Santos.

Apesar da vitória diante do arquirrival, por 2-1, no último domingo (6), Andreas não foi poupado das vaias quando foi substituído e ao final da partida, por isso teve de sair de campo abraçado pelo técnico Paulo Sousa. Desde o início da temporada, o meia tem oscilado nas atuações e hoje não é visto com unanimidade pelos torcedores. Outro questionamento que pautou discussão nas redes sociais, após nova falha do atleta, é se o clube deveria ou não fazer o investimento de 10 milhões de euros pela contratação em definitivo do jogador que ainda pertence ao Manchester United.

Todos esses fatores parecem mexer com a cabeça de Andreas. O histórico de falhas em partidas importantes somada a pressão da torcida são pontos que estão desestabilizando o jogador. Todo esse contexto o envolve só reforça a importância do trabalho psicológico com os atletas no dia a dia.

O tabu sobre discutir assuntos mais delicados, como depressão e ansiedade no esporte, parece em desconstrução nos últimos anos. Liana Benício, psicóloga do Fortaleza, acredita que o cuidado com a saúde mental e bem-estar dos atletas seja uma tendência.

"Entendo que isso tem a ver com o desenvolvimento cultural, porém é apenas questão de tempo. Estamos conseguindo quebrar muitas barreiras", iniciou Liana. "Assim como ocorre no Fortaleza, é importante a preocupação de outros clubes do Brasil e do exterior, para que os departamentos de psicologia no futebol estejam cada vez mais desenvolvidos", concluiu

Em outras modalidades, a psicologia no esporte também enfrenta alguns preconceitos. Claudio Godoi, especialista em Psicologia Esportiva para Esportes Eletrônicos e em ansiedade pela Faculdade de Medicina da USP, que atua na Team Liquid, uma das principais equipes de Rainbow Six do país, reforça a importância da população buscar a conscientização sobre este assunto.

"A ansiedade em si, diferente do que muitos pensam, não é uma doença, mas sim uma reação comum. É um fator natural do ser humano, que, inclusive, precisamos, porque dispara os alertas para estarmos focados em alguma atividade. O que não podemos é deixar virar um problema, pois ela se acumula como uma bola de neve e, aí sim, acaba se transformando em um transtorno para a sua vida", explicou.

Júnior Chávare, executivo de futebol, com passagem por Bahia, Atlético-MG, São Paulo, Grêmio e Juventus, entende que o dirigente precisa ter a convicção de que é necessário um contato mais próximo com o jogador para compreender o que o mesmo está passando.

"Muitas vezes ficamos presos somente à questão do "hoje", da pressão midiática e da torcida, mas o jogador tem inúmeros outros problemas, como pressões familiares e comportamentais que, muitas vezes, sequer chegam ao público. Isso pode ser um agente catalisador para que os problemas se potencializem e sejam traduzidos dentro de campo, em dificuldades técnicas, que resultarão em mais cobranças ainda", pontuou.

Considerações sobre Fase Anal.

Freud, em 1905 descreveu sua percepção sobre como se dava o desenvolvimento humano. Para ele, a evuloção da neurologia humana desenvolvia a personalidade da pessoa. Não existia distinção entre “o ser”que se desenvolvia e sua biologia. Nesse sentido Freud era Monista (não existe nada fora da mente…) e o mais importante: O desenvolvimento NATURAL era aquele onde o desenvolvimento PSICOSESXUAL cumpria suas etapas em toda sua formação desde a tenra idade. E esse era um pensamento incomum.

Freud apresentava a Medicina da época uma nova interpretação sobre eventos SEMPRE identificados pela própria medicina. Naturalmente a sexualidade vem JUNTO com todo o aparato neurológico. Sempre esteve presente e sempre se manifestou… O observador é que não tinha tido coragem de “olhar” o que estava vendo.

Se hoje é difícil fazer um adulto de 2022 entender que “o esfregar a gengiva contra a própria mão” em um bebê usa as MESMAS ferramentas neurológicas e FUNDAMENTA respostas que serão usadas no beijo intenso e sexual do mesmo indivíduo quando adulto… imagina no fim do século XIX.

A NEGAÇÃO diante da interpretação de que os estímulos de prazer e desprazer de um recém-nascido vão se ressignificando e evoluindo na medida que a criança cresce MAS NUNCA deixam de existir… chocou os seus pares médicos e choca muitos adultos até hoje.

Se era inaceitável imaginar que existe NATURALMENTE alguma semente de sexualidade em crianças, imagina especular que TODO o Universo para a criança recém nascida é AUTO REFERENCIAL E AUTOERÓTICO!

Aliás, usar as palavras “criança recém-nascida” e “autoerótica” na mesma frase era motivo de cadeia.

Pensar que a boa relação experiencial da vivência corpórea infantil gera pessoas saudáveis. Que as fixações por ausências ou sobrecargas em alguma das fases geram pessoas com problemas complexos, instabilidades e sofrimento era inacreditável.

Embora seja preciso alguma clareza para entender a Fase Oral que Freud apresenta, esta Fase se apresenta razoavelmente entendida pela simples observação da sofreguidão e dedicação dos bebes nos dois primeiros anos em trazer tudo a boca.

Em outra medida, o próprio nome da Fase seguinte gera mais que desentendimento… gera desconforto. Hoje entender a Fase Anal já se tornou mais acadêmicamente aceitável… mas na época de Freud era um disparate.


Fase Anal

A partir dos dois anos SOMA-SE aos repertórios da criança um novo foco de atenção onde o prazer e o alívio tem uma nova forma! E é uma relação onde o “outro” (os pais, ou os que cuidam da criança) passa a participar do ensejo… Seja como espectador, seja como coadjuvante.

O controle do esfíncter anal e urinário é o novo centro da atenção, mas é a boa relação com o público que ajuda a significar esse momento.

Entenda, não é o fato de FAZER cocô! Isso a criança sempre fez.

A criança agora (sem ter consciência disso) percebe que a “atenção” dos pais (ou cuidadores) esta aumentada em relação ao QUANDO e ao COMO ela faz suas eliminações! Percebe a atenção desagradável dos pais de uma calça suja é maior que o desconforto de estar sujo… e a felicidade de “agradar” aos pais por evitar uma “troca da fralda” na ida para vaso… Descobre um tipo novo de prazer em fazer cocô… e TAMBÉM um novo prazer em NÃO fazer cocô imediatamente… em “guardar” para uma hora mais apropriada. E tem também o prazer do rito em fazer no local combinado…

A criança entende que O COCÔ É UMA EXTENSÃO DE SÍ!

É sua obra!

Mas, ao mesmo tempo que é um alívio eliminar o cocô… é uma perda… pois é uma parte sua.

Uma forma de AMBIVALÊNCIA SE FORMA ENTRE O QUE ELE FAZ E O QUE DEIXA PARA TRÁS.

Existem em uma mesma fase transbordos de emoções e construções psicológicas importantes:

1º Esse sentimento NARCÍSICO (de apego) de ter essa “capacidade de produzir”;

2º Se transforma em um “sentimento de amor” ao perceber que o que ele faz seja atrativo e de interesse aos/dos pais (nessa fase o cocô é um presente aos pais);

3º a ambivalência do receio de decepcionar os que ama por não fazer na hora ou local corretos por não ter controle sobre o próprio corpo;

4º uma nova forma de prazer e forma de orgulho diante do autocontrole que acaba sendo construído;

Tudo isso sendo vivenciado (mais ou menos) entre os dois anos e os quatro anos de idade.

Na sociedade ocidental esta fase está muito ligada ao convívio social. Crianças são tratadas de forma diferente quando entram no que é modernamente chamado de “desfralde”. Expostas a outras crianças com muito mais frequência… Mas em todas as sociedades o controle dos esfíncteres é parte constitutiva do amadurecimento emocional do bebe.

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Mas e DEPOIS?


Freud entendia que as características adultas que estão associadas à fixação parcial na fase anal são: ordem, parcimônia e obstinação.

Sim, o simples desenvolvimento dos esfíncteres serão BASE para esses três traços na vida adulta. Geralmente são encontrados juntos. Freud fala do "caráter anal" cujo comportamento está intimamente ligado a experiências sofridas durante esta época da infância.

Parte da confusão que pode acompanhar a fase anal é a aparente contradição entre o pródigo elogio e o reconhecimento, por um lado e, por outro a idéia de que ir ao banheiro é "sujo" e deveria ser guardado em segredo.

A criança não consegue compreender inicialmente que suas fezes e urina não sejam “apreciadas” PELOS OUTROS. As crianças pequenas gostam de observar suas fezes na privada, na hora de dar a descarga, e com freqüência acenam e dizem-lhes adeus. Não é raro uma criança oferecer como presente a seu pai ou mãe parte de suas fezes. Tendo sido elogiada por produzi-las, a criança pode surpreender-se ou confundir-se no caso de seus pais reagirem ao presente com repugnância. Nenhuma área da vida contemporânea é tão carregada de proibições e tabus como a área que lida com o treinamento da higiene e comportamentos típicos da fase anal.



Fonte: "Teorias da Personalidade" ~ James Fadigman e Robert Frager





A fase anal

À medida que a criança cresce, novas áreas de tensão e satisfação chegam à consciência. Entre as idades de 2 e 4 anos, as crianças geralmente aprendem a controlar o esfíncter anal e a bexiga. A criança presta especial atenção à urinação e à defecação. O treinamento higiênico estimula um interesse natural pela auto- descoberta. O aumento do controle fisiológico é acompanhado da percepção de que este controle é uma nova fonte de prazer. Além disso, as crianças rapidamente aprendem que o nível crescente de controle gera atenção e elogio dos pais. O inverso também ocorre: o interesse dos pais pelo treinamento higiênico permite à criança demandar atenção tanto pelo controle bem-sucedido quanto por erros.

As características adultas associadas à fixação parcial na fase anal são a excessiva disciplina, parcimônia e obstinação. Freud observou que estes três traços geralmente são vistos juntos. Ele fala do “caráter anal”, cujo comportamento pode estar ligado a difíceis experiências sofridas durante este período na infância.

Parte da confusão que pode acompanhar a fase anal se deve à aparente contradição entre o elogio e o reconhecimento generosos, por um lado, e a idéia de que a higiene íntima é “suja” e deve ser mantida em segredo, por outro. A criança inicialmente não entende que seus movimentos intestinais e sua urina não são valorizados. As crianças pequenas adoram ver as fezes desaparecendo pelo vaso sanitário quando se puxa a descarga, muitas vezes acenando ou dizendo adeus às suas evacuações. É comum que uma criança ofereça parte da evacuação aos pais como presente. Diante do elogio por tê-las produzido, a criança pode ficar surpresa e confusa se os pais reagem com nojo. Nenhum outro aspecto da vida contemporânea é tão sobrecarregado de proibições e tabus quanto a higiene íntima e os comporta- mentos típicos da fase anal.

Personalidade e Crescimento Pessoal ~ James Fadiman; Robert Frager

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Complemento:




É impossível entender a Teoria do desenvolvimento psicossexual sem ter alguma clareza do que é Libido (anseio/desejo), Pulsões (representante psíquico dos estímulos que se originam no corpo) e Sexualidade para Sigmund Freud!


MUITA, MUITA confusão ainda hoje nasce do entendimento inadequado destes três temas.


Sexualidade não é a mesma que existe na relação sexual dos adultos... mas as origens fundamentais do que MAIS TARDE se tornará referência para esta mesma sexualidade.


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Mas, de repente, o conceito de fixação também precise ser explicado: https://www.youtube.com/watch?v=ZrGWFghgrqE



Como mudar algo em você mesmo??

Bastam 66 dias para mudar um hábito

O cérebro se reorganiza constantemente se temos interesse em fazê-lo Escrito por  ~7 JUL 2015.

Bastam 66 dias para mudar um hábitoAmpliar foto

Mudar alguns hábitos está ao alcance de todos. Para isso, são necessários dois ingredientes importantes: escolher uma mudança que seja coerente com sua escala de valores e treinar até que se torne um hábito. Pouco além disso.

Nada é “obrigatoriamente” para sempre, sequer o que se escolheu como hobby, profissão ou local de residência. A ideia de que podemos ser quem desejamos, praticar novos esportes, aprender outras culturas, experimentar todas as gastronomias, ter outros círculos de amigos... transforma uma vida parada em outra, rica em oportunidades e variedade.


As pessoas evoluem, desejamos mudar, crescer interiormente, e estamos capacitados para isso. Ficaram para trás as teorias sobre a morte dos neurônios e os processos cognitivos degenerativos. Hoje sabemos que os neurônios geram novas conexões que permitem aprender até o dia em que morremos. A plasticidade cerebral demonstrou que o cérebro é uma esponja, moldável, e que continuamente vamos reconfigurando nosso mapa cerebral. Foi o que disse William James, um dos pais da psicologia, em 1890, e todos os neuropsicólogos hoje em dia confirmam as mesmas teorias.

O próprio interesse por querer mudar de hábitos, a atitude e a motivação, assim como sair da zona de conforto, convidam o cérebro a uma reorganização constante. Esse processo está presente nas pessoas desde o nascimento até a morte.

Todo homem pode ser, se assim se propuser, escultor de seu próprio cérebro"

Santiago Ramón y Cajal

Nesta sociedade impaciente, baseada na cultura do “quero tudo já e sem esforço”, mudar de hábitos se tornou um suplício. Não porque seja difícil, mas porque não abrimos espaço suficiente para que se torne um hábito. Não lhe passou pela cabeça alguma vez que, ao começar uma dieta, as primeiras semanas são mais difíceis de do que quando já está praticando há algum tempo? É resultado desse processo. No início seu cérebro lembra o que já está automatizado, o hábito de beliscar, comer doce ou não praticar exercício, até que se “educa” e acaba adquirindo as novas regras e formas de se comportar em relação à comida.

A neurogênese é o processo pelo qual novos neurônios são gerados. Uma das atividades que retardam o envelhecimento do cérebro é a atividade física. Sim, não só se deve praticar exercícios pelos benefícios emocionais, como o bem-estar e a redução da ansiedade, ou para ficar mais atraente e forte, mas porque seu cérebro se manterá jovem por mais tempo. Um estudo do doutor Kwok Fai-so, da Universidade de Hong Kong, correlacionou a corrida com a neurogênese. O exercício ajuda a divisão das células-tronco, que são as que permitem o surgimento de novas células nervosas.

Existem outras práticas, como a meditação, o tipo de alimentação e a atividade sexual que também favorecem a criação de novas células nervosas.

Uma vez que a reorganização cerebral é estimulada ao longo de toda a vida, não há uma única etapa em que não possamos aprender algo novo. A idade de aposentadoria não determina uma queda, nem completar 40 ou 50 anos deveria ser deprimente. Todos que tiverem interesse e atitude em relação a algo estão em boa hora, poderão aprender, treinar e tornar-se especialistas independentemente da idade. Se você é dessas pessoas que se dedicaram durante a vida a uma profissão com a qual viveram relativamente bem, mas ficaram com o desejo de estudar Antropologia, História, Exatas, Artes Plásticas ou o que for, pode começar agora. Não há limite de idade nem de tempo para o saber.

Não deixe que sua idade o limite quando seu cérebro está preparado para tudo. A mente se renova constantemente graças à plasticidade neuronal.


Sinceramente, tanto faz se forem 21 ou 66! O interessante é que somos capazes de aprender, treinar e modificar o que desejarmos. O número de dias é relativo. Depende de fatores como insistência, perseverança, habilidades, das variáveis psicológicas da personalidade e do interesse. A mudança está em torno de dois meses e pouco. O que são dois meses no ciclo de nossa vida? Nada. Esse tempo é necessário para sermos capazes de fazer a mudança que desejamos. E isso nos torna livres e poderosos.
Até há pouco tempo pensava-se que modificar e automatizar um hábito exigia 21 dias. Otimismo demais! Um estudo recente de Jane Wardle, do University College de Londres, publicado no European Journal of Social Psychology, afirma que para transformar um novo objetivo ou atividade em algo automático, de tal forma que não tenhamos de ter força de vontade, precisamos de 66 dias.



Para saber mais

Bastam 66 dias para mudar um hábito

Livros

El cociente agallas

Mario Alonso Puig (Espasa, sem tradução para o português)

59 segundos – Pense um pouco, mude muito

Richard Wiseman (Ed. Best-Seller)

A Frase

“É preciso sacudir energicamente o bosque dos neurônios cerebrais adormecidos; é fundamental fazê-los vibrar com a emoção do novo e infundir-lhes nobres e elevadas inquietudes”.

Ramón y Cajal

Dez conselhos para começar o que se deseja:


1. Eleja seu propósito e o transforme em seu projeto. É certo que, se fizer uma lista, se dará conta de que tem muitas inquietações. Mas não podemos mudar ou tentar fazer tudo de uma vez. Esqueça seu cérebro multitarefa e não queira modificar tudo em um instante. Quando conseguir automatizar o primeiro, passe ao segundo.


2. Reflita sobre sua meta. Se responder às seguintes perguntas em relação a seu objetivo, seu compromisso com ele aumentará: O que quero? Por quê? Para quê? Com quê? O “com que” refere-se aos seus pontos fortes, valores e atitudes para consegui-lo. Quando enfrentar algo novo, e tendo em vista que isso implica em sair da zona de conforto, é recomendável ter a segurança e a confiança de que está preparado, que tem capacidade e que irá conseguir. Mesmo que seja difícil.


3. Faça com que ele caiba no seu dia-a-dia. Não importa o que deseja iniciar, é preciso tempo. Se não abrir um espaço em sua agenda e o transformar em rotina, o normal é que termine postergando o que agora não faz parte de sua vida.


4. Ressalte seu objetivo. Tudo aquilo que não faz parte de nossa ordem habitual é fácil de ser esquecido. Se tem uma agenda, marque com caneta marca-texto. Se utiliza o alerta do celular, crie um diário com o novo objetivo. Não abuse de sua memória e do “deveria ter me lembrado”.


5. Cerque-se de todo o necessário, assim não terá desculpas para não começar. Por exemplo, se está de dieta, compre os alimentos do regime; se começou a praticar esportes, busque a roupa que irá usar, ou se começou a tirar fotos, prepare o material.


6. Comece hoje. Não existe nenhum estudo com rigor científico que relacione a segunda-feira ou o primeiro dia de janeiro exclusivamente com o começo de um novo hábito. A terça-feira e a quinta são dias tão bons como qualquer outro. Deixar tudo para a segunda é outra maneira de postergar e deixar que a preguiça vença sua força de vontade. O melhor dia para começar algo é hoje.


7. Emocione-se. As emoções avivam a lembrança, produzem bem-estar, e estar apaixonado pelo que se faz fideliza o hábito. Busque como se sente, o que irá conseguir, como irá melhorar sua vida pessoal e profissional. Aproveite e esteja presente.


8. Não escute a voz interior que lhe diz que está cansado, qual o sentido disso e que a vida é muito curta para não ser aproveitada. Nosso cérebro está muito treinado para criar desculpas e continuar na zona de conforto. Essa voz interior é muito forte e pode ser muito convincente.


9. Seja disciplinado. Leve seu hábito a sério. E levá-lo a sério não significa se tornar sério, mas que seja uma prioridade, algo para dedicar seu valioso tempo. E que tenha um lugar especial em sua agenda.


10. Transforme seu novo hábito em sua filosofia de vida. Isso lhe dará outra dimensão e calma. Não se trata de aprender algo agora, mas aproveitar e saber que tem toda a vida para praticá-lo. Se, por exemplo, decidiu começar com a atividade física, não se sinta mal se pular um dia. Tem amanhã, o dia depois dele e toda a vida para fazê-lo. Não se trata de sentir-se culpado. Essa emoção não agrega nada. Só é preciso ser disciplinado e ter seriedade. Se for realmente algo importante, amanhã voltará a fazê-lo. Não é tudo ou nada. É incorporar algo bom para cada um e encaixá-lo na vida para aproveitar, não para que seja mais um sofrimento no caso de não poder realizá-lo um dia.

COLETÂNEA PARA APRESENTAR JUNG