Reflexões sobre: Não aguento mais não aguentar mais: Como os Millennials se tornaram a geração do burnout, escrito por Anne Helen Petersen lançado em setembro de 2021 pela editora Harper.
Você sente que a sua vida é uma lista de tarefas infinitas? Fica perdido por horas no feed do Instagram ou no TikTok porque está cansado demais para ler um livro? Está atolado em dívidas, sente que está o tempo inteiro trabalhando ou tenta transformar qualquer coisa que te traz alegria em algo que gere lucro?
Analisando a estrutura social na qual os "Millennials" foram criados e da qual fazem parte, Anne Helen Petersen desconstrói os mitos que envolvem essa geração e revela como o burnout afeta todos os aspectos de nossas vidas. Unindo uma abordagem sócio-histórica, entrevistas inéditas e uma análise detalhada, Petersen oferece um olhar estimulante, íntimo e esperançoso sobre a vida de uma geração muito difamada."
Millennials, ou também "geração Y", é um conceito recente em Sociologia que se refere à corte da população nascidas após o início da década de 1980 até, aproximadamente, o final do século, também chamada geração da internet.
Petersen se considera uma Millennium mais velha porque ela nasceu no início dos anos 80. Anne Helen Petersen é uma escritora e jornalista americana, Doutora em Estudos de Mídia. Ela trabalhou como redatora de cultura sênior para o BuzzFeed (empresa norte-americana de mídia de notícias que foi fundada em 2006 como um desenvolvedor e "laboratório viral" para a era da informação e mídias sociais) até 2019, quando escreveu um texto... e esse texto viralizou e ela acabou saindo do "Buzzfeed" e começou a escrever em tempo integral para seu boletim informativo "Estudo de Cultura" na plataforma online Substack.
Mesmo hoje o texto original é muito atual. Significativo.
Uma coisa muito interessante desse livro é que ele pode ser entendido, a primeira vista como um livro sobre uma descrição de um evento psicológico, mas não é com esse viés que esta focada a abordagem de A. H. Petersen, ela tem um olhar mais amplo, e testemunhal e um viés muito mais sociológico... É uma DENÚNCIA! Ela afirma que a nossa sociedade está fazendo com que você acredite que você precisa trabalhar até a morte, porque você só "existe" se associar o seu valor ao valor do seu trabalho.
Claramente: o valor do seu trabalho esta diretamente ligado ao seu valor na sociedade!
Você vale o quanto você trabalha. Pior: o quanto VOCÊ é consumido no processo.
Significa dizer que para você ter algum valor na sociedade em que você esta inserido, você precisa produzir algo consumível por alguém, o tempo todo, senão você não tem valor algum.
Burnout: código "Z73.0".
O que é esse tal de Burnout? Também chamado de Síndrome do Esgotamento Profissional, é entendido, tanto na psiquiatria quanto na psicologia, como um distúrbio emocional com sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante da contínua exposição a situações de trabalho desgastante, que pode vir de uma demandam muito competitiva ou de se assumir muitas responsabilidades. A condição da doença é justamente o excesso de trabalho. Está inserida no capítulo XXI do Catálogo Internacional de Doenças, o CID10, na categoria que se refere aos "Problemas relacionados com a organização de seu modo de vida"(Z73), pelo código "Z73.0": "Estado de exaustão vital".
Você ESTÁ já em burnout quanto sente que você exauriu todos os seus recursos emocionais internos mas, mesmo assim, estando esgotada, não consegue se libertar da "compulsão", da necessidade nervosa de "seguir em frente" apesar disso. É a sensação de exaustão, o embotamento, aquela "presença", aquela sensação de cansaço que mesmo depois de dormir ou de tirar férias não vai embora de verdade. É a certeza de que você sabe que está mal, sente que esta em seu limite... mas "mantendo a cabeça fora da água". E a certeza interior de que a próxima menor onda, seja uma doença, um problema no carro, aquecedor quebrado, pode afundar você e toda sua família a qualquer momento!
É a redução da vida é uma lista eterna de tarefas e a sensação de que você utilizou sua existência de modo a não passar de um robô que trabalha e que por acaso tem necessidades físicas. Necessidades as quais você se esforça ao máximo para ignorar.
A autora aponta a diferença entre é o burnout e exaustão!
À "Exaustão" é quando a gente não aguenta mais uma atividade ou situação e PARA! Se você esta exausto de caminha, por exemplo, e simplesmente para de caminhar.
Burnout não. Burnout é uma coisa que te esgota, mas a gente segue fazendo. Segue aguentando, aguentando, aguentando, vai aguentando ao ponto que é o nosso corpo que acaba reclamando primeiro!
A gente vai cultivando esse Burnout aos pouquinhos. Conforme a gente vai aumentando o nosso "resistência ao nível de estresse que está recebendo todos os dias.
Então é muito importante a gente ter consciência de diferenciar o stress que a gente tem em um evento isolado desse stress diário, rotinizado, que acontece e vai, paulatinamente crescendo, crescendo , crescendo, crescendo.. Ao ponto de ele se tornar o "normal" estrar estressado!
Nesse livro Anne Helen Petersen vai falar muito sobre como esse tema não é sobre uma doença do indivíduo, mas uma construção social e uma consequência geracional.
Ela explica que a geração dos "baby boomers" foi a precursora da cultura que se transformou na distorção que os milénios enfrentam hoje. Essa geração acreditavam piamente que se as pessoas fossem para a faculdade, tivessem um emprego fíxo, teriam uma vida muito melhor que a deles. Então, seus filhos foram estimulados a crer que montando toda suas perspectivas de vida para "determinadas coisas" são mais importantes do que o que você abre mão para garantir o futuro! Os "objetivos" importam mais do que oque você gosta de fato. E o que não for "útil" para seus objetivos não precisa ter muita atenção ou muito tempo dedicado. A recreação e o lazer são supérfluos. Hobbies.
Isso se tornou tão neurótico que se pensa "natural", e quase obrigatório o "ócio criativo", onde mesmo o prazer e o descanso precisam ter um caráter PRODUTIVO. Os hobbies nesses tempos precisam ter a finalidade de "fazer alguma coisa"!
Isso se tornou tão neurótico que se pensa "natural", e quase obrigatório o "ócio criativo", onde mesmo o prazer e o descanso precisam ter um caráter PRODUTIVO. Os hobbies nesses tempos precisam ter a finalidade de "fazer alguma coisa"!
É o paradoxo da cultura do "Empreendedorismo" e do Neoliberalismo (onde o desenvolvimento social e o crescimento econômico de um país dependem, não da participação do Estado e ou de decisões coletivas na economia, mas em uma forma específica de liberdade que acaba valorizando as corporações e fragilizando o indivíduo) e do Capitalismo tardio (a percepção das contradições inerentes do capitalismo) só se postam sobre as costas do indivíduo o peso de todas as responsabilidades sociais!
Como disse o filósofo, escritor, orador e educador indiano Jiddu Krishnamurti.
"Não é sinal de saúde estar bem adaptado a uma sociedade doente"...
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