Por que temos lembranças falsas mesmo com uma boa memória?

As lembranças não são o registro exato do passado, como gostaríamos de imaginar. Segundo pesquisadores, estudos científicos já confirmaram, mais de uma vez, que a forma como recordamos é inevitavelmente defeituosa e costuma guardar pouca relação com eventos que podem ser verificados.






Já aconteceu de você se lembrar perfeitamente de ter deixado as chaves em um certo lugar - de forma que, se elas não estão ali, é porque alguém as pegou - e depois descobrir que elas estavam todo o tempo no seu bolso?

Ou você, alguma vez, ouvir um amigo contar algo que aconteceu com você e a história dele ser bem diferente do que você se recorda?

Estas experiências nos deixam um tanto perturbados. Mas elas ocorrem com frequência e, às vezes, nem as percebemos.

"Todas as pessoas têm recordações falsas o tempo todo, mesmo as que acreditam ter a melhor memória do mundo", garante a psicóloga Julia Shaw, do University College de Londres.

⚡ Shaw se refere particularmente à memória autobiográfica, "as lembranças das nossas vidas que vêm frequentemente acompanhadas de um rodapé intitulado 'componentes multissensoriais': recordar como se sentia, o que sabia, como via a si, como sonhava... com emoções fortes".

"Essas [lembranças] são muito mais complexas do que [recordar] um evento", explicou Shaw ao programa Life Scientific, da BBC.

Para se recordar de um evento — por exemplo, "no dia 11 de setembro de 2001, houve um ataque às Torres Gêmeas em Nova York" — não é preciso acessar muitos locais do cérebro.

Mas, quando revivemos uma experiência própria, é preciso conectar todas as partes do cérebro responsáveis pelas diferentes sensações, formando uma grande e complicada rede de neurônios.

👉 Shaw adverte que as lembranças não são o registro exato do passado, como gostaríamos de imaginar. Segundo ela, estudos científicos já confirmaram, mais de uma vez, que a forma como recordamos é inevitavelmente defeituosa e costuma guardar pouca relação com eventos que podem ser verificados.

O que aconteceria se pudéssemos lembrar de absolutamente tudo?

"Somos a nossa memória, somos esse imenso museu de formas inconstantes, essa porção de espelhos quebrados", disse o escritor argentino Jorge Luis Borges (1899-1986). Ele conseguiu compreender muito bem que as recordações são realidades dinâmicas, mutantes e imprecisas.

Mas, se "somos a nossa memória" e ela é tão pouco confiável... será que nós somos mentiras?

Em certo sentido, sim. Mas o fato de que nunca poderemos ter a certeza de que o que recordamos está certo não deve nos preocupar, segundo a especialista em lembranças falsas.

"Acredito que é uma visão muito importante de como funciona o nosso cérebro", explica Shaw. "E, em última instância, o nosso cérebro não existe simplesmente para registrar o passado de forma perfeita e confiável. Ele está ali para navegar pelo presente e pensar no futuro."

Estas coisas maravilhosas e criativas são excelentes para resolver problemas, permitem que sejamos inteligentes, recombinam criativamente informações recolhidas no passado e as unem de forma que nunca havíamos feito antes, para criar uma nova história, uma nova solução ou uma nova ideia.

"É para isso que ele é adaptado e, portanto, coisas como falsas recordações são um subproduto dessa incrível capacidade de inteligência", afirma a psicóloga.

Shaw descreve as lembranças como bonecos de argila sem secar. "Cada vez que você volta a pegar uma peça, você a remodela e, potencialmente, faz outra muito diferente da anterior."

"Você retira e coloca partes, porque esquece algumas ou toma emprestadas recordações de outras pessoas, ou de outras fontes", explica ela. "O que é intrigante sobre as recordações é que nós não temos acesso à versão original, mas apenas àquela que fizemos da última vez."

Intrigante ou perturbador?

Talvez ambos... e talvez tanto quanto os experimentos desenvolvidos por Shaw e por outros especialistas neste campo.

Será que nós somos mentiras? — Foto: Getty Images/BBC

Shaw ficou conhecida por um experimento que fez parte do seu doutorado. Ela demonstrou como um grupo de estudantes cria lembranças falsas.

Não estamos falando de pequenos detalhes. Os estudantes acabaram descrevendo como, poucos anos antes, haviam agredido pessoas ou sido atacados por um animal – eventos que, na verdade, não haviam ocorrido.

Mas eles não fizeram aquilo sozinhos. Shaw os induziu a pensar assim em apenas três sessões. Ela empregou informações fornecidas pelos pais dos voluntários para implantar as recordações.

Depois de ganhar sua confiança, ela dizia, por exemplo, que seus pais haviam contado que, quando tinham 14 anos, eles atacaram alguém com uma arma e a polícia foi chamada.

"Depois, introduzia detalhes da vida real, como 'o seu amigo Alan estava presente', e dizia que aquilo aconteceu no lugar onde eles moravam naquela época", explica Shaw. "É o suficiente para que alguém pense 'talvez tenha acontecido'."

Em seguida, ela se oferecia para ajudá-los a se recordar daquilo que ela sabia que não poderia ser recordado. E os orientava em exercícios de imaginação.

"No final, a quantidade de detalhes que eles me forneceram superou em muito as minhas expectativas", conta a psicóloga.

E não foi só isso: "assombrosos 70% dos participantes do nosso estudo criaram falsas lembranças de atividades ilegais. Do ponto de vista puramente científico, é emocionante", destaca ela.
6 dicas para manter memória afiada como a do neurocientista Richard Restak, de 81 anos
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E do ponto de vista humano?
Afinal, ela levou um grupo de voluntários a passar semanas com recordações muito desagradáveis, para depois revelar que eles haviam sido enganados.

Será que podemos introduzir e apagar lembranças de uma pessoa? — Foto: Getty Images/BBC

A psicóloga ressalta que o estudo "passou por extensa aprovação ética, o que era natural porque foi uma grande manipulação". E ela garante que, depois que explicou aos participantes do que se tratava o estudo, "a maioria se sentiu aliviada e nenhum deles se indignou – ou, pelo menos, eles não me contaram".

Do seu ponto de vista, "foi uma grande experiência de aprendizado".
"Nossas lembranças são influenciadas pelas pessoas, geralmente sem intenção, todo o tempo", explica Shaw. "Por isso, acredito ser conveniente ensinar as pessoas a terem consciência disso e entender como funciona esse processo."

"Eu queria estudar algo denominado pensamento criminal", explica ela. "Sempre me interessei pelo cérebro 'normal', não tanto pelas patologias, mas como as pessoas comuns podem se tornar delinquentes."

Foi por isso que Shaw se perguntou se poderia fazer as pessoas se confessarem culpadas de crimes que não haviam cometido.

"Não só que eles dissessem que fizeram, mas que realmente acreditassem naquilo", ela conta. "A resposta é: sim, é possível."

Trata-se de uma manifestação da fragilidade "da cortina que separa a nossa imaginação da nossa memória", como escreveu a psicóloga mais destacada neste campo, Elizabeth F. Loftus, que realizou experimentos similares.

A qualidade das provas baseadas na memória pode ser questionada durante julgamentos. — Foto: Getty Images/BBC

A Associação Norte-Americana de Psicologia considera Loftus uma das psicólogas mais destacadas do século 20. Ela contribuiu para mudar a noção dominante até poucas décadas atrás, de que nossas lembranças seriam representações literais de eventos passados, guardadas em uma espécie de biblioteca mental.

Loftus escreveu dezenas de livros e afirma o contrário, que "a nossa representação do passado é uma realidade viva e em mutação".

"Não é um lugar lá atrás que conserva tudo em pedra, mas um ser vivo que muda de forma, expande-se, encolhe e se expande de novo – uma criatura parecida com uma ameba", segundo ela.

As recordações não são reproduzidas, mas sim reconstruídas.

Além de oferecer indicações fascinantes sobre o funcionamento da mente, as pesquisas sobre a ciência da memória tiveram repercussões na justiça penal, que depende muito das declarações de testemunhas e suspeitos.

Poucos psicólogos foram mais influentes do que Loftus para revelar como os procedimentos padrão neste campo podem contaminar a memória.
A linguagem empregada para descrever um evento pode alterar a forma de recordá-lo. Por isso, perguntas capciosas podem distorcer as declarações de suspeitos nos interrogatórios policiais e até os relatos das testemunhas de defesa ou de acusação.

🔍 Esta possibilidade faz com que especialistas como Loftus e Shaw sejam frequentemente chamadas para examinar provas em casos judiciais.

"Quase sempre, somos contratadas pela defesa, não porque desejamos, mas pela natureza do nosso trabalho", destaca Julia Shaw. "Porque questionar a memória de alguém tem a capacidade de introduzir dúvidas razoáveis."

Na maioria dos sistemas de acusação, as evidências da promotoria devem estar além de dúvidas razoáveis para validar a condenação criminal.

🚨 Se, em qualquer instância do processo, aplicando-se a ciência das lembranças falsas, forem detectadas possíveis manipulações que possam gerar detalhes distorcidos, alterados ou até recordações totalmente implantadas, "nós damos o sinal de alerta", segundo Shaw.

Ela destaca que compreender como nossas recordações são frágeis e enganosas ajuda a evitar erros judiciais.

Parece ser algo benéfico, mas muitas pessoas se perguntam se questionar a memória de alguém nos tribunais pode tornar ainda mais difícil a tomada de depoimento das vítimas de delitos sexuais.

Diversos julgamentos de acusados de alto perfil contrataram Loftus como testemunha de defesa e parecem justificar esta preocupação, incluindo os julgamentos de Bill Cosby, dos jogadores de lacrosse de Duke, nos Estados Unidos, acusados de violação em 2006, e de Harvey Weinstein, entre outros.

É claro que a presunção de inocência sempre impera e que todas as pessoas merecem o direito de defesa.

Mas, nos casos de abuso, que frequentemente envolvem a palavra de um contra o outro, é particularmente difícil observar como a ciência da memória pode questionar as lembranças das vítimas que são obrigadas a reviver aquele momento.

"Precisamos ser muito cuidadosos e não considerar que as lembranças não são provas suficientes. Este não é o caso", destaca Shaw.

"Se não pudéssemos contar com as recordações, nosso sistema legal entraria em colapso e certos tipos de delitos nunca seriam condenados." O fundamental, para a especialista, é "educar o público".

"Sempre aconselho que, se acontecer com você ou se você for testemunha de algo importante, faça um registro fora do cérebro", afirma Shaw. "Você precisa entender como sua memória pode mudar para poder preservá-la ao máximo possível."




ATENÇÃO!


Você já teve a sensação de que está cada vez mais difícil manter o foco? Vivemos mergulhados numa chuva de estímulos – e isso tem efeitos mensuráveis sobre o cérebro. Veja quais são, e entenda a real sobre a moda que tomou as redes sociais: o jejum de dopamina.


Em 9 de janeiro de 2007, às 10h da manhã, um Steve Jobs saudável subiu ao palco do Moscone Center, espaço de eventos que a Apple alugava em São Francisco. “Vamos fazer história hoje”, disse. O iPhone não nasceu bem (dois meses após o lançamento, a Apple teve de cortar seu preço em 30%), mas acabou decolando.

Vieram os aplicativos, redes sociais, o Android, a massificação. Hoje, 6,4 bilhões de pessoas têm um smartphone – superando com folga o saneamento básico, que chega a 4,4 bilhões. É bizarro, mas até tem seu nexo: o instinto humano de encontrar algo interessante, e prestar atenção àquilo, é tão primal quanto as necessidades fisiológicas.

A internet móvel saciou, finalmente, esse desejo. Passamos a ter, pela primeira vez na história, acesso a um fluxo constante e quase infinito de informações novas.

Ao mesmo tempo, foram aparecendo sinais de que algo não andava bem. A média de atenção humana, segundo um estudo da Microsoft, havia regredido para míseros oito segundos – um a menos do que o peixe-dourado, uma espécie ornamental de aquário, que é capaz de focar num estímulo visual por nove segundos.

Essa informação, de 2017, correu o mundo: saiu no New York Times, no Guardian, nas revistas Time e New Scientist, entre outros grandes veículos de imprensa. E foi replicada em milhões de páginas da internet.

Só havia um problema: o tal estudo (que não era da Microsoft) não apresentava nenhuma prova. Os autores não haviam feito nenhuma experiência concreta – fosse com humanos ou peixes –, e citavam números de origem indefinida, impossíveis de comprovar(1).


A notícia era claramente absurda. Mas isso não impediu que se espalhasse, inquestionada, por todos os cantos. Simplesmente porque ninguém havia se dado ao trabalho de prestar atenção ao que estava lendo. Durante a maior parte da história, era preciso ir atrás de coisas interessantes, dignas de atenção. Mas o mundo moderno inverteu essa lógica.

O papo de oito segundos é um mito, mas a atenção humana está caindo, sim. Há dados comprovando o fenômeno [veja no quadro abaixo], que você já deve ter visto e sentido na pele.

O ritmo acelerado do TikTok conquistou 1,6 bilhão de usuários – e todas as outras redes copiaram o formato, com vídeos verticais curtíssimos. No WhatsApp, virou hábito ouvir os áudios em velocidade acelerada, 1,5x ou mais. Assistimos a filmes e maratonamos séries, mas quase sempre com o celular ao alcance da mão, desviando periodicamente o foco da história.

Em vez de caçar coisas interessantes, hoje temos é que nos defender da chuva de estímulos que disputam nossa atenção. Há cada vez mais serviços de streaming, podcasts, filmes, vídeos, livros, jogos, notícias… todas as formas possíveis de informação e entretenimento.

Isso é ótimo, mas também tem consequências ruins. Está cada vez mais difícil focar em algo. Qual foi a última coisa que chamou a sua atenção na internet hoje? Você lembra? É bem possível que não: olhou aquilo por tão pouco tempo que o seu cérebro nem chegou a formar uma memória.


Nos Estados Unidos, os casos de TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) dobraram na última década. E essa condição, até então restrita a crianças, alcançou também jovens adultos – que hoje enchem o TikTok de vídeos sobre ela e os remédios que tomam para tentar contê-la.

O mais usado, que se chama Venvanse, desde 2022 está em falta nas farmácias dos EUA e do Brasil. A demanda é tão alta que o fabricante, o laboratório japonês Takeda, simplesmente não consegue atendê-la.

A capacidade humana de prestar atenção parece estar desaparecendo. E as redes sociais foram tomadas por uma moda, o chamado “jejum de dopamina”, que promete reverter esse processo. Ele não é bem o que parece, mas pode trazer benefícios. Antes de entrar neles, é preciso responder uma pergunta que só parece simples: o que é, exatamente, a atenção?

A gênese da atenção

Um dia qualquer, 4 bilhões de anos atrás, algo extraordinário aconteceu: o que era morto, inanimado, ganhou vida. O carbono e os gases da atmosfera formaram moléculas capazes de se autorreplicar – e disso surgiu a primeira, até hoje desconhecida, forma de vida.

Dela vieram bactérias, arqueias, fungos, plantas, animais. Estes, com uma habilidade revolucionária: o poder de decidir sua reação a estímulos externos. Ficar ou fugir, afagar ou atacar, ignorar ou observar. Direcionar o olhar, e os pensamentos, ao que realmente interessa. Ou seja, prestar atenção.

Ela é uma vantagem evolutiva e tanto, pois permite que o animal concentre sua capacidade cognitiva (um recurso finito e sempre escasso) em determinada coisa, e a partir daí tente entendê-la – podendo se antecipar, ou reagir melhor, a ela. Preste atenção a seus predadores, ou a suas presas, e você terá mais chance de comer e não ser comido.

Atenção é útil para todo animal. Tanto é assim que ela emana do sistema límbico(2): a parte mais interna e antiga do cérebro, que o Homo sapiens compartilha com diversas espécies, e também controla funções como a memória e o medo.

A atenção é um instinto nato, a força que alimenta a curiosidade das crianças e estrutura o raciocínio dos adultos. Ela permite priorizar tarefas, estabelecer metas, controlar impulsos.

Mas não é infinita. Porque também depende de outro elemento cerebral: a “rede executiva central”, que é formada por um conjunto de áreas, como o córtex pré-frontal dorsolateral e o córtex lateral posterior.

São regiões mais externas e desenvolvidas do cérebro, responsáveis por funções avançadas, como o raciocínio. E elas podem ficar exaustas. No ano passado, um grupo de cientistas da Universidade Sorbonne e de outras instituições francesas conseguiu demonstrar que o cansaço mental não é meramente psicológico: ele é desencadeado por uma alteração física no cérebro(3).

A atenção é uma vantagem evolutiva crucial – porque permite direcionar a capacidade cognitiva, um recurso finito, ao que mais importa. 

Os pesquisadores monitoraram a atividade cerebral de 40 voluntários enquanto eles faziam testes de lógica. Descobriram que, conforme as pessoas iam resolvendo os testes, seu córtex pré-frontal acumulava um neurotransmissor, o glutamato (parêntese: ele não tem nada a ver com o glutamato monossódico, um tempero polêmico sobre o qual falamos nesta reportagem aqui).

Quando as conexões entre os neurônios ficavam saturadas de glutamato, a performance dos voluntários caía, e eles se sentiam mentalmente cansados.

Essa experiência avaliou o raciocínio, não a atenção em si. Mas é provável que algo semelhante aconteça com ela. Afinal, nossa capacidade de foco também vai se esgotando durante o dia, tornando mais difícil resistir às distrações.

Quando isso acontece, o cérebro vai perdendo a capacidade de manter a “atenção sustentada”, e sendo dominado por outro tipo: a chamada “atenção cinética”. O termo foi cunhado por Gloria Mark, psicóloga da Universidade da Califórnia (Irvine).

Ela é autora de dezenas de estudos sobre atenção e também de um novo livro, Attention Span (“Dimensão da Atenção”, ainda não lançado no Brasil), no qual resume alguns deles.

(Arte/Superinteressante)

A atenção cinética tem esse nome porque é caracterizada pelo “movimento mental”: nesse estado de atenção (ou desatenção?), estamos constantemente trocando de foco, indo do computador ao celular, do WhatsApp ao Instagram, do Instagram ao TikTok, e assim por diante, ficando pouco tempo em cada coisa.

Outras formas de mídia, como filmes e séries, também exploram isso. “Cada tomada [de câmera] é curta, dura quatro segundos em média. Então nossa atenção visual ainda muda rapidamente, mesmo que a história seja longa”, explica Mark. Trata-se de um apelo à nossa atenção cinética – que é menos profunda, e requer menor esforço cognitivo.

“Em si mesma, a atenção cinética não é boa nem ruim. Mas minha pesquisa também mostrou que, na maior parte do tempo, nós não somos muito bons em utilizá-la”, diz a psicóloga.

Ela atrapalha muito no trabalho, por exemplo. Estudos feitos por Mark e outros pesquisadores revelaram que as pessoas não são capazes de completar as tarefas de uma só vez: acabam mudando o foco, pegando outras tarefas para fazer (ou aproveitando para dar só uma olhadinha no smartphone), o que desperdiça tempo e esforço.

E quanto mais você é interrompido por estímulos externos, maior é a chance de que se distraia também com estímulos internos, da própria mente – e comece a devanear sobre mil coisas, nenhuma das quais tem relação com o que estava fazendo.

Isso é normal. Num estudo que se tornaria clássico(4), o psicólogo Jonathan Schooler, da Universidade da Califórnia (Santa Bárbara), pediu a um grupo de voluntários que se sentassem para ler Guerra e Paz, o longuíssimo romance histórico de Tolstói sobre as guerras napoleônicas na Rússia.

O ano era 2004, antes dos smartphones e das redes sociais como as conhecemos hoje, e os participantes tinham apenas o livro e um botão – que deviam apertar quando sentissem que haviam se distraído da leitura.

O que Schooler descobriu, e outros testes confirmaram depois, é que mesmo nesse contexto de imersão absoluta, sem nenhuma distração disponível, a atenção desviava regularmente.

A atenção sustentada tem a ver com tarefas mentais mais exigentes. Ela é delicada, introspectiva. E vive sob o ataque de uma irmã inquieta. 

“Você provavelmente está prestando um pouco de atenção, pelo menos, às palavras que está lendo. Mas depois de uma ou duas páginas, há uma possibilidade, senão uma probabilidade, de que a sua atenção se distraia”, escreve Schooler. “Os seus olhos continuarão se movendo pela página, as palavras soando na sua cabeça, mas a sua mente estará em outro lugar.”

É verdade. Já deve ter acontecido, inclusive, enquanto você lia este texto. O cérebro não é uma máquina, e algum grau de desatenção é natural e desejável – isso é uma das forças que compõem a criatividade, aliás.

O que não é natural é a escala em que o mundo moderno tem explorado, e disputado, o foco das pessoas. Ele se tornou um negócio bilionário, que mobiliza as maiores empresas de tecnologia: a indústria da atenção.

O valor da atenção

Quando você usa o Google, uma rede social ou qualquer outro serviço online gratuito, “paga” por ele com os dados e a atenção que fornece. 80% da receita do Google, 90% do faturamento da Meta e 100% da renda do TikTok vêm das propagandas colocadas junto aos posts (nossos dados servem para personalizar os anúncios, escolhendo coisas que supostamente poderão nos interessar). As grandes empresas de tecnologia existem para conquistar o seu foco – e vendê-lo.

Esse é o cerne da “economia da atenção”, um conceito proposto na década de 1960 por Herbert Simon, um cientista político da Universidade de Chicago que mais tarde ganharia o Prêmio Nobel.

Ele foi o primeiro a encarar o foco como um produto, estudá-lo aplicando conceitos de mercado. E postulou o seguinte: “riqueza de informação cria pobreza de atenção”. No futuro, com cada vez mais informações disponíveis, Simon previu que a atenção humana se tornaria um recurso escasso. E, portanto, valioso.

Na virada do século, conforme a internet começava a absorver a atenção humana, e todo um setor econômico se formava em volta disso, houve até uma tentativa de regular a prática. Em 2002, o cientista da computação Scott Fahlman, da IBM, propôs(5) o que chamou de “direitos de interrupção”.

Se alguma empresa quisesse a sua atenção, deveria pagar por ela. Você criaria uma lista de pessoas liberadas, que poderiam contatá-lo a qualquer momento (amigos, colegas, parentes etc.). Mas, caso o remetente não estivesse nessa lista, uma taxa seria cobrada dele a cada email ou ligação telefônica – e, se o contato se revelasse inútil, você poderia resgatar o dinheiro.

Isso não foi adiante, claro, e as empresas de internet passaram a explorar vorazmente a atenção. Nesse mercado, há dois níveis de concorrência. Primeiro, as plataformas competem entre si para capturar mais usuários, e usam todo um arsenal: notificações constantes, recompensas pelo uso dos apps, personalização de conteúdo e outros truques.

(Arte/Superinteressante)

Nos últimos 10 anos, com o acirramento da competição entre as plataformas online – e consequente aumento no valor da atenção –, elas começaram até a usar técnicas emprestadas dos cassinos, que exploram fraquezas clássicas da psicologia humana [veja quadro acima]. E o scroll infinito, em que o conteúdo nunca termina, se tornou o padrão.

O programador americano Aza Raskin, que mais tarde se tornaria o desenvolvedor-chefe do navegador Firefox, foi quem inventou a rolagem infinita, em 2006. Hoje, ele se arrepende: estima que a tecnologia faça o usuário passar 50% mais tempo em um site como o Twitter, por exemplo. “Nós estamos perdendo o controle das ferramentas que criamos”, declarou em 2019.

O próximo passo foi criar bolhas, em que os algoritmos mostram a cada pessoa exatamente o que ela deseja ver – ainda que isso envolva informações falsas ou perigosas.

“O modelo de negócios das plataformas, baseado no engajamento, estimula a circulação de conteúdos nocivos, como desinformação e discurso de ódio, que captam e mobilizam a atenção das pessoas”, afirma a psicóloga Anna Bentes, pesquisadora da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e autora do livro Quase um tique: economia da atenção, vigilância e espetáculo (2021).

A atenção se tornou tão rentável que ganhou até versão sintética, com bots criados para consumir conteúdo em aplicativos, como se fossem gente – e gerar receita publicitária, com a exibição de banners, a partir disso. Um relatório da Universidade de Baltimore e da empresa de analytics CHEQ estima que os anunciantes percam US$ 35 bilhões anuais para esse tipo de fraude.

A economia da atenção também está em crise por outro motivo: a superexploração. Com cada vez mais conteúdos disputando nosso olhar, acabamos não atentando a nenhum deles – e isso abala diretamente a publicidade, que paga a conta da internet.

“Quando surgiram, em 1994, os primeiros banners de anúncios tinham um índice de cliques de 44%”, escreve o engenheiro Tim Hwang, ex-pesquisador de IA do Google, em seu livro Subprime Attention Crisis: Advertising and the Time Bomb at the Heart of the Internet (“Crise da atenção: propaganda e a bomba-relógio no coração da internet”, não lançado no Brasil).

Hoje, 0,4% das pessoas que veem um anúncio clicam nele – e o número real pode ser menor ainda. “Em dispositivos móveis, quase metade dos cliques é acidental, a pessoa tocou sem querer na tela”, afirma Hwang.

O efeito da publicidade, claro, nem sempre requer que você clique nela; basta que a marca ou produto fique na sua cabeça. Só que muitas vezes nem isso acontece: você se lembra da última propaganda que viu online? Nos tornamos experts em ignorar o bombardeio de anúncios que permeia a vida.

Para Hwang, a indústria da atenção está prestes a enfrentar uma crise parecida com a do subprime: a onda insustentável de empréstimos imobiliários nos EUA que resultou no crash econômico global de 2008.

Segundo ele, as empresas que anunciam nas plataformas digitais acabarão percebendo que não têm retorno compatível com o investimento, e reduzirão drasticamente as campanhas publicitárias – o que abalará diretamente a principal (ou única) fonte de financiamento de vários gigantes da tecnologia. “Há boas razões para acreditar que as fundações financeiras da web são mais frágeis do que imaginamos”, afirma.

O TikTok tentou dar um passo atrás, e reverter o picotamento da atenção que ele mesmo estimulou. No ano passado, passou a aceitar vídeos longos, de até 10 minutos (se gravados dentro do próprio app, 3 minutos).

Em 2022, a revista Wired teve acesso a documentos internos do TikTok que revelam o motivo disso: a empresa chinesa queria vídeos mais longos porque eles prendiam a atenção, e era mais fácil inserir anúncios no meio.

Não deu muito certo, e o ritmo seguiu frenético. Os mesmos documentos internos apontavam que 50% dos usuários do app consideram “estressantes” conteúdos com mais de 1 minuto, e 30% assistem a vídeos online na velocidade 2x. O estrago estava feito.

A química da atenção

O consumo ultrafragmentado de informação provavelmente tem efeitos sobre o cérebro. Eles ainda não são plenamente compreendidos, mas já começam a surgir as primeiras pistas.

Em 2021, pesquisadores da Universidade de Zhejiang, na China, monitoraram(6) o cérebro de 30 voluntários enquanto eles usavam o Douyin (a versão chinesa do TikTok).

No estudo, as pessoas foram expostas a dois tipos de vídeo: alguns escolhidos com precisão pelo algoritmo do app, e outros mais genéricos (como os clipes que aparecem quando você entra no TikTok pela primeira vez, e ele ainda sabe pouco a seu respeito).

Os dois tipos de vídeo reduziram a atividade de algumas regiões cerebrais, como o córtex cingulado dorsal (dACC), que está relacionado ao autocontrole, e o córtex orbitofrontal (BA11), ligado à tomada de decisões e à formação de memórias.

Além disso, quando os vídeos eram altamente personalizados, havia maior ativação de nove regiões cerebrais – incluindo a área tegmental ventral (VTA), que controla a liberação de dopamina.

Esse neurotransmissor está relacionado a sensações prazerosas, como comer doces, fazer sexo ou encontrar alguma informação interessante – e também pode ser estimulado pelo uso de drogas e substâncias viciantes.

Elas provocam uma liberação de dopamina muito maior, óbvio, do que o TikTok. Sem comparação. Mas um ponto é igual: a pessoa viciada sempre acha que está no controle, e consegue determinar quando e por quanto tempo irá usar aquilo. Você consegue fazer isso com o seu smartphone?

É difícil, justamente porque os apps e as redes sociais tentam estimular a liberação de dopamina. Seus criadores buscam isso de forma consciente. O programador Sean Parker, um dos fundadores e primeiro presidente do Facebook, cometeu uma inconfidência em 2017.

Ele, que já estava afastado da empresa, afirmou que a criação do site foi guiada por uma pergunta: “Como consumir o máximo do seu tempo e atenção?”. Para atingir esse objetivo, disse Parker, era preciso dar “dar um pequeno disparo de dopamina” ao usuário de vez em quando.

Isso é feito alternando, no feed, conteúdos que o algoritmo considera extremamente relevantes com outros ligeiramente mais genéricos. Isso porque, como vários estudos comprovaram, “ganhar” sempre acaba se tornando entediante. A emoção, e a dopamina, são maiores quando há surpresa.

A indústria da atenção se tornou um setor econômico bilionário – em que as gigantes da tecnologia tentaram capturar, e revender, o seu foco. (Luiz Mello/Superinteressante)

Na tentativa de frear esse vício, surgiu uma nova moda nas redes: o dopamine fasting, ou jejum de dopamina. A tese foi proposta pelo psiquiatra Cameron Sepah, da Universidade da Califórnia (São Francisco), e propunha um jeito de reduzir a dependência de certas atividades.

Não é nem um pouco extrema: a sugestão é programar “fugas” do celular, suspendendo o uso por um tempo limitado – durante a noite ou num final de semana, por exemplo. Mas Sepah usou o termo “jejum” como força de expressão: na verdade, você não está privando o cérebro desse neurotransmissor.

“A dopamina não é nossa inimiga. Pelo contrário, precisamos dela para sobreviver”, esclarece Anna Lembke, psiquiatra da Universidade Stanford, autora de Nação Dopamina (2021) e do novo Nação Tarja Preta.

De fato: a escassez de dopamina está relacionada a doenças neurológicas graves, como Parkinson. O “jejum” de dopamina, diz ela, pode até funcionar para reequilibrar o sistema, mas é só o começo de um processo de mudança de hábitos.

Eis aí, afinal, o verdadeiro poder do método. Se você incluir na rotina pausas, nas quais deixa de encharcar o cérebro com mil e um estímulos, logo se sentirá mais calmo e focado. Faça o teste. 

O “jejum de dopamina” não reduz, de forma significativa, a quantidade dela no cérebro. Mas pode trazer benefícios psicológicos. (Luiz Mello/Superinteressante)

Mas outros autores, como o escritor inglês Johann Hari, que investigou as pesquisas da área em seu livro Stolen Focus (“Foco Roubado”, 2022), apontam um problema: essa estratégia é individual.

E talvez não seja mais possível falar em autocontrole quando do outro lado das telas há bilhões de dólares, e um exército de programadores e engenheiros, forjando novas maneiras de sequestrar a atenção. Por essa linha de raciocínio, seria preciso fazer uma mudança estrutural, com leis regulamentando os apps e as redes sociais.

Não vai acontecer. Pelo menos não em um futuro próximo. A indústria da atenção continuará a explorá-la como se não houvesse amanhã – indiferente, como outras indústrias, às consequências disso. Mas há uma diferença. Ao contrário dos outros recursos naturais, a atenção não pertence ao ambiente: ela emana de dentro de nós. Então podemos defendê-la diretamente.

O problema, como muita coisa que envolve o corpo humano, está no excesso. Por exemplo: olhar para telas por muito tempo acaba alongando os globos oculares(7), uma das causas da miopia.

O efeito é tão nítido (desculpe o trocadilho) que o problema explodiu. Nos EUA, a porcentagem de míopes quase dobrou nos últimos 40 anos, e na China a maioria das crianças e adolescentes do país agora é míope. Estima-se que(8), se o ritmo atual continuar, 52% da população mundial será míope em 2050 (contra 27% hoje).

Deixar as telas de lado por um tempo, e olhar para longe algumas vezes durante o dia, ajuda a prevenir a deformação do globo ocular.

Com a atenção, é a mesma coisa. Tudo bem rolar pelo TikTok, fofocar no WhatsApp, dar uma espiada nas notícias, pular alegremente de um app para outro sem focar em nada.

Desde que, além de consumir esse conteúdo ultrafragmentado, você também tenha o hábito de exercitar a atenção sustentada. Vale qualquer atividade que possa prendê-la por mais de alguns minutos – inclusive ler textos mais longos, como este (aliás, quantas vezes você parou para olhar o celular antes de chegar até aqui?).

Acima de tudo, é preciso descansar a mente. Ficar partes do dia sem consumir nenhuma informação, entretido apenas pelas próprias ideias. Além de entregar sua atenção à chuva de coisas do mundo, prestá-la ao que realmente importa: você.

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https://super.abril.com.br/comportamento/a-morte-da-atencao

Humanidade: Uma história otimista do homem, de Rutger Bregman. RESENHA


Notícia 1:  Descoberto roubo milionário em uma das maiores empresas estatais do Brasil!

Notícia 2:  Mais 100 milhões de brasileiros chegaram no horário e não desviaram nenhum centavo do local que trabalham!

Provavelmente, a notícia 1, não é mesmo? No entanto, qual notícia será que reflete mais a realidade?

Bem, vamos evitar algumas discussões que não precisam ser tomadas agora. Em primeiro lugar, não estou falando que a notícia 1 não deva ser vinculada.

Também não estou dizendo que a notícia 2 deveria ser apresentada em todos os jornais brasileiros em detrimento da primeira.

Mas, ao vermos tanta notícia ruim faz parecer que a humanidade é ruim por natureza, não é mesmo?

Bem, é justamente isso que Rutger Bregman busca contrapor no seu excelente livro chamado “humanidade: uma história otimista do homem”

Devorei o livro em poucos dias, apesar do mesmo ter quase 450 páginas. Simplesmente por ser um texto fluído, bem escrito e muito interessante.

Nesta postagem iremos falar sobre o conteúdo escrito por Rutger Bregman e discutir alguns aspectos relacionados.




Humanidade: uma história otimista do homem — Resumo

Escrito por Rutger Bregman, o livro é um convite a reflexão sobre como o ser humano é na verdade uma espécie extremamente gentil.

E que ao contrário do que é vinculado na grande mídia, as pessoas ruins são minorias.

O livro é organizado em diferentes partes. Cada parte possui um série de capítulos. E cada capítulo possui uma série de exemplos e discussões.

O texto é ancorado em diversas pesquisas científicas e relatos de pessoas que viveram situações críticas.

Mas, o autor ancora sua discussão em torno de dois pensadores de peso: Hobbes e Rousseau.


Thomas Hobbes ~ Hobbes foi uma das mentes mais brilhantes da humanidade. Autor de Leviatã deixou uma marca que até hoje é refletida em governos, instituições e em pessoas.

Na visão de Rutger Bregman, Hobbes tem uma visão pessimista do homem e das suas próprias criações, como a política.

Por isso relata que ser humano é na verdade ser caótico. Precisamos de pesos e freios sociais, como prisões, para evitar que a sociedade se dissolva.

E mais do que isso, puna quem vai contra o controle social de uma vida em comunidade. Independente dos meios usados para tal.
Jean-Jacques Rousseau

Rousseau é outro pensador extremamente citado pelo autor durante todo o livro.

Similarmente a Hobbes, Rousseau também deixou marcas profundas na humanidade durante e após sua existência. Uma de suas grandes obras é “Do Contrato Social”.

No entanto, segundo Rutger Bregman, Rousseau tem uma visão mais otimista do homem e da humanidade.

E isso, na verdade, é a prática que ocorre ao redor de todo o mundo. E não ao contrário.


O livro é sobre filosofia então?

Neste momento pode ser que você assuma que o conteúdo seja filosófico ou disseque as obras dos pensadores acima mencionados. Mas, na verdade é o contrário.

Bregman ancora esses dois filósofos para aprofundar diferentes aspectos de mentalidades tão diferentes.

O conteúdo do livro é na verdade apresentado usando exemplos reais de situações vividas por pessoas ou experimentos (quase) científicos.

O autor usa uma linguagem simples e funcional. Talvez, pela experiência como jornalista. Evitando jargões científicos e palavras difíceis.


O conteúdo

O livro geralmente possui em cada novo capítulo uma situação que deve ser analisada.

A situação é exposta de um modo pessimista, citando notícias que foram vinculadas, pesquisas publicadas ou fontes que viveram o fenômeno.

Ao iniciar a leitura do capítulo é gerada uma sensação de “caramba, como isso pode mostrar algo bom da humanidade?”

Mas, durante todo o texto o autor vai quebrando cada argumento apresentado no inicio.


No geral, são adotadas três estratégias para fazer isso:

Experimentos não científicos ~ Muitas das ideias que fecundam teorias sobre a maldade humana é ancorada em experimentos do século passado.

No entanto, grande parte deles possui sérias limitações e nem devem ser considerados, de fato, científicas.

O autor demonstra outras pesquisas mais recentes que demonstram as limitações dos trabalhos antigos.

Na maioria das vezes, enviesados por um pesquisador que intervia diretamente no fenômeno observado.

Isso contamina toda a amostra e por isso os resultados alcançados não podem ser generalizados para realidade.

Notícias falsas ~ Outro verniz sobre a maldade humana são as noticias vinculadas na tv, nos jornais ou até mesmo da internet.

A maioria delas omite passagens importantes. Relatos pessoais que foram coletados e desconsiderados.

Ou ainda, se baseiam em experimento que não são científicos.

Pessoas que estavam lá
A maioria dos eventos que geraram algum tipo de stress ou problema sobre a maldade humana tem como relato testemunhas.

E em muitas situações Rutger Bregman vai atrás dessas pessoas e colhe novamente as versões.

Ou ainda, busca como fonte direta quem conversou com elas. Como um jornalista que escreveu a notícia ou um colega de um cientista que também estava envolvido em um experimento.

Ou busca nos arquivos antigos relatos que haviam sido descartados.

E com todo esse trabalho é descartado, argumento por argumento, que a humanidade não tem mais jeito.
Então, o livro é uma fantasia…


Muitas pessoas podem discordar de que o ser humano é bom, por natureza. E que os exemplos ruins são a minoria.

Por isso podem não se interessar pelo livro. Como uma espécie que produziu duas guerras mundiais, que mata semelhantes e já tentou extinguir raças inteiras pode ser boa?

É justamente esta reflexão que o autor discute. Para entender como uma espécie assim pode ser boa é essencial fazer essa leitura!
Humanidade: uma história otimista do homem — Resenha


O livro escrito por Rutger Bregman é maravilhoso de ser lido e relido, diversas vezes.

Isso é em grande parte pelo talento do autor em dissecar um assunto tão complexo e ao mesmo tempo tão interessante.

O seu estilo de escrita mescla situações de bom humor com eventos reais. Sempre, no entanto, resguardando o cuidado e a atenção.

O conteúdo não subestima o intelecto do leitor. Ao contrário, fornece evidências para que o próprio leitor tome a sua decisão.


Um aspecto extremamente positivo do livro é ampla pesquisa bibliográfica feito pelo autor.

São dezenas de páginas de referências. Desde livros, artigos científicos ou documentos históricos.

O autor sempre referencia e marca suas ideias ao redor dessas fontes que podem ser consultadas logo em seguida.


O que é bom no livro?

Praticamente tudo. O estilo de escrita agrada, este é um ponto importante quando se é um autor.

Não há quebras bruscas de temas ou passagens que precisam ser lidas e relidas.

Além disso, o leitor é convidado a refletir e não a tomar partido de uma causa. Ao contrário do que muitos best sellers atuais tentam jogar goela abaixo.

Gosto de livros que tem referências. Dá um amparo gigante ao que o autor explica. E isso é extramente importante quando se aborda um assunto tão extenso e complexo.


O que é ruim no livro?

Algumas passagens são muito curtas. O autor poderia expandir mais as discussões.

Além disso, o livro é amplo e profundo. Mas, para uma leitura cuidadosa é essencial conferir as referências e consultá-las.

Conclusão

Após finalizar a leitura do livro tive uma nova percepção da humanidade e de todos nós.

Percebi que, logicamente, existem diversas limitações que impedem que a vida seja mais colaborativa e menos competitiva.

Que existem diversos problemas a serem resolvidos. E que existem pessoas que são ruins por natureza.

Mas, percebo que isso tudo é minoria. Na verdade, estes eventos e pessoas tomam tanta atenção da mídia que a gente pensa que isso é o comum, quando na verdade não é.

Para finalizar, uma frase que ilustra muito bem o que o livro trata e como a humanidade está organizada, escrita pelo gigante Humberto Gessinger:

O que realmente interessa não ganha estátua, não vira nome de rua. 
Avenida Paz de Espírito, existe?

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