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Humanidade: Uma história otimista do homem, de Rutger Bregman. RESENHA


Notícia 1:  Descoberto roubo milionário em uma das maiores empresas estatais do Brasil!

Notícia 2:  Mais 100 milhões de brasileiros chegaram no horário e não desviaram nenhum centavo do local que trabalham!

Provavelmente, a notícia 1, não é mesmo? No entanto, qual notícia será que reflete mais a realidade?

Bem, vamos evitar algumas discussões que não precisam ser tomadas agora. Em primeiro lugar, não estou falando que a notícia 1 não deva ser vinculada.

Também não estou dizendo que a notícia 2 deveria ser apresentada em todos os jornais brasileiros em detrimento da primeira.

Mas, ao vermos tanta notícia ruim faz parecer que a humanidade é ruim por natureza, não é mesmo?

Bem, é justamente isso que Rutger Bregman busca contrapor no seu excelente livro chamado “humanidade: uma história otimista do homem”

Devorei o livro em poucos dias, apesar do mesmo ter quase 450 páginas. Simplesmente por ser um texto fluído, bem escrito e muito interessante.

Nesta postagem iremos falar sobre o conteúdo escrito por Rutger Bregman e discutir alguns aspectos relacionados.




Humanidade: uma história otimista do homem — Resumo

Escrito por Rutger Bregman, o livro é um convite a reflexão sobre como o ser humano é na verdade uma espécie extremamente gentil.

E que ao contrário do que é vinculado na grande mídia, as pessoas ruins são minorias.

O livro é organizado em diferentes partes. Cada parte possui um série de capítulos. E cada capítulo possui uma série de exemplos e discussões.

O texto é ancorado em diversas pesquisas científicas e relatos de pessoas que viveram situações críticas.

Mas, o autor ancora sua discussão em torno de dois pensadores de peso: Hobbes e Rousseau.


Thomas Hobbes ~ Hobbes foi uma das mentes mais brilhantes da humanidade. Autor de Leviatã deixou uma marca que até hoje é refletida em governos, instituições e em pessoas.

Na visão de Rutger Bregman, Hobbes tem uma visão pessimista do homem e das suas próprias criações, como a política.

Por isso relata que ser humano é na verdade ser caótico. Precisamos de pesos e freios sociais, como prisões, para evitar que a sociedade se dissolva.

E mais do que isso, puna quem vai contra o controle social de uma vida em comunidade. Independente dos meios usados para tal.
Jean-Jacques Rousseau

Rousseau é outro pensador extremamente citado pelo autor durante todo o livro.

Similarmente a Hobbes, Rousseau também deixou marcas profundas na humanidade durante e após sua existência. Uma de suas grandes obras é “Do Contrato Social”.

No entanto, segundo Rutger Bregman, Rousseau tem uma visão mais otimista do homem e da humanidade.

E isso, na verdade, é a prática que ocorre ao redor de todo o mundo. E não ao contrário.


O livro é sobre filosofia então?

Neste momento pode ser que você assuma que o conteúdo seja filosófico ou disseque as obras dos pensadores acima mencionados. Mas, na verdade é o contrário.

Bregman ancora esses dois filósofos para aprofundar diferentes aspectos de mentalidades tão diferentes.

O conteúdo do livro é na verdade apresentado usando exemplos reais de situações vividas por pessoas ou experimentos (quase) científicos.

O autor usa uma linguagem simples e funcional. Talvez, pela experiência como jornalista. Evitando jargões científicos e palavras difíceis.


O conteúdo

O livro geralmente possui em cada novo capítulo uma situação que deve ser analisada.

A situação é exposta de um modo pessimista, citando notícias que foram vinculadas, pesquisas publicadas ou fontes que viveram o fenômeno.

Ao iniciar a leitura do capítulo é gerada uma sensação de “caramba, como isso pode mostrar algo bom da humanidade?”

Mas, durante todo o texto o autor vai quebrando cada argumento apresentado no inicio.


No geral, são adotadas três estratégias para fazer isso:

Experimentos não científicos ~ Muitas das ideias que fecundam teorias sobre a maldade humana é ancorada em experimentos do século passado.

No entanto, grande parte deles possui sérias limitações e nem devem ser considerados, de fato, científicas.

O autor demonstra outras pesquisas mais recentes que demonstram as limitações dos trabalhos antigos.

Na maioria das vezes, enviesados por um pesquisador que intervia diretamente no fenômeno observado.

Isso contamina toda a amostra e por isso os resultados alcançados não podem ser generalizados para realidade.

Notícias falsas ~ Outro verniz sobre a maldade humana são as noticias vinculadas na tv, nos jornais ou até mesmo da internet.

A maioria delas omite passagens importantes. Relatos pessoais que foram coletados e desconsiderados.

Ou ainda, se baseiam em experimento que não são científicos.

Pessoas que estavam lá
A maioria dos eventos que geraram algum tipo de stress ou problema sobre a maldade humana tem como relato testemunhas.

E em muitas situações Rutger Bregman vai atrás dessas pessoas e colhe novamente as versões.

Ou ainda, busca como fonte direta quem conversou com elas. Como um jornalista que escreveu a notícia ou um colega de um cientista que também estava envolvido em um experimento.

Ou busca nos arquivos antigos relatos que haviam sido descartados.

E com todo esse trabalho é descartado, argumento por argumento, que a humanidade não tem mais jeito.
Então, o livro é uma fantasia…


Muitas pessoas podem discordar de que o ser humano é bom, por natureza. E que os exemplos ruins são a minoria.

Por isso podem não se interessar pelo livro. Como uma espécie que produziu duas guerras mundiais, que mata semelhantes e já tentou extinguir raças inteiras pode ser boa?

É justamente esta reflexão que o autor discute. Para entender como uma espécie assim pode ser boa é essencial fazer essa leitura!
Humanidade: uma história otimista do homem — Resenha


O livro escrito por Rutger Bregman é maravilhoso de ser lido e relido, diversas vezes.

Isso é em grande parte pelo talento do autor em dissecar um assunto tão complexo e ao mesmo tempo tão interessante.

O seu estilo de escrita mescla situações de bom humor com eventos reais. Sempre, no entanto, resguardando o cuidado e a atenção.

O conteúdo não subestima o intelecto do leitor. Ao contrário, fornece evidências para que o próprio leitor tome a sua decisão.


Um aspecto extremamente positivo do livro é ampla pesquisa bibliográfica feito pelo autor.

São dezenas de páginas de referências. Desde livros, artigos científicos ou documentos históricos.

O autor sempre referencia e marca suas ideias ao redor dessas fontes que podem ser consultadas logo em seguida.


O que é bom no livro?

Praticamente tudo. O estilo de escrita agrada, este é um ponto importante quando se é um autor.

Não há quebras bruscas de temas ou passagens que precisam ser lidas e relidas.

Além disso, o leitor é convidado a refletir e não a tomar partido de uma causa. Ao contrário do que muitos best sellers atuais tentam jogar goela abaixo.

Gosto de livros que tem referências. Dá um amparo gigante ao que o autor explica. E isso é extramente importante quando se aborda um assunto tão extenso e complexo.


O que é ruim no livro?

Algumas passagens são muito curtas. O autor poderia expandir mais as discussões.

Além disso, o livro é amplo e profundo. Mas, para uma leitura cuidadosa é essencial conferir as referências e consultá-las.

Conclusão

Após finalizar a leitura do livro tive uma nova percepção da humanidade e de todos nós.

Percebi que, logicamente, existem diversas limitações que impedem que a vida seja mais colaborativa e menos competitiva.

Que existem diversos problemas a serem resolvidos. E que existem pessoas que são ruins por natureza.

Mas, percebo que isso tudo é minoria. Na verdade, estes eventos e pessoas tomam tanta atenção da mídia que a gente pensa que isso é o comum, quando na verdade não é.

Para finalizar, uma frase que ilustra muito bem o que o livro trata e como a humanidade está organizada, escrita pelo gigante Humberto Gessinger:

O que realmente interessa não ganha estátua, não vira nome de rua. 
Avenida Paz de Espírito, existe?

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