A Teoria a psicológica que: 'Queria provar que humanos são capazes de algo maior que guerra, preconceito e ódio'!

Abraham Maslow, o homem que revolucionou a psicologia: 'Queria provar que humanos são capazes de algo maior que guerra, preconceito e ódio'

Legenda do áudio,

Abraham Maslow teve uma visão enquanto dirigia seu carro.


Viu pessoas sentadas ao redor de uma mesa, falando sobre "a natureza humana, o ódio, a guerra e a paz, e a fraternidade".


O mundo vivia o rescaldo do ataque a Pearl Harbor, em 1941, quando o Japão bombardeou a base naval americana no Havaí durante a Segunda Guerra Mundial.


"Eu era velho demais para entrar no exército. Foi nesse momento que percebi que o resto da minha vida deveria ser dedicado a descobrir uma psicologia para a mesa de paz. Esse momento mudou toda a minha vida".

https://www.youtube.com/watch?v=k9dHyZKHhVM


"Queria demonstrar que os humanos são capazes de algo maior do que a guerra, os preconceitos e o ódio."


Essa visão foi contada, em 1968, a Mary Harrington Hall, da revista Psychology Today.


Dois anos depois, aos 62 anos, Maslow morreria após sofrer um ataque cardíaco.


Seu legado, afirmam os estudiosos de sua obra, não só perdurou, mas, em tempos de turbulência, é uma fonte de esperança.



O inovador


Maslow nasceu em 1908, em Nova York.


Seus pais, judeus, tiveram que fugir da Rússia e imigraram para os Estados Unidos.


Maslow viveu a Grande Depressão, a crise econômica que levou à quebra da Bolsa de Nova York, em 29 de outubro de 1929


"Com a infância que tive, é um milagre que não seja psicótico. Era um pequeno menino judeu em uma vizinhança não judia", disse em entrevista à Psychology Today.


Ele dizia que havia crescido sem amigos, em bibliotecas, entre livros, e encontrou na psicologia sua paixão.


Desenvolveu sua carreira nesse campo, sendo fascinado em entender como alguém capaz de ser um anjo poderia ser um assassino.


Para Edward Hoffman, autor de The Right To Be Human: A Biography of Abraham Maslow ("O Direito de Ser Humano, uma Biografia de Abraham Maslow", em tradução livre), o psicólogo estava à frente de seu tempo.


"E, em muitos sentidos, ele ainda está à frente do nosso tempo", disse à BBC Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o professor de psicologia da Universidade Yeshiva, em Nova York.


Embora seja mais conhecido por sua teoria sobre a hierarquia das necessidades, da qual surgiu a famosa pirâmide de Maslow, há aspectos de seu trabalho que "realmente foram revolucionários", afirmou à BBC Mundo Margie Lachman, professora da Universidade Brandeis, em Massachusetts (EUA).


Foi lá, precisamente, que Maslow fundou o Departamento de Psicologia.


Outro caminho


Maslow seguiu uma direção diferente das correntes existentes na psicologia, principalmente a psicanalítica (de Sigmund Freud) e a comportamental.


Freud tinha "uma visão muito pessimista da natureza humana", diz Hoffman.


A abordagem freudiana fala sobre o peso dos impulsos inconscientes, incontroláveis, em nossas vidas, enquanto a tradição comportamental (behavioristas) reforça a ideia de que respondemos a fatores externos.


Lembremos que muitos dos estudos dos behavioristas foram realizados com animais em laboratórios.


"A psicologia no tempo de Maslow era muito determinista", explica David Baker, diretor emérito do Centro Cummings para a História da psicologia e professor emérito de Psicologia da Universidade de Akron, nos Estados Unidos, à BBC Mundo.


"Você se comporta como resultado de todas as forças que te afetam e não há muito que possa fazer a respeito."


Mas "a originalidade" de Maslow foi enxergar "coisas que não estavam ali".


"E isso foi algo bastante incrível na psicologia americana do século 20."


"Maslow viveu duas guerras mundiais, tempos de migração em massa, opressão terrível, pobreza esmagadora, mas conseguiu transcender tudo isso e ver algo mais", disse Baker.


E o que Maslow viu foi o potencial humano.


"Diante do conflito, do ódio, da violência, ele fez uma avaliação realista e disse: 'Há algo mais. Existem coisas que todos estão ignorando, tanto na psicologia quanto na sociedade, e é que podemos ser pessoas melhores.'"


"Foi uma perspectiva otimista, uma nova direção", afirmou Baker.


Maslow apostou em uma abordagem humanista que, segundo Lachman, enfatizou a capacidade das pessoas de "fazer coisas boas no mundo".


"Ele acreditava que os seres humanos são, por natureza, bons e bem-intencionados."


Por toda a vida


Diferentemente de outras correntes, Maslow afirmou que as pessoas agem com base em suas necessidades e motivações e que têm o potencial de crescer e se desenvolver ao longo de toda a vida.


"Isso porque teóricos anteriores, especialmente Freud e alguns de seus contemporâneos, acreditavam que o desenvolvimento (da personalidade) basicamente terminava quando se chegava à adolescência", explica Lachman.


A acadêmica esclarece que, embora alguns psicanalistas como Carl Jung ou Erik Erikson também acreditassem no desenvolvimento ao longo da vida, Maslow realmente enfatizou "a importância de pensar no potencial de crescimento durante toda a vida".


Além disso, destaca a especialista, enquanto alguns dos primeiros teóricos focavam mais em indivíduos com, por exemplo, neuroses ou problemas psicológicos — o que foi muito relevante —, Maslow se interessava pelas "pessoas que estavam se saindo bem".


E que, ao prosperarem, ao perceberem sua criatividade e seu potencial, promoviam não apenas seu próprio crescimento, mas também contribuíam para "fazer o bem no mundo".


Concentrar-se em pessoas saudáveis como uma forma de compreender o comportamento e otimizar o bem-estar foi uma mudança muito significativa na disciplina.


"Maslow defendeu o valor de focar no que está certo na pessoa, em vez de se concentrar no que está errado", escreveu Margie Lachman em um artigo da Universidade Brandeis, dos EUA.


Motivação


Em 1954, Maslow publicou o livro Motivação e Personalidade, no qual apresentou sua teoria da hierarquia das necessidades, já explorada em 1943 no ensaio Uma Teoria para a Motivação Humana.


O psicólogo explicou que, quando nossas necessidades mais básicas — fisiológicas e de segurança — estão satisfeitas, desenvolvemos outras necessidades e desejos que buscamos atender, como o apreço e o reconhecimento.


Em seu trabalho original sobre a hierarquia das necessidades, Maslow não utilizou pirâmides ou triângulos.


No entanto, outros pesquisadores acabaram ilustrando sua teoria no formato de uma pirâmide.


No topo dessa pirâmide, está a autorrealização, algo que ele sabia ser muito difícil de alcançar.


"Todos temos a capacidade de consegui-la, mas precisamos conseguir transcender nossa situação e nos esforçar para atingir nosso potencial", explica David Baker.


Para Maslow, tratava-se de um processo contínuo, que dura toda a vida, no qual é importante criar situações que sejam meaningful, ou seja, significativas para nós.


"Em sua visão otimista, se alcançarmos a autorrealização, seremos mais felizes e, consequentemente, faremos mais coisas boas no mundo."


Mas Maslow não estava realmente preocupado com a felicidade; seu interesse estava focado no crescimento pessoal e em sua conexão com nossa capacidade de fazer coisas boas.


Hoffman menciona a eupsiquia, um termo que Maslow cunhou para descrever "a melhor sociedade possível", uma sociedade voltada para o crescimento de seus membros.


"Maslow era realista, sabia que nenhum ser humano pode ser perfeito, que todos temos defeitos", mas ele viu a possibilidade dessa sociedade ideal, a eupsiquia.


"É um conceito muito importante, porque acredito que os jovens, em parte devido à obsessão com as redes sociais e a internet, estão presos ao momento presente. Mas Maslow era um pensador de longo prazo, focado no que os seres humanos são capazes de alcançar a longo prazo."


Legado


Maslow sempre esteve aberto à pesquisa científica, embora haja quem questione o fato de ele não ter apresentado evidências empíricas para sustentar sua teoria.


De fato, alguns cientistas criticaram que, em seus últimos anos, ele se tornou mais um filósofo do que um cientista.


Mas o fato é que ele deixou um legado importante em sua disciplina.


"Muitos dos esforços mais recentes em psicologia foram baseados no trabalho de Maslow: ele lançou as bases do que chamamos de psicologia positiva", destaca Lachman.


Esse movimento foca em como as pessoas podem viver uma vida positiva e encontrar um propósito.


"E, ao usar sua própria criatividade e sabedoria, podem ajudar outras pessoas e fazer a diferença no mundo."


Mensagem


Nesse processo contínuo de crescimento que Maslow propôs, há um ponto de partida:


"Olhar para dentro de nós mesmos e descobrir o que nos traz uma sensação de alegria, mesmo em pequenos momentos. Que comidas gostamos? Sobre quais temas gostamos de conversar? Que músicas nos fazem sentir mais enérgicos ou felizes? O ponto de partida deve ser compreender e conhecer a nós mesmos", explica Hoffman.


Para Baker, grande parte do legado de Maslow é "ver o que está lá e também o que não está".


"Ainda existe bondade, decência, pessoas que se esforçam para fazer o que é certo, e isso é fácil de esquecer, assim como é fácil se sentir sobrecarregado pelas notícias negativas de ódio e violência."


"Mas era o mesmo no tempo de Maslow: as pessoas sentiam o mesmo nível de medo, desesperança, ansiedade e depressão. E aí está o legado dele: olhar além disso e dizer que há algo melhor."


"Sempre senti que é uma mensagem de esperança."




Sabe a Sabe a "neurose de repetição"? Então, pode chamar de Esquemas

 "Quase todos os pacientes com "transtornos caracterológicos*" repetem, de forma "auto derrotista", padrões negativos advindos da infância. De maneira crônica e generalizada, desenvolvem pensamentos, emoções, comportamentos e meios de relacionar-se que perpetuam seus esquemas. Ao fazê-lo, continuam, involuntariamente, a recriar em suas vidas adultas as condições que mais lhes prejudicaram na infância."

Do livro: TERAPIA DO ESQUEMA - Guia de técnicas cognitívo-comportamentais inovadoras, escrito por JEFFREY E. YOUNG, Janet S. Klosko, Marjorie E. Weishaar. Versão impressa de 2008.


 

* "Transtornos caracterológicos": são os transtornos de personalidade, são padrões de pensamento, comportamento e relacionamento disfuncionais que se desviam das expectativas culturais do indivíduo e causam sofrimento ou prejuízo em diversas áreas da vida.
São aqueles transtornos que se apresentam como:
- Padrões inflexíveis e generalizados de pensamentos ou ideias;
- Dificuldade em lidar com o estresse;
- Problemas de relacionamento;
- Prejuízo no funcionamento social ou emocional...
Podem ou NÃO estarem associados a um diagnostico como Transtorno de personalidade borderline, Transtorno de personalidade antissocial, Transtorno de personalidade narcisista ou Transtorno de personalidade obsessivo-compulsiva (etc)...



Os AUTORES:
Jeffrey E. Young, Ph.D., é professor do Departamento de Psiquiatria da Columbia
University. Também é fundador dos Centros de Terapia Cognitiva de Nova York e Connecticut, assim como do Instituto de Terapia do Esquema (Schema Therapy Institute - institute@schematherapy.com). Tem publicado pela Artmed: Terapia cognitiva para transtornos da personalidade: uma abordagem focada no esquema.



Janet S. Klosko,
Ph.D., é co-diretora do Centro de Terapia Cognitiva de Long Island em Great Neck, Estado de Nova York, Estados Unidos, e psicóloga sênior do Instituto de Terapia do Esquema, em Manhattan, e do Woodstock Women’s Health, em Woodstock, também no Estado de Nova York. Doutora em psicologia clínica pela Universidade do Estado de Nova York (State University of New York, SUNY), em Albany.

Marjorie E. Weishaar, Ph.D., é professora clínica de Psiquiatria e Comportamento Humano na Faculdade de Medicina da Brown University.

 


“A esperança não está na inevitabilidade da mudança, mas em sua possiblidade”.

“A esperança não está na inevitabilidade da mudança, mas em sua possiblidade”.


Rutger Bregman, jovem historiador holandês, nascido em 1988, tem fama e cara de provocador. Com seu livro Utopia para realistas (2014) desafiou a cátedra ao propor ideias – então – revolucionárias como a Renda Básica Universal, uma semana de trabalho reduzida e um mundo sem fronteiras.

Como ele mesmo conta, começou falando com jovens anarquistas e acabou explicando suas ideias aos grandes executivos e políticos em Davos, quando também aproveitou para repreendê-los por usar jatos particulares para ouvir Sir David Attenborough falar sobre mudanças climáticas.

Seu novo livro também é provocativo, mas por sua visão bondosa e sem cinismo sobre as possibilidades dos seres humanos de ser solidários, pensar comunitariamente e se adaptar. Em Humanidadeuma história otimista do homem, apresenta exemplos originais e eloquentes sobre como a humanidade está mais inclinada à bondade do que à maldade, e como algumas histórias foram distorcidas para se encaixar na ideia de que o homem é o lobo do homem ou que apenas uma pequena camada separa a civilização da barbárie.

Seus livros foram traduzidos para 30 idiomas e Yuval Noah Harari disse: “Este livro está me fazendo enxergar a humanidade sob uma nova perspectiva”. De sua casa, na Holanda, conversou conosco via Zoom.

 

A entrevista é de Paula Escobar, publicada por La Tercera, 08-10-2021. A tradução é do Cepat.

 

Eis a entrevista.

 

Por que decidiu escrever esse livro e desafiar a ideia de que a natureza humana é intrinsecamente má?

Comecei a notar que muitos cientistas de disciplinas muito diferentes estavam se direcionando para uma nova visão mais esperançosa da natureza humana. A segunda razão é que quando estava na turnê de Utopia para realistas, o que ouvi dos leitores, mais de uma vez, foi “Rutger, todas as suas ideias utópicas soam realmente interessantes e talvez funcionem em escala local, mas não podem ser ampliadas, porque os humanos não são justos, os humanos são simplesmente egoístas”. E comecei a perceber que muitas das ideias que me entusiasmam – não só a Renda Básica Universal, mas também a democracia participativa, por exemplo – se baseiam em uma visão fundamentalmente diferente da natureza humana.

Em seu livro, apresenta casos realmente eficazes para afirmar seus pontos de vista a esse respeito. Essa visão positiva foi alterada pela pandemia?

No início da pandemia, alguns de meus amigos me disseram: “Ainda acredita em seus sonhos utópicos sobre a bondade humana? Não está vendo as notícias? As pessoas estão acumulando papel higiênico”. E, então, deixa-me ser claro: acumular papel higiênico não é bom. Mas penso que quando tomamos um pouco de distância, podemos ver que milhares de milhões de pessoas em todo o mundo ajustaram radicalmente seu estilo de vida para deter a propagação do vírus.

Penso que os sacrifícios que muitas pessoas comuns fizeram foram extraordinários. E, claro, você sempre pode destacar incidentes e exceções e pessoas que não seguem as regras, etc. Contudo, mesmo nesses casos, não acredito que seja o egoísmo o que impulsiona as pessoas, mas diferentes crenças e ideologias.

Por exemplo, isso ficou particularmente claro nos Estados Unidos, onde o uso de máscara se tornou um símbolo de identidade políticaum símbolo de progressismo. Você a usou porque era leal a seus amigos e companheiros de trabalho, e isso é muito humano, ser leal a seu grupo.

Grande parte do livro trata, obviamente, dessa tendência humana, que é uma de nossas grandes forças e uma de nossas fragilidades. E eu vi pouca, bem pouca evidência da teoria “do verniz”, você já conhece, esta noção de que a nossa civilização é apenas um fino verniz, mas o oposto.

Como viu a pandemia?

No primeiro capítulo do livro, escrevo como as pessoas respondem aos desastres naturais, e não é uma surpresa que mostramos nosso lado melhor. É uma explosão de cooperação. Nos primeiros meses, a Covid foi um pouco como um terremoto: uma explosão de solidariedade, pessoas ajudando a seus vizinhos, etc.

Mas o tempo passa e as pessoas se acostumam com a nova situação, e depois isso se torna uma prova de nossa resistência. Isso tornou as coisas mais complicadas. Outra coisa que realmente complicou foi que esse vírus foi um ataque à nossa própria humanidade.

Por quê?

Porque é humano querer se conectar, tocar, sentir, estar perto um do outro, certo? Então, basicamente tivemos que negar nossa própria natureza humana. E foi isso que fez com que tudo fosse tão, tão incrivelmente difícil...

Mas, em geral, quando olhamos de um pouco mais longe, penso que podemos dizer que a maioria dos cidadãos fez um grande trabalho de adaptação e os cientistas foram incríveis. São principalmente os líderes políticos que foram muito decepcionantes. Mas não há nada de novo nisso.

As ideias da margem se movem para o centro

Algumas das ideias que você apresentou em ‘Utopia para realistas’ se aproximaram. Por exemplo, a Renda Básica Universal, pois foi repassado dinheiro de forma sem precedentes por causa da pandemia.

Publiquei Utopia para realistas em holandês em 2014, e naquele momento as ideias do livro eram consideradas completamente ridículas. Não teve muita atenção. A maioria das pessoas nem sequer sabia o que era a renda básica. Muitas pessoas aqui na Holanda pensaram que eu estava falando do salário base dos banqueiros. Então, foi extraordinário presenciar como essa ideia aparentemente louca se tornou cada vez mais realista.

Também falo desse processo no livro: como as ideias utópicas podem se tornar realidade e como as coisas que primeiro são descartadas como irracionaisirreais e impossíveis podem se mover das margens para o centro. Inclusive, hoje, existem pessoas que criticam a Renda Básica Universal por não ser suficientemente radical. O próprio fato de que a administração Trump – e não só ela – começou a distribuir dinheiro para as pessoas... É o que Milton Friedman chamava “dinheiro de helicópteros”.

Isso em si mesmo é politicamente muito significativo, porque durante anos e anos nos disseram que não podemos nos permitir isso, nem aquilo, etc. Mas como disse John Maynard Keynes, se podemos fazer, podemos pagar... Fizeram uma lavagem cerebral em nós, durante tanto tempo, de que o déficit é a única coisa que importa. A geração jovem está preocupada com o déficit ambiental, o green deal, é uma maneira muito diferente de pensar.

O que acontece com a responsabilidade fiscal?

É claro, sempre há limites, como disse. A inflação é um limite real, em algum momento. Mas acredito que realmente vimos uma expansão das possiblidades políticas nos últimos 5 a 10 anos. E é muito oportuno e muito necessário também, porque a realidade também se tornou muito mais radical.

Devo admitir que 10 anos atrás não estava tão preocupado com as mudanças climáticas. Pensei que eram reais, não era um negacionista do clima, mas era uma das 10 coisas em minha agenda política e não estava na parte superior da lista como o maior desafio de minha geração. Agora, é completamente diferente.

Como a Renda Básica Universal dialoga com a economia pós-pandemia?

Você pode olhar para ela a partir de vários pontos de vista: se nos ajudará a combater a pobreza, inclusive erradicar a pobreza, se ajudará as pessoas a encontrar empregos diferentes. Existem evidências disso em muitos âmbitos de que é uma política muito promissora, em muitas dimensões. Você também pode ver o seu efeito em nossa psique...

E um dos efeitos mais importantes de uma renda básica é que dará muito mais poder de negociação às pessoas que realizam os trabalhos realmente importantes. No início da pandemia, países do mundo todo começaram a elaborar essas listas dos trabalhadores essenciais que mereciam acesso a serviços de cuidado infantil, etc. Onde estavam os banqueiros ou os gerentes? Não estavam nessas listas. Sim, os encanadorescuidadoresprofessoresenfermeiras, etc.

Agora, todas essas pessoas, quando tiverem uma renda básica, terão muito mais poder de negociação. E então, a longo prazo, uma sociedade de renda básica poderia ser uma na qual os salários estejam muito mais alinhados com o valor social que se oferece para a sociedade. Hoje em dia, parece ser o contrário... Quanto mais você recebe, menos contribui. Muitas vezes, esse é o caso.

Eu diria que uma renda básica nos obriga, ou ao menos nos ajuda, a nos fazermos essa pergunta fundamental, mais uma vez: Quem são os verdadeiros criadores de riqueza? Sobre os ombros de quem estamos realmente? Quem são os que apoiam todos nós? Essa é a forma como eu tento ver essas coisas, e é uma maneira, a tudo isso, muito old fashion... Os economistas do século XIX eram muito diferentes dos economistas de hoje. Embora estejam melhorando, devo dizer.

Em que sentido?

Como disse, certa vez, John Maynard Keynes, “um bom economista é também um estadista, é um filósofo, trata-se de moralidade”. A economia deveria ter relação com o significado da vida. Trata-se do que é valioso e das decisões que tomamos. A economia é a ciência da tomada de decisões. E penso que não é possível tomar decisões, caso não se tenha uma visão fundamental do que é valioso.

E acredito que se esqueceram dessas importantes perguntas. Disseram: “Vamos a ver o que o mercado faz”. Mas os mercados nunca são neutros. Os preços nunca surgem no vazio. Sempre surgem em um contexto político e sempre há opções por trás disso. E essas escolhas podem ser contestadas. Não temos que concordar com essas escolhas. E acredito que em uma democracia adequada, podemos discutir tudo.

Em ‘Utopia’, você também defendeu uma semana de trabalho de 15 horas. Ainda considera que é uma boa ideia?

Acho que nisso mudei um pouco de opinião. Existem algumas coisas com as quais temos que lidar. E a primeira é, obviamente, as mudanças climáticas, o aquecimento global. E penso que se torna cada vez mais descabido falar em uma semana de trabalho de 15 horas, quando há tanto, tanto trabalho a ser feito. O que precisamos é falar sobre o fato de tantas pessoas estarem realizando um trabalho completamente inútil ou um trabalho que, na realidade, está piorando o problema.

Penso que uma das maiores tragédias de nosso tempo é termos tantas pessoas, jovens que são realmente brilhantes, com currículos maravilhosos, que foram para grandes universidades da Ivy League nos Estados Unidos, mas que possuem um trabalho inútil que, na realidade, destrói a riqueza em vez de criá-la. Um exemplo simples são aquelas pessoas no Vale do Silício que desenvolvem todos esses aplicativos ou algoritmos tolos, para que outros cliquem mais nos anúncios, para que compremos coisas que não precisamos.

Mas também criam riqueza no Vale do Silício, concorda?

Criam riqueza para suas empresas. Note, imagine que alguém é um pirata no século XVII. É um trabalho difícil ser pirata, é preciso ir para a escola de piratas, onde ensinam a queimar, saquear, estuprar, etc. Investiram muito no capital pirata humano dessa pessoa. Então, ela consegue um trabalho bem remunerado em um dos melhores barcos piratas do mundo. E tem uma carreira maravilhosa matando pessoas, torturando e estuprando, etc., e gera muita riqueza para sua empresa, certo?

E a empresa, muito satisfeita, diz: “Olha, contribuímos muito com o PIB, estamos fazendo um trabalho maravilhoso”. E depois alguém vem e diz: “Isso é realmente ruim, você está matando outras pessoas, etc. É preciso abolir a pirataria”. E a pessoa diz: “Não, não, não, não. Não é possível abolir a pirataria, isso custará muitos postos de trabalho e destruirá todo esse capital humano”.

O que equivale a isso?

Penso que, deixando de fora a pilhagem e o estupro, etc., muitos banqueiros modernos estão em uma situação semelhante. Dizem: “Trabalhamos tão duro para conseguir esse trabalho e estamos contribuindo muito com o PIB”. De fato, precisamos fazer um debate mais fundamental sobre quem são os verdadeiros geradores de riqueza. Isso é uma verdadeira riqueza? Ou é apenas a busca de rendas? É só um jogo de soma zero? Ou, pior do que isso, está tirando a riqueza dos outros?

Algo pode ser benéfico para você, mas não benéfico para a sociedade. Penso que essa é a perspectiva que devemos adotar. Quem são os verdadeiros criadores de riqueza que estão jogando o jogo de soma positiva, do qual todos nós nos beneficiamos?

Finalmente, qual é a responsabilidade dos meios de comunicação nessa ideia tão disseminada de que a natureza humana é intrinsecamente má?

Sempre gostei de fazer uma distinção entre jornalismo e notícias. Precisamos do jornalismo, é incrivelmente importante e um dos pilares da democracia. Precisamos de jornalistas com a coragem de dizer a verdade ao poder, precisamos de jornalistas que nos ajudem a ter perspectiva e nos concentrar nas forças estruturais que governam nossas vidas. Precisamos de jornalistas que nos deem esperança, que falem do que vai bem, e que não falem somente dos problemas, mas que também se concentrem nas pessoas que estão trabalhando com soluções...

Não estou falando que deve haver mais notícias “positivas”, não falo de otimismo. Aqui, você tem que fazer uma distinção entre otimismo e esperança. O otimismo é uma forma de complacência, mas a esperança trata da possibilidade de mudança. Não é a inevitabilidade da mudança, é a possiblidade de mudança. Então, isso é jornalismo.

Mas, por outro lado, você tem as notícias e eu as defino como o foco implacável no que está acontecendo hoje, em incidentes, em coisas sensacionais e, muitas vezes, em coisas negativas. Isso atrai muitos olhos, conecta-se com uma parte de nossa psique ou trabalha com uma parte de nosso cérebro que inclusive está presa a esse viés de negatividade. E todas essas notícias que as pessoas consomem diariamente não ajudam a entender o mundo, não são boas. Desconecte-se, não as consuma, não as ofereça para seus filhos. Ofereça a eles um jornalismo construtivo. Assine um jornal de alta qualidade e o leia.

 

A Teoria a psicológica que: 'Queria provar que humanos são capazes de algo maior que guerra, preconceito e ódio'!

Abraham Maslow, o homem que revolucionou a psicologia: 'Queria provar que humanos são capazes de algo maior que guerra, preconceito e ód...