“A esperança não está na inevitabilidade da mudança, mas em sua possiblidade”.

“A esperança não está na inevitabilidade da mudança, mas em sua possiblidade”.


Rutger Bregman, jovem historiador holandês, nascido em 1988, tem fama e cara de provocador. Com seu livro Utopia para realistas (2014) desafiou a cátedra ao propor ideias – então – revolucionárias como a Renda Básica Universal, uma semana de trabalho reduzida e um mundo sem fronteiras.

Como ele mesmo conta, começou falando com jovens anarquistas e acabou explicando suas ideias aos grandes executivos e políticos em Davos, quando também aproveitou para repreendê-los por usar jatos particulares para ouvir Sir David Attenborough falar sobre mudanças climáticas.

Seu novo livro também é provocativo, mas por sua visão bondosa e sem cinismo sobre as possibilidades dos seres humanos de ser solidários, pensar comunitariamente e se adaptar. Em Humanidadeuma história otimista do homem, apresenta exemplos originais e eloquentes sobre como a humanidade está mais inclinada à bondade do que à maldade, e como algumas histórias foram distorcidas para se encaixar na ideia de que o homem é o lobo do homem ou que apenas uma pequena camada separa a civilização da barbárie.

Seus livros foram traduzidos para 30 idiomas e Yuval Noah Harari disse: “Este livro está me fazendo enxergar a humanidade sob uma nova perspectiva”. De sua casa, na Holanda, conversou conosco via Zoom.

 

A entrevista é de Paula Escobar, publicada por La Tercera, 08-10-2021. A tradução é do Cepat.

 

Eis a entrevista.

 

Por que decidiu escrever esse livro e desafiar a ideia de que a natureza humana é intrinsecamente má?

Comecei a notar que muitos cientistas de disciplinas muito diferentes estavam se direcionando para uma nova visão mais esperançosa da natureza humana. A segunda razão é que quando estava na turnê de Utopia para realistas, o que ouvi dos leitores, mais de uma vez, foi “Rutger, todas as suas ideias utópicas soam realmente interessantes e talvez funcionem em escala local, mas não podem ser ampliadas, porque os humanos não são justos, os humanos são simplesmente egoístas”. E comecei a perceber que muitas das ideias que me entusiasmam – não só a Renda Básica Universal, mas também a democracia participativa, por exemplo – se baseiam em uma visão fundamentalmente diferente da natureza humana.

Em seu livro, apresenta casos realmente eficazes para afirmar seus pontos de vista a esse respeito. Essa visão positiva foi alterada pela pandemia?

No início da pandemia, alguns de meus amigos me disseram: “Ainda acredita em seus sonhos utópicos sobre a bondade humana? Não está vendo as notícias? As pessoas estão acumulando papel higiênico”. E, então, deixa-me ser claro: acumular papel higiênico não é bom. Mas penso que quando tomamos um pouco de distância, podemos ver que milhares de milhões de pessoas em todo o mundo ajustaram radicalmente seu estilo de vida para deter a propagação do vírus.

Penso que os sacrifícios que muitas pessoas comuns fizeram foram extraordinários. E, claro, você sempre pode destacar incidentes e exceções e pessoas que não seguem as regras, etc. Contudo, mesmo nesses casos, não acredito que seja o egoísmo o que impulsiona as pessoas, mas diferentes crenças e ideologias.

Por exemplo, isso ficou particularmente claro nos Estados Unidos, onde o uso de máscara se tornou um símbolo de identidade políticaum símbolo de progressismo. Você a usou porque era leal a seus amigos e companheiros de trabalho, e isso é muito humano, ser leal a seu grupo.

Grande parte do livro trata, obviamente, dessa tendência humana, que é uma de nossas grandes forças e uma de nossas fragilidades. E eu vi pouca, bem pouca evidência da teoria “do verniz”, você já conhece, esta noção de que a nossa civilização é apenas um fino verniz, mas o oposto.

Como viu a pandemia?

No primeiro capítulo do livro, escrevo como as pessoas respondem aos desastres naturais, e não é uma surpresa que mostramos nosso lado melhor. É uma explosão de cooperação. Nos primeiros meses, a Covid foi um pouco como um terremoto: uma explosão de solidariedade, pessoas ajudando a seus vizinhos, etc.

Mas o tempo passa e as pessoas se acostumam com a nova situação, e depois isso se torna uma prova de nossa resistência. Isso tornou as coisas mais complicadas. Outra coisa que realmente complicou foi que esse vírus foi um ataque à nossa própria humanidade.

Por quê?

Porque é humano querer se conectar, tocar, sentir, estar perto um do outro, certo? Então, basicamente tivemos que negar nossa própria natureza humana. E foi isso que fez com que tudo fosse tão, tão incrivelmente difícil...

Mas, em geral, quando olhamos de um pouco mais longe, penso que podemos dizer que a maioria dos cidadãos fez um grande trabalho de adaptação e os cientistas foram incríveis. São principalmente os líderes políticos que foram muito decepcionantes. Mas não há nada de novo nisso.

As ideias da margem se movem para o centro

Algumas das ideias que você apresentou em ‘Utopia para realistas’ se aproximaram. Por exemplo, a Renda Básica Universal, pois foi repassado dinheiro de forma sem precedentes por causa da pandemia.

Publiquei Utopia para realistas em holandês em 2014, e naquele momento as ideias do livro eram consideradas completamente ridículas. Não teve muita atenção. A maioria das pessoas nem sequer sabia o que era a renda básica. Muitas pessoas aqui na Holanda pensaram que eu estava falando do salário base dos banqueiros. Então, foi extraordinário presenciar como essa ideia aparentemente louca se tornou cada vez mais realista.

Também falo desse processo no livro: como as ideias utópicas podem se tornar realidade e como as coisas que primeiro são descartadas como irracionaisirreais e impossíveis podem se mover das margens para o centro. Inclusive, hoje, existem pessoas que criticam a Renda Básica Universal por não ser suficientemente radical. O próprio fato de que a administração Trump – e não só ela – começou a distribuir dinheiro para as pessoas... É o que Milton Friedman chamava “dinheiro de helicópteros”.

Isso em si mesmo é politicamente muito significativo, porque durante anos e anos nos disseram que não podemos nos permitir isso, nem aquilo, etc. Mas como disse John Maynard Keynes, se podemos fazer, podemos pagar... Fizeram uma lavagem cerebral em nós, durante tanto tempo, de que o déficit é a única coisa que importa. A geração jovem está preocupada com o déficit ambiental, o green deal, é uma maneira muito diferente de pensar.

O que acontece com a responsabilidade fiscal?

É claro, sempre há limites, como disse. A inflação é um limite real, em algum momento. Mas acredito que realmente vimos uma expansão das possiblidades políticas nos últimos 5 a 10 anos. E é muito oportuno e muito necessário também, porque a realidade também se tornou muito mais radical.

Devo admitir que 10 anos atrás não estava tão preocupado com as mudanças climáticas. Pensei que eram reais, não era um negacionista do clima, mas era uma das 10 coisas em minha agenda política e não estava na parte superior da lista como o maior desafio de minha geração. Agora, é completamente diferente.

Como a Renda Básica Universal dialoga com a economia pós-pandemia?

Você pode olhar para ela a partir de vários pontos de vista: se nos ajudará a combater a pobreza, inclusive erradicar a pobreza, se ajudará as pessoas a encontrar empregos diferentes. Existem evidências disso em muitos âmbitos de que é uma política muito promissora, em muitas dimensões. Você também pode ver o seu efeito em nossa psique...

E um dos efeitos mais importantes de uma renda básica é que dará muito mais poder de negociação às pessoas que realizam os trabalhos realmente importantes. No início da pandemia, países do mundo todo começaram a elaborar essas listas dos trabalhadores essenciais que mereciam acesso a serviços de cuidado infantil, etc. Onde estavam os banqueiros ou os gerentes? Não estavam nessas listas. Sim, os encanadorescuidadoresprofessoresenfermeiras, etc.

Agora, todas essas pessoas, quando tiverem uma renda básica, terão muito mais poder de negociação. E então, a longo prazo, uma sociedade de renda básica poderia ser uma na qual os salários estejam muito mais alinhados com o valor social que se oferece para a sociedade. Hoje em dia, parece ser o contrário... Quanto mais você recebe, menos contribui. Muitas vezes, esse é o caso.

Eu diria que uma renda básica nos obriga, ou ao menos nos ajuda, a nos fazermos essa pergunta fundamental, mais uma vez: Quem são os verdadeiros criadores de riqueza? Sobre os ombros de quem estamos realmente? Quem são os que apoiam todos nós? Essa é a forma como eu tento ver essas coisas, e é uma maneira, a tudo isso, muito old fashion... Os economistas do século XIX eram muito diferentes dos economistas de hoje. Embora estejam melhorando, devo dizer.

Em que sentido?

Como disse, certa vez, John Maynard Keynes, “um bom economista é também um estadista, é um filósofo, trata-se de moralidade”. A economia deveria ter relação com o significado da vida. Trata-se do que é valioso e das decisões que tomamos. A economia é a ciência da tomada de decisões. E penso que não é possível tomar decisões, caso não se tenha uma visão fundamental do que é valioso.

E acredito que se esqueceram dessas importantes perguntas. Disseram: “Vamos a ver o que o mercado faz”. Mas os mercados nunca são neutros. Os preços nunca surgem no vazio. Sempre surgem em um contexto político e sempre há opções por trás disso. E essas escolhas podem ser contestadas. Não temos que concordar com essas escolhas. E acredito que em uma democracia adequada, podemos discutir tudo.

Em ‘Utopia’, você também defendeu uma semana de trabalho de 15 horas. Ainda considera que é uma boa ideia?

Acho que nisso mudei um pouco de opinião. Existem algumas coisas com as quais temos que lidar. E a primeira é, obviamente, as mudanças climáticas, o aquecimento global. E penso que se torna cada vez mais descabido falar em uma semana de trabalho de 15 horas, quando há tanto, tanto trabalho a ser feito. O que precisamos é falar sobre o fato de tantas pessoas estarem realizando um trabalho completamente inútil ou um trabalho que, na realidade, está piorando o problema.

Penso que uma das maiores tragédias de nosso tempo é termos tantas pessoas, jovens que são realmente brilhantes, com currículos maravilhosos, que foram para grandes universidades da Ivy League nos Estados Unidos, mas que possuem um trabalho inútil que, na realidade, destrói a riqueza em vez de criá-la. Um exemplo simples são aquelas pessoas no Vale do Silício que desenvolvem todos esses aplicativos ou algoritmos tolos, para que outros cliquem mais nos anúncios, para que compremos coisas que não precisamos.

Mas também criam riqueza no Vale do Silício, concorda?

Criam riqueza para suas empresas. Note, imagine que alguém é um pirata no século XVII. É um trabalho difícil ser pirata, é preciso ir para a escola de piratas, onde ensinam a queimar, saquear, estuprar, etc. Investiram muito no capital pirata humano dessa pessoa. Então, ela consegue um trabalho bem remunerado em um dos melhores barcos piratas do mundo. E tem uma carreira maravilhosa matando pessoas, torturando e estuprando, etc., e gera muita riqueza para sua empresa, certo?

E a empresa, muito satisfeita, diz: “Olha, contribuímos muito com o PIB, estamos fazendo um trabalho maravilhoso”. E depois alguém vem e diz: “Isso é realmente ruim, você está matando outras pessoas, etc. É preciso abolir a pirataria”. E a pessoa diz: “Não, não, não, não. Não é possível abolir a pirataria, isso custará muitos postos de trabalho e destruirá todo esse capital humano”.

O que equivale a isso?

Penso que, deixando de fora a pilhagem e o estupro, etc., muitos banqueiros modernos estão em uma situação semelhante. Dizem: “Trabalhamos tão duro para conseguir esse trabalho e estamos contribuindo muito com o PIB”. De fato, precisamos fazer um debate mais fundamental sobre quem são os verdadeiros geradores de riqueza. Isso é uma verdadeira riqueza? Ou é apenas a busca de rendas? É só um jogo de soma zero? Ou, pior do que isso, está tirando a riqueza dos outros?

Algo pode ser benéfico para você, mas não benéfico para a sociedade. Penso que essa é a perspectiva que devemos adotar. Quem são os verdadeiros criadores de riqueza que estão jogando o jogo de soma positiva, do qual todos nós nos beneficiamos?

Finalmente, qual é a responsabilidade dos meios de comunicação nessa ideia tão disseminada de que a natureza humana é intrinsecamente má?

Sempre gostei de fazer uma distinção entre jornalismo e notícias. Precisamos do jornalismo, é incrivelmente importante e um dos pilares da democracia. Precisamos de jornalistas com a coragem de dizer a verdade ao poder, precisamos de jornalistas que nos ajudem a ter perspectiva e nos concentrar nas forças estruturais que governam nossas vidas. Precisamos de jornalistas que nos deem esperança, que falem do que vai bem, e que não falem somente dos problemas, mas que também se concentrem nas pessoas que estão trabalhando com soluções...

Não estou falando que deve haver mais notícias “positivas”, não falo de otimismo. Aqui, você tem que fazer uma distinção entre otimismo e esperança. O otimismo é uma forma de complacência, mas a esperança trata da possibilidade de mudança. Não é a inevitabilidade da mudança, é a possiblidade de mudança. Então, isso é jornalismo.

Mas, por outro lado, você tem as notícias e eu as defino como o foco implacável no que está acontecendo hoje, em incidentes, em coisas sensacionais e, muitas vezes, em coisas negativas. Isso atrai muitos olhos, conecta-se com uma parte de nossa psique ou trabalha com uma parte de nosso cérebro que inclusive está presa a esse viés de negatividade. E todas essas notícias que as pessoas consomem diariamente não ajudam a entender o mundo, não são boas. Desconecte-se, não as consuma, não as ofereça para seus filhos. Ofereça a eles um jornalismo construtivo. Assine um jornal de alta qualidade e o leia.

 

"4 características de pais e mães 'tóxicos', segundo os psicólogos Camila Saraco e Joseluis Canales"

Pais desempenham um papel fundamental na vida de uma pessoa. Não apenas são responsáveis em suprir as necessidades físicas de seus filhos, como alimentação, abrigo, cuidados de saúde e educação, mas também em atender às suas necessidades emocionais básicas.

Assim como a fome e a sede precisam ser saciadas para o bem-estar físico, as crianças necessitam de afeto, atenção, segurança e validação para desenvolver um senso saudável de si mesmas e do mundo ao redor. Um ambiente familiar que promove o vínculo emocional seguro é essencial para o desenvolvimento emocional e psicológico saudável da criança, influenciando diretamente sua autoestima, capacidade de estabelecer relacionamentos e bem-estar futuro.

Quando por incompetência ou por negligencia os cuidadores não atendem às necessidades emocionais de uma criança isso leva a consequências duradouras e significativas para seu desenvolvimento, tanto na infância quanto na vida adulta. Essas consequências podem afetar diversos aspectos da vida da pessoa, incluindo suas relações interpessoais, saúde mental e bem-estar geral.

Por isso quero postar a reportagem a seguir:



Há alguns anos, a psicóloga argentina Camila Saraco percebeu que muitos dos pacientes que a procuravam tinham algo em comum: tiveram uma "criação tóxica".


Isso não significa que apenas um pai abusivo seja tóxico. "Existem tantas outras maneiras pelas quais os pais machucam, às vezes inconscientemente", diz.

Ela decidiu, então, criar um curso:  "Pais Tóxicos", para ajudar a compreender quais comportamentos dos pais não são saudáveis, quais as consequências para os filhos e o que podem fazer aqueles que têm esses pais ou mães.

Saraco ressalta que um genitor ruim não é necessariamente uma pessoa má.


O psicólogo mexicano Joseluis Canales, autor de vários livros, entre eles Pais Tóxicos: Legado Disfuncional de uma Infância, publicado em 2014, concorda com isso.

Canales aponta que, às vezes, um pai é tão bondoso que não tem autoridade, algo que também é prejudicial para os filhos. Ainda assim, diz ele, "é importante entender que todos os pais cometem erros e isso não os torna tóxicos".

O que então torna uma criação pouco saudável?

O autor destaca que os pais têm duas funções principais: “Dar amor aos filhos e formá-los para a vida”.

Alguns pais geram prejuízos porque deixam de fazer o primeiro. Outros porque falham no segundo.

Curiosamente, parece haver uma diferença de geração entre esses dois grupos.

Os pais dos chamados Baby Boomers e Geração X costumavam ter mais problemas na hora de dar carinho e apoio emocional aos filhos.

Saraco conta que vários de seus pacientes, com mais de 40 anos, apresentam problemas de baixa autoestima e sensação de insuficiência que geram conflitos no relacionamento, algo que ela atribui a uma educação deficiente do ponto de vista afetivo.

Por outro lado, nas últimas décadas, o dano muitas vezes é causado por pais amorosos que não sabem impor limites e superprotegem seus filhos, criando "filhos tiranos" que não sabem administrar suas emoções e sofrem porque ficam frustrados ao menor obstáculo.

Como são os pais tóxicos

É importante esclarecer que tanto homens quanto mulheres podem ser pais tóxicos. E que, quando os dois são responsáveis pela criação, os danos são causados por ambos.

“Se um dos membros do casal é tóxico, o outro é um abusador passivo”, diz Canales.

A seguir, mostramos algumas das características dos pais tóxicos, segundo especialistas.


1. Abusivos

Sem dúvida, os pais que abusam sexualmente e são violentos com os filhos são os que afetam mais profundamente.

Mas não é necessário que um pai abuse fisicamente de uma criança para causar danos muito difíceis de curar, alertam os especialistas.

Agressões verbais e emocionais também são prejudiciais, apontam. Elas vão desde desqualificar uma criança ("não vai dar certo para você", "deixa para lá, é melhor que eu faça isso") a "insultá-la com palavras que ferem sua integridade, como chamá-la de 'idiota', dizendo que ninguém vai amá-la ou que se arrepende de tê-la tido."

Canales diz que “O risco é que tudo isso se torne uma voz interna”. E Saraco considera que, às vezes, "é mais fácil curar uma infância com agressões do que uma com abusos psicológicos".

"Há pais que se tornam violentos quando bebem. Nesses casos, a vítima pode entender que o pai bate nela quando ele se descontrola e que ele tem o problema. Por outro lado, se ele crescer ouvindo humilhação, ela a assimila como algo próprio".

2. Manipuladores

Outra característica de um pai ou mãe tóxico é a manipulação, que Canales chama de "abuso emocional".

“O eixo dessa forma de abuso tem a ver com a culpa. O adulto se faz de vítima na frente da criança para chantageá-la e conseguir o que quer”, descreve.

Saraco observa que esse recurso é mais visto em mães tóxicas.

“Acontece principalmente com filhas que moram com a mãe. A mãe não quer que formem casal para não saírem de casa, então ela começa com comentários e observações negativas sobre o casal, ou interferências que buscam separá-los", diz. "Isso faz com que a filha viva a relação com culpa."

3. Controladores

Esta é uma característica compartilhada por pais tóxicos de diferentes gerações. Mas quando antes os pais faziam restrições a seus filhos para conseguir sua submissão, hoje o fazem com a intenção de protegê-los.

“Antes, pais tóxicos se impunham, com limites muito agressivos, em vez de acompanhar a autonomia dos filhos”, diz Saraco.

Exemplos típicos são os pais que forçaram seus filhos a seguir determinadas carreiras ou seguir certas tradições familiares.

“O efeito no filho é que ele não consegue tomar decisões. Isso é muito visto em meninos que começaram a carreira, porque a desobediência aos pais lhes causava muita angústia, e depois de alguns anos eles abandonavam”, diz a psicóloga.

Hoje, a toxicidade envolve superproteger os filhos, querendo evitar qualquer sofrimento ou frustração, segundo os especialistas.

“A superproteção também é um abuso, porque a criança superprotegida aprende que não pode enfrentar a vida sozinha”, explica Canales.

"Parte do aprendizado de todo mundo é por meio do erro. E o erro gera frustração. Você tem que ensinar a tolerar a frustração, senão seu filho não vai conseguir se desenvolver na vida cotidiana", diz.

4. Negligentes

Outra característica dos pais tóxicos modernos é que "são muito permissivos e têm medo de impor limites aos filhos", o que os torna negligentes, segundo Canales, pois "negligenciam as necessidades físicas, emocionais, sociais e acadêmicas dos filhos".

Se o pai negligente de antigamente era o ausente, ou aquele que não dava atenção ao filho, hoje é quem "deixa ele comer o que quiser, faltar à escola, não fazer o dever de casa e desrespeitar os outros", exemplifica.

"Ao serem negligentes, eles dão às crianças um poder com o qual uma criança não consegue lidar de forma saudável. Os pequenos se tornam os adultos no sistema familiar", alerta.

Nesse tipo de educação, todo mundo sofre, acrescenta o psicólogo.

“A criança cresce sem conseguir se encaixar em uma escola, em uma universidade, em um mundo de trabalho, em uma sociedade em que não pode fazer o que quiser”, diz.

Os pais se sentem “aprisionados” pelas birras do filho.

E até a sociedade sofre, pois “está se formando uma geração de tiranos, que não respeitam a autoridade, não têm capacidade de se frustrar e, sendo crianças muito egocêntricas, têm pouquíssima empatia e capacidade de ceder ao problema dos outros e ver o bem comum", diz o psicólogo.

Como lidar com pais tóxicos

Se você cresceu com pais permissivos e superprotetores, o que você precisa fazer é “tomar a decisão de sair dessa superproteção”, diz Saraco. No entanto, ela esclarece que isso é algo que só pode ser feito quando se é adulto.

“Não se pode pedir a uma criança que saia do vínculo tóxico protetor”, adverte.

Nesse caso, há várias dicas práticas para lidar com pais abusivos, controladores e manipuladores.

"Primeiro, é importante que você perca a ilusão de que vai conseguir mudá-los."

"Também não tente argumentar com eles, nem entender como eles pensam, porque eles têm outra forma de ver as coisas, e você deve evitar entrar em discussões que não levam a lugar nenhum", diz. "Você tem que tentar sair desse lugar de tentar agradá-los e gostar deles o tempo todo, que é o que eles querem ou fazem a criança sentir."

"E é fundamental que você aprenda a estabelecer limites emocionais e, se necessário, até físicos", completa.

No entanto, o principal trabalho é consigo mesmo, afirmam os dois especialistas.

"Devemos tentar fortalecer nossa autoestima e segurança para não ceder às manipulações e não hesitar naqueles momentos em que as frases desses pais podem nos intimidar ou desestabilizar", diz Saraco.

Já Canales afirma que "o mais importante é desaprender o que te ensinaram a ser amor e reaprender o que é o verdadeiro amor, para estabelecer relações saudáveis".




Quando o zen budismo se encontra com a psicanálise de Magid.

Quando o zen budismo se encontra com a psicanálise de Magid.

Escrito por Marcio Sales Saraiva·


Barry Magid, psicanalista estadunidense e professor de Zen, busca em “Mente comum: um diálogo entre o zen-budismo e a psicanálise” (Rio de Janeiro: Folio Digital: Letra e Imagem, 2012) estabelecer uma “ponte” entre o que ensina no Zen-budismo de origem oriental e aquilo que a psicanálise trouxe de revolução psicossocial no mundo ocidental.


Com insights provocativos e uma escrita acessível, Magid demonstra um domínio notável sobre a psicologia do self de Kohut, mas seu livro peca por uma abordagem limitada de conceitos centrais da psicanálise clássica. Apesar disso, a obra oferece contribuições importantes para o diálogo interdisciplinar, especialmente no campo da integração da prática meditativa (zazen) ao cotidiano e à clínica.

 

Magid fundamenta seu Zen na ideia de “mente comum”, uma visão pragmática e despojada de ambições transcendentais de iluminação ou perfeição. Para ele, a prática do Zen não é um meio para atingir um estado especial, de “elite espiritual”, mas o Zen é a própria expressão contínua de quem somos verdadeiramente. Esse ponto ressoa com o ensinamento de Dogen sobre o zazen: a prática não visa um objetivo final, mas é em si mesma uma manifestação do caminho. Essa abordagem dialoga diretamente com a clínica do Real no último Lacan, em que a reconciliação com a falta e o sinthoma é uma forma de viver plenamente o que se é, sem ilusões de completude ou resolução plena.


Magid propõe uma visão integrada entre Zen e psicanálise, rejeitando divisões entre a dimensão psicológica e a dimensão espiritual, lembrando Ken Wilber e alguns textos da psicologia transpessoal. Ele critica o dualismo mente-corpo, oferecendo uma perspectiva mais próxima de sistemas interdependentes, como o conceito budista de originação codependente. Porém, sua abordagem psicanalítica revela limitações. O autor utiliza a noção de “disponibilidade emocional”, defendida por Donna Orange, em oposição à “neutralidade” clássica do analista, reduzindo a complexidade do que Freud-Lacan propuseram sobre a posição do analista. Para Magid, a “empatia” e a “presença emocional” tornam-se centrais na clínica, mas ele não reconhece o risco de “fusão simbólica” com o analisando, algo que Lacan, Bion e até Winnicott alertaram em suas obras.


Sua crítica a Bion — especialmente à ideia de “sem desejo, sem memória” ou ao conceito de “O” — carece de profundidade. Suspeita-se que ele nem tenha lido os textos em profundidade, pois Magid interpreta mal a postura bioniana, como se esta fosse uma forma de idealismo abstrato, ignorando que o “não saber” em Bion é uma ferramenta clínica e epistemológica importante. Da mesma forma, sua leitura de Freud parece ser uma apropriação de segunda mão, mediada por interpretações da psicologia do self, o que enfraquece seu potencial de diálogo com a psicanálise clássica.


Os pontos mais fortes do livro estão na exploração das sobreposições entre o Zen e algumas concepções da psicanálise do self e interrelacional. Magid argumenta que tanto o Zen quanto a psicanálise desafiam nossas fantasias de ganho e perfectibilidade. A prática meditativa, assim como a análise, envolve uma aceitação radical da vida como ela é, com suas lacunas, contingências e potencialidades. Esse aspecto é profundamente psicanalítico: reconhecer o furo na estrutura subjetiva e encontrar um modo ético de viver com ele. E sua ênfase, “a mente comum é o caminho”, reflete a simplicidade do Zen como prática de aceitação do cotidiano e ressoa com o esforço psicanalítico de possibilitar ao sujeito o encontro com o bem-dizer, ou seja, uma ética de reconciliação com sua singularidade.


“Mente comum” oferece uma visão instigante da interface entre Zen e psicanálise, mas sua contribuição é limitada pelo desconhecimento de autores fundamentais da psicanálise contemporânea que parecem ausentes no cenário estadunidense de Magid. A rejeição implícita de Lacan e a crítica superficial a Bion e Freud empobrecem o diálogo proposto por ele na capa do livro.


Por fim, o livro reflete mais um esforço de fertilização cruzada entre Zen e psicologia do self do que um diálogo robusto com a psicanálise. Ainda assim, “Mente comum” merece atenção por sua sensibilidade à prática cotidiana e por questionar concepções reducionistas sobre sofrimento e transformação pessoal. É uma leitura que desafia tanto psicanalistas quanto praticantes de Zen — e também de outros saberes espiritualistas — a repensarem suas práticas à luz de uma aceitação mais radical da condição humana, trágica e belíssima.


Em apertada síntese, “Mente comum” é um convite ao encontro entre duas tradições e, apesar de suas lacunas teóricas, Barry Magid oferece reflexões valiosas sobre o abandono de fantasias idealizadas de cura ou iluminação, propondo uma prática centrada na vida tal como ela é. Para aqueles interessados na interseção entre espiritualidade e psicanálise, o livro é instigante, mas requer uma leitura crítica e complementar para preencher os pontos cegos deixados pelo autor.



Barry Magid, MD, é psiquiatra, psicanalista e professor Zen que atua e ensina na cidade de Nova York.


Marcio Sales SaraivaPesquisador, professor, escritor e Doutor em Psicossociologia pela UFRJ com formação em Magistério, História, Sociologia e Filosofia. 



Segue o vídeo do quadro #FalandonIsso
do Professor Psicanalista Christian Dunker
que propõe uma conversa sobre
o tema Psicanálise e o Zen 



Em contraparte um vídeo do 
Professor no Zen Genshô Sensei
que responde se existe alguma semelhança
entre a psicanálise e o budismo.

BRASIL, A NAÇÃO ANSIOSA!

Texto de Carol Castro



A psiquiatra Márcia Morikawa recebeu em seu consultório, na cidade de São Paulo, um paciente de 11 anos com fobia de elevador, um tipo específico de transtorno de ansiedade. Quando ela conferiu o tempo de uso das redes sociais no celular do pré-adolescente, um choque: o garoto passava seis horas por dia só no TikTok. “Se ele fica cinco horas na escola, dorme outras oito e passa mais seis horas no aplicativo, não sobra tempo para mais nada”, relata a psiquiatra.

O caso exemplifica um hábito bem brasileiro. Segundo a pesquisa Digital 2024: Global Overview Report, somos o terceiro país que mais usa as redes sociais no mundo, com uma média diária de 3 horas e 37 minutos. E o tempo em frente às telas se traduz em dados alarmantes de ansiedade, frente ao Brasil no topo do ranking dos países com o maior índice do transtorno. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase 19 milhões de brasileiros sofrem com transtornos de ansiedade, o que equivale a 9,3% da população.

O dado mais recente, no entanto, mostra algo inédito — e preocupante: pela primeira vez, os casos de ansiedade entre crianças e adolescentes superam os de adultos. O jornal Folha de S.Paulo fez um levantamento com base nos números de atendimentos realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2013 e 2023. Enquanto 112,5 a cada 100 mil adultos que apresentavam sintomas de ansiedade foram atendidos, esse número era de 125,8 a cada 100 mil na parcela de crianças de 10 a 14 anos. Entre adolescentes de 15 a 18 anos, a situação era ainda mais grave: 157 a cada 100 mil. A quadro presente nos mais jovens piorou, segundo a pesquisa, a partir dos anos 2000, justamente com a popularização dos smartphones e das redes sociais.

Outra pesquisa, desta vez do Instituto Cactus em parceria com a AtlasIntel, mostra que apesar do desconforto, há pouca assistência. Neste levantamento, 68% dos brasileiros relatam sentimento de nervosismo, ansiedade e tensão, mas 55,8% nunca procurou um profissional da saúde para lidar com questões relacionadas a transtornos de ansiedade. Ao todo, 26% dos brasileiros relatam que foram diagnosticados com transtorno de ansiedade e a busca por ajuda tem o fator gênero como diferencial: 65,4% dos homens alegam não terem procurado um profissional para lidar com questões relacionadas à ansiedade.

Desconectem-se -  O tema, no entanto, não é exclusividade nacional. Nesse movimento de alerta sobre as consequências do uso desenfreado de celulares, o psicólogo Jonathan Haidt, professor na New York University, defende que os aparelhos sejam banidos da infância. Ele é autor do livro A geração ansiosa: como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais, best-seller nos Estados Unidos com data de publicação no Brasil em julho deste ano, pela Cia. das Letras.


Segundo Haidt, a tecnologia afasta as crianças da vida real. Assim, ele sugere quatro soluções: acesso ao smartphone apenas quando ingressarem no ensino médio; nada de celulares na escola; proibição de redes sociais para menores de 16 anos; e mais independência, responsabilidade e brincadeiras às crianças. “Normalmente, as questões científicas foram enquadradas de forma um tanto restrita para torná-las mais fáceis de abordar com dados. Por exemplo, os adolescentes que consomem mais mídias sociais têm níveis maiores de depressão? Usar smartphone antes de dormir interfere no sono?”, escreveu Haidt em artigo para a revista The Atlantic. “As respostas a essas questões, geralmente, são ‘sim’, embora o tamanho dessa relação seja estatisticamente pequena. Isso levou alguns pesquisadores a concluir que as novas tecnologias não são responsáveis pelo gigante aumento de doenças mentais que começou no início dos anos 2010”, alerta. De acordo com o professor, a infância baseada no celular, que tomou forma há 12 anos, está deixando os jovens doentes e bloqueando o progresso para que floresçam na vida adulta. A reivindicação do psicólogo é precisa: “Precisamos de uma dramática correção cultural, e precisamos disso agora”.

Haidt já influenciou algumas milhares de pessoas mundo afora. Nos Estados Unidos, o movimento Wait Until 8th (“Espere até o Oitavo Ano”, em tradução livre) já reuniu mais de 50 mil famílias. Na Inglaterra, outras 60 mil famílias se engajaram no Smartphone Free Childhood (ou “Infância sem Smparthone”). No Brasil, pais e mães criaram o grupo Desconecta, que propõe um pacto: presentear os filhos com celulares somente depois dos 14 anos e liberar o acesso às redes sociais a partir dos 16. O movimento nasceu em abril, quando algumas pessoas não conseguiam afastar os rebentos do uso excessivo do aparelho. Para isso, era preciso que outras crianças também estivessem na mesma situação. Daí nasceu a proposta de ações coletivas para a conscientização de pais e filhos.

“Quando as crianças estão com o celular, elas deixam de interagir socialmente, deixam de brincar e de ampliar as regulações emocionais que têm nas vivências reais. O aparelho transforma essas vivências em artificiais”, explica a psicóloga Desiree Cordeiro, que faz parte do grupo de mães do Desconecta. “Não se trata de alienar as crianças da tecnologia, que existe e faz parte da nossa vida. É ensiná-las a lidar com essas ferramentas de forma saudável. Se adotarmos o ‘Eu não tenho, e você tem’, a criança será excluída. Então, é preciso que todos tenham o acesso restrito.”

Enquanto grupos da sociedade civil se articulam, alguns governos também se posicionam na discussão. No início do ano, o Estado da Flórida, nos Estados Unidos, proibiu o uso de redes sociais para menores de 14 anos. Na cidade do Rio de Janeiro, alunos da rede municipal de ensino não podem mais usar o celular nem mesmo durante o recreio. Em São Paulo, a Assembleia Legislativa já discute se vai banir ou não a entrada dos dispositivos nas escolas privadas e públicas do Estado.

O que diz a ciência - Importante lembrar que é sempre necessário contextualizar realidades antes de compará-las. O uso excessivo de mídias sociais não é a única causa para o alto índice de ansiedade em terras nacionais. Insegurança quanto ao futuro, desigualdade social e crise climática também prejudicam a saúde mental dos brasileiros. “Além dessas questões, ainda temos uma cultura de gastos irreal frente aos salários, bem como uma educação financeira ruim e um desejo de consumo — por exemplo, de um iPhone de última geração — mesmo sem ganhar o suficiente para isso”, pondera a psiquiatra Márcia.

No entanto, uma série de estudos aponta que internet descomedida entra como um ingrediente extra e poderoso na receita que nutre uma população ansiosa, ainda que não haja uma relação causal direta entre os fatores. O estudo “Upward social comparisons and posting under the influence: Investigating social media behaviors of U.S. adults with Generalized Anxiety Disorder” (“Comparações sociais e postagens: investigando comportamentos de mídia social de adultos dos EUA com transtorno de ansiedade generalizada”, em tradução livre), de um grupo de pesquisados das universidades de Nevada, Texas e Louisiana, ao avaliar o consumo das redes por pessoas com transtorno generalizado de ansiedade, concluiu que a maior parte era viciada em mídias sociais. E como consequência da “cultura do like”, comparavam as próprias vidas com a de terceiros muito mais do que o restante dos participantes do estudo. Quem sofria de ansiedade também tendia a se chatear mais quando perdia algum seguidor.

Uma revisão de estudos já publicados feita por pesquisadores da Universidade King’s College, de Londres, concluiu que existe uma correlação entre o uso de redes sociais por adolescentes e casos de estresse, depressão e ansiedade. Contudo, também alertaram que ainda há “fatores pouco explorados que possam explicar essa relação”. Como em todo vício, o sistema de recompensa do cérebro é ativado durante uma interação bem-sucedida ou um post cheio de curtidas. Quando a expectativa não se concretiza, vem a ansiedade — e a busca por novos likes. “As consequências são ainda piores para os jovens, que ainda têm um cérebro em desenvolvimento. São mais impulsivos, ainda aprendendo a se regularem emocionalmente, e mais intolerantes à frustração”, explica Márcia. “Quanto maior o consumo de redes sociais, maior a liberação de dopamina. E isso faz com que eles queiram consumir cada vez mais esse conteúdo, principalmente vídeos curtos, reels e shorts do YouTube, porque a sensação de recompensa imediata é maior.”

Além da saúde mental, diante do aumento dos casos de ansiedade e depressão entre os jovens, a psiquiatra alerta para a redução na capacidade de atenção entre crianças e adolescentes. Ela cita uma pesquisa que, em 2015, já apontava que, desde 2000, essa capacidade havia caído de 12 para 8 segundos. “Hoje, provavelmente, isso está ainda mais reduzido”, reforça Márcia.

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