Ignorância e a xícara cheia

De acordo com o Satyasiddhi Sastra de Harivarman, Capítulo 127: A respeito da Ignorância, sofremos de dois tipos de ignorância.



O primeiro é a simples falta de informação e é o mais fácil dos dois de ser solucionado.

Mas o segundo é terrível e é causa de muito sofrimento. É o “falso saber”, em que a pessoa acredita que sabe algo, acredita que o seu saber está correto, mas na realidade está errado e a referida pessoa está cultivando uma delusão.

Durante séculos acreditava-se que a Terra era plana. Afinal, parecia óbvio! Qualquer um podia ver! Os primeiros navegadores morriam de medo de cair num abismo na hora de chegar ao limite do oceano deste mundo plano. Falso saber.

Quando chegamos à prática budista, frequentemente estamos cheios de ideias preconcebidas. Isto é especialmente verdadeiro se temos uma tendência intelectual e obtemos grande prazer de leituras e pesquisas. Frequentemente, como alunos, estes tipos são os piores e os mais difíceis de treinar. Lembramos que Ananda, extremamente inteligente, com memória perfeita, não conseguiu alcançar a iluminação enquanto o Buda ainda estava vivo, apesar de sua proximidade do grande mestre e sua total dedicação! Cheio de “falso saber”, nem o próprio Buda conseguiu ensiná-lo. Durante muito tempo, Ananda ficou mais ou menos como um papagaio, capaz de repetir palavra por palavra todos os ensinamentos do Buda, mas incapaz de compreendê-los ou, mais importante, realizá-los.

Temos também uma história sobre um mestre zen que recebeu a visita de um professor universitário, que falava e falava – e falava – de seus conhecimentos. Ao servir-lhe chá, o mestre encheu sua xícara até transbordar e ainda continuava adicionando mais chá até que o professor, estranhando esta atitude, o questionou. Nesta hora, o mestre explicou que o professor estava sendo como a xícara cheia onde não cabia mais nada para ser acrescentado. Se quisesse aprender mais alguma coisa, teria que “esvaziar sua xícara”. Teria que aprender a deixar as suas próprias ideias de lado e verdadeiramente ouvir as palavras do mestre.

Mas, como podemos “esvaziar a nossa xícara” sem cair no erro de aceitarmos qualquer coisa, até comportamentos antiéticos por parte de um professor ou líder? Como podemos “esvaziar a nossa xícara” sem abrir mão de nossa própria dignidade?

Ouvir – Refletir – Realizar. Podemos deixar as nossas opiniões de lado (o que é diferente de simplesmente abrir mão delas) para ouvir e refletir? Podemos fazer um pouco do papel de “advogado do diabo” conosco mesmos, procurando o fundamento naquilo que ouvimos, dando menos importância às nossas crenças durante este período de investigação? Ao pensar “o meu professor não me entende” será que podemos refletir sobre a possibilidade dele estar nos entendendo até mais que nós mesmos, enxergando alguma coisa que da nossa posição não é possível, devido ao ponto cego em que nos encontramos?

Será que podemos abrir mão de nossa arrogância para procurarmos dialogar (de preferência em dokusan, a entrevista formal zen) com este professor, em lugar de simplesmente resolver que ele não serve para nós?


    
O Tattvasiddhi-strāstraA respeito da Ignorância  é um texto budista indiano do Abidarma (Abhidhamma Pitaka ~ o terceito conjunto de escritos do cânone do Budismo Theravada datam aproximadamente de 400 AC). Nele existiam descrições de Diálogos filosóficos entre professores Budistas e seus alunos.

A Enfermagem esta doente... *Não normalize a ansiedade*

O CONSELHO FEDERAL DE ENFERMAGEM em 04/11/2021 publicou sua preocupação com uma das consequências mais devastadoras da pandemia: *a síndrome de Burnout em profissionais de saúde*.



Por eles trabalharem na linha de frente, estão extremamente expostos ao vírus e são submetidos a jornadas de trabalho sem fim e a um grau de atenção e tensão extremos.



Tanto se identificou o aumento radical da questão que a síndrome – que é ligada ao estresse por excesso de trabalho – *vai ser incluída* a partir do ano que vem na “Classificação Internacional de Doenças” (a CID da OMS - que passará a se chamar *“CID 11”*).



Ligado exclusivamente ao trabalho, o Burnout é um fenômeno ocupacional, uma síndrome crônica que acomete trabalhadores de diversas áreas. Mas a pandemia afeta particularmente diferente aos profissionais de saúde. É muito mais intensa, “normalizada” e velada. Entrando diretamente no que os autores Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema, pensavam quando cunharam o conceito de *patologia da normalidade*, ou *Normose* “os conjuntos de hábitos ou rotinas *considerados “normais”* pelo consenso social mas que, na realidade, são patogênicos e nos levam à doença e à perda de sentido na vida”.



A Síndrome de Burnout na Enfermagem foi NORMALIZADA pois é normal estar cansado. É normal estar sempre correndo, é normal sofrer indisposições, é normal os conflitos e irritabilidades… é normal a apatia diante de tudo, visto que se esta na Enfermagem! E tudo isso é assim mesmo.


Então, compare aos *sintomas mais frequentes* da Síndrome de Burnout SEGUNDO O COFEN (2021):


  • Cansaço extremo


  • Indisposição


  • Desconcentração


  • Irritabilidade


  • Perda de vontade de fazer atividades básicas


Não que seja um evento localizado ou pontual. Pesquisa realizada pelo Internet Stress Management Association em 2019 aponta que antes da pandemia o Brasil aparecia na segunda colocação mundial, atrás apenas do Japão. Na época, 32% dos trabalhadores brasileiros (trabalhadores com acesso a internet) sofriam com a síndrome.


Muitos pedidos de demissão da área da saúde nesse período ocorreram por conta de problemas emocionais agravados pelo Burnout, que abre portas para a depressão, que pode agravar outras condições (conforme relata Dorisdaria Humerez - coordenadora da Comissão Nacional de Enfermagem e Saúde Mental do Cofen). O assunto é tão premente que o COFEN, para tentar dar apoio aos profissionais da Enfermagem e combater o esgotamento emocional, criou o programa Enfermagem Solidária durante a pandemia.


A pandemia de Covid-19 tem se mostrado um evento traumático, levando aumento exponencial de sentimento de medo e estresse e os brasileiros têm sofrido drasticamente o período de quarentena e lockdown, em especial pela privação de atividades de lazer fora do ambiente doméstico e dos convívios salutares com as famílias e amigos.


Mas na Enfermagem os problemas já estavam instalados ANTES da pandemia. E a necessidade de manter a atenção e o atendimento digno aos seus pacientes fazem com que os profissionais deixem para segundo plano o que lhes é mais caro ao final: sua própria saúde.


Segundo Roberto Crema, um dos fundamentos da Normose é que esta *”anomalia”* surge quando o sistema no qual se vive encontra-se, dominantemente desequilibrado, quando o que predomina são as contradições ou sintomas como a “*falta de escuta*”, falta de respeito pela dor do outro, falta de auto-cuidado e de espirito/percepção de fraternidade, como uma gradação sutil até uma violência alarmante e crescente contra o indivíduo, a sociedade e a natureza.


Neste contexto, uma pessoa percebida como normal, ou melhor, normótica, é a mais bem *ajustada ao sistema mórbido*, assim contribuindo para a manutenção do mesmo. Segundo a Organização Mundial de Saúde em 1946, apontava que a saúde não é ausência de sintomas, mas a presença de um processo completo de bem-estar nos planos somático, psíquico e social um sistema se encontra num estado patológico em larga medida toda a pessoa realmente em boa saúde mental é aquela capaz de manifestar um estado de “desajustamento consciente”, de uma “indignação justa”, de um “desespero sóbrio”. (Crema R., Três fundamentos da normose, In: Weil P.; Leloup J-Y; Crema R., Normose, a).


A ferramenta mais fácil de percebermos como uma comunidade ou até uma sociedade pode ter eventos Normóticos basta olhar para o passado e observar condutas e conceitos que eram tidos como "Normais" e hoje são percebidos como absurdos. Por exemplo: Enquanto a escravidão foi considerada "Normal" na sociedades não se pensava no absurdo e no horror que ser escravo significava. Mas mais que isso, se buscava racionalizar motivos para a imoralidade e o absurdo da escravidão. Mais que isso, o médico da "Louisiania Medical Association, nos EUA cunhou o termo "Drapetomania" para diagnóstico médico que visava explicar a tendência do escravo de querer escapar da escravidão. Ou outro exemplo na mesma direção era do diagnóstico psiquiátrico de "Disestesia Etiópica", outro diagnóstico que "explicava" como a falta de motivação para o trabalho entre os negros escravizados e a incapacidade de entender o sentido racional de propriedade do "Senhor de escravos" sobre seu escravos. Ou seja: o "normal" é o escravo obidiente. O escravo que quer ser livre é "Doente", é louco!

Mas o mais grave é que a nossa capacidade de se chocar esta diretamente associada a normalização no grupo! Não percebemos quando algo é errado, muitas vezes insalubre, até um nº significativos de pessoas TAMBÉM perceberem e se manifestarem. Isso talvez se deva a algum imperativo social evolutivo, mas o fato é que quando os demais do meu grupo concordam com a "aceitabilidade" de um evento, mesmo que ele não seja racional ou razoável, é aceito como se fosse. É tratado até com inevitável.
Um exemplo comum de “Normose”, hoje em dia pode ser percebido em uma unidade de trabalho onde “recorrentemente” é necessário afastar um profissional para cobrir faltas nas escalas de outras unidades… Um evento plausivelmente comum, percebido em vários serviços de saúde. Ocorre uma vez, por um acidente… uma outra vez por outro acaso… Logo, porém, se “monta uma escala” para não deixar “injusto” o modo de escolha de quem se ausenta. E, assim, todo o mês alguém sai. Logo toda semana alguém sai. E de repente ninguém lembra que o número de funcionários deveria ser outro. Neste aspecto se pressiona os funcionários, paulatinamente “a entenderem como normal” trabalhar sobrecarregado e ainda lhe deixa a sensação de desconforto diante da percepção pessoal/individual de que a situação correta NÃO DEVERIA ser assim. Não poderia ser aceita. DEVERIA existir uma preocupação em manter um RH pensado para que todas as unidades possuírem o número adequado de profissionais. Que deveria ser racional se PENSAR na possibilidade das ausências recorrentes serem FALHA no planejamento do RH! Mas o que ocorre é que, no fundo é esperado QUE OS FUNCIONÁRIOS ACEITEM QUE O NORMAL É ASSIM. Na verdade, essa conduta gerencial é um “sintoma” de uma administração de RH que considera esse um método mais econômico e válido para manter o atendimento. Normal.


Portanto: *Não normalize a ansiedade*. 'Nosso estado normal é aquele a partir do qual o corpo, a mente e a energia funcionam em equilíbrio'. Ao achar que ambientes de trabalho com contínuos “pequenos” desconfortos e sucessivos “conflitos pontuais” são normais, tudo começa a ficar preocupante. Quando normalizamos o errado, o absurdo torna-se praticável.


Não se pode ser feliz diante do sofrimento dos outros. É certo. Mas para poder se trabalhar nestes ambientes é preciso se estar hígido e em equilíbrio… Ou teremos mais um doente precisando de cuidados.



Islan Conceição. Acadêmico de Psicologia.








Fontes:


A síndrome de Burnout em profissionais de saúde - Revisão integrativa, objetivando identificar no universo profissional dos enfermeiros a (in)existência de relação entre a síndrome de Burnout e a ausência de qualidade de vida no trabalho.:  http://revista.cofen.gov.br/index.php/enfermagem/article/view/264
 

 
Normose: A patologia da normalidade, livro de autoria de Jean-Yves Leloup, Pierre Weil e Roberto Crema, publicado em 2003, define que normose é “um conjunto de hábitos considerados normais pelo consenso social que, na realidade, são patogênicos e nos levam à infelicidade, à doença e à perda de sentido na vida”.: https://www.google.com.br/books/edition/Normose/8lovDwAAQBAJ?hl=pt-BR&gbpv=1&printsec=frontcover


OMS incluiu o Burnout na nova Classificação Internacional de Doenças (CID-11). A Síndrome de Burnout foi oficializada recentemente pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma síndrome crônica, enquanto um “fenômeno ligado ao trabalho”. Deve entrar em vigor em 1º de janeiro de 2022. https://pebmed.com.br/sindrome-de-burnout-entra-na-lista-de-doencas-da-oms/#:~:text=Enquanto%20um%20%E2%80%9Cfen%C3%B4meno%20ligado%20ao,n%C3%A3o%20foi%20gerenciado%20com%20sucesso.

Programa Enfermagem Solidária - Atendimento visa chat será suspenso, e comissão estuda novos formatos de atenção à Saúde Mental. Depois de mais de 7 mil atendimentos aos profissionais da linha de frente da covid-19, com o objetivo de amenizar o sofrimento emocional dos profissionais de Enfermagem que atuaram na linha de frente da covid–19, o Programa Enfermagem Solidária, do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), obteve êxito ao longo de 1 ano e oito meses de pandemia. O atendimento, via chat, que atendia cerca de 130 profissionais por dia,  por 24 horas, se despede nesta quinta (18/11), do formato original para seguir novo formato, ainda em estudo.: http://www.cofen.gov.br/programa-enfermagem-solidaria-estuda-novo-formato_93582.html#:~:text=Com%20o%20objetivo%20de%20amenizar,e%20oito%20meses%20de%20pandemia.

 

 

Quando os Nazistas SEQUESTRARAM Espinoza!

Olha que curioso: Em maio de 1933 iniciou-se o Bücherverbrennung. Termo alemão que significa queima de livros. Ação propagandística dos nazistas, organizada poucos meses depois da chegada ao poder de Adolf Hitler.

Em várias cidades alemãs, foram organizadas, apartir desta data, queimas de livros em praças públicas, com a presença da polícia, bombeiros e outras autoridades.

Tudo o que fosse crítico ou desviasse dos padrões impostos pelo regime nazista foi destruído. Centenas de milhares de livros foram queimados no auge de uma campanha iniciada pelas "fraternidades estudantis".

A organização deste evento coube às associações de estudantes alemãs Liga dos Estudantes Alemães Nacional-Socialistas (NSDStB) e Comitê Geral dos Estudantes (AStA), que, com grande zelo, competiram entre si, tentando, cada uma, provar que era melhor do que a outra. Sim... estudantes, inspirados nos Destacamento Tempestade (SA) e da Tropa de Proteção (SS), participaram nestas queimas. Foram queimados cerca de 20 000 livros, a maioria dos quais pertencentes às bibliotecas públicas, de autores oficialmente tidos como "não alemães".

Em *1942*, uma força-tarefa *confiscou toda a obra Escrita de Spinoza* no Território Alemão!

A ordem partiu de *Alfred Ernst Rosenberg*, conselheiro pessoal e filosófico de Adolf Hitler, político, escritor alemão e o *principal teórico do Nazismo* que foi sintetizado na obra *O Mito do Século XX* (Der Mythus des zwanzigsten Jahrhunderts, 1930). Chegou a ser ministro encarregado dos territórios da Europa Oriental, em 1941, onde deportou e exterminou centenas de milhares de pessoas, principalmente judeus...

Que interesse um oficial nazista teria pelos livros de um pensador judeu? *Mas principalmente: Por que o governo hitlerista não os queimou*, como fez com tantas outras obras em vários lugares da Europa?

Não era estranho ele recolher os trabalhos do Filósofo … *Baruch de Spinoza*, ele foi um filósofo holandês de origem *sefardita* portuguesa, nascido de uma família que havia fugido da inquisição lusitana. Os Sefarditas são os judeus originários de Portugal e Espanha que já viviam lá nos tempos dos mouros...

Por ordem de Rosenberg os Nazistas recolheram os livros originais e cópias de tudo publicado por Spinoza e *GUARDARAM*!


Parece que quando o jovem, aos 16 anos, Rosenberg, já fazia comentários antissemitas, e teria sido “castigado” por seus professores sendo “obrigado a estudar” passagens e autores Alemães e Austríacos inspirados ou elogiando pensadores Judeus… Obrigado a ler Schelling e Hegel, entre outros, elevando seus elogios a autores não germânicos… e nisso Rosenberg fica espantado ao *descobrir que Goethe, seu ídolo, era um grande admirador do filósofo Spinoza. Um judeu.*

Paradoxalmente à medida que crescia Rosenberg se tornou ainda mais racista… mas não deixava de admirar a filosofia de Spinoza.

Com o passar dos anos, Rosenberg torna-se um ideólogo nazista, fiel servidor de Hitler, e principal responsável pela política racista do Terceiro Reich. Todavia, a sua obsessão por Espinosa continuava a afetá-lo: como poderia o gênio Goethe inspirar-se num membro de uma raça inferior, uma raça que ele estava determinado destruir?


Minha sugestão: LER SPINOZA!


Outra sugestão? O livro: O ENIGMA DE ESPINOSA, do escritor e psiquiatra Irvin D. Yalom.

Assim como aconteceu com Nietzsche e Schopenhauer, o escritor e psiquiatra Irvin D. Yalom viu o personagem perfeito em Baruch Espinosa, filósofo judeu do século XVII responsável por obras que revolucionaram o pensamento ocidental – e o fizeram ser excomungado da comunidade judaica. No entanto, pouco se sabe sobre Espinosa. Como, então, falar sobre alguém com uma vida tão secreta? Depois de muito procurar, uma informação chamou a atenção do autor a operação de 1942  da força-tarefa de Alfred Rosenberg!!!



A reputação histórica das pessoas precisa funcionar numa hora como esta. Eu acredito em Ciro.

A reputação histórica das pessoas precisa funcionar numa hora como esta.


Eu acredito em Ciro.



Enquanto há muita gente visitando o Congresso, tendo sido condenada com provas; enquanto dezenas de empresários, que funcionaram como agentes de corrupção ativa e, muitos deles, assumiram a culpa, devolveram dinheiro e agora estão em casa jogando tênis com lista de amigos autorizada pela Justiça e bebendo uísque escocês; enquanto somos lenientes com delinquentes reais e confessos e há toda sorte de tolerância para infrações, delitos, orçamentos secretos, crimes contra a Saúde pública, aparece uma ação, inexplicável. Não li uma linha da investigação, mas tenho a certeza de que há algum engano grave ou alguma associação imprópria a denunciar culpa de Ciro Gomes.


Ciro Gomes pode ser acusado de presunção, soberba, por conta disso, de simplificar a resolução das coisas como se dependessem de três tapas na mesa, gesto ao qual ele já aludiu, pode ser acusado de se enfiar na pele de um salvador da pátria com substância de conteúdo e intelectual, de ser gabola, todavia, nunca, de ser desonesto.


A desonestidade é um traço de caráter, e como dor de barriga, não acontece uma vez só.


Ciro nunca cometeu um ato desonesto em sua longa e profícua vida pública. Não faria no caso do Castelão, onde não está vinculado de forma alguma. Duvido que se prove alguma coisa e a reputação de Ciro precisa ser respeitada.


Alguém pode não gostar de Ciro pelas respectivas ideias, pelo jeito já mencionado acima, contudo por falta de honestidade não. Isso é demais.


Espero que Ciro reaja com o vigor que muitas vezes utilizou acima do ponto, nas considerações que faz de seus adversários e inclusive aprenda a não acusar, sem ter provas, só por suspeição. Esse vexaminoso episódio, que não deveria ter acontecido, servirá ao menos para ele aprender a moderar sua verve exacerbada quando ataca os outros com palavras chulas.


Ciro é o candidato que tem a melhor proposta para o Brasil em termos de articulação entre as partes componentes e a vinculação que os projetos possuem com a ideia de fundo.


Pena que a defenda de forma muito pretensiosa. E que até agora não reverberou. Pode-se não gostar, mas ela tem a consistência que as outras, nem de perto, possuem. Ele precisa ser respeitado.


O ato da PF necessita ser esclarecido.


Tenho a certeza de que Ciro não tem a menor participação, nem mácula. O Brasil precisa parar de ser leniente com bandidos confessos, e considerar a honra de pessoas honestas. Sem colocá-las em denúncias por aparências primárias.


Ciro é honesto. Bem -intencionado e competente, carece só de humildade.


É um valor extremamente positivo da nossa política atual.


  

José Luiz Portella

Colunista do UOL

15/12/2021 ~ 11h57https://noticias.uol.com.br/colunas/jose-luiz-portella/2021/12/15/ciro-e-honesto-bem-intencionado-e-competente.htm?cmpid=copiaecola


Seu esforço para "furar bolhas" pode dar MUITO errado. Porque não basta FATOS para mudar "convicções"!

Colocar-se no lugar dos outros e ter empatia é o conselho que nós sempre escutamos quando querem que nós mudemos de opinião. Mas, segundo um estudo publicado na Psychological Science, a ideia não funciona tão bem na prática. E pior: pode produzir o efeito contrário e gerar uma barreira, impedindo que a pessoa mude de opinião.


Chamado de efeito backfire (tiro pela culatra, em tradução livre), este mecanismo psicológico faz com que as pessoas ignorem os fatos que elas não concordam e defendam ainda mais as suas crenças ao serem contrariadas. Os indivíduos que tentam pensar como a oposição geram argumentos que não combinam com seus próprios valores, o que diminui a receptividade e a própria mudança de atitude.

Segundo o psicólogo Diogo Seco, isso acontece por causa da incapacidade das pessoas de abandonar os seus valores para realmente se colocar no lugar do outro. Então, explica Seco, ao tentar pensar como a outra pessoa, você carrega todas as suas crenças e aumenta ainda mais a barreira para entender o outro.


Seco, que fez seus trabalhos de Mestrado e Doutorado relacionados à ciência do comportamento, afirma que este mecanismo psicológico de rejeitar informações é ativado mesmo quando são mostrados dados científicos que comprovam algo em que a pessoa não acredita. “As pessoas tendem a acreditar nos dados que confirmam o que elas já pensam. Mesmo um conjunto de evidências é avaliado de um jeito diferente”, explica Seco. “Nós avaliamos o mundo de acordo com o que nós acreditamos. Quando nós não acreditamos, os dados se tornam questionáveis. Mas se os dados sustentam a nossa tese nós aceitamos rapidamente.”



Outro fenômeno do comportamento explicado por Seco é o caso da polarização dos grupos, em que as pessoas tendem a se tornar ainda mais extremas em sua opinião quando se reúnem com pessoas com ideias semelhantes.


Neste caso, pessoas moderadas abordam determinados assuntos e, depois de dividirem opiniões, elas se tornam mais convictas de suas ideias, tornando-se radicais.


Mas ainda assim, segundo Seco, é possível tomar decisões que levem mais em consideração o lado do outro. Primeiro, é fundamental tirar um tempo para refletir bem sobre a questão e tentar compreender o assunto sobre diferentes pontos de vista. Além disso, o estudo afirma que é mais fácil entender a outra pessoa quando a diferença de opinião é em apenas um determinado tema e os valores pessoais são parecidos no geral.


No entanto, como lembra Seco, o estudo foi feito nos Estados Unidos, e não reflete totalmente a sociedade brasileira. É preciso fazer mais estudos para aplicar o caso ao nosso país. 


*Com edição de Thiago Tanji



 Bença 


Me dá, vovô, vovô (E vai, e vai)
Me dê, vovô, mamãe (E vai, e vai)
Vó, como cê conseguiu criar três mulheres sozinha
Na época que mulher não valia nada?
Menina na cidade grande, no susto viúva
E daquela cor que só serve pra ser abusada
Você não costurou só roupa, né?
Teve que costurar um mundo de trauma, abdicação, luta
Pra hoje falar com orgulho
Que essa família não tem vagabundo
Aprendi no seu colo
Tenha medo de quem tá vivo e respeito por quem tá morto
Ouvindo desde novo, 'cê já é preto
Não sai desse jeito, se não eles te olha torto
Fico pensando, uma cama pra quatro
Ditadura na rua e o frio que trinca o corpo
Onde mães fortes e generosas se criaram
O que é dos outro não é meu
Mas o que é meu tá aí pros outro
Se precisar
Na macumba ela é foda
Dinheiro é pra quem precisa, aqui é só por caridade
Pensando tudo que cê passou nessa vida
E no fundo do seus olhos não consigo ver maldade
Vejo gente criando problemas
Pra competir quem sofre mais, porra, são covardes
Olhe pras sua nega véia e entenda
Que num é em blog de hippie boy
Que se aprende sobre ancestralidade
Vai e vai
Ganha esse mundo sem olhar pra trás e vai
Só não esquece de voltar pra...
Vai e vai
Anda esse mundo sem olhar pra trás e vai
Só não esquece de voltar
É triste ver que os moleque da minha quebrada
Não teve a mesma sorte que eu
Um pai presente
No país onde o homem que aborta mais
Vai entender, né?
Sua velha não te quer na rua por que ela pressente
Não tive Max Steel, meu herói era ele
Meu jogador de futebol preferido era ele
E tudo que hoje faço pro meu filho
É pra que Jorge olhe pra mim como eu olho pra ele
Meu herói ainda é ele
Trampando desde os sete, man, ás sete e meia
Tanto corre que faz sua rotina parecer piada
Rei de Wakanda, eu, príncipe Pantera Negra
Construímos um império sem precisar de grana ou arma
Irmão, você lembra de onde 'cê vem?
E quando você chegar lá
O que 'cê tem vai voltar pra de onde 'cê vem?
Ou 'cê nem sabe pra onde vai?
E esqueceu que lei das coisa, é clara
Tudo que sobe uma hora cai
Esse disco é sobre resgate
Pra que não haja mais resquício
Na sua mente que te faça esquecer
Que você é dono do agora
Mas o antes é mais importante que isso
Cara, seu trap é foda, só força
Rima no acústico eu respeito, só força
Se faz arte 'cê já é livre, só força
Mas nunca esqueça onde reside sua força
Então volte pras origem, é o colo de quem 'cê ama
Será que entende do que eu tô falando?
Dessas coisa que deixa acesa a chama
E ela me disse assim
Que proteja toda a equipe, todos os fãs
Dê muita saúde, muita força, muita sabedoria
Pra todos, Iansã, Eparrei Iansã, tome conta desses filhos
Que são todos filhos de Jesus
Gemendo, chorando teve uma cruz
Que é o Pai, é o Filho e o Espírito Santo
Que Deus dê saúde a Gustavo
Pra poder continuar nesse lindo serviço maravilhoso
Que tá prestando pra todos nós
Em nome de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo
Que Deus ilumine o caminho de todos
Fonte: Musixmatch
Compositores: Djonga / Paulo Alexandre De Almeida Santos

Brasil vive acelerada desindustrialização

A pandemia acelerou ainda mais esse processo, enquanto o Governo federal privilegia o setor agrícola para exportação de alimento, minério e energia. De 2013 a 2019, o país perdeu 28.700 indústrias e 1,4 milhão de postos de trabalho no setor.


“Sou o terceirizado, do terceirizado, do terceirizado do Mercado Livre”. É assim que Diego Machado Ferreira, de 34 anos, explica sua situação trabalhista. Demitido da Ford em 2019, o ex-metalúrgico tem uma rotina semelhante à do personagem principal do filme Você não estava aqui, de Ken Loach. Sai às 6h da manhã para encarar a fila de entrega do galpão localizado no Parque São Lourenço, extremo Leste da capital paulista. Quanto mais pacote ele consegue despachar, mais ele recebe, o que significa comprometer o almoço e, com frequência, contar com uma ajudante para acelerar as entregas. A diferença entre ficção e realidade é que, ao contrário do personagem do filme, Ferreira não comprou a ideia de que ele é seu próprio patrão por ter aberto uma microempresa. “Não me sinto empreendedor.”

Ferreira faz hoje parte do grupo de trabalhadores jovens, altamente escolarizados e frustrados com as expectativas de emprego e melhoria de condições de vida, que o sociólogo Giovanni Alves chama de precariado. Essa classe social foi forjada pela promessa de ascensão social por meio da educação e do emprego. Porém, o futuro que se projetava para o país durante dos governos petistas ―com uma política industrial voltada para fortalecer e modernizar empresas nacionais― , não se concretizou. “Está em curso no Brasil um processo de desconstrução do sistema de segurança e saúde do trabalho que visa atender à demanda de um novo projeto econômico em desenvolvimento”, explica o cientista social Fausto Augusto Júnior, diretor técnico do Dieese.

O acirramento do processo de desindustrialização no país é um sintoma dessa mudança. Em setembro, a norte-americana Ford fechou a fábrica da Troller em Horizonte, região metropolitana de Fortaleza (CE), deixando 446 trabalhadores desempregados. Essa medida finalizou a saída da empresa do Brasil, anunciada no começo do ano. Com a transferência de sua produção para a Argentina, foram fechados também suas unidades em Camaçari (BA) e Taubaté (SP) com a demissão de 5.000 pessoas. E a Ford não foi a única. Nos últimos dois anos, as montadoras alemãs Mercedes Benz e Audi, as farmacêuticas Roche (Suíça) e Eli Lily (EUA) e a empresa de eletroeletrônicos japonesa Sony também anunciaram sua saída do Brasil.

“A visão de futuro do Governo Bolsonaro é a de um país produtor de comida, minério e energia”, afirma Augusto, por isso o abandono de tudo relacionado com políticas industriais, inclusive os cortes de investimentos em ciência e tecnologia. “Temos ouvido ministros falarem que o Brasil será a grande fazenda do mundo, pois será também a grande mina. Não espere nenhuma indústria de carro elétrico chegando por aqui”, lamenta.

Dados do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) mostram que o setor manufatureiro atingiu mínimas históricas na pandemia. A indústria de transformação (que enolve tecnologia para transformar matéria prima em produto final) caiu de uma participação de 11,79% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2019 para 11,30% do PIB em preços correntes em 2020, o menor patamar desde 1947, quando se dá início a série histórica das contas nacionais calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O auge da comparação da indústria de transformação aconteceu em 1985, quando chegou a representar 24,5% da economia do país. No terceiro trimestre deste ano, o peso do setor voltou a subir um pouco, chegando a 12,5% da geração de riquezas do país, mais como um soluço do que como retomada consistente. “A pandemia atingiu a indústria com significativa capacidade produtiva ociosa devido às perdas industriais de 2014-2016 e a crise político-institucional aguda de 2015 e 2016. Apesar da recuperação no triênio 2017-2019, o produto manufatureiro em 2019 ainda era 14% inferior ao de 2013″, informa o Iedi. O saldo de 2021 é negativo, segundo a entidade, que considera que “a segunda onda da pandemia para a indústria ainda não terminou.” Só o setor de alta tecnologia teve queda de 7,6% entre julho e dezembro.

Um fenômeno contrário aconteceu com o agricultura, que ganhou espaço mesmo no desafiador ano de 2020. O setor alcançou uma participação de 6,8% no PIB nacional em 2020 ― com uma leve alta em relação ao ano anterior, quando representou 6,5%, conforme dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). A expectativa é que a peso da agricultura no PIB chegue a 7,9% neste ano e matenha uma trajetória de crescimento até 2022, quando chegará a 8,3%. “A partir de 2023, [a participação] deve cair de volta para a média da série histórica, algo próximo a 6%”, afirma Renato Conchon, coordenador do Núcleo Econômico da CNA. Estes dados ainda serão revisados a partir do ajuste feito pelo IBGE nos dados trimestrais.
Brasil perde 28.000 indústrias em seis anos

A Pesquisa Industrial Anual (PIA) 2019, divulgados neste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra em números o tamanho do estrago: de 2013 a 2019, o país perdeu 28.700 empresas e 1,4 milhão de postos de trabalho. Em 2019, o país tinha 306.300 indústrias, um encolhimento de 8,5% em relação ao seu auge seis anos antes. Essas empresas empregavam antes da crise sanitária 7,6 milhões de pessoas, uma redução de 15,6% sobre 2013. O salários do setor, geralmente mais elevados do que em outros segmentos, também sofreram perdas. Na indústria extrativa, a remuneração saiu de uma média de 5,9 salários mínimos (s.m.), em 2013, para 4,6 s.m., em 2019. Nas indústrias de transformação a redução foi de 3,3 s.m. para 3,1 s.m.


A situação do setor se complicou ainda mais com a crise sanitária. “A pandemia da covid-19 foi a pá de cal na indústria brasileira, que já vem perdendo espaço desde 2005, com o boom de commodities e valorização do câmbio”, explica o economista José Luis Oreiro, professor da Universidade de Brasília. O primeiro segmento afetado pelo processo de desindustrialização foi o de bens intermediários, ou seja, aquelas que produzem insumos para a própria indústria. Oreiro afirma que de 2005 a 2015, os elos da cadeia industrial brasileira começaram a sumir. Foi um período de substituição de compra de matéria-prima da cadeia brasileira por produtos importados. A partir de 2014, o que começou a desaparecer são as indústrias de bens finais, como as fábricas de automóveis.
Fora da Indústria 4.0

O Brasil vive um fenômeno diferente do que aconteceu em países desenvolvidos que tiveram a chamada desindustrialização positiva, fruto do amadurecimento de suas economias. Esse fenômeno foi marcado pelo abandono de atividades que já não interessavam ao plano de desenvolvimento, como a indústria extrativa ―terceirizada aos países pobres―, para focar em alta tecnologia. Trata-se de uma tendência que tem como base a utilização de novas tecnologias, como robótica, inteligência artificial, internet das coisas.

Augusto explica que o reposicionamento da economia pelo Governo Bolsonaro segue o caminho contrário. O caso da indústria naval é um exemplo. Foram anos de investimento para formar mão de obra especializada e ter um desenvolvimento tecnológico capazes de permitir a construção de plataformas de alta profundidade. “Hoje temos o esvaziamento desses estaleiros, teoricamente, com a Petrobras em busca de melhores preços no mercado internacional. A alternativa que se discute é trazer para o país a indústria de desmontagem de navios, mais comum em países como Bangladesh e Índia. É uma indústria suja, que polui e mata trabalhadores”, explica o diretor do Dieese.

A expectativa é que novas ferramentas trazidas pela chamada Quarta Revolução industrial ―ou Indústria 4.0―, tornem as atividades industriais mais produtivas, mas também mais sustentáveis, uma nova demanda dos consumidores. Estados Unidos, Europa, Japão e China vem investindo nessas mudanças nos últimos dez anos. “Quem não se adaptar, está fora do comércio internacional, fora do investimento produtivo”, afirma Oreiro. “As fábricas estão indo embora do Brasil porque o país não está mudando. Vivemos um período de transformação no paradigma tecnológico: em alguns anos só teremos transportes elétricos, por exemplo”, analisa o economista.

No entanto, o Brasil, que já foi líder em produção de automóveis menos poluentes, não soube aproveitar essa vantagem competitiva. “Temos zero política para transformar o parque automotivo brasileiro num transporte sustentável. O Governo segue uma agenda ultrapassada e não consegue visualizar a nova revolução industrial que está acontecendo no mundo”, diz Oreiro.
Reconstrução das cadeias produtivas

Segundo Rafael Cagnin, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a pandemia trouxe de volta à esfera internacional a questão da reconstrução das cadeiras produtivas com o objetivo de evitar a interrupção na oferta de insumos estratégicos, como aconteceu com produtos da área médica na primeira fase da crise sanitária. “Esses temas entraram na agenda de política de desenvolvimento dos países. China, União Europeia e EUA estão alocando recursos para incentivar indústrias consideradas estratégicas”, afirma.

Cagnin defende que este também deve ser o caminho para o Brasil. O problema é que o país ainda tem questões antigas para resolver paralelamente aos novos desafios. “Temos problemas seculares, saneamento é deplorável, o restante do mundo resolveu essa questão no século XIX. Imposto de valor adicionado foi tema dos anos 80 no resto do mundo. Não temos mais espaço para fazer remendos, precisamos de reformas profundas que mudem o ambiente empresarial da água para o vinho”, defende.

Segundo o economista do Iedi, mesmo em relação à política industrial houve muito equívoco no que foi feito no passado. “O que o Brasil vem fazendo desde os anos 90 é uma política industrial compensatória, que não resolve os problemas. A estrutura tributária completamente disfuncional que temos hoje não será resolvida com política industrial”, alerta. De acordo com ele, muito do que passou como política industrial eram apenas subsídios. “Política industrial mira as tendências de desenvolvimento do que temos que apostar, não é para cobrir buracos e suprir deficiências cuja origem está em outra esfera, como na tributação”, afirma.

Flerte com a fome e sonho de voltar ao mercado formal de trabalho

Filho de um ex-metalúrgico, Diego Machado Ferreira organizou sua vida profissional em torno da indústria. Fez curso técnico no Senai, graduação de gestão em produção industrial e pós-graduação em logística. Entrou na Ford em 2007, na véspera da crise financeira internacional. Achou até que perderia o emprego por conta do rebuliço na economia mundial, mas lembra que nunca mais trabalhou tanto quanto naquela época. “Foi quando o [ex-presidente] Lula baixou o IPI”, afirma, referindo-se à redução de imposto sobre produtos industrializados para automóveis e eletrodomésticos da chamada linha branca, como geladeiras e fogões. “Trabalhávamos sábado e domingo direito, entrando uma hora mais cedo e saindo uma hora mais tarde”, recorda-se.

Foram seis anos de chão de fábrica até ser transferido para a área de logística. “Não tinha uma vida luxuosa, mas conseguia ter um carro bom e um convênio médico para a família”, diz. Com o fechamento da fábrica em São Bernardo, não conseguiu se recolocar em sua área de atuação. Chegou a montar um negócio próprio, uma academia de crossfit, porém, perdeu o investimento por conta da pandemia da covid-19. Assim como diversos de seus companheiro de trabalho, luta para manter seu padrão de vida. O trabalho de entregador cumpre a função de atender necessidades imediatas. Em dias bons, chega a ganhar 200 reais de diária, valor compartilhado com a amiga Ligia Ribeiro Paiva, também ex-Ford, que ajuda nas entregas. “Digo que hoje flerto com a fome. Todo dia ela pisca para mim e diz que se eu vacilar, ela entra na minha casa”, lamenta o entregador.

Ferreira culpa a reforma trabalhista realizada no Governo Michel Temer pela situação precária em que trabalhadores terceirizados vivem atualmente. Conta que a partir de 2017, a reforma afetou até mesmo a relação dos trabalhadores com a indústria. "Antes da mudança na lei, o produto final tinha que ser feito por um funcionário da Ford. Isso mudou. Aí aparece presidente na TV para falar que a lei vai gerar milhões de empregos, mas são empregos para ganhar pouco, 1.500, 1.400 reais", afirma, lembrando que o salário de muitos profissionais da Ford ultrapassava os 5.000 reais.

Trabalhadores por conta própria, como Ferreira, são o segmento que mais cresce no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), do IBGE. No trimestre encerrado em julho, os autônomos atingiram o patamar recorde de 25,2 milhões de pessoas, um aumento de 4,7%, com mais 1,1 milhão de pessoas, em relação ao trimestre anterior.

Ferreira diz que vai continuar na entrega de compras, que dá mais estabilidade do que trabalhar de Uber, como fazem alguns de seus amigos, mas que espera conseguir um emprego CLT no próximo ano. Nada como aquele que ele tinha na indústria, ele lamenta. "A Ford era uma mãe, eu vivia em uma bolha."


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