Por que votar em Ciro
Pedetista está à frente em três dimensões: intelectual, moral e programática.
Carlos Sávio Teixeira ~ Doutor em ciência política (USP), é professor da Universidade Federal Fluminense (UFF)
O Brasil pode superar a mediocridade em que está afundado? Esta deveria ser a questão central da eleição, mas foi substituída por um concurso de rejeições entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A mediocridade brasileira está expressa no rebaixamento de expectativas acerca das possibilidades do país, presente nas formas de pensamento e conduta da maior parte de nossa plutocracia e de nossa inteligência —e por isso é problema que sequer tem sido claramente percebido. Uma das exceções está representada na candidatura de Ciro Gomes (PDT), cujo sentido principal é o de realizar as inúmeras promessas não cumpridas desde a redemocratização do país.
O candidato nacionalista, quando comparado com os seus adversários, se destaca em três dimensões: intelectual, moral e programática. Em primeiro lugar, Ciro é um político incomum, que combina o domínio de ideias com clareza sobre diagnósticos e terapias para os problemas apontados. É também singular a sua condição de não ser associado a nenhum escândalo de corrupção, mesmo tendo sido prefeito de capital, governador e ministro de Estado duas vezes. Mas é na dimensão programática que sua distinção fica ainda mais nítida. O conhecimento íntimo de nosso Estado e de sua captura pelo rentismo financeiro e pelo corporativismo, que drena e estrangula a sua capacidade de investimento em pessoas e na complexificação produtiva, lhe permite indicar com precisão os meios e os fins para recolocar o Brasil de pé.
Ciro apresenta projeto alternativo que se desdobra em duas grandes linhas de reforma estrutural do país. A primeira, focada na substituição do casamento de fiscalismo parasitário (arrumar as contas públicas para pagar aos rentistas) e no "pobrismo incapacitador" (colocar os pobres no orçamento e mantê-los, porém, no cativeiro da pobreza), para os quais convergem as candidaturas de Lula, Bolsonaro e Simone Tebet (MDB) —variando apenas na ênfase com que praticam ou concebem a desastrosa combinação. O centro desta alternativa é fazer valer a primazia dos interesses da produção e do trabalho e a fusão da inteligência com a natureza, como forma de superar nossas desigualdades econômicas e regionais que ficaram intocadas nas últimas décadas.
A segunda grande reforma está centrada na reorganização da governança política, substituindo o regime de cooptação, que acaba degenerando em corrupção e crises —como a do mensalão de Lula e a do orçamento secreto de Bolsonaro—, por uma nova lógica institucional baseada em quatro passos: proposta clara e detalhada antes das eleições; apresentação de reformas estruturais nos seis primeiros meses de governo (quando a força do presidente recém-eleito está íntegra); negociação de um novo pacto federativo fiscal, que atraia o apoio de governadores e prefeitos para o projeto de reformas mais amplo, forçando-os a pressionar os parlamentares de seus estados; e a complementação dos passos anteriores com plebiscitos programáticos, seguindo o artigo 14 da Constituição.
Uma parte dos eleitores de Lula entende que ele representa a luta contra a pobreza e a desigualdade, embora a verdade é que a agenda de Lula não objetiva enfrentar estruturalmente esses problemas, mas tão somente mitigá-los com iniciativas compensatórias de alcance limitado. Entretanto isso é uma opção política de Lula, não um imperativo de realismo político —afinal, ele teve apoio integral dos movimentos sociais e ampla coalizão de apoio congressual.
Nesse sentido, o projeto econômico de Ciro vai muito mais ao encontro dos anseios dos simpatizantes de Lula do que a prática dos governos petistas. Algo semelhante ocorre com parte dos eleitores de Bolsonaro que enxergam no atual presidente um agente para pôr fim ao "toma lá dá cá", ao balcão de negócios, que, além de predar o espaço republicano, é também incapaz de processar os interesses e ideais da maioria dos brasileiros. O projeto de nova governança política de Ciro é capaz de entregar o que desejam esses brasileiros inconformados com o nosso sistema político e frustrados com o fracasso de Bolsonaro em consertá-lo.
Votar em Ciro é dizer não à mediocridade através da qualificação de nosso aparato produtivo e de nossa gente. É se identificar com o Brasil e querer mudá-lo de verdade.
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