Recorte de "Humano, demasiado humano": Um Livro para Espíritos Livres, de 1878!
“Por falta de repouso, nossa civilização caminha para uma nova barbárie. Em nenhuma outra época os ativos, isto é, os inquietos, valeram tanto.Assim, pertence às correções necessárias a serem tomadas quanto ao caráter da humanidade fortalecer em grande medida o elemento contemplativo (…)Temos de aprender a não reagir imediatamente a um estímulo, mas tomar o controle dos instintos inibitórios, limitativos.A falta de "espírito", falta de "cultura" repousaria na INCAPACIDADE de oferecer resistência a um estímulo.Reagir de imediato e seguir a todo e qualquer impulso já seria uma doença, uma decadência, um sintoma de esgotamento”
Parece que foi escrito ontem!
Nietzsche de 1879 absolutamente atual em seu diagnóstico precoce de uma patologia que, na era digital, atingiu seu ápice.
Sua crítica à valorização excessiva dos "inquietos" e à falta de repouso, que levam a civilização a uma "nova barbárie", encontra um eco direto e potente na obra de Byung-Chul Han.
Han descreve os mecanismos dessa barbárie moderna na "sociedade do cansaço", onde a exploração não é mais externa, mas interna, impulsionada por um imperativo de produtividade constante. A hiperatividade criticada por Nietzsche se tornou, para Han, uma lógica de autoexploração que resulta em esgotamento, depressão e burnout.
O ponto de convergência entre os dois pensadores é a identificação da causa central do problema: a perda da capacidade contemplativa.
Nietzsche defendia o fortalecimento do "elemento contemplativo" como antídoto para a incapacidade de resistir aos estímulos.
Han desenvolve esse conceito, argumentando que a sociedade do desempenho eliminou o "tédio profundo", que é o berço da criatividade e da reflexão, e nos transformou em seres de "sim" ilimitado, incapazes de negar as constantes demandas e estímulos digitais. Para ambos, a reação instantânea a todo impulso não é um sinal de eficiência, mas de uma doença espiritual e social.
A frase de Nietzsche se mantém atual porque capturou a gênese de um mal-estar civilizatório que só se agravou com o tempo. A análise de Byung-Chul Han serve como a chave para decifrar a profecia nietzschiana, mostrando que a "nova barbárie" não é um caos violento, mas uma positividade tóxica e uma agitação sem sentido que esvazia a vida interior.
Juntos, eles oferecem um alerta poderoso: o caminho de volta à sanidade e à profundidade humana não está em acelerar, mas em desacelerar; não em fazer mais, mas em recuperar o poder de contemplar e de simplesmente ser.
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