Pasmem: religião não inventou a “culpa”, nem o sobrenatural.

Nietzsche apresenta em “Genealogia da moral”, uma encantadora polêmica, que a “consciência de culpa” ou “má consciência” se originou do “conceito muito material de dívida”.

Ou seja, sugeriu que a idéia que serviu de gene para a “culpa”, inclusive a religiosa (e a conduta de culpa cristã, e por tabela as demais religiões salvacionistas ocidentais estão em pauta) é inconsistente e fundamentado no conceito pré-histórico de dívida material (escambo?).


Que o castigo, sendo reparação, desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade ou não-liberdade da vontade.


O próprio sentimento de justiça (tanto o ordinário quanto o divino), segundo o qual ‘o criminoso merece castigo porque podia ter agido de outro modo’, é na verdade uma forma bastante tardia e mesmo refinada do julgamento e do raciocínio humanos; quem a desloca para o início, engana-se grosseiramente quanto à psicologia da humanidade antiga. Isto a ponto de se requerer primeiramente um alto grau de humanização, para que o animal ‘homem’ comece a fazer aquelas distinções bem mais elementares, como ‘intencional’, ‘negligente’, ‘casual’, ‘responsável’ e seus opostos, e a levá-las em conta na atribuição do castigo.


O pensamento agora tão óbvio, aparentemente tão natural e inevitável, que teve de servir de explicação para como surgiu na terra as idéias que, MAIS TARDE, foram incorporadas nas culturas religiosas...


Nietzsche também condena a noção que se encontra na cultura de muitos povos, que explicam tudo sob a luz racional e terceirizam para um além mundo o que não se encaixa. Assim, a razão é considerada como divina, pois seu estado de clareza leva a um falso bem estar. Tudo que NÃO É ENTENDIDO é tratado como SOBRENATURAL... sem ser. Pois não há nada que sobre-exista a natureza.


A natureza, para Nietzsche, está além das concepções humanas de entendimento.


Com o voto vencido, Nietzsche passou para a posteridade sem ver a mente científica absorver a clareza desprovida de preconceito e ainda hoje sobram pessoas que enxergam fantasmas em toda cultura que não lhe reflete.


Em fim, Nietzsche antecipa (e inspira) pensadores bem mais tardios e instrumentalizados que perceberam que o simples ranço entre religião e ciência dificulta um entendimento e até uma avaliação adequada de um pelo outro... mas não impede.


Toda a civilização é produto de bases falsas, os eruditos são o que tem maior responsabilidade por este estado de falibilidade das bases... pois eles mesmos alimentam a ignorância com dogmas tal qual os sacerdotes.

Newton, Einstein e Deus

Texto de Marcelo Gleiser no Caderno Mais! da Folha de São Paulo. Baseado em uma versão mais completa, publicada em inglês no blog 13.7: Cosmos and Culture. Retirado do blog de Alam Kenjiminowa. As notas ao final são de Rafael Arrais (http://textosparareflexao.blogspot.com/).




Newton, Einstein e Deus


Talvez isso surpreenda muita gente, mas tanto Newton quanto Einstein, sem dúvida dois dos grandes gigantes da física, tinham uma relação bastante íntima com Deus.


É bem verdade que o que ambos chamavam de "Deus" não era compatível com a versão mais popular do Deus judaico-cristão [1].
Numa época em que existe tanta disputa sobre a compatibilidade da ciência com a religião, talvez seja uma boa ideia revisitar o pensamento desses dois grandes sábios.


No epílogo da edição de 1713 de sua obra prima "Princípios Matemáticos da Filosofia Natural" (1686), Newton escreve que o seu Deus (cristão, claro) era o senhor do Cosmo e que deveria ser adorado por estar em toda a parte, por ser o "Governante Universal". Essa visão de Deus pode ser considerada panteísta, se entendermos por panteísmo a doutrina que identifica Deus com o Universo ou que identifica o Universo como sendo uma manifestação de Deus [2].


A visão que Einstein tinha de Deus, devidamente destituída da conotação cristã, ecoava de certa forma a de Newton. Einstein desprezava tudo o que dizia respeito à religião organizada, em particular a sua rígida hierarquia e ortodoxia [3].


Para ele, um Deus que se preocupava com o destino individual dos homens não fazia sentido. Sua visão era bem mais abstrata, baseada nos ensinamentos do filósofo Baruch Spinoza, que viveu no século 17. Numa carta dirigida a Eduard Büsching, de 25 de outubro de 1929, Einstein diz: "Nós, que seguimos Spinoza, vemos a manifestação de Deus na maravilhosa ordem de tudo o que existe e na sua alma, que se revela nos homens e animais" [4].


Em 1947, numa outra carta, Einstein escreveu: "Minha visão se aproxima da de Spinoza: admiração pela beleza do mundo e pela simplicidade lógica de sua ordem e harmonia, que podemos compreender".
Como essas posições podem ser usadas no debate sobre a compatibilidade da ciência com a religião?


De um lado, ateus radicais como Richard Dawkins, Christopher Hitchens e Sam Harris argumentam que não pode haver uma compatibilidade, que a religião é uma ilusão que precisa ser erradicada, que o sobrenatural é uma falácia [5].


De outro, existem vários cientistas que são pessoas religiosas e até mesmo ortodoxas, e que não veem qualquer problema em compatibilizar seu trabalho com a sua fé. O fato de existirem posições tão antagônicas reflete, antes de mais nada, a riqueza do pensamento humano. Nisso, vejo um ponto de partida para uma possível conciliação [6].


É verdade que o ateísmo radical está respondendo a grupos fundamentalistas que tentam evangelizar instituições públicas. "Guerra é guerra e devemos usar as mesmas armas", ouvi de amigos. Mas o pior que um fundamentalista pode fazer é transformar você nele.


Einstein e Newton encontraram Deus na Natureza e viam a ciência como uma ponte entre a mente humana e a mente divina.


Para eles, adorar a Natureza, estudá-la cientificamente, era uma atitude religiosa. Acho difícil ir contra essa posição, seja você ateu ou religioso. Religiões nascem, morrem e se transformam com o passar do tempo [7]. Mas, enquanto existirmos como espécie, nossa íntima relação com o Cosmo permanecerá.


***

[1] Como sempre digo por aqui, raramente algum livre-pensador terá a mesma visão de Deus que outro. Somente os que seguem dogmas, ou os que atacam ferozmente os dogmas, têm uma visão ou um conceito mais homogêneo do que quer que seja Deus.

[2] Muitos teístas criticam o panteísmo afirmando que Deus não pode ser a mesma coisa que sua obra, assim como uma pintura não é a mesma coisa que um artista. Porém, se a pintura é a manifestação do artista, o universo pode ser a manifestação de Deus. Um panteísta pode achar que absolutamente toda a natureza é sagrada, portanto, mas não quer dizer que afirme que Deus é limitado ao universo. Até mesmo porque do nada, nada se faz, e daí se tira - pela lógica - que Deus é "algo mais do que o tudo".

[3] Por "religião organizada e/ou ortodoxia", leia-se Igreja (ekklesia). A religiosidade, ou Religião (religare), é muito mais do que isso.

[4] O belíssimo conceito que Espinosa (eu prefiro usar seu nome latino) fazia de Deus é resumido no primeiro capítulo de sua "Ética". Mas talvez possa ser resumido ainda mais na frase "uma substância não pode criar a si mesma". O Deus de Espinosa é tão somente - pela lógica - a Primeira Substância, da qual tudo o mais se irradiou.

[5] Vale lembrar que inúmeras doutrinas religiosas concordam que o sobrenatural não existe. Complexo, entretanto, é afirmar que já sabemos tudo sobre o natural - obviamente ainda nos falta muito a desvendar.

[6] Eu certamente não concordo com muitas crenças ou descrenças de Gleiser, mas isso não me impede de admirá-lo por sua inteligência e bom senso, além é claro do trabalho exemplar na divulgação científica. Muitas vezes a discussão sobre a existência de Deus é absolutamente inútil, é quando um "deus-barreira" serve apenas para se interpor entre o entendimento dos seres. Busquemos então o ponto de encontro, e não um debate infindável sobre a discórdia.

[7] As Igrejas (ekklesia) são fundadas e esquecidas, é verdade. A Religião (religare), porém, é sempre um mesmo caminho. Caminho talvez infinito, mas que é trilhado por cada um, e não há sábio ou cientista que possa fazê-lo por você...


***

Sem esperança

Texto de Charlotte Joko Beck,
extraído do livro "Sempre Zen"


Há poucos dias fui informada que um amigo se suicidara, alguém que eu não via há muitos anos. Já naquela ocasião o suicídio era tudo que ele conseguia mencionar e, por isso, não me espantei com a notícia. Não que para mim a morte seja uma tragédia. Todos morremos; essa não é a tragédia. Talvez nada seja uma tragédia, mas penso que podemos afirmar que viver sem apreciar a vida é, pelo menos, uma pena.

É uma oportunidade preciosa a que temos, estarmos vivos como seres humanos. Tem sido dito que a chance de ter um vida humana é algo como ser escolhido como um grão de areia dentre todos os grãos de uma praia.

É uma rara oportunidade e, no entanto, de algum modo, como no caso do meu amigo, acontece algum erro. Parte desse erro está presente em todos nós, na medida em que não damos o justo valor ao mero fato de estarmos vivos.

Hoje, portanto, quero falar a respeito de não ter esperança. Parece terrível, não é? Mas, na verdade, não é nenhum pouco terrível. Uma vida vivida sem esperança é pacífica, alegre e compadecida. Enquanto nos identificarmos com esta mente e este corpo — e todos fazem isso —esperaremos que aconteçam coisas que, em nossa opinião, tomarão conta de nosso corpo e de nossa mente. Esperamos ter sucesso. Esperamos ter saúde. Esperamos alcançar a iluminação. Há todo tipo de coisa que esperamos nos aconteça; e, evidentemente, toda forma de esperança consiste em dimensionar o passado e projetá-lo no futuro.

A pessoa que já praticou o sentar, seja qual for o período que durou sua prática, sabe que não existe passado ou futuro, exceto em nossa mente. Não há nada além do si-mesmo e o si-mesmo está sempre aí, presente. Não está oculto. Corremos para todo lado como loucos, tentando encontrar algo chamado si-mesmo, esse maravilhoso e oculte si-mesmo. Onde ele estará oculte? Esperamos por alguma coisa que venha tomar conta desse pequenino si-mesmo porque não nos damos conta de que já somos si-mesmo. Nada há a nossa volta que não seja si-mesmo. O que estamos procurando?

Há poucos dias um aluno me emprestou um livro que continha um texto de Dõgen Zenji chamado Tenzo Kyõkun. São suas idéias do que um tenzo — o cozinheiro-chefe —deve ser: quais as qualidades e a vida que um tenzo, a seu ver, deve ter.

Do ponto de vista do Dõgen Zenji, o tenzo deve ser um dos mais maduros e meticulosos alunos do monastério. Se sua prática não é aquela que um tenzo deve ter, então, segundo o Dõgen Zenji, a vida de todo o monastério sofre. É claro que o autor, ao descrever essas qualidades desejáveis no tenzo além das instruções de como ele deve proceder em seu trabalho, não está apenas se referindo a ele. Está se pronunciando sobre a vida de todo e qualquer estudioso do zen, de qualquer bodhisattva. Por isso é uma leitura muito instrutiva e pertinente.

O que é que descobrimos, então, enquanto ele descreve a vida de um tenzo iluminado? Alguma visão mística? Algum estado de vertiginosa entrega? Absolutamente não. Há muitos parágrafos sobre como separar a areia do arroz ou o arroz da areia. Explicações muito, muito detalhadas. Não há nada na administração da cozinha que Dõgen Zenji tenha deixado de fora. Ele escreve sobre onde colocar as conchas, como pendurá-las etc.

Quero mostrar-lhes um parágrafo: "A seguir, você não deve, descuidadamente, jogar fora a água que restou depois da lavagem do arroz. Antigamente, empregava-se um saco de pano para filtrá-la antes de jogá-la fora. Depois de terminar a lavagem do arroz, coloque-o na panela. Tome muito cuidado para que um camundongo não caia por acidente lá dentro. Em nenhuma circunstância permita que alguém que, por acaso, estiver passando pela cozinha ponha o dedo na panela ou olhe lá dentro"7.

O que Dõgen Zenji está nos dizendo? Ele não escreveu isso apenas para o tenzo. O que podemos todos nós aprender?

Com seu texto, Dõgen Zenji está repetindo uma famosa história. Se a entendermos, entenderemos na realidade o que é a prática zen. Quando jovem, ele se dirigiu à China para visitar monastérios, desejando praticar e estudar. Certo dia, num deles, numa tarde de junho que estava especialmente quente, ele viu o mais idoso dos tenzo trabalhando do lado de fora da cozinha. Ele estava espalhando cogumelos para que secassem sobre uma esteira de palha.


Estava usando uma vara de bambu e não tinha chapéu na cabeça. Os raios do sol estavam tão fortes que os ladrilhos do caminho queimavam os pés. (Ele) trabalhava sem parar e estava coberto de suor. Não pude evitar de sentir que aquele era um trabalho demasiado árduo para ele. Suas costas estavam curvadas num arco teso e suas longas sobrancelhas eram inteiramente brancas.

Aproximei-me e perguntei sua idade. Ele respondeu que tinha 68 anos. A seguir perguntei-lhe por que não usava um assistente.

Ele respondeu: "Os outros não são eu".

"O senhor tem razão", ponderei, "posso ver que seu trabalho é a atividade do Budadharma, mas por que está trabalhando tanto, sob um sol tão abrasador?".

Ele respondeu: "Se eu não o fizer agora, quando mais poderei fazê-lo?".

Não havia mais nada que eu pudesse dizer. Enquanto continuava atravessando aquela passagem, comecei a sentir profundamente o significado do papel do tenzo".


O tenso vetusto salientou: "Os outros não são eu". Consideremos este depoimento. O que ele está dizendo é que sua vida é absoluta. Ninguém pode vivê-la em seu lugar. Ninguém mais pode senti-la. Ninguém pode ofertá-la a ele. Meu trabalho, meu sofrimento, minha alegria são absolutos. Não há meios, por exemplo, de vocês sentirem a dor no dedo do meu pé, ou de eu sentir a dor no pé de vocês. Não há como. Vocês não podem engolir por mim. Não podem dormir por mim. Aí está o paradoxo: quando me aproprio inteiramente da dor, da alegria, da responsabilidade pela minha vida — quando enxergo com clareza este ponto — então estou livre. Não tenho esperanças. Não tenho necessidade de mais nada.

Porém, costumamos viver em vão, na esperança de que alguma coisa ou alguém faça nossa vida ficar mais fácil, mais agradável. Gastamos quase todo o nosso tempo tentando dispor a vida de tal sorte que a vontade venha a se tornar realidade. Quando, pelo contrário, a alegria de nossa vida está em fazer totalmente, e suportar, apenas, o que deve ser suportado, em fazer só o que tem de ser feito. Não é nem o que tem de ser feito: está ali para ser feito, então o fazemos.

Dõgen Zenji fala do si-mesmo que se instala naturalmente no si-mesmo. O que ele deseja dizer com isso? Que apenas a pessoa pode vivenciar a própria dor, a própria alegria. Se uma impressão que chega até sua vida não é recebida, naquele instante você morreu um pouquinho. Ninguém vive completamente assim, mas ainda não é preciso que percamos 90% das experiências de nossa vida.

"Se eu não o fizer agora, quando é que poderei fazê-lo?" Só eu mesmo posso tomar de mim todo o dia, da manhã à noite. Só eu posso receber vida. É esse contato, segundo a segundo, que constitui o tema sobre o qual Dôgen Zenji se pronuncia quando descreve o dia do tenso. Atentem para isso, para aquilo e para aquilo outro. Não é só lavar o arroz, mas fazê-lo com cuidado, grão por grão. Não é apenas jogar a água fora. Cada bocado de alimento. Cada palavra que pronuncio. Cada palavra que vocês pronunciam. Cada encontro, cada segundo. É isso. Não cantarolar distraído, com a mente em outra parte. Não fazer pela metade a limpeza da louça, nem qualquer outra coisa.

Lembro-me de uma época em que eu costumava devanear literalmente durante quatro a cinco horas todos os dias. Agora vejo com tristeza muitas pessoas desperdiçando a própria vida em devaneios. Por vezes é um sonho como o parceiro ou a parceira ideal; ficam sonhando o tempo todo. Mas quando nossa vida está nos sonhos e nas esperanças, então o que a vida pode nos oferecer — aquele homem ou aquela mulher logo ali à nossa frente, comuns, sem encantos especiais — essas maravilhas da vida, escapam-nos porque estamos na esperança de alguma coisa muito especial, de algum ideal. O que Dõgen Zenji está nos alertando é que a prática real não tem nada que ver com isso.

Estamos novamente dizendo que o zazen, que o sentar, é a iluminação. Por quê? Porque um segundo após o outro, enquanto estamos na prática, é só isso. O vetusto tenso espalhando algas: eis uma vida apaixonada, passá-la preparando comida para os outros. Na realidade, todos nós estamos o tempo todo preparando alimento para os outros. Esse "alimento" pode ser datilografar, fazer exercícios de matemática ou física, tomar conta de nossos filhos. Entretanto, levamos nossa vida com essa atitude de consideração por nosso trabalho? Ou estamos sempre esperando que "em algum lugar tenha de haver mais do que isto"? Sim, estamos todos nessa expectativa.

Nós não só esperamos, como na realidade entregamos nossa vida a essa esperança, a esses pensamentos e a essas fantasias em vão. Quando eles não "produzem" para nós os resultados, ficamos ansiosos e até mesmo desesperados.

Um de meus alunos contou-me uma boa história faz pouco tempo. Trata-se de um homem que estava sentado no telhado porque uma enchente invadia sua aldeia. A água já estava no nível do telhado quando vieram salvá-lo num bote a remo. A equipe esforçou-se muito para conseguir chegar até ele e quando finalmente conseguiram, gritaram para que descesse e entrasse no bote. Ele respondeu: "Não, não. Deus virá salvar-me". A água continuava elevando-se, cada vez mais e ele subia cada vez mais para o topo do telhado. A água estava muito turbulenta, mas um outro bote ainda conseguiu aproximar-se dele. De novo suplicaram-lhe que entrasse no bote para se salvar. E mais uma vez ele respondeu: "Não, não, não. Deus irá salvar-me. Estou rezando. Deus irá salvar-me!". Enfim quando a água já estava praticamente cobrindo-o todo, só sua cabeça estava de fora. Veio um helicóptero, que pairou exatamente sobre ele. Chamaram-no: "Venha logo. Essa é sua última oportunidade! Suba!". Ele ainda comentou: "Não, não, não. Deus irá salvar-me!". Por fim sua cabeça submergiu e ele se afogou. Quando chegou ao céu, queixou-se a Deus: "Deus, por que Você não me salvou?". Deus disse: "Mas Eu tentei: mandei dois botes a remo e um helicóptero".

Passamos muito tempo procurando uma coisa chamada verdade. E ela não existe, exceto em cada segundo, em cada atividade de nossa vida. Contudo, nossa vã esperança por um lugar de descanso em algum lugar faz com que ignoremos e desconsideremos aquilo que temos bem à nossa frente. Por isso, nos sesshins, no zazen, o que significa não ter esperança?

Claro que significa fazer realmente o zazen, apenas sentar. Não há nada de errado com os sonhos e as fantasias. Apenas não se apeguem a eles; considerem como são irreais e afastem-se. Permaneçam com a única coisa que é real: a vivência da respiração, do corpo e do meio imediato.

No entanto, ninguém quer abandonar a esperança. Para ser honesta, ninguém irá abandoná-la de uma vez e pronto. Mas podemos ter períodos nos quais, durante algumas horas ou minutos, existe só o que está aí, somente o fluir. Então, permanecemos mais em contato com a única coisa que nunca teremos, que é nossa vida.

Portanto, se praticarmos dessa forma, qual a recompensa que teremos? Se de fato praticarmos desse jeito, tudo que temos será levado embora. O que obteremos em troca? A resposta é clara: nada. Contudo, não tenhamos expectativas e esperanças. Não obteremos coisa alguma. Obteremos nossa vida, é claro, mas isso já temos. Portanto, não sejamos como aquele meu amigo que não consegue apreciar a vida e sua prática. Esta vida é o nirvana1. Onde pensávamos que ela estaria?

Lembremo-nos do velho tenzo. Se praticarmos do modo como ele espalhava as algas, então seremos recompensados com esse absolutamente nada.



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Notas:

1. Nirvana é a extinção da ignorância, o desejo e o despertar da Paz e da Liberdade interiores, O termo também pode ser empregado no sentido de um retorno à pureza origina! da natureza de Buda depois da dissolução do corpo físico. E a perfeita liberdade de um estado incondicionado.

Arca do Gosto - Ou como salvar os sabores da extinção!

Mais uma da campanha Slow Food:


A Arca do Gosto é um catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais.


O objetivo é documentar produtos gastronômicos especiais, que estão em risco de desaparecer. Desde o início da iniciativa em 1996, mais de 750 produtos de dezenas de países foram integrados à Arca.


Este catálogo constitui um recurso para todos os interessados em recuperar raças autóctones e aprender a verdadeira riqueza de alimentos que a terra oferece.



» Critérios da Arca do Gosto

Resumidamente, os critérios são: qualidades gastronômicas especiais, ligação com a área geográfica local, produção artesanal e com ênfase na sustentabilidade, e o risco de extinção.


Breve história

A idéia de adotar esta metáfora bíblica para o alimento veio em 1996 e a primeira lista de produtos foi levantada espontaneamente. Subsequentemente a Comissão Científica da Arca criada na Itália definiu os critérios para selecionar os produtos para a Arca.



Uma vez estabelecidos os critérios, o trabalho começou: o mundo Slow Food - líderes de convivia, membros, apoiadores e especialistas - preencheram formulários e enviaram amostras para degustação. Em poucos anos a Comissão Italiana avaliou e selecionou cerca de 500 produtos.


O trabalho se mostrou efetivo. Comissões nacionais foram formadas em muitos países do mundo afora. Os primeiros países a iniciarem o trabalho foram Estados Unidos e Alemanha, seguidos pela Suíça, Holanda e França.


Em outubro de 2002 representantes de todas as comissões se encontraram no Salone del Gusto em Turim (Itália) e uma Comissão Internacional foi formada para encorajar a atividade no mundo todo.

A Comissão Internacional permite que os países troquem experiências e apóiem a formação e o trabalho nas várias comissões nacionais.

A comissão internacional também pode selecionar produtos para a Arca de países onde não há uma comissão, ou onde o Slow Food ainda não tem uma base de membros. Desde o início de 2006 o Brasil tem uma Comissão Nacional da Arca do Gosto.



» Formulário de indicação de produtos

http://www.slowfoodbrasil.com/content/category/6/19/59/

» Receba os textos do Slow Food Brasil por email




Crossing com o Zen:


Como não podia ser diferente vou deixar um endereço para cruzar a idéia do Slow Food e o Zen pelo comentário do Professor Tatsuzen Satô (Prof. da Faculdade Junior Ikuei, Japão) dobre o clássico texto do Mestre Dogen Zenji divulgado pela Monja Isshin:

Repensando o Alimento


Degustem com moderação:

Nomes bonitos aos nossos fracassos

Publicou a minha querida professora Monja Isshin :


Em conversa com uma aluna, mês passado, falando da dificuldade que temos em assumir os nossos problemas e dificuldades, comentei que “sempre damos nomes bonitos aos nossos fracassos”.

Na ocasião, eu não poderia imaginar que o meu comentário resultaria neste bonito poema, depois que a minha aluna repetiu a frase para o poeta Mário Feijó.

Mário, obrigada por valorizar as minhas despretenciosas palavras de uma forma tão linda! Venha participar de nossa prática! Seja bem-vindo!

SEMPRE DAMOS NOMES BONITOS AOS NOSSOS FRACASSOS

Cada um pensa que sabe
Escolher o seu caminho
Muitos até insistem nos erros
E não os admitindo dizem que é por amor
Outros dizem que têm pena
No entanto muitos não vêem
Que não souberam fazer escolhas
E dizem que foram ingênuos
Que se deixaram levar pelo “clima”
O melhor é enfrentar tudo
Sempre de frente sem artifícios
Só assim percebemos que em muitas situações
Somos idiotas, teimosos, imbecis
E erramos como todos
Mas nunca queremos admitir nossos erros
E fica mais fácil colocar a culpa nos outros
E na busca de uma saída honrosa
Damos nomes pomposos de bons sentimentos
Para não admitir nossos fracassos…

Mário Feijó

10.08.10

visitar os sites do poeta:
Mário Feijó

http://artesplasticas-poesias.blogspot.com

http://recantodasletras.uol.com.br/autores/mariofeijo
http://www.poetasdelmundo.com/verInfo_america.asp?ID=3979

Ciência do Bem estar e Espiritualidade

Convite de divulgação enviado por: Alexander Moreira-Almeida*



O NUPES (Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF) tem a satisfação de convidá-los para a conferência internacional

Ciencia do Bem estar e Espiritualidade

ministrada pelo psiquiatra e pesquisador, referência mundial em sua área de atuação:

Claude Robert Cloninger, doutor em Medicina, psiquiatra e geneticista, conhecido por sua pesquisa pioneira sobre as bases biológicas, psicológicas, sociais e espirituais da saúde e da doença mental. Professor de Psiquiatria e Genética e diretor do centro do Bem-estar da Universidade Washington em Saint Louis. Membro dos programas de genética estatística e de neurociência da Divisão de Biologia e Ciências Biomédicas da Universidade Washington. Autor de Feeling Good: The Science of Well-Being (Sentido-se bem, a ciência do bem-estar) (Oxford University Press). Diretor da Fundação Anthropedia. Autor de mais de 250 artigos indexados no PUBMED (www.pubmed.com).
Data: quarta-feira 8 de setembro de 2010 à 19h.

Local: anfiteatro das pró-reitorias (prédio da Biblioteca Central no campus da UFJF)

Entrada Franca

A conferência será traduzida para o portugues.

Abaixo, dois artigos do Prof. Cloninger de livre acesso:

The science of well-being: an integrated approach to mental health and its disorders.
Cloninger CR.
World Psychiatry 5(2):71-6, 2006.

The positive health domain in person-centered integrative diagnosis.
Cloninger CR. Int J Integr Care. 2010 Jan 29;10 Suppl:e026. Free text


A conferência será aberta a todos os interessados, por favor, nos ajudem na divulgação repassando esta mensagem a possíveis interessados.






Muito obrigado.

Um abraço, Alexander Moreira-Almeida(*).
- Professor Adjunto de Psiquiatria e Semiologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF
- Diretor do NUPES - Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde da UFJF
www.ufjf.br/nupes
Alexander Moreira-Almeida, M.D., Ph.D.
- Professor of Psychiatry, School of Medicine, Federal University of Juiz de Fora (UFJF), Brazil
- Director of the Research Center in Spirituality and Health (NUPES) at UFJF, Brazil

O curador que não se cura...

  Quirão ou  Quíron  (  Χείρων,  transliterado de   Kheíron , "mão"  em grego )  nessa mitologia, é uma figura complexa e fascinan...