Pasmem: religião não inventou a “culpa”, nem o sobrenatural.

Nietzsche apresenta em “Genealogia da moral”, uma encantadora polêmica, que a “consciência de culpa” ou “má consciência” se originou do “conceito muito material de dívida”.

Ou seja, sugeriu que a idéia que serviu de gene para a “culpa”, inclusive a religiosa (e a conduta de culpa cristã, e por tabela as demais religiões salvacionistas ocidentais estão em pauta) é inconsistente e fundamentado no conceito pré-histórico de dívida material (escambo?).


Que o castigo, sendo reparação, desenvolveu-se completamente à margem de qualquer suposição acerca da liberdade ou não-liberdade da vontade.


O próprio sentimento de justiça (tanto o ordinário quanto o divino), segundo o qual ‘o criminoso merece castigo porque podia ter agido de outro modo’, é na verdade uma forma bastante tardia e mesmo refinada do julgamento e do raciocínio humanos; quem a desloca para o início, engana-se grosseiramente quanto à psicologia da humanidade antiga. Isto a ponto de se requerer primeiramente um alto grau de humanização, para que o animal ‘homem’ comece a fazer aquelas distinções bem mais elementares, como ‘intencional’, ‘negligente’, ‘casual’, ‘responsável’ e seus opostos, e a levá-las em conta na atribuição do castigo.


O pensamento agora tão óbvio, aparentemente tão natural e inevitável, que teve de servir de explicação para como surgiu na terra as idéias que, MAIS TARDE, foram incorporadas nas culturas religiosas...


Nietzsche também condena a noção que se encontra na cultura de muitos povos, que explicam tudo sob a luz racional e terceirizam para um além mundo o que não se encaixa. Assim, a razão é considerada como divina, pois seu estado de clareza leva a um falso bem estar. Tudo que NÃO É ENTENDIDO é tratado como SOBRENATURAL... sem ser. Pois não há nada que sobre-exista a natureza.


A natureza, para Nietzsche, está além das concepções humanas de entendimento.


Com o voto vencido, Nietzsche passou para a posteridade sem ver a mente científica absorver a clareza desprovida de preconceito e ainda hoje sobram pessoas que enxergam fantasmas em toda cultura que não lhe reflete.


Em fim, Nietzsche antecipa (e inspira) pensadores bem mais tardios e instrumentalizados que perceberam que o simples ranço entre religião e ciência dificulta um entendimento e até uma avaliação adequada de um pelo outro... mas não impede.


Toda a civilização é produto de bases falsas, os eruditos são o que tem maior responsabilidade por este estado de falibilidade das bases... pois eles mesmos alimentam a ignorância com dogmas tal qual os sacerdotes.

Um comentário:

acordada disse...

Penso, que todas as teorias que criticam as outras, já nãe são dignas de serem verdadeiras. O lado zen da vida que deve ser a própria vida, é tão natural e deve ser tão natural como tomar água, o que ainda há teoricamente de mais puro. Os sentimentos,sensaçoes, ou imaginações devem ser respeitados, pois nunca poderemos, apesar da empatia, saber o que realmente o outro sente e vê. Nirvana, deveria ser também um estado permanente. E quem disse que nunca se alcança? Só Buda? Talvez, porque perfeiçao teoricamente para muitos, só Jesus Cristo. O que vai na mente alheia é a sua verdade. E a forma de sentir paz é muito individual. Devemos respeitar as várias formas de tentativas saudáveis de se sentir paz e quem sabe ficar zen. No fim dos caminhos, todos se encontram, embora os trajetos sejam diferentes. Mas isto não quer dizer que sejam piores ou melhores. E o estado que os orientais entendem o sentir-se bem, é o que há de mais natural quando quando estamos preparados e amadurecidos,e evoluidos, entendendo e sentindo plenamente a vida, tanto nos dois lados do mundo que deveria ser um. Conclusão: Tudo faz bem, quando há vontade e intenção Abraços. Adoro seu blog.

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