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PSICOFISIOLOGIA DOR

Pense que você tem um robô muito inteligente… Ele é capaz de fazer muitas atividades úteis com precisão. Pode andar, limpar móveis e fazer várias outras coisas que você deseja, como  lavar a louça, trocar pneu, ir ao mercado e carregar as compras. Mas aos poucos você nota que o seu robô tem um problema!


Ele é bastante habilidoso, mas não tem “restauração”. Ele realiza todas as tarefas sem ter noção do que ele precisa fazer para manter-se ÍNTEGRO!


Por exemplo: Ele não percebe que, ao fazer comida, partes suas envolvidas em cozinhar se queimam… porque ele tem partes muito resistentes e duradouras… mas não indestrutíveis, em poucos meses ele demonstra precisar de reparos. Ele não sabe que quando carrega compras, seu esforço danifica seus braços hidráulicos e desgasta suas juntas. Ele não percebe quando os produtos de limpeza degradam suas articulações pois os alcoóis corroem as partes plásticas.



Em pouquíssimo tempo seu assistente precisa urgentemente… de assistência e reparo. E mesmo com reparos contínuos ele se degrada SEMPRE muito rápido.

O que falta para esse utilíssimo robozinho?



DOR!



Dor é a resposta que a evolução selecionou para proteger as criaturas orgânicas e para estas PRESERVAREM seus corpos de danos causados pelo ambiente e por outros seres orgânicos.


A dor serve para “proteger” a integridade diante do frio, do calor, da acidez, da pressão do ambiente externo quando estes são intenso o bastante para danificar o corpo destas criaturas com sistemas nervosos evoluídos.


Experiência sensitiva e emocional desagradável associada ou relacionada a lesão real ou potencial dos tecidos afasta a criatura da continuidade a exposição real ou lhe previne de uma exposição futura. Cada indivíduo aprende a utilizar esse mecanismo através das suas experiências anteriores. Nisso a lesão potencial pode ser percebida com mais ou menos relevância pelo indivíduo... Como os seres humanos tem um campo de antecipação da realidade poderosíssimo a dor acaba sendo uma das grandes preocupações da Humanidade.


1 ROTEIRO ~ Iniciaremos nossa leitura definindo oque são os nociceptores e a hiperalgesia para que você possa estudar e reconhecer os aferentes primários, as vias ascendentes e a regulação aferente e descendente da dor. Apresentaremos ainda os principais opióides endógenos e uma doença conhecida como ausência congênita de dor. 




2 Nociceptores e hiperalgesia


A dor, ou sensação dolorosa, pode ser percebida em qualquer parte do corpo, em maior ou menor intensidade. E é reportada nesta fase como algesia, que significa sensibilidade a dor.


As fibras nervosas que estão envolvidas na percepção e transmissão de estímulos dolorosos, chamam-se nociceptores, elas são terminações nervosas livres, ramificadas e não mielinizadas, que sinalizam quando o corpo está sendo lesionado ou corre risco de lesão. 


A nocicepção permite que nós venhamos a sentir a dor, ou seja, é o processo sensorial que provê sinais que desencadeiam a experiência da dor



O que pode ativar um nociceptor, causando consequentemente uma sensação dolorosa?


• Estimulação mecânica intensa. 

• Temperaturas extremas. 

• Falta de oxigênio no tecido. 

• Exposição a produtos químicos. 

• Outros. 


Dois tipos de fibras nervosas transmitem informações dolorosas


1.”Aδ”: levemente mielinizadas. As fibras “Ad”, em função da presença da bainha de mielina, transmitem o estímulo doloroso de forma rápida!


2.”C”: não mielinizadas. As fibras tipo “C” são responsáveis pela transmissão lenta da dor. 


Os nociceptores estão na maior parte dos tecidos corporais, mas são ausentes no tecido nervoso. 



3 Hiperalgesia  ~ A hiperalgesia é determinada por um aumento da sensibilidade, e gera a percepção de dor exagerada


Enquanto os nociceptores disparam diante de lesões ou potenciais lesões, já a hiperalgesia está relacionada com nossa capacidade de controlar a dor. 


Após a lesão, e consequente ativação dos nociceptores, os tecidos já estão lesionados, no entanto, ficam muito sensíveis a estímulos, um simples toque no ponto lesado pode desencadear dor extrema.


Mas o que pode desencadear a hiperalgesia? 


Um limiar reduzido para a dor.


 Intensidade aumentada do estímulo doloroso. 


Dor espontânea. 



A hiperalgesia pode ser primária, quando ocorre dentro da área do tecido lesionado (na área do machucado, por exemplo) ou secundária, quando atinge o entorno da região lesionada. 


Diversas substâncias endógenas podem promover a hiperalgesia, entre elas destacam-se:


  • A bradicinina, 

  • as prostaglandinas e 

  • a substância P


Bradicinina: atua diretamente nos nociceptores e pode ativar a dor por alterações na temperatura


Prostaglandinas: não desencadeiam diretamente a dor, mais deixam os nociceptores mais sensíveis. O ácido acetil salicílico (Aspirina) e outros medicamentos semelhantes reduzem a dor justamente por inibir essa substância. 


Substância P: é produzido pelos nociceptores, causa dilatação dos vasos sanguíneos e liberação de histamina (formação do edema). 



4 Aferentes primários ~  As vias de entrada da informação dolorosa compreendem os aferentes primários e eles são representados pelas fibras Aδ e C


A Aδ, está diretamente envolvida com a dor aguda, mais rápida, e a segunda, C, com a dor de longa duração, mais lenta


As principais substâncias inseridas no processo parecem ser o glutamato e a substância P, de acordo com os estudos mais recentes. 



5 Vias ascendentes ~ A dor e a temperatura do corpo entram em nosso sistema nervoso via medula espinhal, utilizando fibras que seguem diretamente para o tálamo (região do diencéfalo): são as vias espinotalâmicas. 


Já a informação oriunda da face (rosto) segue pelo nervo trigêmeo diretamente para o tálamo: São as vias trigeminotalâmicas.



6 Regulação aferente e descendente ~ Antes de entendermos a regulação da dor, é fundamental que fique claro que a percepção dolorosa é variável de indivíduo para indivíduo. Além disso, dependendo do contexto comportamental a mesma intensidade de ativação nociceptora poderá produzir mais ou menos dor. O que significa que um tapa dado em um momento de conflito, dado por outra pessoa em um momento de afeto, MESMO QUE TENHA A MESMA INTENSIDADE FÍSICA, “doerá” de forma diferente na MESMA pessoa.


Caso fibras mecanorreceptoras (táteis) de baixo limiar, como as fibras Aβ, sejam ativadas, inibiremos a dor em sua origem, inibindo as mensagens que seguiriam pelas vias espinotalâmicas, essa é dita a regulação aferente.


No entanto, outras vias são possíveis. Como explicar a aparente ausência de dor em situações onde há forte envolvimento emocional? 


A dor diante destas situações é inibida, ou seja, de regulação descendente.


 O processo é o seguinte: Neurônios da substância cinzenta periaquedutal e periventricular (localizada no mesencéfalo), quando estimulados, promovem analgesia profunda. Enviando mensagens mediadas pela serotonina, essas áreas se comunicam com neurônios do bulbo (localizado abaixo da ponte no tronco encefálico) e estes se comunicam com a medula, promovendo a inibição da dor. Curioso, não?


7 Opióides endógenos ~ Sob o termo “opióides” encontra-se uma variedade de substâncias que promovem analgesia (ópio, morfina, codeína, heroína e etc.). 


Os opióides endógenos são representados por substâncias produzidas pelo nosso sistema nervoso e que atuam inibindo a dor. Essas substâncias são chamadas coletivamente de endorfinas. As principais endorfinas são chamadas de β-endorfinas, sendo produzidas pelo eixo hipotalâmico-hipofisário. 


8 Ausência congênita de dor ~ Talvez você já tenha pensado em “como seria bom se eu não sentisse mais dor”. Bom, caso você reflita calmamente sobre a colocação verá que esse desejo não deve ser realizado, afinal, a dor nos avisa que algo não vai bem com nosso organismo, não é mesmo?


Além disso, é ela que nos avisa que a área machucada ainda está prejudicada e nos induz a deixá-la de repouso para plena recuperação.


Algumas raras pessoas nascem com uma falha no desenvolvimento dos nociceptores, além de possuírem falhas nas transmissões nervosas de vias relacionadas à dor com o sistema nervoso central. As outras vias sensoriais são perfeitas, exceto aquelas relacionadas à dor. Essas pessoas sofrem da ausência congênita de dor. 


Veja alguns exemplos de complicações possíveis:


Queimaduras diversas, mesmo em situações cotidianas como cozinhar.


Fraturas que não são percebidas e tratadas.


Escarras e úlceras de decúbito, pois o indivíduo não fica com dores no corpo e dificilmente muda de posição durante o sono.


Incapacidade de perceber alterações nas articulações, permitindo degenerações e deformações.


A dor é adaptativa, é necessário que ela promova um incômodo significativo que demande nossa busca por cuidado. 




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