Pavimentar caminhos

Pense em uma rede onde cada ponto de intersecção esta em contato com diversas outras conexões... todas ligadas a dezenas de outras.

Nesse labirinto de linhas um "caminho" de um ponto (vamos chamar de ponto "A") para outro ("B") significa um fluxo que engroça a linha escolhida. Cada vez que usamos o caminho se REFORÇA as linhas envolvidas, tornando mais FACIL fazer o percurso de um lado para outro.

Então se eu quero que algo viaje do ponto A para o ponto B eu poderia fazer DIVERSOS caminhos diferentes, ok... 

Lembre, cada vez que eu percorro esse caminho de A para B eu engrosso a teia que eu uso. Mas os outros caminhos não deixam de existir... e se preciso for é possível CRIAR novas conexões também.




Sim, essa é a alegoria de como funciona as sinapses na nossa mente.

Ficou provado que as conexões entre neurônios se "reforçam" com o uso.

Assim, quanto mais reforçamos as informações de nossa memória ou seja, quanto mais repetimos a exposição a uma mesma informação maior a chance de tornar o acesso a essa informação a ROTA PREFERENCIAL diante de outra rotas possíveis. Não por serem melhores ou corretas... mas porque a ROTINA DE REFORÇO pavimenta o caminho a estas ideias e pensamentos ou memórias.


Pesquisadores em Psicologia e 
Neuropsicologia  como Donald Hoffman apontam que não é só nossas ideias que ser "reforçam" com a repetição. Mas nossa PERCEPÇÃO também funciona da mesma forma.

Hoffman (que é membro do corpo docente da UC Irvine e recebeu o Troland Award da Academia Nacional de Ciências dos EUA) concluiu que a realidade é melhor compreendida como um conjunto de fenômenos que nosso cérebro constrói para guiar nosso comportamento. Simplificando: criamos ativamente tudo o que vemos, e não há aspecto da realidade percebida que não dependa da nossa mente.

Nisso nossa relação com a realidade é mais de colaborador que de espectador. Participamos do processo. E vemos de acordo com nossas crenças.

Nossas crenças e subjetividade FILTRAM a realidade e RECONSTROEM o que ela acredita que é ANTES de poder ver o que existe de fato.

Aaron Beck percebeu que o processo de "percepção" da realidade das pessoas e suas "subjetividades" também operavam do mesmo modo e desenvolveu com essa percepção a Terapia Cognitivo Comportamental.

Ele chamava essas estruturas formadas por repetição de formas de ver e entender a realidade de "crenças centrais" ou nucleares. São rotinas desenvolvidas desde a infância através das interações do indivíduo com outras pessoas significativas e da vivência de muitas situações que fortaleçam essas ideias e perspectivas. As crenças centrais podem ser relacionadas ao próprio indivíduo, às outras pessoas ou ao mundo.


Cada experiência que temos na vida REFORÇA o percurso de uma ponta a outra do entendimento das experiências e o mesmo PAVIMENTA a forma que a pessoa ENXERGA A VIDA TODA a sua volta!


Geralmente, essas crenças são globais, excessivamente generalizáveis e absolutistas.

Elas representam os mecanismos desenvolvidos pelas pessoas para lidar com as situações cotidianas, ou seja, a maneira como os indivíduos percebem a si mesmos, aos outros e ao mundo, e ao futuro, sendo esta percepção chamada de tríade cognitiva.


O grande lance de coragem de Beck foi acreditar que SE PODE MUDAR esses "caminhos pavimentados" com o devido método e empenho.


Perceba, não podemos MUDAR o passado. Mas podemos mudar o modo de "respondermos" a esse passado. Podemos escolher nos afastar de "rotinas" que nos impedem de usar OUTRAS vias possíveis de nossa própria mente. Aprender a FOCAR EM outras percepções que ESTIVERAM SEMPRE DISPONÍVEIS mas que as nossas CRENÇAS impediam de fazer uso.


Toda a sua teoria se debruça na ideia que a plasticidade da mente permite criar novas vias e pavimentar os novos caminhos.

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