Profissionais adotam técnicas de meditação para melhorar a produtividade
Por causa de uma rotina de viagens constantes, Anderlei Cortez, 37,
gerente em uma empresa do ramo automotivo, vivia estressado, "à base de
Red Bull e café" para se manter alerta e sentiu sua produtividade no
trabalho cair. Até que passou a meditar e a separar momentos curtos
durante o dia para se concentrar em aspectos de seu corpo, como a
respiração.
A técnica usada por Cortez, chamada de atenção plena (ou "mindfulness",
em inglês) está ganhando força entre executivos que desejam melhorar a
concentração e reduzir o estresse e ansiedade do dia a dia de trabalho.
Karime Xavier/Folhapress | ||
Anderlei Cortez, gerente de uma empresa do setor automotivo, usa a técnica de meditação chamada atenção plena |
A técnica engloba a meditação tradicional, durante cerca de 30 minutos
em alguns dias da semana, e práticas como se concentrar, durante alguns
minutos, em determinados sinais corporais, como a respiração, ou
ambientais (um som ou um objeto, por exemplo).
"Essas práticas meditativas, principalmente as de focalização da
atenção, em geral levam a um estado de tranquilização e relaxamento",
afirma José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina
comportamental da Unifesp. "Isso é positivo no mercado de trabalho,
porque, quando o indivíduo está em estado de ansiedade ou estresse, fica
com muitas funções prejudicadas, entre elas a atenção.
O irlandês Stephen Little, que atua como instrutor de atenção plena para
empresas e profissionais no Brasil, diz que o profissional pode
"separar alguns minutos do dia para sentir o que está acontecendo".
Ele indica, por exemplo, usar o momento da espera para que o computador
do escritório ligue para concentrar a atenção em algo do ambiente. em um
som ou no próprio corpo.
Ele também afirma que, após uma reunião em que houve uma discussão, por
exemplo, o profissional deve parar e tentar se concentrar nos sinais
físicos que aquela tensão está causando. Isso, segundo ele, ajuda a
reduzir o estresse.
"Não adianta você tentar regular a raiva ou a impaciência se você não
tiver consciência do próprio corpo, porque as emoções surgem dele", diz
Little.
O executivo János Szegö, 63, diretor da empresa Mecalor, de engenharia
térmica, passou por treinamentos inusitados para atingir a atenção
plena.
Ele conta que, durante uma das sessões, ficou meia hora comendo uma uva
passa, analisando peso, cor, textura e luminosidade da fruta, e
conversando sobre isso.
"A ideia é você se conscientizar do aqui e do agora", afirma. Hoje, ele costuma meditar por cerca de 30 minutos por dia.
Szegö diz que foi procurar o método para reduzir a ansiedade com o
trabalho. Um ano e meio após o início da prática, diz que se sente mais
sereno, o que interfere no modo como lida com seus funcionários.
"Consigo transmitir as diretrizes, aquilo que eu quero que seja feito,
de modo mais claro. Quando você está estressado, isso é mais difícil",
opina.
Esse tipo de programa para profissionais cerca de dura oito semanas e é necessário algum tempo até que ele dê resultado.
De acordo com a psicóloga Carolina Baptista Menezes, autora de uma tese
de doutorado na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) sobre o
assunto, não há consenso científico sobre é preciso manter práticas
regulares de meditação para que o efeito seja contínuo.
"Alguns estudos mostram que o efeito da meditação permanecem, mesmo
quando não há uma prática regular. Tudo vai depender do quanto a pessoa
desenvolveu a capacidade de se autorregular."
O britânico Michael Chaskalson, autor do livro "The Mindful Workplace"
(o local de trabalho atento, em tradução livre), diz que também é
possível melhorar a capacidade de comunicação com esse tipo de técnica.
Um dos exercícios propostos é pedir que alguém fale e que os outros
ouçam atentamente por alguns minutos. "Depois você questiona o que elas
ouviram, o que aquela pessoas queria comunicar."
Parece óbvio, mas essa simples ação pode ser complicada para certos
profissionais. "Muitas vezes, você até está ouvindo o outro, mas sem
prestar atenção, já pensando no que vai responder", afirma Cortez. Ele
diz ter melhorado essa capacidade com a prática.
Ze Carlos Barretta/Folhapress |
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