Budismo na Mídia!!!

Tema de novela, budismo também está presente no cinemaBudistas brasileiros falam sobre exposição da doutrina na novela Joia rara. Star wars e Matrix possuem influência dessa filosofia oriental

AD Luna - Diarios Associados
Publicação: 18/09/2013

Novela global atingiu 21 pontos na estreia. Budismo tibetano é usado como pano de fundo do folhetim
Novela global atingiu 21 pontos na estreia. Budismo tibetano é usado como pano de fundo do folhetim
A novela da Rede Globo Joia rara, que estreou na segunda (16), no horário das 18h, tem como pano de fundo para suas tradicionais histórias de amor e paixão o budismo. A religião é uma das mais populares do mundo, com mais de 370 milhões de adeptos no mundo, e cerca de 250 mil no Brasil, segundo dados do IBGE.
Ela foi fundada pelos seguidores de Siddarta Gautama, o Buda, que nasceu e viveu na Índia há cerca de 2600 anos. “Joia rara é uma história de amor da humanidade. Nossa proposta é que o budismo seja como um manto abraçando a novela.”, diz Thelma Freitas, que, junto Duca Rachid, é responsável pelo texto da produção televisiva.
Assim como já aconteceu com as novelas O clone (2001-2002), que abordou o islamismo, e Caminho das Índias (2009), traços do hinduísmo, Joia rara deve despertar interesse e curiosidade pelo budismo. Tal doutrina oriental influenciou e continua a influenciar as artes, o comportamento e o pensamento de povos do Japão, China, Tailândia, Butão, Tibete e também de ocidentais - como atestam diversas obras artísticas.

Budistas brasileiros falam sobre a exposição dos ensinamentos de Buda, chamado de Dharma, emJoia rara.

“O Dharma é algo bastante pessoal, transmitido de mestre para discípulo. É muito difícil transmitir em um programa, ou em uma novela, esses ensinamentos de maneira realmente correta”.
Lama Karma Tartchin (RJ), linhagem tibetana Kagyu - www.kttbrasil.org

“São sementes jogadas ao vento que, caso encontrem um terreno fértil no coração dos ouvintes, brotarão e darão flores lindas. Caso não encontrem uma terra adubada, terão que ser posteriormente cuidadas e nutridas em lugares onde tais sementes são cultivadas - nos centros de meditação e através de professores qualificados”.
Lama Jigme Lhawang (RS/PE), linhagem tibetana Drukpa - www.drukpabrasil.org

"A mídia é pautada pela própria audiência, assim seu compromisso básico é com sua própria repercussão. Que o budismo seja tema da TV é um bom sinal de que há um interesse mesmo que difuso nos seus temas. Haverá tempo para que as naturais distorções sejam corrigidas por mestres verdadeiros. As sementes do Dharma crescerão onde houver terreno fértil e desejo de diminuir os sofrimentos dos seres. A mera motivação criada pelo ouvir que os ensinamentos de Buda existem já é um grande mérito".
Genshô Sensei (SC), escola SotoShu, Zen Budismo - www.daissen.org.br

"Um tempo atrás, uma novela abordou outra religião oriental. Embora resumidamente, era muito interessante como divulgação de que há outros caminhos de ser ver a vida e a morte, que não estes que a maioria de nós conhecemos aqui no Ocidente. Assim, é bem válido, desde que se divulgue o ensinamento de forma sincera".
Giliate Mokudô (PE), monge zen - http://centrozendorecife.blogspot.com.br/

"Uma novela tem objetivos específicos, de acordo com a política editorial da emissora e de seus anunciantes. É claro que esses objetivos não serão os mesmos que aqueles do Buddhismo, o qual visa primariamente desenvolver a atenção em relação ao consumo, ao poder da publicidade, e dirigir o indivíduo para a libertação da ganância, do ódio e da ignorância. Neste cruzamento de duas perspectivas tão diferentes, devemos esperar que muitos enganos sejam cometidos, mas também possa estimular este ou aquele indivíduo a querer buscar saber mais. E isso já terá sua utilidade".
Ricardo Sasaki, Diretor-Fundador do Centro de Estudos Buddhistas Nalanda - http://nalanda.org.br/

QUESTÕES BÁSICAS E CURIOSIDADES
Imagem de Siddarta Gautama, o Buda
Imagem de Siddarta Gautama, o Buda

Essência do ensinamento budista
“Não crie sofrimento. Pratique a virtude. Seja senhor de sua mente. Eis o ensinamento do Buda”. Palavras atribuídas ao próprio Siddarta Gautama.

Buda era gordo?
Não. Tal equívoco se dá por conta da utilização da imagem de Putai (como conhecido na China, ou Hotei, no Japão), o qual teria sido um monge muito bondoso. Segundo a tradição, o Buda seria na verdade magro, como atestam as estátuas contidas em templos de várias linhagens.

Escrituras
Assim como Jesus, Buda não deixou nada escrito. Seus ensinamentos (cerca de 84 mil) foram decorados pelos discípulos e, muitos anos depois, reunidos no chamado Tripitaka.

Dalai Lama
O líder tibetano não é o equivalente ao papa católico, pois representa apenas uma das escolas tibetanas. Cada tradição budista tem seu próprio seu líder. O budismo não possui um poder central, algo como um “vaticano”. Mesmo assim, o Dalai Lama é bastante respeitado por budistas de todas as tradições, inclusive por gente de outras religiões e pessoas não religiosas.

Deus
O budismo é uma religião não-teísta. Os budistas não discutem nem teorizam a respeito da existência de um deus criador, no qual se baseia o fundamento de religiões teístas como o cristianismo, islamismo e judaísmo.

Alma
Para o budismo não existe algo como um “eu” ou alma imutável. Tudo no cosmos e na natureza está em mudança constante, inclusive todos nós.  O que pensamos ser um “eu” é, na verdade, um fluxo impermanente moldado a partir de leis universais de causas, efeitos e condições.

Reencarnação
Ainda que essa palavra seja encontrada em textos sobre o budismo, principalmente por erros de tradução, não é correto afirmar que budistas acreditem em reencarnação, do modo como os espíritas a entendem, por exemplo. O que se manifesta novamente é o carma (conjunto de impulsos e ações), o qual gera uma nova existência, mas que não é uma pessoa reencarnada. A título de ilustração, pense num caroço de manga plantado. Ele vai gerar uma árvore e esta novos frutos, estes são “manifestações cármicas” da manga plantada.

Principais tradições/escolas budistas

O budismo se espalhou por diversos países e foi se adaptando aos costumes e culturas locais, o que ocasionou na multiplicação de formas de ensinamentos e práticas.

Theravada - É a mais antiga das escolas sobreviventes e a que mais se aproxima da maneira como os ensinamentos eram transmitidos no tempo de Buda. Encontra-se presente em Myanmar, Tailândia, Laos, Camboja e no Sri Lanka.

Terra Pura - É bastante popular na China, Vietnã, Coréia e Japão. Com o intuito de facilitar a transmissão dos ensinamentos, utiliza-se de linguagem simples e elementos míticos.

Zen - Influenciou fortemente a cultura e as artes tradicionais japonesas e a cultura pop ocidental, na segunda metade do século 20. Foca-se principalmente na meditação.

Vajrayana ou tântrico - Além da meditação, trabalha com mantras e visualizações. É característica de países como o Tibete, Mongólia, Indonésia e tem se expandindo bastante no Ocidente. As autoras de Joia rara se basearam nessa escola para roteirizar a novela.

Nichiren - Foi fundada por Nichiren Shonin, no século 13, no Japão. Ele foi um reformador que trabalhou para que os ensinamentos budistas transcendessem os círculos eruditos e voltassem a ser acessíveis a pessoas comuns.

FILMES COM TEMÁTICAS BUDISTAS
Matrix é um dos filmes com influência da filosofia budista
Matrix é um dos filmes com influência da filosofia budista
Star Wars e Matrix
Dentre filmes de ação e ficção científica de sucesso lançados por Hollywood com temáticas implicitamente budistas, o Rev. Mauricio Hondaku, soryo budista da Ordem Shinshu Otani, destaca Guerra nas Estrelas (Star Wars) e Matrix.

Em Star Wars, Hondaku vê Luke Skywalker como a representação do ser humano em busca da iluminação, tal qual o príncipe Sidharta Gautama, que se tornou o Buda. Ele se desenvolve espiritualmente e se torna membro da Ordem dos Cavaleiros Jedi.  “Estes, tendo o Mestre Yoda como conselheiro principal, lembram claramente o ideal samuraico do período Meiji japonês: por um lado guerreiros implacáveis, por outro, meditadores e sábios com um código de conduta impecável associado diretamente ao Caminho do Meio budista”.
Em Matrix, a temática seria mais filosófica, com bases no conceito budista de que todos vivemos em uma "farsa intelectual". “Vivemos numa ilusão criada pela nossa própria mente pois estamos preocupados com fatores alheios a nossa existência tais como ganância, dinheiro, bem-estar e carecemos de capacidade de ‘ver’ a Realidade como ela realmente é”, comenta.  
Mauricio explica que a matrix no filme é a mente humana enquanto criadora de situações ilusórias, distorções da realidade.. “Isso tem base em um sistema filosófico budista bastante complexo chamado Yogachara, na qual afirma que tudo que vemos, vivemos e sentimos é produto exclusivo de nossa mente”.

Outros filmes

O pequeno Buda (1993) -  Em paralelo à história da busca de monges tibetanos da reencarnação de um mestre deles, o filme apresenta a história do príncipe Siddarta Gautama (interpretado por Keanu Reeves), do seu nascimento até sua iluminação. O longa foi dirigido por Bernardo Bertolucci.

Trecho de O pequeno Buda

Sete anos no Tibete (1997) - Baseado no livro homônimo, o filme mostra a saga do alpinista alemão Heinrich Harrer. Arrogante e egocêntrico, ele vai se transformando durante o tempo em que vive como exilado no meio do povo tibetano e devido a suas conversas com o Dalai Lama.
Trailer do filme

Samsara (2001) - Depois de passar três em retiro de meditação, Tashi, um jovem monge tibetano volta a seu monastério. O encantamento por uma bela dançarina faz com que ele se desvie do caminho religioso.
Trailer de Samsara

Kundun (1997) - Com direção de Martin Scorsese e trilha sonora de Philip Glass, o filme  mostra a história de Tenzin Gyatso, o atual Dalai Lama.
Trailer de Kundun

A origem (2010) - Estrelado por Leonardo DiCapri e dirigido por Christopher Nolan (da recente trilogia de filmes de Batman), a obra se baseia no fenômeno dos sonhos lúcidos - quando a pessoa sonha e consegue certo grau de consciência dentro do estado onírico. O tema é estudado há séculos pelos budistas tibetanos, por meio da “yoga dos sonhos”.
Trailer de A origem
 
PARA SABER MAIS
Colegiado Buddhista Brasileiro http://cbb.bodhimandala.com/
Sites e blogs
www.zendobrasil.org.br
LOCAIS DE PRÁTICA EM PERNAMBUCO
Centro Budista Drukpa Recife - www.drukpabrasil.org
Seirenji Centro Zen do Recife -  http://centrozendorecife.blogspot.com.br/
Entre os dias 1o a 6 de outubro, o templo Drukpa Brasil, promove no Recife, a vinda de S.Ema. Gyalwa Dokhampa. Ele dará palestras e retiro na cidade. Mais informações:http://drukpabrasil.org/gyalwa_dokhampa/

A felicidade baseada no individualismo, falhou... e agora?

Texto sugerido no Facebook pela Monja Isshin via Michel Seikan


‘A ideia de felicidade ocidental, baseada no individualismo, falhou’

16.setembro.2013
Roman Krznaric (Foto: Kate Raworth)
Fundador da The School of Life vem ao País dar palestras sobre compaixão e trabalho. Para o filósofo australiano, colocar-se no lugar do outro é a verdadeira revolução.

Há 20 anos, Roman Krznaric se inscreveu para um curso de culinária na Bahia; mas, como não conseguiu uma bolsa de estudos, declinou a viagem. Hoje, o filósofo australiano, um dos fundadores da The School of Life, na Inglaterra, finalmente conhecerá o Brasil. Abriu uma exceção para viajar de avião – ele se preocupa com as emissões de carbono – e virá ao País para uma palestra sobre trabalho, dia 22, no Teatro Augusta.
Escritor do best seller Como Encontrar o Trabalho da Sua Vida, o filósofo continua interessado em culinária, mas se dedica a incentivar o que chama de “questionamentos sobre a vida”. E a vida laboral, segundo o escritor, é uma das questões que causam mais insatisfação e inquietação no mundo contemporâneo. “Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a enxergar o trabalho como algo para além da sobrevivência. É uma ocupação que pode fazer você se sentir preenchido”, conta. A saída para a insatisfação, explica, tem algumas alternativas: aplicar seus valores pessoais no trabalho; procurar um emprego que faça diferença no mundo; e usar seus talentos e habilidades; entre outras. “Uma das maiores razões de satisfação no trabalho não é dinheiro, mas autonomia”, diz.
Além de aulas e conferências pelo mundo, o australiano toca, paralelamente, um projeto definido por ele como “a grande ambição de sua vida”: a criação de um Museu da Empatia. “Trata-se de um lugar onde você poderá entrar e conversar com pessoas que não conhece. Assim como emprestamos livros de uma biblioteca, será possível emprestar pessoas para uma conversa”, explica. O projeto não é de todo utópico. Segundo o filósofo, depois de um vídeo explicando seu conceito de empatia, com 500 mil visualizações, sua caixa de e-mail recebe, pelo menos, uma mensagem por dia de pessoas do mundo inteiro se propondo a ajudar na criação do museu.
É por meio dessa troca e da disseminação desse conceito de empatia que o filósofo acredita ser possível fazer uma revolução: “As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos”, diz.
A seguir, os melhores momentos da entrevista.
No seu livro, o senhor fala que 60% das pessoas estão insatisfeitas com a vida profissional. Por que esse desconforto crescente?
Parte dessa insatisfação vem do fato de que, nos últimos 20 ou 30 anos, houve um grande crescimento de expectativa com relação ao trabalho. Antes disso, poucos se questionavam sobre seus empregos. Hoje, pessoas de todas as classes sociais começam a ver o trabalho como algo para além da sobrevivência. Uma ocupação pode fazer você se sentir preenchido. De taxistas a investidores de banco, médicos, faxineiras… todos procuram por mais significado no trabalho. Nasceu o conceito de que trabalho pode ser um lugar para se aplicar os talentos, as paixões, os valores.

Como essa mudança ocorreu?
À medida que as necessidades básicas são alcançadas, como casa, comida, educação, as pessoas buscam mais propósitos na vida. E, claro, hoje em dia há mais profissões. Na Europa do século passado, se você quisesse trabalhar com algo que envolvesse suas visões políticas e sociais, existiam poucas possibilidades. Atualmente, há um enorme mercado de trabalho para isso, como ONGs, órgãos de meio ambiente, sociais, em que as pessoas podem sentir que estão fazendo a diferença diariamente. Isso é algo novo. Ter um trabalho onde me sinto valioso e cheio de significados.

O senhor não acha que essa tendência contemporânea de que o emprego tem de ter alguma função social pode criar uma certa culpa coletiva?A maioria das pessoas não trabalha com algo que faz diferença para o mundo.
Sim. Nossos valores são grandes motivadores para o trabalho e para a satisfação laboral. E sim, existe uma culpa de quem pensa “se eu não estou trabalhando com meninos de rua, então sou uma pessoa ruim”. Entretanto, há outras maneiras de encontrar satisfação no trabalho. Uma delas é essa: aplicar seus valores pessoais na prática. Outra é usar seus talentos – sendo um artista ou um jogador de futebol, você não está necessariamente mudando o mundo, mas sua satisfação virá do uso de suas habilidades e paixões. Para mim, o maior problema não é a culpa, mas o arrependimento. É a sensação de chegar ao fim da vida e saber que não fez o que gostaria realmente de ter feito.

O que acha da corrente que defende que as pessoas trabalhem em casa, sozinhas?
Isso é um tópico contemporâneo muito importante. Nos últimos meses, especialmente nos EUA, as empresas não estão deixando seus funcionários trabalharem de casa. O exemplo mais clássico é a nova chefe executiva do Yahoo, Marissa Mayer, que há alguns meses não permite que seus funcionários trabalhem de casa. Isso é trágico. Uma das revoluções modernas laborais, no mundo ocidental, é a ideia de trabalhar de casa.

Por quê?
Uma das razões apontadas pela maioria das pessoas que são felizes no trabalho não diz respeito à remuneração, mas à autonomia. É o senso de liberdade, o poder de decisão sobre o próprio trabalho, que cria satisfação. Mesmo que não seja o emprego dos sonhos. Trabalhar de casa é uma dessas possibilidades. Controlar o próprio horário, a disciplina.

Recentemente, um estagiário se suicidou na Inglaterra, depois de trabalhar 72 horas seguidas. O que acha da cultura que incentiva trabalhar demais?
Muitas empresas fazem o culto do “overwork”, em que trabalhar muito, além da conta, é valorizado. Especialmente em bancos e consultorias. Na Inglaterra, um milhão de pessoas afirmam ser viciadas no trabalho. Ou seja, trabalham mais do que precisariam. A ideia de “work adiction” é um grande problema. O Japão é um caso clássico. Muitas pessoas cometem suicídio ou sofrem de ataque do coração, depois de trabalhar demais. Existe, inclusive, uma palavra no dicionário japonês para “morrer de tanto trabalhar”. Espero que isso seja uma mensagem para indivíduos e para essas empresas.

No livro, o senhor afirma que encontrar o “trabalho da vida” é como encontrar o amor perfeito.
Isso aprendi com uma mulher que, aos 30, pediu demissão e testou 30 profissões diferentes durante um ano. E ela me disse, no fim desse processo, que encontrar o emprego perfeito é como encontrar um amor perfeito. Você pode fazer uma lista com qualidades que gostaria num parceiro e, no fim, se apaixonar por um que não tenha nenhuma delas. Trabalho é isso. Empregos inesperados podem ser surpreendentemente bons. Por isso, experimentar é importante. Para se dar chance de descobrir novas paixões e talentos. O contrário também acontece.

Como?
Eu, por exemplo, trabalhei como jardineiro em um grande jardim público. O salário era ruim, mas achei que seria fantástico, porque estaria perto da natureza, fazendo algo para o público. No fim, trabalhava o dia inteiro, com um esforço físico enorme e as pessoas nem me notavam. Era invisível. Todos nós precisamos de respeito e sentir que nosso trabalho é válido.

O senhor acredita que o aspecto financeiro não provoca satisfação no emprego. No entanto, existe uma questão social, especialmente nos países em desenvolvimento, como o Brasil. 
Sim, o dinheiro importa. Se você tem de ter dois empregos para alimentar a família, claro que não há tempo para ficar experimentando ser um professor de ioga, por exemplo. Nesses casos, a pergunta é: como posso fazer com que meu trabalho seja mais prazeroso?

Crê que as sociedades contemporâneas continuam incentivando o sucesso por meio das conquistas individuais?
Perseguir o interesse próprio foi a grande propaganda do último século. Entretanto, ser humano não é apenas seguir os desejos individuais. A ideia de felicidade ocidental falhou. A introspecção, o interesse próprio, perseguir valores que não envolvam o coletivo… Temos a tendência a sentir compaixão uns pelos outros. Somos criaturas empáticas. Há estudos que mostram que compaixão dá prazer. Somos também coletivos. Formamos comunidades de todos os tipos, o tempo inteiro. As pessoas estão, cada vez mais, querendo fazer parte de algo maior do que elas mesmas.

O senhor tem a ideia de criar um Museu da Empatia. O que é esse projeto?
É a maior ambição da minha vida. Estamos em desenvolvimento ainda. Trata-se de um lugar onde você pode entrar e conversar com pessoas que não conhece. Fazer um “laboratório humano”. Assim como você empresta livros de uma biblioteca, será possível “emprestar pessoas” para uma conversa. Nesse processo também quero criar uma plataforma online, em que será possível “baixar” exposições.

Como?
Você poderá estar em São Paulo e fazer parte do Museu da Empatia, dividindo histórias de como, por exemplo, você faz uma “conversa-refeição” – que é um conceito criado por nós na The School of Life. “Conversa-refeição” nada mais é do que estranhos que se sentam a uma mesa e, no lugar de um menu gastronômico, recebem um cardápio de ideais. Com questões sobre a vida, do tipo: “De que maneira o amor mudou a sua história?”, “Como ser mais corajoso?” ou “Como ter mais satisfação no trabalho”. Meu objetivo é que as pessoas possam baixar esses menus, com instruções para fazer isso em suas comunidades.

O senhor diz que a “empatia”, no sentido de compaixão, é algo capaz de criar uma revolução. Poderia explicar?
A ideia de empatia é, para mim, o ato de “calçar os sapatos de outra pessoa”. Olhar o mundo pela visão do outro. E, normalmente, quando pensamos nessas coisas, sempre consideramos um relacionamento somente entre duas pessoas. Entretanto, se olharmos a história, em todo o mundo, vemos que movimentos de empatia coletiva tiveram momentos de grande êxito. Em outros, sofreram um colapso e desapareceram, como no Holocausto e no genocídio de Ruanda. As pessoas podem agir juntas. Fazendo esse exercício de se colocar no lugar do outro, é possível, sim, mudar o mundo.

Tem um exemplo de um desses momentos?
Na Europa e nos EUA, no século 18, quando houve um grande movimento contra a escravidão. Foi disseminada uma grande reflexão sobre o que era ser escravo. De tempos em tempos, surgem pessoas que se organizam para desafiar atitudes de injustiça. E muitas dessas pessoas são motivadas pela empatia. Hoje, no Oriente Médio, há muitas iniciativas para criar paz entre palestinos e israelenses. As pessoas acham que a paz e as revoluções são construções de acordos políticos. Mas acredito que é possível que isso seja feito nas raízes das relações humanas. Desmontando ignorâncias e preconceitos. Há um enorme potencial no diálogo para comandar mudanças profundas nas sociedades.

Como nutrir esse sentimento em épocas de extremismos?
Nutrir empatia em um local cheio de preconceitos é difícil. A saída para isso é alimentar a curiosidade pelo outro. Nós não conversamos com quem não conhecemos. Esse seria um belo exercício de sensibilização. Ficamos muito tempo com pessoas que são como nós. 


MARILIA NEUSTEIN

Entrevistas sobre " Equívocos" da novela ‘Joia Rara’

Antes peço que me perdoem se me repito, mas é preciso lembrar que eu, Islan, não sou uma fonte confiável de crítica a novela "Joia Rara", por dois motivos que sempre tentei deixar claro: 
  • Não tenho a adequada formação na cultura Budista;
  • Não assisto novelas em geral.

Ainda assim, como um interessado, praticante leigo, leitor e estudante independente, considero que esta novela: "Joia Rara" é uma ótima oportunidade de divulgar e até DESmistifica a prática Budista Brasileira.

Mas é preciso ressaltar: VÃO OCORRER EQUÍVOCOS DE INTERPRETAÇÃO e não cabe a novela elucida-los.

EXISTEM BUDISTA BRASILEIROS praticando em público ou de forma privada em um grande número hoje. O que parece surpreender tanto os praticantes de outras religiões quanto muitos dos próprios praticantes Budistas também.

Infelizmente o Brasil edificou nos últimos 30 anos o hábito de transpor uma função de "didatismo" a um instrumento útil, mas com uma vocação voltada para o entretenimento.

Compliquei? Vamos de novo: "TV pode ser ferramenta de ensino MAS É FUNDAMENTALMENTE ENTRETENIMENTO". Não tem a OBRIGAÇÃO de ensinar ou CORRIGIR nada. Nem deve ser tratada como tal, uma ferramenta de entretenimento.

Uma novela é uma ficção que busca distrair e emocionar. E uma empresa de televisão vive de LUCRO obtido com a divulgação de produtos apresentados a um público massivo. Mesmo que para isto criem monges com poderes paranormais ao estilo "Xico Xavier" ou o "Monge aprova de balas" isto trará o Busimo a discussão e DIVULGAÇÃO... Mais pessoas descobrirão que existem budistas Brasileiros e isto pode ser útil ao Darma, pois quando tiverem contato com estes, AÍ SIM, terão suas impressões e dúvidas sanadas...


Publicado pela Monja Isshin

setembro 17, 2013 
Foram publicadas três entrevistas no dia 13 de setembro na página “Comportamento” do Jornal “O Tempo” (Belo Horizonte, MG) sobre a novela “Joia Rara”, que entrou no ar recentemente no ar, produzida pela Rede Globo. Foram entrevistados o Rev. Prof. Joaquim Monteiro, a Lama Sherab e a Monja Isshin:

Equívocos da novela ‘Joia Rara’ 
Monjas e especialista mostram conceitos usados erroneamente na atração que estreia no dia 16; interpretações sobre reencarnação e renascimento são o foco central

Por Ana Elizabeth Diniz
Especial para o jornal
O TEMPO






Tenzin Gyatso, o 14º dalai lama, líder espiritual tibetano, é considerado a reencarnação do bodisatyva da compaixão. É também visto como a manifestação de Chenrezig, na verdade o septuagésimo quarto numa linhagem que pode ser seguida até um menino brâmane que viveu na época de Buddha Shakyamuni.


Frequentemente me perguntam se eu realmente acredito nisso. Não é simples responder. Mas quando levo em conta minha experiência nessa vida atual e minhas crenças budistas, não tenho nenhuma dificuldade em aceitar que eu estou conectado espiritualmente aos 13 dalai-lamas precedentes, a Chenrezig e ao próprio Buda”, disse ele, certa vez.
Inspiradas nessa história de reencarnação e em outras, as diretoras Thelma Guedes e Duca Rachid escreveram “Joia Rara”, próxima novela das 18h, que vai ao ar no dia 16. Nela, Mel Maia dá vida a Pérola, menina pura e preciosa que é a reencarnação de Ananda, vivido por Nelson Xavier, um líder espiritual budista.
Engana-se quem acredita que a reencarnação é um consenso dentro da filosofia budista. Segundo a monja Isshin Havens sensei, missionária internacional oficial do Soto Zen Budismo e líder do Jisui Zendô Sanga Águas da Compaixão, em Porto Alegre, o budismo considera que não existe algo fixo, concreto, permanente, que se chamaria de alma, como se fosse uma pedrinha que vai de uma vida para outra, sendo polida, ou como se um motorista tivesse simplesmente trocado de carro.
A monja comenta que hoje ela não tem mais nada a ver com aquela criancinha de três anos que ela foi um dia. “Mudou tudo, não trago mais em mim nenhum átomo daqueles, todos os meus pensamentos mudaram. A isso damos o nome de impermanência”.
Tudo muda e se transforma o tempo todo. Para os budistas, quando o homem entende o conceito de impermanência, elimina os apegos que geram o sofrimento. “O que pode continuar depois da morte é o fluxo de consciência que não é sólido. É a energia vital em movimento. São nossas ações positivas e negativas que criam um magnetismo que mantém essa consciência. O que vai eventualmente para outro renascimento é esse fluxo mental, a energia cármica, que guarda a somatória dos efeitos de todas as ações do passado”.
Monja Isshin explica que as memórias são voláteis. “Quando o corpo morre, esse fluxo de consciência vai se transformando, mas não é exatamente a continuação daquela pessoa. No zen, não falamos desse universo posterior. Focamos nossa atenção apenas nesta vida. Quando ficamos especulando sobre o que vem depois, desviamos nossa atenção sobre nosso trabalho aqui e agora, que é a libertação de todo sofrimento. Não temos como comprovar nada, tudo é especulação. Nos recusamos a falar se Deus existe ou não, mas não porque somos ateístas. Estamos renascendo milhares de vezes por segundo, e isso é tudo”, finaliza a monja.


Joaquim Antônio Bernardes Carneiro Monteiro, 57, doutor em estudos budistas pela Universidade de Komazawa, no Japão, e ministro de darma no budismo da Terra Pura (corrente do budismo japonês) está temerário sobre como a filosofia de Buda será abordada na novela “Joia Rara”.

Esse é um tema de complexidade extraordinária, e não acredito que qualquer roteirista tenha a mínima noção do que se trata. Não vejo na TV Globo a capacidade de articular, em uma linguagem de novela, um discurso minimamente consequente sobre o assunto. Não percebo nada que seja vagamente parecido com o budismo”, alerta Joaquim.
Para ele, usar o termo reencarnação é um erro. “O budismo tem ideias como a impermanência e a insubstancialidade e não há como aceitar a ideia de uma mesma substância que se encarna, daí o termo renascimento”.
Para facilitar o entendimento sobre o tema, o especialista faz uma comparação usando as letras do alfabeto. “Sob a perspectiva da reencarnação, a letra A será sempre a mesma letra, mas muda de corpo, de roupagem. Pela ótica do renascimento, a letra A seria todo um conjunto de propensões mentais presentes no momento da morte e que vão provocar no futuro o surgimento de B, que surge em dependência causal de A. Existe um fluxo mental que tem independência relativa do corpo e não cessa com a morte. Não há coisas que sejam idênticas. O corpo morre, mas a mente é intangível”, finaliza. (AED)


Lama Sherab Drolma, 50, é professora do templo de budismo tibetano Chagdud Gonpa Khadro Ling, em Três Coroas, no Rio Grande do Sul.
Ela avalia que a novela “Joia Rara” talvez aponte um novo caminho para as pessoas. “Elas poderão se interessar pela filosofia budista que mostra como lidar com as emoções e a felicidade interna. Por outro lado, será muito difícil que uma novela possa transmitir princípios e ensinamentos tão complexos, de maneira correta e clara. Esse não é um processo rápido e nem fácil”.
Lama Sherab explica que tulku é um termo tibetano que significa reencarnação. “Nesse contexto, tulku é aplicado apenas para os mestres espirituais, pessoas que têm a capacidade de escolher o lugar, a família e as experiências que deseja viver em seu próximo renascimento. Ao contrário, as pessoas comuns vão renascer, mas em função do seu carma. Quando o corpo físico morre, a mente ou consciência sobrevive e reencarna em um novo corpo”.
Sidarta Gautama, o Buda, conseguiu se libertar desse ciclo, alcançou o estado de iluminação e deixou ensinamentos e métodos para mostrar que todas as pessoas podem atingir essa liberação.
fonte:. Equívocos da novela ‘Joia Rara’ . Tema é inviável para o formato. Mente reencarna em novo corpo após morte 

COLETÂNEA PARA APRESENTAR JUNG