A educação afetiva e o futuro dos nossos filhos.
Psicóloga fala sobre como ajudar as crianças a lidar com as emoções, a ansiedade e as angústias.
Solange Lompa Truda (*)
O que mais escutamos hoje é as pessoas contarem situações de estresse intenso no dia a dia, seja no trânsito, no trabalho ou nas relações sociais que começam aos poucos serem presenciais. Isso parece fazer parte da vida das pessoas, mas compartilho aqui minha preocupação quando começamos a escutar esse discurso nas rodas e brincadeiras das nossas crianças. É imitação, repetição do que escutam dos adultos, ou estamos correndo o risco de que virem rotina crianças angustiadas, que não conseguem brincar, dormir, comer, sorrir ou abraçar com segurança?
É por que a vida está mais agitada? Por que ficaram muito tempo sem escola? Por que estiveram mais tempo em telas com o isolamento social? Por que há mais exigências e competição aí fora? Por que algumas crianças têm a agenda cheia de atividades quase como a de seus pais? É por tudo isso e muito mais... Qual é a saída? Até agora, só encontrei uma forma de auxiliar as famílias e os educadores infantis: buscando que eles consigam transmitir aos filhos e às crianças formas de controlar e reconhecer a sua ansiedade e demais sentimentos.
A educação afetiva vai muito mais além de um forte abraço. É permitir explorar para desenvolver. É proporcionar conhecimento do que se passa dentro de nós para melhor nos relacionarmos com o mundo externo. É criar momentos de escuta e acolhimento para as situações difíceis e desafiadoras que as crianças enfrentam, minimizando e auxiliando na redução da ansiedade. Não precisamos ter sempre as respostas para as perguntas que surgirem: quando nos dispomos a escutar, precisamos nos fazer presentes com todos os nossos sentidos, observando e entendendo nossos filhos por diversas perspectivas que uma verdadeira escuta e acolhimento possibilita. Será observando e entendendo o seu jeito de brincar, se movimentar e falar, como formas de expressão da sua angústia ou frustração, que poderemos ajudar nossa criança.
Sabemos o quanto as exigências e demandas dos dias, na expectativa de “recuperarmos o tempo perdido” nesta retomada, podem despertar nas crianças, nos adolescentes e nos adultos maior habilidade para o controle da saúde emocional.
Nós, pais, temos a responsabilidade de, junto aos educadores das escolas, criarmos momentos para desenvolvermos as chamadas “habilidades emocionais” das crianças, onde elas conseguem conhecer seu universo interno, com emoções diversas que nos capacitam lidar com a realidade dos nossos dias. E essas habilidades podem e devem se desenvolver através do jogo ou brincadeiras. Possibilitar essa aprendizagem fortalecerá as relações familiares e sociais.
Sabemos o quanto as exigências e demandas dos dias, na expectativa de “recuperarmos o tempo perdido” nesta retomada, podem despertar nas crianças, nos adolescentes e nos adultos maior habilidade para o controle da saúde emocional. A agitação e nervosismo dos ambientes podem nos afetar diretamente. Se o ambiente familiar, escolar ou do trabalho está contaminado de estresse, conflitos ou desequilíbrio, influenciará diretamente nos hábitos e comportamentos das pessoas que ali estão.
Quando falamos em saúde emocional, estou justamente valorizando situações e ambientes equilibrados, ou seja, quando conseguimos estabelecer um equilíbrio entre o que sentimos, o que pensamos e como agimos. Estabelecer essa harmonia entre sentimento, pensamento e comportamento é fundamental para a qualidade de vida. E é um resultado importante que vamos construindo desde a primeira infância, como mais um processo de aprendizagem, uma vez que é nesse período que são construídas as bases da personalidade e da autoestima. A criança que aprende a gerir e reconhecer suas próprias emoções se torna um adulto menos agressivo, mais tolerante, autoconfiante e capaz de admitir os próprios erros e a lidar melhor com as frustrações.
Enfim, acredito mesmo que nossos filhos vão conseguir, no presente ou no futuro, construir uma relação mais sadia e respeitosa consigo mesmo e com todos que lhe rodeiam, se aprenderem conosco a nomear e administrar suas diversas emoções. Ainda que cuidar e fortalecer a saúde emocional seja uma função de todos, é na família e na escola que se mostra essencial, uma vez que são as principais estruturas responsáveis pela formação da criança.
Fica a certeza de que devemos seguir acreditando na educação emocional das crianças, das famílias e nas escolas, reconstruindo o tempo perdido e valorizando o tempo que temos agora, diante de nós, a cada dia.
(*) Psicóloga especialista na infância e na adolescência
https://gauchazh.clicrbs.com.br/saude/vida/noticia/2021/10/a-educacao-afetiva-e-o-futuro-dos-nossos-filhos-ckupt53g6006w019mw7ns7j8x.html
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