Papo de Homem | A necessidade de pertencer: ficamos melhores quando percebemos a experiência humana compartilhada




Escrito por Kristin Neff





Abraham Maslow, psicólogo americano famoso em meados do século XX, liderou o movimento da psicologia humanista. Ele argumentou que as necessidades de crescimento e felicidade individual não podem ser supridas sem primeiro satisfazermos a necessidade mais básica da conexão humana.

Sem laços de amor e carinho com os outros, argumentou, não conseguimos alcançar o nosso pleno potencial como seres humanos. Da mesma forma, o psicanalista Heinz Kohut que desenvolveu um modelo chamado de “psicologia do self” no início da década de 1970, propôs que o “ato de pertencer” é uma das principais necessidades do self.


Ele definiu o ato de pertencer como a sensação de ser um “humano entre seres humanos”, o que nos faz sentir uma conexão com outras pessoas. Ele constatou que uma das principais causas dos problemas de saúde mental foi a falta de pertencimento ou a percepção de que estamos afastados de nossos semelhantes.

A solidão decorre do sentimento de que não pertencemos ou não estamos na presença de iguais. Se você estiver numa festa imensa, se não conseguir se encaixar, é muito provável que ainda se sinta sozinho. A solidão vem desse sentimento de desconexão dos outros, mesmo que estejam apenas algumas polegadas de distância. A ansiedade de falar em público, a fobia número um da nossa cultura, também é causada por medo de rejeição e isolamento. Por que dizem que quando precisamos falar em público devemos imaginar as pessoas usando roupa de baixo? Porque isso nos lembra que o público é vulnerável e imperfeito também, e essa imagem aumenta o nosso senso de humanidade compartilhada.

Mesmo o medo da própria morte deriva, em grande parte, da apreensão sobre a perda de companheirismo, da proximidade e das relações com os outros. E sentimentos de isolamento podem realmente colaborar para o surgimento dos temores. As pesquisas indicam que o isolamento social aumenta o risco de doenças coronárias em duas ou três vezes. Em contraste, a participação em um grupo de apoio diminui a ansiedade e a depressão vividas por vítimas de câncer, aumentando suas chances de sobrevivência em longo prazo. Uma das principais razões da eficácia dos grupos de apoio é que seus membros se sentem menos isolados no seu calvário. A necessidade de pertencer, portanto, é fundamental para a saúde física e emocional.

Os sentimentos de conexão, assim como os sentimentos de bondade, ativam o sistema de conexão do cérebro. A parte “amizade” do instinto de “cuidar e ser amigo” tem a ver com a tendência humana de ser afiliado, de unir-se em grupos a fim de sentir-se seguro. Por essa razão, as pessoas que se sentem ligadas a outras não ficam tão assustadas pelas circunstâncias difíceis da vida e são mais flexíveis.

Sem dúvida é maravilhoso quando conseguimos que a nossa necessidade de pertencer seja atendida pelos nossos entes queridos, como amigos ou família. Mas se você é alguém que tem dificuldade em manter boas relações, esse tipo de apoio social pode estar faltando em sua vida.

E até na melhor das circunstâncias, nem sempre as outras pessoas são
capazes de nos fazer sentir que pertencemos e somos aceitos. Nos salões
cavernosos de nossas próprias mentes, podemos nos sentir isolados a
qualquer momento, mesmo que as coisas não sejam realmente assim.
Nosso medo e autojulgamento são como viseiras, que muitas vezes nos impedem de ver as mãos estendidas para nos ajudar. Também podemos ter vergonha de admitir para aqueles que amamos o nosso sentimento de inadequação, por medo de que não nos amem mais se souberem como realmente somos. Assim, esconder de outras pessoas o nosso verdadeiro eu aumenta a nossa solidão.

E é por isso que é tão importante transformar a nossa relação conosco, reconhecendo nossa interconexão inerente. Se pudermos nos lembrar a cada queda que o fracasso faz parte da experiência humana compartilhada, então esse momento se tornará um episódio de união, e não de isolamento.

Quando as nossas experiências dolorosas e problemáticas são enquadradas pelo reconhecimento de que muitos outros têm sofrido dificuldades semelhantes, o golpe é suavizado. A dor ainda está lá, mas não se agrava pelo sentimento de separação. Infelizmente, porém, a nossa cultura nos leva a perceber como somos diferentes dos outros, e não como somos parecidos.

* * *

Nota do editor: este texto é um trecho do livro Autocompaixão: Pare de se torturar e deixe a insegurança pra trás, de Kristin Neff, professora no departamento de Psicologia Educacional na Universidade do Texas e pesquisadora de autocompaixão. Ele

Ele foi traduzido e publicado pela editora Lúcida Letra, do Vitor Barreto, amigo e autor no PapodeHomem.
É parte de uma parceria nasce do respeito que temos pelo trabalho da editora, que promove um conteúdo de florescimento humano apoiado por nós. 
Você pode também comprar o livro Autocompaixão: Pare de se torturar e deixe a insegurança pra trás, da Kristin Neff, clicando na imagem abaixo ou nos links da nota, que te leva direto pro carrinho com frete grátis. ;)

O "cara legal" que você esta seguindo é um ROBÔ?!?!?!



Por Clara Velasco e Roney Domingos, G1

12/12/2017


Nas redes sociais, contas falsas são criadas para tentar criar tendências. Lidar com elas será um desafio nas eleições de 2018.



Sabe aquele chat que se usa ao fazer compras pela internet ou para tirar dúvidas sobre atendimento? Os chamados "bots" ou programas de computador feitos para interagir com humanos e dar respostas sobre coisas práticas são cada vez mais comuns. O que também tem se tornado recorrente é o uso dessa tecnologia, aliada a humanos, para influenciar debates nas redes sociais.


Reportagem especial da BBC Brasil publicada pelo G1 na semana passada revela um exército de perfis falsos usados para influenciar as últimas eleições no Brasil. O texto fez parte de uma série batizada de 'Democracia Ciborgue'.

Usuários reais estão sujeitos à manipulação de perfis falsos nas redes sociais 

Doutor em sociologia, diretor da FGV-Dapp e responsável pelo estudo "Robôs, redes sociais e política no Brasil", o professor Marco Aurélio Ruediger diz que em torno de 2% dos robôs no Twitter implicam em retuítes de 15% a 20% sobre determinado tema.

"Se colocar isso como base para 2018, imaginando que a sociedade está extremamente polarizada, a gente espera que o impacto seja bastante significativo. A eleição, na prática, tem 40 dias. O impacto na webesfera vai ser muito forte. A eleição vai se dar em boa parte nas redes sociais", diz Ruediger.


Pablo Ortellado, professor da Universidade de São Paulo (USP), concorda e diz que a situação será ainda mais nociva que nos últimos pleitos. “Vai ser pior que 2014 porque a situação política está ainda mais polarizada, as tecnologias estão mais desenvolvidas e a penetração das redes sociais está maior. A polarização apaixona as pessoas. Mesmo as pessoas verdadeiras viram atores de difusão”, diz.


Segundo ele, além dos bots (ou robôs), que são mais comuns no Twitter, existem as personas, mais disseminadas no Facebook. “Os robôs são programas que postam coisas automaticamente. Têm um repertório de contas falsas, que são operadas por uma máquina, normalmente com o intuito de fazer trending topics. Você cria uma hashtag que está bombando por meio de uma ação falsa, e não porque as pessoas estão falando. É uma estratégia muito comum no Twitter”, afirma.


Existem softwares e programas para isso, segundo Ortellado. É possível criar contas e alimentar o programa com os conteúdos que elas devem disseminar. “Você vai escrevendo várias mensagens, simulando que é uma pessoa. Aí, a cada 2, 3 minutos, o programa publica o conteúdo de forma alternada entre os perfis”, diz.


Por conta desse comportamento automático, o professor afirma que é relativamente fácil identificar esses robôs. Os conteúdos são muito parecidos, senão iguais, e o intervalo de publicação é muito curto. Por outro lado, a facilidade com que eles são criados e mantidos é grande. “Você não precisa que a pessoa interaja com você, já que o objetivo é entrar nos trending topics. Existem muitos milhares de robôs no Twitter, é um percentual grande das contas. É um problema estrutural da rede social faz tempo”, diz Ortellado.


Já as personas são perfis falsos criados e gerenciados por pessoas reais. “É uma estratégia diferente. O objetivo da persona é estabelecer vínculo com pessoas comuns, e não trending topics. É influenciar pessoas por meio de um comportamento automático de manada.”


Para isso, muitas agências de propaganda política têm contratado pessoas para criar e alimentar essas contas com objetivos específicos, segundo o professor. “São distribuídos perfis demográficos, de um jovem de Duque de Caxias (RJ) sem filhos, por exemplo. A pessoa contratada dá vida a esse perfil, faz amizades, interage e fica o dia todo alimentando aquela conta como se fosse aquela pessoa falsa.”


Os objetivos, de acordo com Ortellado, são variados e podem ser desde levantar bandeiras políticas até tirar a atenção de algum assunto que esteja bombando nas redes. “Quando um político está sendo atacado, os perfis ligados a ele entram com a missão de atacar o adversário, de trocar de assunto. Faz tudo maneira articulada. A pessoa normal vê várias coisas e fica com a impressão de que tem um processo espontâneo de mudança de assunto.”



Por terem “pessoas reais” por trás, estas personas são mais difíceis de serem identificadas, segundo Ortellado. “A persona é mais maliciosa. Nos robôs, você vê o comportamento automático; com as personas, é diferente. Não é uma máquina que está fazendo, é uma pessoa que interage, que tem humor. É muito mais difícil de ser notado. Por isso, é pouco estudado.”


De acordo com o professor, estes perfis estão no ar desde pelo menos as eleições de 2012 no Brasil. Há especulação entre os estudiosos que as eleições de 2014, que foram marcadas pela polarização política no Brasil, serviram como laboratório para estratégias de influência digital que foram utilizadas nas últimas eleições americanas e no processo do Brexit, no Reino Unido.




Combate




Segundo Ortellado, o combate a esses perfis é muito difícil, principalmente em relação às personas. “São pessoas se passando por outras. Mesmo assim, o Facebook fecha 1 milhão de perfis falsos por dia em todo o mundo. O Twitter também fecha muitos bots. Mas os perfis são fechados e as pessoas vão lá e fazem novos. É enxugar gelo."



“Não tem muito o que fazer. Tem que aprender a lidar com isso. A culpa disso não é tanto das ferramentas, é do ambiente político. Todo mundo que discute política vai correr o risco de interagir com pessoas falsas que vão tentar te influenciar, além de notícias falsas e boatos. Vamos ver isso em grande escala em 2018", afirma Ortellado.




Ruediger, da FGV, diz que certamente muitas contas do Facebook já existem e já foram utilizadas anteriormente. "Perfis falsos são bastante preocupantes, em especial porque no caso do Facebook você tem algoritmos, de aproximação de pessoas, que torna possível uma amplificação para segmentos que não estão dentro de determinados ecossistemas de conhecidos/amigos. Isso gera uma complexidade bastante grande. Ambos vão ser magnificados ano que vem como a gente nunca viu antes no país. Suponho que o Facebook tenha um efeito bastante complexo porque vai ter uma penetração distinta do Twitter", afirma.

Como funciona

Mas como o robô funciona, de que maneira ele entra na vida das pessoas e tenta influenciar o debate político?


Thiago Rondon, diretor do Instituto Tecnologia & Equidade e fundador do AppCivico, explica: "O robô nada mais é que um programa de computador que atualmente está sendo utilizado para se passar como humano, como nós. Como não temos um contato físico hoje com todo mundo com quem nos relacionamos por redes sociais, então esse programa de computador pode simplesmente começar a se relacionar conosco como se fosse uma outra pessoa, comentando. Por exemplo, colocamos uma foto em uma rede social e alguém vai lá e faz um comentário bacana. Vai mandar uma mensagem e pode ser que você comece ali a se relacionar digitalmente com uma pessoa que é um software na realidade. Isso é a definição dos robôs".

Dados sobre robôs sociais

NO BRASIL 
- Representam mais de 10% das interações sobre política- Durante os protestos a favor do impeachment as interações chegaram a representar 20% - Partidos gastaram mais de R$ 10 milhões na utilização de robôs nas eleições presidenciais 

NO MUNDO - Representam menos de 1% das contas que comentaram sobre o Brexit no Twitter, mas publicaram quase 30% de todo conteúdo sobre o tema- 49 milhões de contas do Twitter podem ser robôs, sendo 15% do total de cadastros


Fonte: FGV, University of Oxford e University of Southern California/Indiana


Segundo Rondon, antes robôs mais simples eram programados dar uma resposta de acordo com a palavra contida na pergunta. Com o avanço da inteligência artificial, entrou em cena a chamada linguagem natural, que interpreta de maneira muito mais eficaz o que o usuário humano está falando, potencializando o uso dos robôs de uma maneira muito rápida.


Na área comercial, isso está sendo usado da seguinte forma: quando o robô não consegue responder algo, isso é direcionado a uma pessoa que ensina o robô como aprender a resolver essa nova questão. Uma grande loja de departamentos brasileira, por exemplo, tem um robô no Facebook que consegue buscar produtos, propor ofertas e dar cupom de desconto.



Alguns desses robôs se autodeclaram assim que começam a atender. Mesmo assim, tem gente que acredita que está falando com um ser humano. "Algumas pessoas, pela interação, como é muito simples, acabam não identificando se é uma pessoa ou um robô", diz Rondon.


Um exemplo clássico: um chat de atendimento digital do Poupatempo, mantido pelo governo de São Paulo para facilitar o agendamento e a retirada de documentos, recebeu mais de 160 mil mensagens de agradecimento do tipo "Deus lhe pague".


Mas a preocupação não são os robôs que realizam serviços. O grande problema são os robôs que começam a influenciar as pessoas de uma maneira deliberada.


"Existem os robôs do bem, mas a pauta no momento são os robôs do mal, que estão sendo usados para criar consenso falso e que dificultam que tenhamos uma análise crítica do que está acontecendo no mundo", diz Rondon.

E como isso ocorre? Rondon explica que hoje as pessoas vivem no que se chama economia da atenção. Ele diz que as plataformas querem deixar seus usuários felizes o tempo todo para que eles permaneçam o maior tempo possível nelas. As plataformas medem essa satisfação, e os robôs usam essas informações.

"Se você entrar em uma rede onde você é confrontando em seus ideais, sua ética, questões religiosas, você não vai mais querer utilizá-la. Essas plataformas aprenderam que precisam nos deixar satisfeitos e felizes a maior parte do tempo. Os robôs estão identificando isso através das comunidades das quais participamos, dos likes que a gente dá em redes sociais e começam a interagir conosco como se fosse uma pessoa que pensa da mesma maneira que nós, compartilhando as mesmas coisas, comentando as mesmas coisas", diz Rondon.

O problema é que esses robôs capazes de aprender comportamentos e simular pessoas estão sendo criados com infraestrutura de apoio pronta para ser executada a favor de uma ideia A ou B. E isso envolve dinheiro, porque esses exércitos de robôs podem ser comprados para influenciar o debate na rede.


"Um caso comum é o Trump por exemplo: ele tem 19 milhões de robôs o seguindo e 17 milhões de humanos. Esses robôs estão espalhados por todas as cidades dos Estados Unidos, em várias comunidades e em váris perfis de pessoas. Na época das eleições, esses robôs começam a falar sobre algum assunto relacionado a esse candidato que faz sentido para essa comunidade. Você tem múltiplos discursos, muito bem direcionados e que essa estrutura montada com muita antecedência permite criar influência. É obvio que com o tempo isso virou um modelo de negócio. São empresas que prestam serviços que estão levantando esses perfis e vendendo os serviços nesse sentido de mensagem."


Como reconhecer um BOT? (Foto: Alexandre Mauro/G1)




Futuro




Ruediger, da FGV, sugere que, em 2018, o Tribunal Superior Eleitoral fiscalize o emprego de recursos pelas campanhas na internet, exija informações das equipes técnicas contratadas pelos políticos, monitore o uso de robôs e as contas criadas pelas campanhas nas redes sociais.


Rondon, do AppCivico, diz que eliminar robôs ou perfis ou apoiar leis que censuram a informação não é o caminho adequado, porque isso pode desequilibrar ainda mais o debate. Ele acredita que será possível identificar formas de inibir essas práticas nocivas, assim como os usuários de e-mail conseguiram controlar os spams.

"Não medite e não se perca"



Vídeo de três minutinhos com uma fala importante do Mingyur Rinpoche que pode ajudar na meditação

Vocês já devem saber que não me atrevo a falar sobre budismo cercado de estudiosos do assunto, certo? 

Faço meus silêncios de quando em quando, deixo quem sabe falar falar e eu fico mais a escutar. E uma coisa que sempre, volta e meia, me acomete é essa preocupação do "será que tô meditando certo?".


E o Gustavo Gitti compartilhou essa semana esse vídeo delicioso do mestre Mingyur Rinpoche sobre a não-meditação e a não-distração.

O vídeo tem menos de dois minutos e tá com legendas em português (qualquer coisa, é só ativar):




Link YouTube | ative a legenda em português


* * *

Para meditar, a coisa mais importante que você precisa saber é: não medite e não se perca. Nos chamamos isso de "não-meditação" e "não-distração". 

Qual o significado da meditação? Será que significa "eu preciso me concentrar, não pensar em nada. Eu preciso de paz. Eu preciso de alegria!". Se você tentar criar essas coisas, isso não vai funcionar. Algumas pessoas não entenderam o que é meditação. Elas acham que meditação é não pensar em nada e apenas focar na concentração. 

Outras pessoas acham que meditação é sobre "entrar em êxtase", você tem que falar "paz", "claridade, abertura". Isto são invenções. Isto é artificial. Meditação não deve ser artificial, deve ser completamente natural. Ela deve seguir completamente o fluxo da sua mente. Isto é muito importante.

Então não meditem.

Você pode se perguntar "se eu não devo meditar, talvez seja o mesmo que minha mente normal antes de ter aprendido a meditar? Eu não sabia nada de meditação, então eu não meditava. Se a não-meditação é boa para mim, então eu não tenho que fazer nada". Mas isso não é verdade.

Você precisa de consciência. 

Consciência é não se perder. É o sentido de estar no presente, o sentido de ser, o sentido de continuidade. Conhecer conscientemente. Consciência significa que você sabe o que está pensando, o que está fazendo, o que está acontecendo dentro de você e ao seu redor. Isso é consciência.

Apenas assista e não se importa se a sua mente está em paz ou não, concentrada ou não, se está pensando ou não. Deixe estar. Então sua meditação se torna maravilhosa. 




* * *
Leitura complementar
Alguns artigos e vídeos que temos sobre meditação e a mente:
Para começar a meditar;
Uma mente distraída é uma mente infeliz;
Apenas sentar | Mente de principiante #5;
"O que aprendi observando a mente", com Henrique Lemes.



Publicado em 05 de Dezembro de 2017


Por Jader Pires
É escritor e editor do Papo de Homem.
Quem já passou dos 30 anos sabe bem o que é isso: as calças que entravam com folga na década anterior estão apertadas ou já não cabem mais.

Envelhecer e engordar parecem andar de mãos dadas, embora alguns especialistas digam que o ganho de peso pode ser evitado com o avançar da idade.

A solução, dizem eles, é encontrar uma atividade física que faça você gastar muitas calorias.

Isso porque os quilos extras estão associados ao metabolismo, ou seja, a forma como o nosso corpo consome energia.

Um metabolismo lento é aquele que queima menos calorias em repouso do que o normal. Também é conhecido como metabolismo basal.

Quando envelhecemos, nosso metabolismo diminui por uma questão de sobrevivência.

Ou seja, as células queimam os nutrientes mais devagar e tendem a se agarrar à gordura, preparadas para ter uma reserva em caso de necessidade.

Mas há outras causas menos conhecidas que nos fazem ganhar peso ao envelhecermos.

A seguir, os principais motivos do ganho de peso com a idade elencados pelo NHS, o sistema de saúde público do Reino Unido, e que não têm a ver com o metabolismo.



1) Medicamentos

Ao envelhecermos, sentimos mais dores. Às vezes, surgem doenças crônicas que exigem remédios por toda a vida. O ganho de peso pode ser um efeito colateral comum de muitos desses medicamentos.

Segundo o NHS, contribuem para o ganho de peso esteroides, antipsicóticos e insulina, entre outros.

Solução: Nunca ignore as recomendações do seu médico, mas fale com ele para saber se é possível substituir alguns remédios por outros.




2) Insônia

Dormir pouco não é bom para o nosso cérebro, para o nosso peso e para a nossa saúde em geral.

Segundo Neil Stanley, especialista em Medicina do Sono do Hospital Universitário de Norfolk e Norwich (Inglaterra), "há uma ligação muito forte entre a falta de sono e o ganho de peso".

À medida que envelhecemos, costumamos dormir menos, então as chances de ganharmos peso crescem, diz o NHS.

Solução: Durma mais. Segundo Stanley, "o sono é vital para a nossa saúde física e mental".




3) Televisão

Seja por prazer ou porque a nossa saúde não nos permite ter uma vida fisicamente ativa, assistir à TV por muitas horas contribui para uma vida sedentária.


Segundo estudos analisados pelo NHS, quando estamos na frente da tela, muitas vezes, consumimos calorias de que não precisamos.


A nutricionista britânica Anna Suckling explica: "As pessoas muitas vezes descobrem que, enquanto estão sentados na frente da televisão, consomem alimentos com alto teor de calorias, como batatas fritas e chocolate".


Solução: Modere o número de horas em frente à TV e preste atenção ao que você come. Prefira lanches saudáveis aos petiscos industrializados.




4) Estresse




À medida que envelhecemos, nossas responsabilidades aumentam. Nos preocupamos mais e sofremos estresse. Uma maneira comum de lidar com essa situação é comer mais do que precisamos.


Nesse sentido, o açúcar acaba sendo um alimento recorrente.


Consumir lanches açucarados dá uma sensação temporária de bem-estar, mas pode ser fatal para a nossa saúde.


Solução: Além de tentar reduzir (ou eliminar) a causa do estresse, prepare lanches saudáveis e tente fazer algum exercício, aconselha Suckling.


Outras causas mais comuns e relacionadas ao metabolismo são a perda muscular, disfunção hormonal e aumento dos níveis de açúcar no sangue.



https://g1.globo.com/bemestar/noticia/por-que-engordamos-quando-ficamos-mais-velhos-e-nao-tem-a-ver-so-com-o-metabolismo.ghtml

Freire, Nise e Gomes, protegidos contra o Brasileiro que não lê...

Unesco reconhece acervos de três brasileiros como Memória do Mundo.

Mas o Brasileiro não lê os Brasileiros.

Durante as manifestações orquestradas pela "Elite" conservadora contra o governo Dilma Rousseff, se via inúmeros despautérios pelo País, em março de 2015, entre os intelectuais do MBL e da "Escola sem partido" entre as frases que chocaram o mundo estava :

"Basta de Paulo Freire!"

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A frase chocou o mundo provocou até uma resposta da ONU defendendo o educador brasileiro, famoso mundialmente pela teoria da pedagogia crítica.

A coisa só se agravou até hoje, mas a tradição não é nova.

Os Nazistas queimaram livros de Thomas Mann, Sigmund Freud, Albert Einstein, Karl Marx... A Ditadura Vargas incinerou em praça pública 1.640 livros de Jorge Amado livros considerados “propagandistas do credo vermelho”, romances considerados “proletários” onde Jorge Amado expunha as mazelas do capitalismo, a exploração do trabalho pelo capital e a luta de classes, exaltava, ao mesmo tempo, a sensualidade do povo baiano, suas crenças e tradições, o folclore e a cultura popular; Nos EUA a tradição continuou no macartismo da década de 1950, onde muitas bibliotecas dos Estados Unidos queimaram livros considerados comunistas e até a "Administração de Alimento e Remédio" (sim, a FDA) ordenou queimar os livros de Wilhelm Reich por estimular o estudo da sexualidade e do orgasmo, ou mais recentemente na controvérsia da queima do Alcorão por soldados em 2010...

O fato é que hoje, Paulo Freire é reconhecido MUNDIALMENTE, como exemplo de educador, pedagogo e filósofo brasileiro.

Considerado, mundo a fora, um dos mais notáveis pensadores da história da pedagogia é simplesmente o brasileiro mais homenageado em todos os tempos, com 29 títulos de Doutor Honoris Causa por universidades da Europa e da América, e centenas de outras menções e prêmios, como Educação pela Paz, da UNESCO, que Freire recebeu em 1986.

Outra "não amada" Brasileira é Nise da Silveira, renomada médica psiquiatra brasileira, aluna de Carl Jung.

Nise ficou presa de 1934 a 1936, durante o Estado Novo, acusada de envolvimento com o comunismo. Ela foi denunciada por uma colega de trabalho, que era enfermeira. No presídio Frei Caneca, ela dividiu a cela com Olga Benário, a militante comunista alemã que na época era casada com Luís Carlos Prestes, também conheceu o escritor alagoano Graciliano Ramos, que a cita em seu livro Memórias do Cárcere.

Em 1944, Nise se recusou a seguir o tratamento da época, que incluía choque elétrico, cardiazólico e insulínico, camisa de força e isolamento. Foi transferida, como “punição”, para o Setor de Terapia Ocupacional do Pedro II, que era um espaço desprestigiado na época. Porém, foi nesse setor do hospital que ela implementou, junto com o psiquiatra Fábio Sodré, a Terapia Ocupacional no tratamento psiquiátrico e revolucionou a área assim como a discussão sobre o que é normal e o que é loucura.


Agora queimar escritos de Freire, os escritos e quadros de Nise é crime contra a humanidade.

Pense nisto.


Brasileiros não leem brasileiros, não os ouve... e não ligam para brasileiros.

Até o mundo lhe fazer parar... ler e ouvir.



http://g1.globo.com/globo-news/jornal-globo-news/videos/v/unesco-reconhece-acervos-de-tres-brasileiros-como-memoria-do-mundo/6305072/

19 razões para apoiar a implantação de ciclovias

19 razões para apoiar a implantação de ciclovias

Infraestrutura para bicicletas pode ser criada com facilidade, bastando vontade política de fazê-lo. Foto: Willian Cruz
Foto: Willian Cruz
ciclovia nao prejudica o comercioA construção de ciclovias, em São Paulo e em outras cidades brasileiras, representa um enorme passo em direção a cidades mais justas, mais inclusivas e mais democráticas.
Mesmo que ainda existam pontos de melhora, que as ciclovias ainda não estejam totalmente conectadas e que não atinjam toda a cidade, elas representam melhor aproveitamento do viário, com mais segurança e saúde para seus cidadãos, menos estresse, menos congestionamento e menos mortes no trânsito. Uma cidade que nossos filhos merecem receber de nossas mãos.
Sabemos que há um crescente movimento contrário à implantação de ciclovias na capital paulista que, apesar de alegar motivos nobres como “qualidade” e “segurança do ciclista”, resumem-se a uma disputa mesquinha para preservar áreas de estacionamento e não reduzir em hipótese alguma o espaço de circulação do automóvel (nem mesmo na forma de redução da largura de faixas de rolamento em avenidas).
Ao mesmo tempo em que nega o direito de utilização segura das ruas em bicicletas, essa mobilização defende a continuidade do uso do espaço público para fins particulares, priorizando o estacionamento de automóveis em detrimento da proteção à vida das pessoas que utilizam o veículo bicicleta.
É importante ressaltar que estacionar o carro na rua não é direito garantido por lei, seja na esfera municipal, estadual ou federal, ao contrário da destinação de espaço seguro para circulação de bicicletas. Além disso, comodidades e interesses econômicos individuais não podem sobrepujar a coletividade, a proteção à vida e o direito do cidadão que utiliza a bicicleta de circular com mais segurança, sem se sentir ameaçado por pessoas que pensam de forma diferente e se utilizam de outros veículos.
A maior cidade do Brasil ainda está estacionada no século passado em relação à mobilidade. Negar o desenvolvimento sustentável e o uso da bicicleta como alternativa de transporte aos cidadãos é manter um conceito ultrapassado e já abandonado nas cidades mais desenvolvidas do mundo, além de negar a quem utiliza esse meio de transporte seu direito inalienável de escolha.



Na decisão de apoiar ou se opor à construção de ciclovias, deve-se pesar os pontos abaixo:

1Construir ciclovias significa preservar vidas, pois a bicicleta é frágil frente ao tamanho e velocidade dos demais veículos nas ruas. Queremos uma cidade onde idosos e crianças possam ocupar as ruas sem medo.
2Ciclovias promovem ocupação do espaço público, tornando-o espaço de convivência e não apenas de passagem. Espaços ociosos, pouco frequentados e abandonados pelo poder público e pelos cidadãos têm maior índice de criminalidade. Por isso, investir na bicicleta aumenta a segurança pública.
3Ciclovias são boas para o comércio, pois ciclistas são clientes potenciais que passam em baixa velocidade e não exigem grandes áreas de estacionamento, podendo facilmente parar em frente a uma vitrine, entrar numa loja, conhecer um serviço. No entorno da Ciclofaixa de Lazer, onde 100 mil pessoas circulam a cada domingo, comerciantes mais conectados com as tendências de mercado souberam aproveitar o fluxo de clientes potenciais e estão lucrando com isso. Um estudo da Portland State University mostrou que quem vai às compras de bicicleta visita as lojas mais vezes e, na média total, consome mais. Em Melbourne, na Austrália, comerciantes que investem em uma vaga de carro têm AU$ 65 de retorno por hora, mas substituindo esse espaço por seis vagas de bicicletas o retorno é de AU$ 283 por hora.
4Há demanda pelo uso da bicicleta em São Paulo. Pesquisa de Mobilidade da Região Metropolitana, realizada pelo Metrô em 2012, registrou 333 mil viagens diárias em bicicleta durante os dias úteis, mesmo com a infraestrutura ainda reduzida, deficiente e desconectada. Vale ressaltar que esse número já representava, naquele ano, mais do que o dobro das viagens de táxi, contabilizadas em 158 mil/dia.
5Em locais onde ciclovias foram implantadas na cidade, o uso da bicicleta cresceu espantosamente: na avenida Faria Lima, onde quase não passavam ciclistas, o contador instalado na ciclovia contabiliza hoje 2500 viagens diárias; na Consolação, contagens indicam aumento de 227% no fluxo de bicicletas após a implantação da ciclofaixa. Estrutura cicloviária induz demanda.
6Grande parcela da população só adotará a bicicleta a partir da proteção oferecida por áreas segregadas. Na pesquisa sobre Mobilidade Urbana realizada pela Rede Nossa São Paulo e Instituto Ibope, em 2012, entre as pessoas que afirmaram não utilizar nunca a bicicleta, 63% afirmaram que passariam a usar havendo melhores condições. Dentre essas pessoas, 27% traduziram essa falta de segurança expressamente em necessidade de ciclovias.
7A mesma pesquisa apontou que uma em cada quatro pessoas usa a bicicleta, ainda que eventualmente. Entre os jovens de 16 a 24 anos, esse número saltava para 47%. A quantidade de pessoas que utilizava a bicicleta “todos os dias” ou “quase todos os dias” também é bem maior do que se imagina: 7%. Somados, os ciclistas habituais e eventuais representavam, em 2012, 32% da amostra, praticamente um terço da população entrevistada e o dobro da parcela de pessoas que usava frequente ou eventualmente a moto (16%).
8O uso da bicicleta é benéfico à saúde dos cidadãos, pois o simples fato de usar a bicicleta como transporte os afasta do sedentarismo e de todos os problemas de saúde deles decorrentes. A atividade física regular previne doenças cardíacas e AVCshipertensão, ajuda a prevenir e a controlar o diabetes, aumenta a resistência aeróbica, reduz a obesidade, ativa a musculatura de todo o corpo, diminui a ocorrência de doenças crônicas, faz bem para a saúde do idoso e aumenta o tempo de vida.
9O uso da bicicleta melhora a qualidade de vida de quem a utiliza, não só pelo ganho em saúde mas também pela diminuição do stress, melhorando os relacionamentos interpessoais e humanizando o trânsito e a cidade.
10As ciclovias proporcionam uma retomada do uso das ruas pelas crianças, sendo uma opção de lazer que resgata uma faceta da infância há muito esquecida nas regiões mais urbanizadas da cidade. Já temos crianças utilizando as ciclovias junto a seus pais e, conforme sua aceitação, abrangência e conectividade aumentarem, esse fenômeno tende a crescer, com o potencial de permitir que pedalem sozinhas até a escola.
11Quem opta pela bicicleta economiza tempo, sobretudo nos horários de pico, quando a velocidade média dos automóveis chega a meros 6,9 km/h em alguns casos – a mesma de alguém caminhando com pressa. Os Desafios Intermodais realizados desde 2006 comprovam que a bicicleta é bem mais rápida que o carro nesses horários – em um deles, chegou antes até mesmo do helicóptero, que necessita aguardar autorização para decolagem e tráfego.
12A bicicleta traz economia em dinheiro, pois os custos com compra, utilização e manutenção são muito menores que o do automóvel, representando redução de gastos até para quem a utiliza em substituição ao transporte público. Além de ser um fator importante para as camadas sociais mais baixas, o valor economizado pode ter destino em consumo, aquecendo comércio e serviços.
13O uso da bicicleta é benéfico à cidade, por ser um meio de transporte não poluente. Conforme pesquisa do Instituto Saúde e Sustentabilidade, nos próximos 16 anos a poluição atmosférica matará 256 mil pessoas no Estado (quase 44 pessoas por dia) e a concentração de partículas poluentes no ar levará a internação de 1 milhão de pessoas e um gasto público estimado em mais de R$ 1,5 bilhão, com pelo menos 25% das mortes (59 mil) ocorrendo na capital. Construir ciclovias, portanto, preserva vidas também de forma indireta e diminui o gasto público com o sistema de saúde e o da população com medicamentos para tratar doenças causadas pela poluição.
14A bicicleta é um veículo silencioso e sua adoção em maior escala trará uma diminuição da poluição sonora da cidade.
15A construção de vias para bicicletas têm um custo muito menor que a de vias para veículos motorizados. Quanto mais cidadãos as adotarem, menor será o gasto com criação e manutenção do viário a longo prazo, economizando o dinheiro da cidade.
16O incentivo e a garantia de uso seguro da bicicleta democratizam o deslocamento, aumentando o acesso dos cidadãos às diversas áreas da cidade, ainda que as condições de transporte coletivo dificultem a chegada a alguns locais. Todos os cidadãos são importantes para uma cidade, não apenas os que se deslocam em automóveis e essa mensagem é passada claramente com a construção de ciclovias.
17Ciclovias atuam no sentido de reduzir os congestionamentos e a lotação dos transportes públicos, ao passo que cada vez mais pessoas troquem suas opções de deslocamento pelas bicicletas, ainda que eventualmente.
18Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE), que tem força de Lei Municipal, tem como uma de suas diretrizes a “prioridade no sistema viário para o transporte coletivo e modos não motorizados”. Isso significa que o uso de bicicletas deve ter prioridade sobre o uso do automóvel. Portanto, a construção de ciclovias cumpre uma das diretrizes dessa Lei. O PDE também determina que a cidade deve “desestimular o uso do transporte individual motorizado”, “adaptar as condições da circulação de transportes motorizados a fim de garantir a segurança e incentivar o uso de modais não motorizados”, “garantir o deslocamento seguro e confortável de ciclistas em todas as vias” e “implantar redes cicloviárias”, entre outros apontamentos.
19Da mesma maneira que o PDE, a Política Nacional de Mobilidade Urbana, que tem força de Lei Federal, tem como uma de suas diretrizes a “prioridade dos modos de transportes não motorizados sobre os motorizados”, determinando que o uso de bicicletas deve ter prioridade sobre o uso do automóvel. A construção de ciclovias cumpre, também, uma das diretrizes dessa Lei, que determina ainda a “dedicação de espaço exclusivo nas vias públicas para os serviços de transporte público coletivo e modos de transporte não motorizados”, entre outras citações.

"As pessoas estão perdendo a cabeça. E precisamos acordar para isso!'

Mestre da “Atenção Plena”, Jon Kabat-Zinn: "As pessoas estão perdendo a cabeça. E precisamos acordar para isso!'

Por Robert Booth ~ Domingo 22 de outubro de 2017 no www.theguardian.com

Ao tirar do budismo a prática meditativa, Kabat-Zinn foi pioneiro em uma abordagem meditativa usada em todo o mundo para tratar dor e depressão. Ele fala sobre Trump, 'McMindfulness' e como uma “visão” que teve em 1979 levou a uma mudança na consciência do mundo.

A polícia em Cambridge, Massachusetts, não mostrou piedade de Jon Kabat-Zinn em maio de 1970. O homem agora considerado o padrinho da “”Atenção Plena” moderna” era um estudante de pós-graduação do “Massachusetts Institute of Technology” (MIT) e um manifestante contra a guerra do Vietnã, agitando ao lado dos “Black Panthers” e do dramaturgo francês Jean Genet.
"Eu tenho todo o meu rosto maltratado", ele lembra. "Eles colocaram um instrumento no meu pulso chamado garra, que eles apertaram para gerar enormes quantidades de dor sem deixar marcas. Mas eles certamente deixaram muitas marcas no meu rosto. Eles me puxaram para trás da delegacia de polícia e me espancaram.

Hoje, aos 73 anos, o rosto restante e alinhado de Kabat-Zinn não mostra as cicatrizes desse agressão fora de uma delegacia de polícia, quando apoiava a uma greve nas universidades, deixando-o com pontos de sutura.

O ativista anti-guerra, muito "machão", revoltado com o papel do MIT na pesquisa de armas nucleares é hoje o catalisador por trás do interesse crescente do ocidente na meditação consciente, tendo trazido práticas de contemplação budista para uma cultura secular quase 40 anos atrás.

Ele foi pioneiro em um curso de redução de estresse baseado em “Atenção Plena” de oito semanas na Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts para pacientes com dor crônica, aproveitando os fundamentos da meditação consciente, como ensinado pelo Buda, mas com os aspectos religiosos do budismo retirados. "Eu me inclinei para para a origem, para estruturá-lo e encontrar maneiras de falar sobre isso evitando o tanto quanto possível o risco de ser visto como proselitismo budista, ou “nova era”, misticismo oriental ou simplesmente soar falso", diz ele.

Kabat-Zinn meditava desde 1965, mas não tinha intenção de adotar o budismo diretamente. "Entrei nisso através da porta do Zen, que é uma abordagem muito irreverente ao budismo", diz ele. Ele fala muito sobre o dharma, o termo para o ensino do Buda, mas que o termo não é uma exclusividade budista e observa que, insistir que a “meditação consciente” seja uma exclusividade budista é como dizer que a gravidade é “inglesa” porque foi identificada primeiro por Sir Isaac Newton.

A “UMass Stress Reduction Clinic” abriu suas portas em 1979 e atendeu pessoas com dor nas costas crônica, vítimas de acidentes industriais, pacientes com câncer e às vezes paraplégicos. Kabat-Zinn definiu a meditação consciente como "a consciência que surge de prestar “Atenção”, de propósito, no momento presente e sem julgamento". Concentrando-se na respiração, a ideia é cultivar a sua atenção no corpo e na mente, como é momento a momento, e assim ajudar com a dor, física e emocional.Participants meditate during a class at Unplug, a new meditation studio in Los Angeles.

"Muitas vezes o exercício se dá em apreender que as sensações estão em constante mudança, mesmo as altamente desagradáveis e, portanto, são impermanentes", diz ele. "Isto dá origem à experiência direta de que "a dor não é você". Como resultado, alguns de seus pacientes encontraram maneiras de "ter uma relação diferente com a dor", enquanto outros sentiram que suas dores diminuíam. O título de seu best-seller de 1990 sobre a sua clínica capta sua abordagem para aceitar o que a vida lança em você: “Full Catastrophe Living“, Algo como “vivendo em plena catástrofe”.

Agora, em 2017, Kabat-Zinn vibra com uma crença urgente de que a meditação é o "ato radical de amor e sanidade" que mais precisamos na era de Trump, com a aceleração das mudanças climáticas e desastres como o ocorrido na Grenfell Tower em Londres.

Ele tem uma plataforma para usar. Os cursos de “Atenção Plena”, que nasceram de seu trabalho, estão sendo lançados no Reino Unido para estudantes, condenados, funcionários públicos e até mesmo políticos. É prescrito no NHS em algumas áreas para prevenir a depressão recorrente, com 2.256 pessoas que completaram cursos de oito semanas no ano passado. O curso reduz a probabilidade de recaída em quase um terço, de acordo com pesquisas. Nos EUA, os campeões de basquete da NBA, Golden State Warriors, são os mais praticantes depois que seu treinador, Steve Kerr, fez da “Atenção Plena” um dos principais valores da equipe.

"Ele é o Sr. Mindfulness em relação à cadeia secular", diz Lokadhi Lloyd, professor de meditação em Londres, que cursou os cursos liderados por Kabat-Zinn. "Sem ele, eu não acho que a “Atenção Plena” teria chegado a proeminência que tem".

Partidários como Willem Kuyken, professor de psicologia clínica na Universidade de Oxford, sugerem que o trabalho pioneiro de Kabat-Zinn poderia algum dia vê-lo mencionado no mesmo scopo que Darwin e Einstein. "O que eles fizeram para a biologia e a física, Jon fez uma nova fronteira: a ciência da mente e do coração humanos", diz Kuyken.

Mas a “Atenção Plena”, agora, deve ser aproveitada de uma maneira maior, para fazer nada menos que desafiar a maneira como o mundo é. Esta é última missão que ele se impôs quando voou para Londres para falar com parlamentares de 15 países sobre como agir com mais sabedoria.

"Se esta é apenas outra moda, eu não quero ter parte dela".

Há sinais de que muitos outros concordam com o seu potencial comercial da ""Mindfulness". Globalmente, 18 milhões de pessoas se inscrevem no aplicativo Headspace , praticando meditações de “Atenção Plena” através de seus fones de ouvido. Nas lojas, a gama de roupas "conscientes" não é menos presente (tem até "calcinha" de "mindfulness" onde a única coisa consciente parece ser a marca) - livros para colorir e mesmo quebra-cabeças dot-to-dot testemunham a crescente ubiquidade da idéia - mesmo que Kabat -Zinn ridiculariza muito isso como "McMindfulness".

Seu trabalho atraiu sua participação de céticos, como Miguel Farias e Catherine Wikholm, autores de The Buddha Pill , que advertem que a “Atenção Plena” não é cura e avisa de um lado sombrio, se não for ensinado corretamente.

Wikholm, um psicólogo clínico, disse que "o fato de que a meditação foi projetada principalmente, não nos tornar mais felizes, mas para destruir nosso senso de auto individual - quem sentimos e pensamos que somos a maior parte do tempo - é muitas vezes ignorado na ciência e da mídia sobre isso ".

Houve também 20 relatórios de casos publicados ou estudos observacionais onde as experiências de meditação das pessoas eram angustiantes o suficiente para justificar um tratamento posterior, de acordo com um estudo recente. Eles incluem psicose "induzida pela meditação", mania, despersonalização, ansiedade, pânico e lembranças traumáticas re-experimentandas.

Kabat-Zinn e outros professores altamente experientes apontam que estes são incidentes raros e principalmente relacionados a retiros intensivos em vez de cursos de rotina onde os meditadores praticam talvez uma meia hora por dia. Mas ele também admite que "90% da pesquisa [nos impactos positivos] é inferior", com estudos importantes ainda necessários.

A decisão de Kabat-Zinn de investir sua energia na tentativa de injetar consciência em políticas globais não deve surpreender. No tumulto político no MIT no final da década de 1960, ele ajudou a estabelecer o Comitê de Coordenação da Ação da Ciência para fazer campanha contra o trabalho da universidade com o Departamento de Defesa, incluindo pesquisas sobre mísseis nucleares de múltiplas cabeças.

Suas atividades regularmente fizeram a primeira página do jornal estudantil, The Tech , quando ele apareceu em plataformas com Noam Chomsky, apoiou o Viet Cong e, em uma ocasião, traduziu o chamado radical revolucionário do dramaturgo francês Jean Genet. Eles meditaram antes de ações, mas uma semana relataram que ele e outros invadiram uma reunião da MIT Corporation cantando: "Chute o burro da classe dominante - pesquisa de guerra final" e "Poder para as pessoas".

Em 1969, ele disse uma reunião : "Estamos nos aproximando de um ponto crítico único na história. Estamos nos aproximando de um desastre do ego de grandes proporções - superpopulação, poluição de todos os tipos concebíveis, incluindo mental ". "Estamos preocupados com isso agora mesmo", diz ele. "Trump é mais louco do que qualquer coisa que já vimos ... Este é o nosso trabalho no momento, para ver se podemos manter um grau de sanidade e reconhecimento dos medos e preocupações daqueles que não vêem o mundo do jeito que fazemos . A tentação é cair em campos onde você desumaniza o outro, e não importa o que eles façam, eles estão errados, e não importa o que fazemos, estamos certos ".

As ameaças de Trump para aniquilar a Coréia do Norte são um exemplo de um povo "perdendo a cabeça", assim como o envenenamento por chumbo do abastecimento de água em Flint , Michigan. Este mês ele está viajando lá para falar em benefício para algumas das vítimas da decisão de 2014 de substituir o suprimento por água subtraída. "A mente humana, quando não faz o trabalho de “Atenção Plena”, acaba tornando-se um prisioneiro de suas perspectivas miopes que me coloca acima de tudo", diz ele. "Estamos tão envolvidos nas perspectivas dualistas de" nós "e" eles ". Mas, finalmente, não há "eles". É para isso que precisamos acordar ".

Kabat-Zinn acaba de escrever um artigo argumentando que, em meio à "ascendência de Trump e as forças e valores que ele representa", "racismo endêmico e violência policial" e "injustiças sociais e econômicas persistentes ... isso pode ser um momento crucial para nossa espécie para nos fazer sentir ... mobilizando-se no mundo dominante ... o poder da “Atenção Plena".

A meditação é o "ato radical de amor e sanidade" que pode ajudar a gerenciar o medo e a aversão que ele acredita apoiar tantos problemas do mundo. O desastre da Grenfell Tower que custou cerca de 80 vidas foi, em parte, a uma falta de “Atenção Plena” - "escuta profunda e autêntica" - por tomadores de decisão que claramente sentiram uma aversão às queixas dos moradores.

"Havia muitas indicações e motivos para examinar a segurança desse edifício com o revestimento mais barato. As pessoas estavam dizendo: "Esta é uma armadilha de fogo", diz ele. "E porque essas pessoas estavam sem meios ou significado político, acho que eles foram sistematicamente despreocupados. Eles pensaram: "Não é meu trabalho atender a isso". Todos dizem: "Por que não fizemos alguma coisa?", Mas a razão é que ninguém disse: "Vamos prestar “Atenção” ao que está sendo dito!"

Kabat-Zinn nasceu em uma família judia não praticante e cresceu no alto Manhattan, perto de onde seu pai trabalhou como cientista na Universidade de Columbia. Foi difícil crescer nas ruas em torno de Washington Heights e ele brinca, ele é "o meditador mais improvável do mundo - um garoto das ruas de Nova York".

Ele começou a meditar enquanto estudava biologia molecular no MIT em 1965 quando participou de uma conversa do zen budista Philip Kapleau que  "tirou o topo da minha cabeça". Em 1979, casado, com filhos e trabalhando na Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, ele teve uma "visão" de 10 segundos em um retiro de meditação na floresta, a 80 quilômetros a oeste de Boston. "Vi em um flash não apenas um modelo que poderia ser posto em prática, mas também as implicações a longo prazo", diz ele.

Kabat-Zinn previu clínicas de “Atenção Plena” Plena plena espalhando-se para hospitais e clínicas com milhares de praticantes ganhando a vida em uma boa causa. "Porque era tão estranho, quase nunca mencionava essa experiência para os outros", diz ele. "Mas foi tão convincente que decidi tomar o coração da melhor maneira possível".

Qualquer um que tenha tentado meditar sabe o quão difícil é quando a mente continua vagando em pensamentos, às vezes triviais, às vezes não. A dificuldade que as pessoas em dor crônica deve ter enfrentado em abraçar a indescritível qualidade de “Atenção Plena” não pode ser superestimada. Mas Kabat-Zinn se tornou um professor experiente. Por mais de 30 anos, "todas as manhãs às cinco horas", ele iria fazer yoga e depois se sentar na almofada e meditar. Ele permaneceu com seu programa de redução de estresse de oito semanas até 2000, espalhando sua influência através de livros, CDs de meditação guiados, ensinando em retiros e intermináveis conferências.

Em 2002, o psicólogo galesa Mark Williams trabalhou com colegas em Cambridge e em Toronto para combinar o programa dos EUA com terapia cognitivo-comportamental (CBT) para formar um curso de CBT com oito semanas de conscientização que, em 2004, foi recomendado para prescrição no NHS para a depressão recorrente. Williams ensinou “Atenção Plena” ao comediante Ruby Wax na Universidade de Oxford quando ela estava enfrentando uma depressão profunda. Ela então popularizou isso através do livro Sane New World de 2013 .

A terapia cognitiva baseada na “Atenção Plena Mental (MBCT) demonstrou ser pelo menos tão eficaz quanto os antidepressivos na prevenção da recaída e, em um experimento de dois anos pela equipe de Willem Kuyken , 44% da coorte MBCT para recaída em comparação com 47% das recaídas com tratamento com medicação. Em um ensaio de 173 pessoas , também foi encontrado resultados que apontam para redução da gravidade da depressão atual, com uma redução média de 37% nos sintomas. Está sendo amplamente ensinado no setor privado com professores MBCT qualificados que oferecem cursos em salas de paróquia, locais de trabalho e além.

"A ciência da meditação está em sua infância", diz Kabat-Zinn. "Precisamos de mais uma década de estudos. As pessoas falam sobre inteligência artificial e aprendizagem de máquinas, mas não arranhamos a superfície do que a inteligência humana é realmente sobre tudo ".

Então, agora, Kabat-Zinn viaja pelo globo. Ele é fascinado por ensinar na China, onde detectou um renascimento nas tradições contemplativas do país como forma de enfrentar seus desafios. Ele lidera retiros intensivos de cinco dias nos EUA, corre cursos na Áustria, Coréia e Japão. Ultimamente, ele conversou com David Simas, ex-conselheiro da Casa Branca e agora diretor executivo da Fundação Obama, que foi inspirado a aceitar a meditação de Kabat-Zinn. "Eu sinto que é minha responsabilidade, uma vez que, em grande parte, as pessoas me culpam por começar esta bola inteira rolando para participar da maneira que eu puder", diz ele. "Isto é, em algum sentido, a fruição daquela visão de 10 segundos que tive em 1979".

• Este artigo foi alterado em 23 de outubro de 2017. Uma versão anterior disse que a dificuldade que as pessoas em dor crônica deve ter enfrentado não pode ser subestimada. Isso foi corrigido para superestimado.


https://www.theguardian.com/lifeandstyle/2017/oct/22/mindfulness-jon-kabat-zinn-depression-trump-grenfell

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