Freud na hipnoterapia: a história que ninguém te contou

 

Sigmund Freud foi um dos maiores nomes da Psicologia e ajudou a popularizar a Hipnose em todo mundo. No entanto, antes de criar a Psicanálise usava o método para investigar os problemas de seus pacientes.


Foi então que encontrou dificuldades para hipnotizar a todos, o que fez com que abandonasse o uso da técnica. Mas, será que Freud realmente parou de utilizá-la? E quais as influências da hipnose na psicanálise difundida pelo especialista?


O grande encontro com a hipnose


Freud nasceu em 1856, em Príbor, na região da Morávia e formou-se em medicina pela Universidade de Viena em 1881. Por isso ao praticá-la se viu inconformado quanto as limitações da psiquiatria na prática da saúde mental.


Foi então que em 1885, se interessou pelas doenças nervosas e ficou fascinado com as palestras ministradas por Jean-Martin Charcot.


Charcot foi um cientista francês, que vinha ganhando destaque na comunidade cientifica por ser capaz de diferenciar doenças físicas de distúrbios mentais. Sem falar que tinha como principal ferramenta a Hipnose.


A técnica utilizada por Charcot era por meio da sugestão direta, na qual ele induzia seus pacientes a um estado de transe. Dessa forma, poderia sugerir que, ao acordar, o paciente não apresentasse determinado sintoma.


Depois disso, o paciente acordava, e muitas vezes de fato sem sintomas. Diante dessa demonstração, Freud percebeu que muitos sintomas físicos na verdade poderiam derivar de transtornos psicológicos, como é o caso da histeria, e isso se tornou seu principal objeto de estudo.


Dentre os métodos usados para casos como a histeria, estavam as massagens genitais e até choques elétricos. Foi então que Freud utilizou a hipnose para aliviar os sintomas de seus pacientes histéricos. Por isso com o tempo, tentou convencer toda a comunidade cientifica dos benefícios da técnica, mas sem êxito, decidiu abandonar a academia.


Contudo, Freud percebeu ao longo do tempo que seus trabalhos com a hipnose estavam se tornando mecânicos. Afinal, ele queria descobrir a real causa desses sintomas e não simplesmente retirá-los do paciente.


Foi então que em 1889, viajou novamente para a França, dessa vez para a Escola de Nancy, ministrado pelo neurologista Hyppolyte Bernhein, para aprender novas técnicas de hipnose.


A descoberta da mente inconsciente


Bernhein mostrou para Freud, que na realidade, os distúrbios mentais estão atrelados à memórias traumáticas, e que é possível acessar esse conteúdo reprimido com o uso da hipnose.


O neurologista afirmou que o paciente em estado “não hipnótico” possuía uma espécie de barreira, a qual era quebrada em transe, sendo possível acessar esse conteúdo retraído.


Foi então que Freud começou a imaginar que nossa mente se dividia em níveis, pois em determinados níveis de consciência não era possível acessar todo o conteúdo reprimido.


No entanto, havia memórias que eram mais profundas que outras, e foi então que começou a desenvolver seu estudo sobre o inconsciente (mas só se consolidou quando criou as bases da Psicanalise).


A “cura pela fala” e o método catártico


Em 1893 Freud, junto com Josef Breuer, escreveram vários artigos e um dos mais famosos foi o “Estudos sobre a Histeria” que tinha como princípio a hipnose e o método catártico.


Afinal, ele consistia em uma técnica de hipnose na época, na qual o hipnotizador pedia para que o paciente falasse tudo o que vinha em sua mente. Assim, por meio desse conteúdo, ele investigava a verdadeira causa dos sintomas chegando até a memória traumática. Então quando de fato o hipnotizado tinha consciência de tal fato, os sintomas simplesmente desapareciam.


Estava tudo caminhando para o sucesso quando Freud atendeu Anna O. (nome fictício para Bertha Pappenheim) em 1880.


O caso de Anna


Esse caso tinha sido apresentado como “um caso de cura pelo método catártico”, que mostrava sua eficácia. Porém, em 1890, quando atendeu Emmy Von N, que um ano após ter sido considerada curada pelo mesmo método, voltou a apresentar sintomas.


Emmy fez uma sugestão a Freud, disse para ele não interromper a sua fala e não se manifestar, e ele a deixou a falar livremente sobre suas lembranças, sem usar a hipnose. Foi então que Freud percebeu que a melhora utilizando o método catártico era apenas passageira, pois ao sair do transe, as pessoas não se lembravam mais do que haviam sido sugestionadas.

Após o caso frustrado de Emmy Von, Freud alegou que a hipnose não era 100% eficaz, e que não se considerava um bom hipnotista. Ele via que a hipnose curava os sintomas, mas não entendia o motivo de serem curados. Decidiu então procurar um método próprio com os aprendizados do caso de Emmy Von.

Foi então que criou a “associação livre” que foi uma das premissas da Psicanálise, que consistia no paciente, agora consciente e deitado em um divã, para falar o que viesse à sua mente, permitindo ao analisado expor seu medos, desejos, pensamentos, sonhos e lembranças.

Sendo assim, com esses estudos foi possível que as primeiras criações de Freud fossem realizadas. Dessa forma, ele identificou fenômenos mentais além dos perceptíveis pela consciência e teorizou que nossa mente possui o consciente, o inconsciente e o pré-consciente.

Freud realmente abandonou a hipnose?

Até aqui, você entendeu toda a trajetória de Freud utilizando a hipnose até a criação da Psicanálise.

É notório que ao longo do tempo, a Hipnose sofreu diversas modificações em seu método vem se tornando cada mais científico. Mas voltando a época de Freud, o método da hipnose ainda era feito de forma arcaica, sem muitas comprovações, apenas sabia que poderia ter acesso à memórias do inconsciente por meio da indução.

No entanto, não tinha uma técnica eficaz para chegar a raiz do problema e sanar as questões trazidas pelos pacientes. Por esse motivo, Sigmund Freud decidiu parar de utilizá-la.

Mas traçando um paralelo com a teoria da Psicanálise e as evoluções da hipnose podemos perceber muitas semelhanças até mesmo em técnicas usadas por ambas as abordagens.

Será que de fato Freud decidiu parar de utilizá-la ou apenas a adaptou e decidiu dá-la um novo nome?

Venha entender como seria possível essas adaptações.







As instâncias da mente


Freud, quando começou utilizar a hipnose, entendeu que a mente é divida em níveis, e para a Psicanálise basicamente a mente se divide em três instâncias, o ID, EGO e SUPEREGO.



O “Id” é a representação do nosso lado mais primitivo, fica localizado no nível “Inconsciente” do cérebro, e não reconhece elementos sociais, portanto, não há certo ou errado.


Sendo assim, é atemporal e não se importa com as consequências de seus atos. Por isso prefere ficar na zona de conforto, qualquer coisa que ele tenha que gastar energia fazendo, ele prefere deixar para lá. E é lá que estão nossas pulsões e emoções.


Sentiu alguma semelhança? Mas calma, que ainda tem mais!


O “Ego” para Freud é o elemento principal entre as três instâncias. Ele evolui através do Id e sua principal função é ser mediador entre o “Id” e o “Superego”, pois ele possui vínculo tanto com a parte inconsciente como a parte consciente.


Ele é guiado pelo princípio de realidade, e também funciona como uma espécie de “película”, por exemplo. Assim, o Id é a parte mais profunda da nossa mente, e lá também estão guardadas nossas memórias e traumas.


Sendo assim, através do Ego, ele escolhe todo o conteúdo que pode ser passado para o nível da consciência, ou seja, aqueles que forem causar menos dor e desconforto.


O superego


E por fim, o “Superego” que representa o aspecto social das três instâncias. Ele representa a moralidade que foi resultado em grande parte, das imposições e castigos sofridos na infância. Por isso pode ser visto como uma instância reguladora. Assim como a ética, a noção de certo e errado e todas as imposições sociais se internalizam no Superego.


Após ter um entendimento sobre as instâncias da mente proposto por Freud, vamos traçar um paralelo com o Modelo da Mente proposto por Gerald Kein, o fundador da OMNI Hypnosis Training Center.


Ela pressupõe que a mente se divide em três partes, o Consciente, o Inconsciente e o Subconsciente. Apesar de ter nomes diferentes as duas abordagens explicam o mesmo fenômeno.


O Id para Freud pode se assemelhar tanto com as instâncias do Subconsciente como a do Inconsciente, A memória de longo prazo assim como as emoções são funções do Subconsciente, e também são esferas atemporais e não gostam de sair da zona de conforto. Também é função do Id nos manter vivos e lá onde estão nossos impulsos mais primitivos que no modelo da mente esse é o papel do Inconsciente (ambas representam a parte mais “profunda” da mente).


O Ego pode ser comparado com o Fator Crítico, ambas estão ligadas com a parte do Consciente e servem como mediadoras das outras duas instâncias. Além disso, também como uma espécie de “guardião” para que memórias traumáticas ou conteúdos que possam gerar qualquer desconforto venha à tona e cause grandes estragos emocionais.


E por último, o Superego pode se assemelhar com o Consciente, pois ambas são analíticas e extremamente racionais, comandando também a moralidade e a ética existente em nós.


STEAMS x Associação Livre


Como foi explicado no texto, a Associação Livre é uma das premissas da Psicanálise, que “substituiu” a hipnose, mas vamos entender de fato como funciona essa técnica.


O paciente deve estar deitado no divã, e o Psicanalista vai pedir para ele que o diga tudo o que lhes viesse à mente, sem pensar muito, e pode dar esse comando várias vezes.


Dessa forma, a associação livre é uma maneira de driblar as defesas do Ego e acessar os conteúdos do inconsciente.


Além disso, existe também uma técnica na Hipnose que se chama STEAMS (Terapia Gestalt), que consiste basicamente na mesma técnica da Associação Livre. Assim, o hipnoterapeuta vai falar uma frase e pedir que o cliente a termine.

Ainda assim, não satisfeito com a primeira resposta, vai pedir várias vezes até que consiga driblar o fator crítico e chegar nas respostas do subconsciente.


Freud continuou a usar a hipnose, simplesmente utilizou uma “indução” diferente, e a nomeou como “associação livre”. Dessa forma, Freud enquanto estava na Escola de Nancy aprendeu que “toda hipnose é uma auto-hipnose” e simplesmente facilitava o processo com a sua sala, que era cheia de objetos, papeis de parede exóticos e o divã.


Assim quando seus pacientes entravam em sua sala era uma forma de “indução instantânea”, uma jornada neste território sem o uso da incessante influência verbal que os hipnotizadores menos experientes pensavam que era necessário.


Sim, Freud usou a hipnose


É fato que a Psicanálise surgiu com as contribuições da Hipnose na Psiquiatria. Sigmund Freud criou esse método pois sua grande insatisfação com a hipnose era que ele via o fenômeno, mas não entendia qual era a raiz do problema de seus pacientes e por diversos fatores como por exemplo ele não se achar um bom hipnotista.


A questão é que, independentemente quais foram os motivos pelos quais ele deixou se utilizar a hipnose de Breuer em suas sessões, toda a construção da sua abordagem girou em torno das premissas da Hipnose. Sendo assim, a mente se divide em níveis e é possível acessar o inconsciente com algumas técnicas.


Portanto, a hipnose de 1880 não é a mesma que a de hoje, pois ao longo do tempo ela sofreu diversas modificações e hoje é uma técnica aceita até mesmo pelo Conselho Federal de Psicologia. Ao longo de muitos anos de estudo e aprofundamento, ela vem sendo objeto de estudo das comunidades cientifica e vem sendo desmistificada cada vez mais.


O objetivo desse artigo foi promover um estudo sobre a Psicanálise no olhar da Hipnose e como a construção dessa abordagem teve grande influência dessa técnica. Não apenas na Psicanálise, mas também na Psicologia em geral.


– Por Laura Medeiros

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