Estar endividado te deixa doente. O que fazer sobre isso?
O endividamento pode fazer com que o seu cérebro te sabote na hora de lidar com a situação. Descubra por que isso acontece e veja dicas práticas para começar a sair do vermelho.Criado em 06 nov 22 Atualizado em 07 nov 22 Sair das Dívidas
Imagine a seguinte situação: você acabou de acordar e todo o dinheiro que tinha na conta sumiu. Não sobrou nada, nem para pagar os boletos. Só que ainda está no meio do mês e você precisa do dinheiro para continuar vivendo. O que você faz? Pede socorro para algum parente? Apela pro cheque especial? Usa o cartão de crédito? Faz um empréstimo?
Essa situação hipotética na verdade tem um belo pé na realidade. É que hoje, um em cada quatro brasileiros realmente não consegue pagar todas as contas do mês, segundo uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria. É como se o dinheiro tivesse, de fato, desaparecido.
O levantamento também mostra que 34% dos entrevistados atrasam contas básicas como água ou luz e 16% já precisaram vender algum bem para quitar dívidas. Na hora do aperto, muitas pessoas buscam pelas alternativas citadas anteriormente – e é aí que a bola de neve financeira começa.
Os motivos que levam uma pessoa a se endividar são muitos, mas qual será o impacto disso sobre a saúde mental e física de uma pessoa? Descubra a seguir.
Endividamento e superendividamento: qual é a diferença?
Antes de tudo, é preciso entender dois conceitos importantes: qual é a diferença entre estar endividado e estar superendividado?
Se você usa cartão de crédito, por exemplo, você está endividado, porque o seu limite é uma espécie de empréstimo curto que deve ser pago, sem falta, na data de vencimento da fatura.
Isso, por si só, não é um problema. Problema mesmo é o tal do efeito “bola de neve”, que costuma nascer com o uso do cartão quando uma pessoa perde as rédeas do controle financeiro e gasta mais do que consegue pagar.
Geralmente funciona assim: você faz várias compras parceladas, pega mais de um cartão de crédito, não consegue pagar nenhum deles, e vai vendo os juros correrem soltos até dever mais do que você realmente gastou no começo de tudo.
Na hora em que não sobra mais nenhum dinheiro para as despesas básicas do dia a dia (como aluguel e mercado), e tudo o que você ganha vai direto para pagar dívidas, acontece o que chamamos de superendividamento.
Como vivem as pessoas superendividadas?
Pelo menos 80% delas está com a saúde mental comprometida de alguma forma, segundo um estudo conduzido pela psicóloga Tatiana Filomensky, coordenadora do tratamento para compradores compulsivos no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em 2011, a psicóloga foi convidada pelo Procon a participar de um projeto piloto para ajudar pessoas superendividadas a lidar com as dívidas. Na época, ouvindo as dores de mais de 300 voluntários, ela notou que o superendividamento gera uma bola de neve emocional que acaba afetando a saúde física das pessoas.
“Estar endividado é um quadro que vai além das questões econômicas. Você dorme pouco, você dorme preocupado, você passa a ter quadros de insônia ou perda de sono. Aí vem junto problemas com concentração, desânimo, perda de vontade de fazer as coisas, uma preocupação excessiva e um quadro de ansiedade, porque você não sabe como vai fazer para pagar a conta do mês seguinte”, afirma Tatiana Filomensky.
Ainda que o endividamento afete as relações sociais, é sempre muito difícil que uma pessoa endividada converse com amigos ou familiares sobre o problema. Dá vergonha, gera culpa… Às vezes nem as pessoas mais próximas de quem está endividado sabem que ele está lidando com isso, como demonstra um estudo da Serasa, feito em parceria com a Opinion Box em 2021.
Eles mapearam o perfil de brasileiros endividados em diferentes pontos do país, para saber as consequências disso no emocional. O estudo mostrou que 88% sentiam vergonha por ter dívidas e contas atrasadas. 85% sofrem com insônia ou dificuldade para dormir causadas pela preocupação com as dívidas, enquanto que mais de 60% dos entrevistados afirmaram que as dívidas impactaram o relacionamento com familiares, amigos ou com o parceiro.
Se falar de dinheiro ainda é tabu, falar de dívida é ainda pior.
Quais são os efeitos do endividamento no corpo?
A psicóloga Tatiana Filomensky explica que o endividamento leva as pessoas a viverem preocupadas, tensas, angustiadas e viver dessa forma por um tempo prolongado gera um quadro importante de estresse. Isso pode provocar a baixa da serotonina, que é um neurotransmissor importante que regula o humor, o sono e a disposição.
O sistema de recompensas do cérebro também fica muito comprometido nestes casos. Geralmente, quem está endividado e busca um plano para sair do vermelho precisa cortar alguns excessos e viver uma vida mais regrada para dar conta de pagar o que deve. Fazendo uma analogia, é como manter uma dieta super restritiva quando se quer emagrecer.
Só que comprar, assim como comer, é algo extremamente prazeroso. Seja comprar uma coisa para você ou para alguém que você ama, por exemplo. Isso acontece porque, na hora da compra, outro neurotransmissor importante entra em cena: a dopamina, que é responsável por essa sensação de bem-estar que vem quando a gente faz alguma coisa que nos deixa muito feliz. Isso ajuda a explicar porque é tão difícil manter a rédea das finanças tão curta.
Outros estudos provam que o cérebro não é o único impactado: em 2013, a Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, constatou que as dívidas estavam relacionadas com o aumento da pressão arterial em um grupo de jovens de 24 a 32 anos. Os resultados também indicaram que as pessoas mais endividadas apresentavam um nível de estresse quase 11% maior do que a média.
No Brasil, 78% das pessoas consideram que a incerteza financeira é a principal causa de preocupação que elas têm na vida, segundo pesquisa feita pela International Stress Management Association. Na outra ponta, pessoas estressadas estão mais propensas a ter seu sistema imunológico afetado e sofrerem com problemas cardíacos. Ou seja: tudo está conectado.
Qual é o papel do cérebro nessa história?
O cérebro é um órgão incrível que aprende rápido demais – mas nem tudo o que ele aprende faz bem para a sua saúde financeira. A psicologia econômica é um campo de estudos que se dedica a analisar os atalhos que o cérebro pode seguir de forma involuntária, seja pro bem ou pro mal do seu bolso.
Quem explica um pouco dessa ciência é a economista Neide Ayoub, da Escola de Proteção e Defesa do Consumidor do Procon. Ela também faz palestras gratuitas sobre psicologia econômica. Neide diz que nós temos dois modos de funcionamento mental: um rápido, automático e outro reflexivo e ponderado.
“É óbvio que se eu for tomar um empréstimo, eu preciso usar o segundo sistema e considerar N aspectos daquela decisão. Só que o mercado e os bancos fazem o impossível para que você decida pelo crédito usando o modo automático”, diz Neide Ayoub.
Ou seja: existem maquiagens que o mercado, o marketing e sistema financeiro tradicional fazem para enganar o seu cérebro na hora de tomar uma decisão importante. Quando uma pessoa não percebe essas armadilhas, fica fácil cair nelas. Existem também alguns vieses cognitivos que atuam nesse sentido. Neide Ayoub nos explicou dois deles. O primeiro é a aversão à perda.
Por exemplo: já reparou que quando um vendedor percebe que você está com medo de se arrepender de uma compra, ele procura substituir esse medo pelo medo de você perder a oportunidade de comprar. Argumentos como “essa é a última peça” ou “hoje é o último dia dessa promoção” são estratégias para criar um senso de urgência sobre a compra que te impede de raciocinar com clareza.
O segundo viés é a crença na força de vontade futura, que é tipo acreditar no seu eu do amanhã. Neide explica que esse viés leva a uma tendência de pensar que, milagrosamente, você terá mais disciplina amanhã. Logo, esse viés cognitivo leva muitas pessoas a cometerem excessos contando que, no futuro, elas irão compensar – algo que, neste caso, seria equivalente a gastar menos amanhã.
Também é comum que uma pessoa endividada (ou mesmo quem não tem tanto controle sobre a própria vida financeira) faça contas mentais ao invés de colocar tudo no papel. Seja para calcular o tamanho de uma dívida ou os prós e contras de um empréstimo.
Como sair do ciclo do endividamento?
Existem alguns caminhos que você pode seguir caso esteja em uma situação de endividamento. Veja a seguir:
1. Fale sobre o problema
Um dos passos mais importantes é falar sobre o problema e se livrar da culpa. É difícil, mas ninguém deveria sentir vergonha por não ter a vida financeira organizada. A economista Neide Ayoub conta que as pessoas superendividadas costumam sentir vergonha e não percebem que, muitas vezes, o crédito também é concedido a ela de uma forma irresponsável, ou seja, é uma responsabilidade compartilhada.
2. Não sinta vergonha
Outro ponto importante, considerando sua saúde mental, é pensar que ninguém se endivida de propósito. Se fosse um amigo seu te contando que está passando por um problema financeiro, o que você diria para ele? Será que você seria tão duro com ele quanto é com você mesmo?
3. Faça um cálculo para saber o tamanho da dívida
Depois de cuidar destas questões com atenção, é hora de traçar um plano de recuperação. Neste momento, papel, caneta e calculadora serão grandes aliadas. Esqueça as contas mentais, pois o cérebro tem a tendência de ser extremamente otimista. As contas mentais sempre fecham, mas a calculadora não vai te enganar.
4. Conheça seus credores e abra negociações com eles
Quando você já souber o quanto deve, o planejamento entra em cena. Às vezes, é mais interessante guardar dinheiro por um tempo e pagar tudo à vista do que fazer um parcelamento, por exemplo. Não fique ansioso ou ansiosa querendo quitar tudo de uma vez só para tirar a restrição do seu nome. Isso pode te levar a fazer más negociações ou cair em um empréstimo com mais juros do que os que já estão na sua mão.
Quem quer negociar dívidas ou adiantar parcelas de empréstimos pode aproveitar o décimo terceiro salário. Fique atento também aos feirões de desconto e oportunidades que aparecem. No fim de ano costumam aparecer alguns deles. Preste atenção no aplicativo ou nos emails que as instituições financeiras costumam enviar sobre isso, assim você pode conseguir quitar dívidas e se livrar de uma vez dessas preocupações.
5. Cuide da sua saúde
Por último, mas não menos importante: lembre-se sempre de que a saúde financeira do seu bolso anda lado a lado com a sua saúde mental. Você só tem a ganhar quando lida com as dívidas ao mesmo tempo em que também passa por um processo terapêutico, se isso for possível.
Dito tudo isso: que tal um plano para começar o próximo ano saindo do vermelho?
Este conteúdo faz parte da missão do Nubank de devolver às pessoas o controle sobre a sua vida financeira. Ainda não conhece o Nubank? Saiba mais sobre nossos produtos e a nossa história.
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