Leslie John, George Loewenstein e Drazen Prelec (2012) descreveram em um artigo "Dez práticas questionáveis" utilizadas com frequência muito acima do desejável por pesquisadores em psicologia.
São elas:
- Não relatar todas as formas de medir as variáveis da pesquisa;
- Aumentar a coleta de dados a partir de análises intermediárias, sem alcançar o número inicialmente planejado;
- Deixar de relatar todas as condições experimentais de um estudo, informando apenas aquelas que “deram certo”;
- Parar de coletar dados porque o resultado que se procurava foi encontrado;
- Arredondar o valor de probabilidade para favorecer o resultado que se esperava no estudo;
- Relatar seletivamente os estudos que “funcionaram”, deixando de relatar aqueles que “não funcionaram”;
- Excluir dados de forma a fazer com que os resultados deem certo;
- Relatar resultados inesperados como se fossem esperados desde o início da pesquisa;
- Defender que resultados não são afetados por fatores demográficos quando, na verdade, não se tem certeza disso; e
- Falsificar dados.
Segundo os autores, essas estratégias questionáveis são frequentemente utilizadas por dois mil pesquisadores dos EUA que responderam a um questionário em que as práticas foram avaliadas de forma indireta. No questionário, perguntou-se ao participante sobre o uso que seus colegas faziam das práticas, bem como se o participante já havia realizado uma delas em algum momento. Dessa forma, foi possível fazer uma comparação para se estimar a prevalência das práticas, bem como não levantar suspeitas nos participantes (quem diria que faz uso de práticas questionáveis abertamente?). Em algumas delas, mais de 60% relataram tê-las utilizado em algum momento e, em outras, como é o caso de falsificação de dados, menos de 2% disseram tê-lo feito.
Ainda que não seja a regra, casos específicos são importantes para demonstrar o ponto aqui. Há alguns anos, Diederik Stapel, um psicólogo social holandês, ficou internacionalmente famoso porque foi descoberto que ele era um fraudador contumaz de dados de pesquisa. Em 2011, após uma denúncia de ex-alunos de doutorado, foi constituído um comitê na Universidade de Tilburg (instituição em que Stapel trabalhava na época) para avaliar se ele havia tido má conduta ética em atividades de pesquisa. Após meses de investigação, o próprio Stapel admitiu ter inventado dados em dezenas de artigos científicos publicados em diversas revistas, entre elas a Science e o Journal of Personality and Social Psychology. Os periódicos se apressaram em iniciar a despublicação 14 desses trabalhos. Ele foi demitido da universidade a qual era ligado e, basicamente, viu encerrada sua carreira científica. Tempos mais tarde, o próprio Stapel publicou um livro tentando justificar o injustificável. Em formato de e-book, 15 ele apresentou seus motivos, bem como as estratégias que utilizava para criar os dados de suas pesquisas.
O que aconteceu com esse psicólogo social é um triste exemplo de como a artimanha e o comportamento antiético também estão presentes na ciência. Ainda que existam mecanismos de controle, as pessoas desenvolvem formas de burlá-los e só ficamos sabendo o que aconteceu mais tarde, quando o sistema consegue identificar a fraude e o fraudador. O caso de Stapel ainda ganhou mais notoriedade porque ele desenvolveu toda uma carreira apresentando pesquisas sobre fenômenos e efeitos contrários à nossa intuição (i.e., contraintutivos), o que lhe rendeu notoriedade e muitas citações de seus trabalhos. Na verdade, ele percebeu que tais temas eram muito valorizados pelos editores das revistas científicas e a criação de dados que demonstravam tais fenômenos aumentava as chances de seus manuscritos serem bem avaliados para publicação durante o processo de arbitragem. Ele, portanto, descobriu um filão e fez uso dele em benefício próprio, fabricando dados integralmente. É uma história lamentável, mas fundamental para lembrarmos sempre que oportunistas estão presentes também no meio científico.
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