Ninguém mais está ouvindo? - Ouvidores de vozes?

Ouvidores de vozes?

Escrito por Livia Inácio de CURITIBA

"Ninguém mais está ouvindo? Tem um homem me mandando matar e destruir." A condição que levou Leandro Torquato Amaral, 38, a pedir ajuda médica pode ser encarada pela medicina como um transtorno mental. Mas, para uma organização internacional de pessoas que escutam vozes, ela não é sinônimo de doença.

No Movimento Internacional dos Ouvidores de Vozes (HVM, na sigla em inglês), a audição é analisada com base na trajetória de cada pessoa e debatida em grupos de apoio. A proposta também visa quebrar tabus associados ao fenômeno.

Os ouvidores de vozes se reúnem em grupos terapêuticos que confrontam estigmas, entre eles, o da loucura, e encontram caminhos para lidar com o que ouvem, como identificar gatilhos. O processo envolve também buscar estímulos que afastem as vozes vistas como negativas ou, em alguns casos, conversar com elas.


A proposta também avança ao ampliar o leque de possibilidades terapêuticas. "Alguns pacientes querem calar suas vozes, outros não têm interesse nisso. Precisamos parar de enxergar as pessoas à luz de uma mesma chave", pontua a psiquiatra Sabrina Stefanello.


Apesar de ser usada como prática terapêutica, a abordagem é pouco conhecida pela psiquiatria tradicional. À frente de um dos mais antigos programas de pesquisa sobre esquizofrenia do Brasil, o professor Mário Louzã, da USP, nunca acompanhou a proposta de perto, mas acredita que grupos de apoio entre pares podem aliviar o sofrimento psíquico nos casos em que a audição indica algum transtorno mental. O especialista reforça apenas que, para isso, o tratamento médico precisa ser mantido em paralelo.


O movimento vem pautando debates na esfera pública. Em Ribeirão Preto, uma lei municipal de 2020 instituiu o 14 de setembro como Dia do Ouvidor de Vozes. Na data, são realizados encontros para quebrar tabus sobre o fenômeno. O HVM realiza ainda um congresso global, que acontece anualmente. Em 2022, o evento foi no Brasil.


Esta reportagem foi produzida como parte do 7º Programa de Jornalismo de Ciência e Saúde da Folha de S.Paulo, que teve apoio do Instituto Serrapilheira, do Laboratório Roche e da Sociedade Beneficente Albert Einstein.

https://www.google.com/amp/s/www1.folha.uol.com.br/amp/equilibrio/2023/03/ouvidores-de-vozes-se-reunem-em-grupos-terapeuticos-e-confrontam-estigma-da-loucura.shtml





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