Templo budista recém-inaugurado em Canelinha torna a cidade uma das principais referências no país para a prática Diorgenes Pandini/Agencia RBS
Alessandra Pizzigatti (E) e Cleo Scherer moram nas proximidades do templo e ajudam a manter o espaço diariamente
Foto: Diorgenes Pandini / Agencia RBS
Todas as manhãs, logo ao primeiro raio de sol, Alessandra Pizzigatti sai de casa, caminha até a edificação erguida a 500 metros de distância e prepara o colorido altar, cercado por imagens e uma série de objetos que representam a fartura, a sorte ou a saúde. Sem pressa, acende incensos, ajeita recipientes virados na noite anterior, enche-os com arroz e acende as velas coloridas feitas especialmente para a prática budista.
O colorido altar é o centro do templo com capacidade para 300 pessoas, inaugurado em novembro, tornando Canelinha uma das mais importantes referências aos praticantes do budismo no Brasil.
A estrutura feita com tijolos ecológicos produzidos pelos próprios moradores é a maior do tipo em Santa Catarina e levou um ano para ficar pronta, mas o Centro de Estudos Budistas Bodisatva (CEBB) de Canelinha existe há quase cinco. 


O sítio funciona como uma comunidade voltada às práticas budistas e somente cinco pessoas moram no local, mas pelo menos outras sete casas já estão sendo erguidas.
O CEBB Mendilá é um dos oito polos da CEBB instalados em áreas rurais brasileiras – o que, segundo os moradores, faz toda a diferença.


– Aqui, você tem o contato com o verde, inclusive fisicamente, pisando na grama ou encostando nas flores. Às vezes isso não parece importante, mas quando você sai da cidade com o propósito de olhar para dentro de si mesmo e buscar a calma, é crucial. Assim, quando estiver em ambientes hostis, ao invés de manifestar impaciência, estresse ou incompreensão, você acaba transformando sua atitude interna – explica Alessandra.

Os alojamentos espalhados pelo terreno têm capacidade para 80 visitantes – e às vezes ficam pequenos, como ocorreu durante a inauguração do templo. Na ocasião, mais de uma centena de adeptos visitou o centro, que também recebeu o lama (sacerdote) Padma Samten, fundador do CEBB nacional e ex-professor de física quântica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, hoje um dos principais nomes do budismo no país.

Desapego de vícios e busca pela saúde mental e espiritual
Enquanto Alessandra alinha os últimos detalhes do altar, um batalhão de formigas já trabalha duro para carregar os grãos de arroz, um a um. A cena não incomoda os frequentadores, e ninguém as mata ou atrapalha o serviço – afinal, segundo as práticas budistas, todas as formas de vida merecem respeito.
Fora do templo, um boi que pasta nas imediações levanta e recebe carinho na cabeça como se fosse um cão. “Um homem só é nobre quando consegue sentir piedade por todas as criaturas”, já disse o buda Sidarta Gautama, considerado o fundador dos preceitos do budismo seis séculos antes de Cristo.
Embora não exista um controle de conduta dentro do CEBB, uma série de práticas é desencorajada pelos moradores e frequentadores – principalmente porque acabariam destoando do grupo, que busca naquele espaço uma unidade voltada à saúde mental e espiritual. O consumo da carne é um exemplo.

Cigarro, álcool e outros vícios também, e só podem ser usados “do portão para fora” – mas não resultam na exclusão de ninguém, explica Alessandra. Segundo ela, o grupo ajuda a pessoa a encontrar um equilíbrio natural, a partir de dentro dela mesma e sem precisar de substâncias externas. 

Cleo Scherer, morador do CEBB e gestor da área de saúde da comunidade, complementa que a alimentação equilibrada, o caráter desintoxicante, as atividades físicas, as terapias naturais, a osteopatia e a meditação ajudam nesse processo libertador.

– As pessoas estão muito atreladas ao aspecto de agitação mental, enquanto aqui a ideia é reduzir esses processos que provocam o adoecimento – diz Scherer.

DIÁRIO CATARINENSE