Em entrevista ao GLOBO, ele diz que está negociando uma aliança com Marina Silva (Rede)

 'Todos que governaram com o Centrão se lascaram’, diz Ciro Gomes

Em meio a críticas a adversários, ex-ministro diz que, se eleito, abrirá mão da reeleição em prol do trato com o Congresso e afirma que falta de alianças é reflexo de veto do ‘quadro conservador’


Escrito por Camila Zarur e Jussara Soares

30/01/2022 - 07:18 / Atualizado em 30/01/2022 - 07:42

Ciro Gomes lança pré-candidatura à Presidência da República Foto: Reprodução


BRASÍLIA - Pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT, Ciro Gomes chega à sua quarta eleição presidencial apresentando a experiência como trunfo e reafirmando a maior parte das convicções que expôs quatro anos atrás, quando saiu da disputa em terceiro lugar, com 12,5% da preferência do eleitorado. Em entrevista ao GLOBO, ele diz que está negociando uma aliança com Marina Silva (Rede) e revela que, para o posto de vice, sonha com uma mulher ligada a pautas sociais. No trato com o Congresso, defende uma relação em novos termos — e usa o fim da reeleição como argumento para atrair parlamentares. Para ele, o país pagará um preço alto se o sistema político continuar como está:


— O Brasil está ameaçado de ser uma ex-nação.


Assim como fez com Ciro, O GLOBO solicitará entrevistas a todos os pré-candidatos à Presidência.


O senhor foi candidato à Presidência em 1998, 2002 e 2018 e perdeu. Hoje, está atrás de Lula e Bolsonaro e empatado com Moro. Por que acredita que agora poderá vencer?

Há um tempo natural na política que você tem que construir. O Lula só ganhou na quarta eleição. Sinto que a cada dia fica mais madura a possibilidade de eu ser presidente. Eu sou, sem qualquer falsa modéstia, um olho em terra de cego. Tenho a biografia limpa e sou o mais experiente. O Lula é um animal político genial e sabe que na hora em que eu colar a Dilma com ele, as pessoas vão lembrar a data em que entraram no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) , vão lembrar a data em que perderam o emprego. O Moro e o Doria são viúvas do Bolsonaro.


Quais falhas o senhor cometeu nas campanhas anteriores que pretende corrigir agora?

Todo mundo comete falha. Um candidato em campanha fala pelos cotovelos, e o antagonismo fica ali vigiando. Eu não posso me desculpar de erros, alguns de 20 anos atrás. E, acredite, eu aprendi muito. Você imagina, agora, o Lula está fazendo a proeza de juntar o (Guilherme) Boulos e o (Geraldo) Alckmin em São Paulo. Daí só pode sair crise.


Hoje estão na disputa o Bolsonaro, que fez o Auxílio Brasil, e o Lula, do Bolsa Família. Como quebrar a polarização?

Essas políticas compensatórias não têm centralidade. Elas são coadjuvantes importantíssimas, porque 129 milhões de pessoas comem precariamente no Brasil, e 20 milhões passam fome. Sabe qual é o público alvo do Auxílio Brasil? 17 milhões de pessoas. O Auxílio Covid, o que o Congresso votou, atingia 40 milhões de pessoas. Por isso que, ao fazer o Auxílio Brasil, a avaliação de Bolsonaro segue em queda. A memória afetiva do Lula é que ele criou isso (o Bolsa Família). A memória afetiva do Bolsonaro é nenhuma. Cada vez que o Bolsonaro aumenta esse negócio, ele aumenta a memória afetiva do Lula.

 

O senhor defende o fim da reeleição. Qual modelo vai propor?

Terei apenas um mandato de quatro anos, e eu abro mão da minha própria reeleição, em troca da reforma. A reeleição virou uma causa ancestral não confessada do impasse entre um presidente reformista e um Congresso reativo, porque, se eu acerto a mão, eu praticamente ganho a reeleição.


O senhor faz críticas às alianças feitas com o Centrão pelos governos do PT e de Bolsonaro. Como vai governar?

Quero que o Congresso concorde comigo para a gente enfrentar os lobbies poderosos do baronato, da plutocracia, e que a gente mande esse pacote de reformas direto a um plebiscito popular. Pronto. O Itamar Franco governou assim. Eu governei assim.


O senhor governou um estado...

Mas não deu certo? Collor foi cassado, Fernando Henrique nunca mais venceu uma eleição nacional nem o PSDB, que governou com essa gente. Lula foi parar na cadeia, Dilma foi cassada, Michel Temer saiu pela porta dos fundos, e todos eles governaram com essa gente. E Bolsonaro está desmoralizado governando com essa gente. Todos se lascaram. Ou seja, se repetir isso, o Brasil está ameaçado de ser uma ex-nação.

 

O PDT negociava com o PSB, que está conversando com o PT. O PSDB e o Cidadania anunciaram que estão em conversas avançadas. O União Brasil está sendo disputado pelo Bolsonaro e pelo Moro. Como estão as suas conversas para alianças?

Eu sou uma pessoa vetada pelo quadro conservador brasileiro, e não é pelos meus defeitos. É por esse conjunto de ideias reformistas que eu defendo. Então, isso se reflete na política. Cadê as alianças do Doria? Cadê a força eleitoral do Doria? Eu tenho conversado com o (Gilberto) Kassab (PSD). Será que ele vai vir para mim? O que eu posso fazer é dialogar.


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Qual é o perfil de vice que o senhor procura?

Seria alguém ao Sul, Sudeste, uma mulher, vinculada a essas questões sociais. Mas isso só vai acontecer em julho. Será que eu vou conseguir uma aliança? Se eu não conseguir, solução caseira. Eu e Marina (Silva) temos conversado. Mas lá dentro (da Rede) há outra tensão grave. A Rede, que não queria nem ouvir falar do Lula, agora está dividida.

Membros do seu partido defendem que, se sua candidatura não deslanchar, o PDT deveria retirá-la.

Mentira. Faz parte da estratégia de bastidor do gabinete de ódio do Lula fazer isso. Ele opera dentro de todos os partidos sem nenhum tipo de escrúpulo para causar esse tipo de psicologia. Acabamos de ter uma convenção aberta, 800 convencionais participaram. Não apareceu nenhuma mãozinha para dizer “olha, vamos poupar o Ciro, ele está muito cansado”.

Dentro da bancada do PDT no Congresso, há parlamentares próximos a Lula e próximos a Bolsonaro...

Vão ter que sair do partido. O partido não aceita bolsonarista aqui dentro, ponto final.


O senhor vê a possibilidade de ter uma aliança mais à frente com outros candidatos da terceira via?

Simone Tebet (MDB) tem um grande valor. Não conheço as propostas dela, mas eu sei que ela tem espírito público, honradez, raiz republicana. Acho que o Brasil devia dar uma oportunidade de ouvi-la. E (Luiz Felipe) d’Avila é um camarada que tem o neoliberalismo doutrinário, mas é um republicano decente. O resto é tudo viúva do Bolsonaro. E deixaram de ser Bolsonaro por oportunismo.

 

Em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, em quem o senhor votaria?

No Ciro Gomes.

 

Nem cogita essa hipótese?

Nenhuma hipótese. Remember 2018. (Na última campanha eleitoral, o pedetista não se engajou na campanha de Fernando Haddad, do PT, no segundo turno)


O senhor trouxe para a sua equipe o ex-marqueteiro do PT João Santana, que foi condenado por irregularidades na campanha da presidente Dilma. Isso não gera incômodo?

Nenhum. Ele nunca foi condenado por corrupção. Nem Sergio Moro, em suas arbitrariedades, o condenou por corrupção. Pelo contrário, o absolveu. A condenação dele se deu pelo famoso caixa dois. Ele era o marqueteiro mesmo e fez as campanhas, e o seu patrão pagou por fora. Isso é um crime. Ele pagou caro e já extinguiu a pena. É um amigo querido por quem eu tenho um afeto enorme.


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A sua campanha lançou o slogan “A Rebeldia da Esperança”. Trata-se de uma estratégia contra as críticas que recebe por seu temperamento?

Talvez seja simplesmente a assunção de quem eu sou mesmo, porque eu sou uma pessoa indignada. Sou rebelde mesmo. Nunca cometi uma arbitrariedade. Me julguem. Não é pitoresco que, sobre um homem com 40 anos de vida pública, tudo o que digam é que ele é destemperado, passional? Chega a ser honroso.

 

O senhor tem falado em mudar a política de preços e a gestão da Petrobras. Qual a sua proposta exatamente?

Eu vou transformar a Petrobras na maior companhia de energia do mundo. Ela deixará de ser uma petrolífera para ser uma empresa de energia limpa.


O senhor vê alguma possibilidade de privatização da Petrobras?

Eu vou é reestatizar a Petrobras. Como a minha política de preços vai causar um abalo no valor das ações, vou anunciar como fato relevante, junto com o edital, que o governo brasileiro vai comprar ações para ter 60% do capital da companhia.


Programa de Ciro Gomes aplicado! Estimulo para Escolas públicas e Privadas em conjunto... Estímulos e apoio para fortalecer o Ensino e o Aluno!

Entenda por que o Ceará aprova tantos alunos no vestibular do ITA, o mais difícil do país. Cursos e turmas voltadas especialmente para o exame e valorização de olimpíadas estudantis são chave para bons resultados. Escrito por  Lucas Altino ~ 18/01/2022


Há sempre duas certezas quando se é anunciada a lista dos 150 aprovados no vestibular do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que recebe 8 mil inscritos e é considerado o mais difícil do país. A primeira é que São Paulo, estado mais populoso do país e sede do ITA, em São José dos Campos, terá um grande número de aprovações. A segunda é que o Ceará será o outro estado com muitos representantes, na maioria das vezes à frente dos paulistas. Assim foi no último concurso, quando dos 150 convocados, 61 vieram do Ceará (40% do total), contra 52 de São Paulo. Desde 2010, essa ordem só foi invertida em 2017, 2019, 2020 e 2021.

O segredo do sucesso cearense no ITA (fundado pelo fortalezense Marechal Casimiro Montenegro Filho) está ligado às escolas e cursos preparatórios voltados para esse vestibular, que atraem alunos do país inteiro. E a valorização das olimpíadas científicas escolares.


Alunos e professores do Ceará consideram um marco dessa trajetória a criação, na década de 1980, de uma turma especial de preparação para os vestibulares do Instituto Militar de Engenharia (IME) e ITA pelo colégio GEO Studio, que hoje já não existe. Em 1992, o Colégio Farias Brito tomou a mesma iniciativa. Hoje, é a escola cearense mais antiga a ter esse foco. O Farias Brito e o Colégio Ari de Sá são as duas principais referências no estado para a prova. A fórmula foi reproduzida em escolas e cursos menores.

Atualmente, o Ceará recebe diversos alunos de todo o país que querem tentar entrar no ITA ou no IME. Muitos recebem bolsas ou alojamentos pagos de acordo com o mérito. Nas turmas do Farias Brito, 65% dos estudantes são de outros estados. Um deles é Matheus Marinheiro, aprovado no primeiro lugar geral do Vestibular 2022, com nota 10 na prova de Matemática, fato considerado extremamente raro. O jovem de 18 anos nasceu em Colíder, no Mato Grosso, a 700 quilômetros de Cuiabá. Após se destacar nas Olimpíadas de Matemática, trocou sua cidade por Fortaleza, no 2º ano do Ensino Médio.

— Vinha batalhando desde o 8º e o 9º ano — diz Matheus, que pretende seguir a carreira de engenheiro aeroespacial. — Antes de chegar a Fortaleza, era muito difícil continuar estudando, sozinho e em casa, principalmente durante a pandemia, enquanto meus amigos já estavam começando a trabalhar. Era angustiante olhar um livro enquanto estava solitário. Eu estudava para olimpíadas (de Matemática, Física e Química) mas não tinha nenhuma escola com foco nessas competições em minha cidade.

Diretor de ensino do Farias Brito, Marcelo Pena credita os números expressivos de aprovação à longevidade do trabalho do colégio.

— Temos 1.554 aprovações no ITA. Ao longo desses anos, ganhamos um aprendizado muito grande. Tantos os professores quanto a instituição e o material didático foram aprimorados. Temos muitos professores que também eram “ex-olímpicos” que hoje conhecem bem a prova.

Para Pena, além do tempo, outros dois fatores foram essenciais: a implementação, em 2010, da turma preparatória já a partir do 1º ano, com as cargas horárias das aulas de matemática, física e química passando a ser maiores do que as demais disciplinas obrigatórias. E a valorização das olimpíadas científicas. Muitos vencedores dessas competições em todo o país são “garimpados” e recebem bolsas em instituições cearenses.

— Já representamos o Brasil em olimpíadas em 54 países — enumera Pena.

No último vestibular do ITA, seis alunos do 3º ano do Farias Brito foram aprovados na primeira tentativa. Resultado raro: em média, um jovem consegue ser aprovado na terceira vez.

Hoje, a maioria dos aprovados faz carreira no mercado financeiro. É um dos motivos que fizeram com que o ITA superasse o IME na preferência dos jovens, explica o professor de física Leonardo Bruno Lima, supervisor pedagógico do Ari de Sá. O propósito do IME é a formação de engenheiros para as Forças Armadas.

— Apesar dos vestibulares de nível semelhante, é mais fácil passar no IME, porque os primeiros colocados dão preferência ao ITA — afirmou Lima, que se formou no Ari de Sá e no ITA.
Carga de aulas pesada

Para conquistar a aprovação, a carga horária padrão de um aluno das turmas especiais, no caso do Ari de Sá, é de aulas de segunda a sábado e simulados todo domingo. Não é raro estudantes resolverem desistir, e as escolas oferecem apoio psicológico. No Farias Brito, além de psicólogos, professores de educação física acompanham as turmas especiais.

— É preciso cuidado, porque a rotina é estressante. Temos projetos para aliviar essa pressão. É nesse ponto que a escola faz diferença razoável, porque se ficar só em casa, não vai ter esse apoio. E ficamos em contato direto com a família — diz Lima.

Um dos alunos que pensaram em desistir em 2020 foi o fortalezense Marcelo Hippolyto, de 20 anos, aprovado no último vestibular, na sua quarta tentativa. Ele lembra que pensou em cursar medicina. Após conversar muito com os professores, manteve o plano original. Hippolyto, que se aproximou das ciências exatas após participações nas olimpíadas científicas, diz que aproveitou o início da pandemia, quando tinha mais tempo livre para estudar. O recém-aprovado destaca a importância dos próprios colegas de turma durante a preparação.

— Todo mundo te incentiva, estuda junto — diz.




Agora é OITENTA das melhores Escolas do Brasil!






Mas que é o Programa?


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"Meditação não é relaxamento”

Entrevista com a monja Isshin

"Vivemos numa cultura de insatisfação e auto rejeição", diz a líder budista. Para ela, meditar pode ser a solução.

Por Silvia Lisboa Atualizado em 30 dez 2016, 07h42 - Publicado em 26 dez 2016, 09h08

Nascida em Washington, Kathy Havens chegou ao Brasil como musicista contratada pela Orquestra Filarmônica de São Paulo, em 1971. Já nesta época, ela flertava com o budismo. Mas sua iniciação se deu durante uma viagem ao Nepal e à Índia como intérprete. Na volta, se tornou discípula da Monja Coen, em 1996, e foi ordenada monja três anos depois, batizada de Isshin.

Psicanalista, missionária oficial, orientadora espiritual da Sanga Soto Zen Budista Águas da Compaixão e autora de livros de mindfulness, Monja Isshin, acredita que a meditação tem de se transformar em uma atitude perante a vida. “Queremos estar em um estado de atenção plena e total presença o tempo todo e não somente durante a meditação”, diz. Segundo ela, o budismo tem muito a contribuir com os anseios por paz e busca de sentido na da vida moderna – e meditar faz parte desse caminho. Mas ela não é uma solução para tudo.

Monja Isshin falou com a "SUPER Interessante" em 2016, via áudios de Whatsapp direto da Disney, onde passava uma temporada com o primeiro namorado, que ela reencontrou 50 anos depois. “Cometi muitos erros na minha vida. Mas havia uma coisa da qual eu me arrependia que era o fato de a minha relação com meu primeiro namorado não ter dado certo. Até que nos reencontramos na festa de 50 anos de formatura do colégio. Ficamos noivos, e o casamento está marcado para 2017. A vida pode ser um conto de fadas.”


Por que decidiu se tornar budista e depois monja?

Tive um primeiro contato com o budismo quando eu estava na Áustria, em 1969, através de livros. Me apaixonei pelos seus ensinamentos. Naquela época, não cheguei a encontrar nenhum professor, mas procurei aplicar os ensinamentos da minha vida da forma como eu os entendi. Em 1971, vim para o Brasil como musicista e, como não encontrava nenhum grupo de budismo, eu me tornei uma “buscadora espiritual”, uma experiência que me levou a respeitar todas as religiões. Em uma dessas buscas, eu estava fazendo um treinamento de xamanismo com um psicólogo junguiano em São Paulo quando surgiu um convite de viajar como intérprete de uma peregrinação budista para o Nepal, Tibete e Índia, em 1996. Foi na volta dessa vida dessa viagem que começaram a aparecer endereços e contatos de grupos de budismo. Um deles era um retiro zen budista, em português – era muito comum retiros onde só se falava japonês. Foi lá que conheci a Monja Coen, que se tornaria minha professora de ordenação, e iniciei a minha prática. No início, foi muito forte a sensação de ter chegado em casa na minha casa espiritual. Pedi e recebi ordenação monástica. Em 2000, fui para o Japão fazer um treinamento em mosteiros onde fiquei quatro anos. Depois passei mais um ano fazendo treinamento avançado nos Estados Unidos. Na volta, fiquei um ano em São Paulo, com a Monja Coen e vim para Porto Alegre no final de 2006. Recebi a transmissão de Darma com o mestre japonês Onoda-Roshi e, então, me nomearam missionária oficial.


Como é a sua rotina hoje, especialmente a rotina de meditação?

É uma correria. Me sinto abençoada de ter uma comunidade que, embora pequena, consegue manter as rotinas em dia para eu conseguir me dedicar à vida monástica e aos ensinamentos do darma (a verdade contida nos ensinamentos budistas). Eu gostaria de dizer que pratico mais meditação, mas muitas vezes não dá porque falta tempo. Sempre que posso me sento junto à turma para os horários regulares de meditação na nossa comunidade. Mas, na verdade, nós não queremos que haja nenhuma diferença entre os períodos de meditação sentada e a atenção plena e a total presença nas atividades diárias. Não queremos essas divisões. Queremos estar em um estado de atenção plena e total presença o tempo todo e não somente durante a meditação. Eu acabo viajando com frequência, parte por causa dos estudos e parte por causa das atividades como missionária. Também atendo como psicanalista humanista em formação. Estudo a psicanálise humanista da linha do filósofo Erich Fromm, autor de um livro chamado A Arte de Amar. É a linhagem que mais combina com o zen. O Fromm foi aluno de budismo.


Qual é a importância e o papel da meditação no budismo?

Sem meditação não temos budismo. Desde a época do Buda, os ensinamentos budistas se baseiam nos 3 treinamentos: o estudo sobre textos clássicos; a moralidade, isto é, como orientar a sua vida de uma forma digna, honrosa e ética; e a meditação. De uma escola para outra, o método da meditação pode variar. Alguns usam mantras; enquanto o zen usa a meditação silenciosa, focada na respiração.


Hoje o budismo está em alta. Você visita templos, como o de Três Coroas, na serra gaúcha, e eles estão sempre lotados. A que você atribuiu isso?

As pessoas buscam paz interior. Nós vivemos num mundo consumista e individualista e cada vez mais polarizado. Com muita discórdia e da cultura de oposição. Ninguém mais escuta o outro. O budismo tibetano e o budismo zen acreditam na natureza Buda de cada pessoa, na pureza de cada um. Isso é muito importante porque nós vivemos numa cultura que cultiva a constante insatisfação e uma certa auto-rejeição. O budismo vem para responder e curar esses aspectos.


Aumentou também muito o apelo da meditação, em especial do Mindfulness, em parte em razão das pesquisas científicas sobre seus benefícios. Você acha positivo essa popularização?

A meditação como caminho para a espiritualidade, independentemente de ser no budismo, no cristianismo, no judaísmo, no taoísmo, nunca precisou das pesquisas científicas para ser validada. Essas tradições se mantêm há mais de 3 mil anos. Mas é bastante interessante ver que uma versão bem básica e simplificada de meditação esteja sendo divulgada e tenha chegado aos consultórios médicos, aos hospitais e nos consultórios de psicoterapia. Eu acho isso muito positivo. Mas está faltando a bula, onde aparecem as instruções, as contra-indicações e os efeitos colaterais. Pouquíssimas pessoas falam dos cuidados necessários e das qualificações que as pessoas que orientam têm de ter para ensinar os outros a meditar. Meu receio é que as pessoas acreditem que a meditação como caminho espiritual é só isso que está sendo ensinado com mindfulness, uma simples técnica ou mais uma ferramenta da terapia. A meditação num caminho espiritual é muito mais que isso, mas não é uma panaceia.


Você acha essa busca espiritual puro modismo ou um bom sinal?

É um pouco dos dois. O movimento mindfulness tem um nível de modismo maior, em parte pelo excesso de oba-oba, por ser vendido como panaceia. Mas o modismo vai passar. E o que eu espero que sobre depois é o bom uso da meditação nos consultórios e nos hospitais. Mas é importante dizer que existe um risco que esse nível básico de meditação se esgote. Para relaxamento e para alcançar um determinado nível de autoconhecimento, praticar mindfulness de modo simplificado é bom e válido. Mas é preciso procurar professores com formação comprovada. Há muitos picaretas que são praticantes leigos há pouco tempo e se colocam como instrutores. Não entenderam nada.


Você acredita que o budismo responde a anseios do homem contemporâneo? Se sim, que tipo de anseios? Qual você considera o mais importante deles?

Paz, tranquilidade e uma transformação interna profunda que leva à equanimidade, que não significa um desinteresse, mas sim um equilíbrio emocional e psicológico. Isso traz um destemor, que é fantástico. O budismo também orienta a pessoa a buscar suas próprias respostas para a vida, o sentido dela. Mesmo o nível mais básico de ensinamentos já servem para trazer paz.


Que tipo de resposta o budismo traz para a busca da felicidade?

Prefiro não falar tanto de felicidade. Porque felicidade traz junto a ideia de infelicidade. Prefiro falar mais em bem-estar, em paz. Na meditação profunda, muitas pessoas relatam entrar em contato com uma alegria, como se o universo inteiro estivesse se divertindo muito. Se você observar, toda a pessoa que é realizada espiritualmente, não só no budismo, carrega essa alegria. Especialmente os zen budistas, que são conhecidos pelas suas gargalhadas.


E para o amor?

O budismo ensina desapego. Mas muitas pessoas confundem desapego com indiferença. Não é aquele cara que se separou 7 vezes. Desapego não é indiferença. Significa, na verdade, não possessividade. É preciso amar a si mesmo antes para amar sem sentimento de posse. Só assim se ama verdadeiramente. Porque amar é querer o melhor para o outro, que ele esteja bem, seja junto a mim ou não.


Existem muitos conceitos e ideias budistas que circulam por aí, mas que foram deturpadas?

Existem muitos conceitos e ideias bonitas circulando por aí. Mas um dos mais deturpados talvez seja o de que a meditação é relaxamento. Meditação não é assim tão fácil. A meditação é um treinamento da mente. Ao alcançar a meditação profunda, aí, sim, você encontra a paz e tranquilidade. Mas antes é preciso passar por todas as fases do encontro consigo mesmo, do encontro com nossa própria sombra, com sentimentos menos nobres. No budismo, a meditação faz parte de um pacote de práticas que levam à libertação e que envolvem também os estudos e a moralidade, como falei antes. A meditação sozinha não é o suficiente para a auto-transformação e a libertação plena.

Qual é a SAÍDA para o Brasil?

É preciso coragem para mudar o modelo econômico fracassado


A economia brasileira está comendo poeira há muito tempo. Em 1980, nosso PIB per capita era 15 vezes maior que o chinês e 1,6 vez superior ao sul-coreano; em 2020 equivalia, respectivamente, a apenas 79% e 26% do observado nestes países.

O que fizeram os asiáticos? Perceberam que os países mais bem-sucedidos incentivam a indústria e os setores importantes ao redor; logo, ampliaram sua participação no mercado internacional via exportações de manufaturados, usando e abusando de planejamento, boas práticas macroeconômicas, políticas de desenvolvimento científico e tecnológico e educação, focando em áreas estratégicas e sempre defendendo os interesses de seus países.


Por aqui, entregamos nosso mercado interno, de mão beijada, via moeda apreciada, aos produtores de outros países, sem expandir as exportações de manufaturados; enquanto as vendas no varejo, descontada a inflação, hoje são o dobro do que eram em 2003, a produção industrial está no mesmo patamar de 2005.

 

Criaram-se todas as dificuldades possíveis para os produtores locais eficientes atuarem nos mercados interno e externo: além do câmbio, juros altos, estrutura tributária distorcida, políticas industriais ineficazes, investimento insuficiente em educação e ciência e tecnologia e má qualidade dos gastos públicos.


Como resultado, nos desindustrializamos e hoje sentimos a pior consequência deste processo: deixamos de gerar bons empregos e as pessoas estão tendo que se virar na informalidade, em ocupações muito mais precárias, e o PIB per capita do Brasil atual é igual ao de 2010. Perdemos 11 anos.


É possível reverter esse cenário e voltarmos a gerar bons empregos, que é um de nossos objetivos principais, e estimular o real empreendedorismo? Certamente que sim! 


Precisamos investir mais em educação? Lógico, e o Ceará de Ciro Gomes e seus sucessores é um exemplo mundial. Precisamos participar mais do comércio internacional? 


Sim, mas estimulando as exportações, e não aniquilando os produtores locais. Como fazer?


Primeiro, é necessário estruturar um cenário macroeconômico favorável a quem produz: devemos equacionar a questão fiscal a médio prazo, tornando a trajetória da dívida pública sustentável, via redução de subsídios e isenções, da mudança da lógica orçamentária —que premia quem gastou mais no passado, da instituição de tributação progressiva sobre lucros e dividendos, heranças e patrimônio, desonerando compensatoriamente a produção, e da melhoria na qualidade do gasto público. 


Assim, neutralizam-se as pressões contrárias à queda da taxa de juros, viabiliza-se a manutenção da taxa de câmbio em um patamar competitivo e os investimentos públicos que necessitamos para retomar o crescimento neste momento. Também são fundamentais ações para reduzir a inflação e o endividamento privado.


Do ponto de vista estratégico, vemos que EUA, Alemanha e França criaram planos para recuperar suas indústrias e seu espaço na economia mundial, incluindo elevados gastos em infraestrutura e pesquisa e desenvolvimento. Não há como agirmos de outra forma.


Um plano nacional de desenvolvimento pactuado entre os setores público e privado, nos moldes defendidos por Ciro, é essencial, prevendo tanto o desenvolvimento científico e tecnológico como a redução de desigualdades e a melhoria de indicadores sociais, que se recuperarão com a melhoria na qualidade dos empregos, o avanço educacional e políticas específicas para os mais desfavorecidos. A gestão pública deverá ser reorientada para o alcance das metas deste plano, atuando de forma matricial, monitorando e cobrando resultados e premiando o bom desempenho.


A pauta ambiental constitui uma oportunidade de investimentos: o desenvolvimento de novas fontes de energia, a reorientação do uso do petróleo, as alterações na forma de produzir carnes e outros alimentos, a implantação de uma infraestrutura de baixo uso de carbono e os necessários avanços tecnológicos na área da saúde, por exemplo. Todos esses fatores estimularão a inovação e sofisticação tecnológica, incluindo a microeletrônica, softwares e inteligência artificial. E pensemos em todos os serviços que serão demandados por estas atividades.


Há, sim, muito espaço para retomar o crescimento, os bons empregos e a dignidade do povo brasileiro. Mas é necessária disposição e coragem para mudar o modelo econômico fracassado que impera há décadas.

Série de artigos com economistas ligados à campanha presidencial detalham o pensamento econômico dos pré-candidatos; Ciro Gomes defende plano nacional de desenvolvimento e é apresentado por Nelson Marconi ~ professor da FGV-Eaesp, foi coordenador do programa de governo de Ciro Gomes em 2018.


Processos Psicológicos Básicos

Por Suyane Elias Comar


Funções mentais como sensação, percepção, atenção, memória, pensamento, linguagem, motivação, aprendizagem e etc, são caracterizadas na psicologia como “Processos Psicológicos Básicos”. Essas funções derivam tanto das interações de processos inatos quanto de processos adquiridos, junto a relações do individuo de experiência e vivência com o meio. Apesar das distinções desses processos é por meio de sua relação e influência que se pode compreender a dinâmica da mente, pois eles interagem e até dependem de outros processos. Algumas das funções mais estudadas nos processos psicológicos básicos são:

Memória: Capacidade que permite a codificação, o armazenamento e recuperação de dados. De forma resumida a memória pode ser dividida em três processos:

 

Codificação: Envolve o processo de entrada e registro inicial da informação e a capacidade de mantê-la ativa para o processo de armazenamento.
Armazenamento: Envolve a manutenção da informação codificada pelo tempo necessário para que possa ser recuperada e utilizada quando evocada.
Evocação ou reprodução: Caracterizada pela recuperação da informação registrada e armazenada, para que possa ser usada por outros processos cognitivos como pensamento, linguagem e etc.

A memória ainda pode ser classificada como memória de curto prazo, memória de longo prazo, autobiográfica, episódica e sensorial. A perda ou dificuldade de armazenamento ou recuperação de informações é conhecida como amnésia e deve ser tratada sendo comum em casos de lesões e traumas de diferentes espécies.

Emoção: É um estado mental subjetivo associado a uma ampla variedade de sentimentos, comportamentos e pensamentos. Ela desempenha um papel central nas atividades humanas, já que as emoções alteram a atenção e o nível do comportamento resultando em diferentes respostas do indivíduo. Pode ser considerada como uma espécie de depósito de influências aprendidas e inatas.


Pensamento: É a capacidade de compreender, formar conceitos e organizá-lo. Estabelece relações entre os conceitos por meio de elementos de outras funções mentais (como as vistas anteriormente), além de criar novas representações, ou seja, novos pensamentos. O pensamento possibilita a associação de dados e sua transformação em informação estando conseqüentemente associado com a resolução de problemas, tomadas de decisões e julgamentos.

Linguagem: A Linguagem é a capacidade de receber, interpretar e emitir informações ao ambiente. Por meio da linguagem podem-se trocar informações e desenvolver formas de compreensão e de expressão. A linguagem reflete a capacidade de pensamento, então se uma pessoa tiver um transtorno de pensamento sua linguagem poderá ser prejudicada. Junto aos processos cognitivos é que a linguagem se desenvolve e se as habilidades das funções mentais são crescentes assim os recursos lingüísticos também serão.

Sensação: A sensação é a resposta sensorial ou objetiva ao estimulo do meio ela detecta a experiência sensorial básica por meio dos sons, objetos, odores e etc. Desse modo, essa função pode classificada como sendo de natureza objetiva.


Percepção: Refere-se a capacidade de captar os estímulos do meio para processamento da informação. Os órgãos dos sentidos são responsáveis pela captação das informações, ou seja, o processamento cerebral depende da visão, olfato, tato e etc. Ela é considerada uma característica subjetiva, diferentemente da sensação que é classificada como sendo objetiva.


 


Fontes:


Texto originalmente publicado em

 

COLETÂNEA PARA APRESENTAR JUNG