Em entrevista ao GLOBO, ele diz que está negociando uma aliança com Marina Silva (Rede)

 'Todos que governaram com o Centrão se lascaram’, diz Ciro Gomes

Em meio a críticas a adversários, ex-ministro diz que, se eleito, abrirá mão da reeleição em prol do trato com o Congresso e afirma que falta de alianças é reflexo de veto do ‘quadro conservador’


Escrito por Camila Zarur e Jussara Soares

30/01/2022 - 07:18 / Atualizado em 30/01/2022 - 07:42

Ciro Gomes lança pré-candidatura à Presidência da República Foto: Reprodução


BRASÍLIA - Pré-candidato ao Palácio do Planalto pelo PDT, Ciro Gomes chega à sua quarta eleição presidencial apresentando a experiência como trunfo e reafirmando a maior parte das convicções que expôs quatro anos atrás, quando saiu da disputa em terceiro lugar, com 12,5% da preferência do eleitorado. Em entrevista ao GLOBO, ele diz que está negociando uma aliança com Marina Silva (Rede) e revela que, para o posto de vice, sonha com uma mulher ligada a pautas sociais. No trato com o Congresso, defende uma relação em novos termos — e usa o fim da reeleição como argumento para atrair parlamentares. Para ele, o país pagará um preço alto se o sistema político continuar como está:


— O Brasil está ameaçado de ser uma ex-nação.


Assim como fez com Ciro, O GLOBO solicitará entrevistas a todos os pré-candidatos à Presidência.


O senhor foi candidato à Presidência em 1998, 2002 e 2018 e perdeu. Hoje, está atrás de Lula e Bolsonaro e empatado com Moro. Por que acredita que agora poderá vencer?

Há um tempo natural na política que você tem que construir. O Lula só ganhou na quarta eleição. Sinto que a cada dia fica mais madura a possibilidade de eu ser presidente. Eu sou, sem qualquer falsa modéstia, um olho em terra de cego. Tenho a biografia limpa e sou o mais experiente. O Lula é um animal político genial e sabe que na hora em que eu colar a Dilma com ele, as pessoas vão lembrar a data em que entraram no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) , vão lembrar a data em que perderam o emprego. O Moro e o Doria são viúvas do Bolsonaro.


Quais falhas o senhor cometeu nas campanhas anteriores que pretende corrigir agora?

Todo mundo comete falha. Um candidato em campanha fala pelos cotovelos, e o antagonismo fica ali vigiando. Eu não posso me desculpar de erros, alguns de 20 anos atrás. E, acredite, eu aprendi muito. Você imagina, agora, o Lula está fazendo a proeza de juntar o (Guilherme) Boulos e o (Geraldo) Alckmin em São Paulo. Daí só pode sair crise.


Hoje estão na disputa o Bolsonaro, que fez o Auxílio Brasil, e o Lula, do Bolsa Família. Como quebrar a polarização?

Essas políticas compensatórias não têm centralidade. Elas são coadjuvantes importantíssimas, porque 129 milhões de pessoas comem precariamente no Brasil, e 20 milhões passam fome. Sabe qual é o público alvo do Auxílio Brasil? 17 milhões de pessoas. O Auxílio Covid, o que o Congresso votou, atingia 40 milhões de pessoas. Por isso que, ao fazer o Auxílio Brasil, a avaliação de Bolsonaro segue em queda. A memória afetiva do Lula é que ele criou isso (o Bolsa Família). A memória afetiva do Bolsonaro é nenhuma. Cada vez que o Bolsonaro aumenta esse negócio, ele aumenta a memória afetiva do Lula.

 

O senhor defende o fim da reeleição. Qual modelo vai propor?

Terei apenas um mandato de quatro anos, e eu abro mão da minha própria reeleição, em troca da reforma. A reeleição virou uma causa ancestral não confessada do impasse entre um presidente reformista e um Congresso reativo, porque, se eu acerto a mão, eu praticamente ganho a reeleição.


O senhor faz críticas às alianças feitas com o Centrão pelos governos do PT e de Bolsonaro. Como vai governar?

Quero que o Congresso concorde comigo para a gente enfrentar os lobbies poderosos do baronato, da plutocracia, e que a gente mande esse pacote de reformas direto a um plebiscito popular. Pronto. O Itamar Franco governou assim. Eu governei assim.


O senhor governou um estado...

Mas não deu certo? Collor foi cassado, Fernando Henrique nunca mais venceu uma eleição nacional nem o PSDB, que governou com essa gente. Lula foi parar na cadeia, Dilma foi cassada, Michel Temer saiu pela porta dos fundos, e todos eles governaram com essa gente. E Bolsonaro está desmoralizado governando com essa gente. Todos se lascaram. Ou seja, se repetir isso, o Brasil está ameaçado de ser uma ex-nação.

 

O PDT negociava com o PSB, que está conversando com o PT. O PSDB e o Cidadania anunciaram que estão em conversas avançadas. O União Brasil está sendo disputado pelo Bolsonaro e pelo Moro. Como estão as suas conversas para alianças?

Eu sou uma pessoa vetada pelo quadro conservador brasileiro, e não é pelos meus defeitos. É por esse conjunto de ideias reformistas que eu defendo. Então, isso se reflete na política. Cadê as alianças do Doria? Cadê a força eleitoral do Doria? Eu tenho conversado com o (Gilberto) Kassab (PSD). Será que ele vai vir para mim? O que eu posso fazer é dialogar.


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Qual é o perfil de vice que o senhor procura?

Seria alguém ao Sul, Sudeste, uma mulher, vinculada a essas questões sociais. Mas isso só vai acontecer em julho. Será que eu vou conseguir uma aliança? Se eu não conseguir, solução caseira. Eu e Marina (Silva) temos conversado. Mas lá dentro (da Rede) há outra tensão grave. A Rede, que não queria nem ouvir falar do Lula, agora está dividida.

Membros do seu partido defendem que, se sua candidatura não deslanchar, o PDT deveria retirá-la.

Mentira. Faz parte da estratégia de bastidor do gabinete de ódio do Lula fazer isso. Ele opera dentro de todos os partidos sem nenhum tipo de escrúpulo para causar esse tipo de psicologia. Acabamos de ter uma convenção aberta, 800 convencionais participaram. Não apareceu nenhuma mãozinha para dizer “olha, vamos poupar o Ciro, ele está muito cansado”.

Dentro da bancada do PDT no Congresso, há parlamentares próximos a Lula e próximos a Bolsonaro...

Vão ter que sair do partido. O partido não aceita bolsonarista aqui dentro, ponto final.


O senhor vê a possibilidade de ter uma aliança mais à frente com outros candidatos da terceira via?

Simone Tebet (MDB) tem um grande valor. Não conheço as propostas dela, mas eu sei que ela tem espírito público, honradez, raiz republicana. Acho que o Brasil devia dar uma oportunidade de ouvi-la. E (Luiz Felipe) d’Avila é um camarada que tem o neoliberalismo doutrinário, mas é um republicano decente. O resto é tudo viúva do Bolsonaro. E deixaram de ser Bolsonaro por oportunismo.

 

Em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, em quem o senhor votaria?

No Ciro Gomes.

 

Nem cogita essa hipótese?

Nenhuma hipótese. Remember 2018. (Na última campanha eleitoral, o pedetista não se engajou na campanha de Fernando Haddad, do PT, no segundo turno)


O senhor trouxe para a sua equipe o ex-marqueteiro do PT João Santana, que foi condenado por irregularidades na campanha da presidente Dilma. Isso não gera incômodo?

Nenhum. Ele nunca foi condenado por corrupção. Nem Sergio Moro, em suas arbitrariedades, o condenou por corrupção. Pelo contrário, o absolveu. A condenação dele se deu pelo famoso caixa dois. Ele era o marqueteiro mesmo e fez as campanhas, e o seu patrão pagou por fora. Isso é um crime. Ele pagou caro e já extinguiu a pena. É um amigo querido por quem eu tenho um afeto enorme.


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A sua campanha lançou o slogan “A Rebeldia da Esperança”. Trata-se de uma estratégia contra as críticas que recebe por seu temperamento?

Talvez seja simplesmente a assunção de quem eu sou mesmo, porque eu sou uma pessoa indignada. Sou rebelde mesmo. Nunca cometi uma arbitrariedade. Me julguem. Não é pitoresco que, sobre um homem com 40 anos de vida pública, tudo o que digam é que ele é destemperado, passional? Chega a ser honroso.

 

O senhor tem falado em mudar a política de preços e a gestão da Petrobras. Qual a sua proposta exatamente?

Eu vou transformar a Petrobras na maior companhia de energia do mundo. Ela deixará de ser uma petrolífera para ser uma empresa de energia limpa.


O senhor vê alguma possibilidade de privatização da Petrobras?

Eu vou é reestatizar a Petrobras. Como a minha política de preços vai causar um abalo no valor das ações, vou anunciar como fato relevante, junto com o edital, que o governo brasileiro vai comprar ações para ter 60% do capital da companhia.


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