Entenda por que o Ceará aprova tantos alunos no vestibular do ITA, o mais difícil do país. Cursos e turmas voltadas especialmente para o exame e valorização de olimpíadas estudantis são chave para bons resultados. Escrito por Lucas Altino ~ 18/01/2022
Há sempre duas certezas quando se é anunciada a lista dos 150 aprovados no vestibular do Instituto Tecnológico da Aeronáutica, que recebe 8 mil inscritos e é considerado o mais difícil do país. A primeira é que São Paulo, estado mais populoso do país e sede do ITA, em São José dos Campos, terá um grande número de aprovações. A segunda é que o Ceará será o outro estado com muitos representantes, na maioria das vezes à frente dos paulistas. Assim foi no último concurso, quando dos 150 convocados, 61 vieram do Ceará (40% do total), contra 52 de São Paulo. Desde 2010, essa ordem só foi invertida em 2017, 2019, 2020 e 2021.
O segredo do sucesso cearense no ITA (fundado pelo fortalezense Marechal Casimiro Montenegro Filho) está ligado às escolas e cursos preparatórios voltados para esse vestibular, que atraem alunos do país inteiro. E a valorização das olimpíadas científicas escolares.
Alunos e professores do Ceará consideram um marco dessa trajetória a criação, na década de 1980, de uma turma especial de preparação para os vestibulares do Instituto Militar de Engenharia (IME) e ITA pelo colégio GEO Studio, que hoje já não existe. Em 1992, o Colégio Farias Brito tomou a mesma iniciativa. Hoje, é a escola cearense mais antiga a ter esse foco. O Farias Brito e o Colégio Ari de Sá são as duas principais referências no estado para a prova. A fórmula foi reproduzida em escolas e cursos menores.
Atualmente, o Ceará recebe diversos alunos de todo o país que querem tentar entrar no ITA ou no IME. Muitos recebem bolsas ou alojamentos pagos de acordo com o mérito. Nas turmas do Farias Brito, 65% dos estudantes são de outros estados. Um deles é Matheus Marinheiro, aprovado no primeiro lugar geral do Vestibular 2022, com nota 10 na prova de Matemática, fato considerado extremamente raro. O jovem de 18 anos nasceu em Colíder, no Mato Grosso, a 700 quilômetros de Cuiabá. Após se destacar nas Olimpíadas de Matemática, trocou sua cidade por Fortaleza, no 2º ano do Ensino Médio.
— Vinha batalhando desde o 8º e o 9º ano — diz Matheus, que pretende seguir a carreira de engenheiro aeroespacial. — Antes de chegar a Fortaleza, era muito difícil continuar estudando, sozinho e em casa, principalmente durante a pandemia, enquanto meus amigos já estavam começando a trabalhar. Era angustiante olhar um livro enquanto estava solitário. Eu estudava para olimpíadas (de Matemática, Física e Química) mas não tinha nenhuma escola com foco nessas competições em minha cidade.
Diretor de ensino do Farias Brito, Marcelo Pena credita os números expressivos de aprovação à longevidade do trabalho do colégio.
— Temos 1.554 aprovações no ITA. Ao longo desses anos, ganhamos um aprendizado muito grande. Tantos os professores quanto a instituição e o material didático foram aprimorados. Temos muitos professores que também eram “ex-olímpicos” que hoje conhecem bem a prova.
Para Pena, além do tempo, outros dois fatores foram essenciais: a implementação, em 2010, da turma preparatória já a partir do 1º ano, com as cargas horárias das aulas de matemática, física e química passando a ser maiores do que as demais disciplinas obrigatórias. E a valorização das olimpíadas científicas. Muitos vencedores dessas competições em todo o país são “garimpados” e recebem bolsas em instituições cearenses.
— Já representamos o Brasil em olimpíadas em 54 países — enumera Pena.
No último vestibular do ITA, seis alunos do 3º ano do Farias Brito foram aprovados na primeira tentativa. Resultado raro: em média, um jovem consegue ser aprovado na terceira vez.
Hoje, a maioria dos aprovados faz carreira no mercado financeiro. É um dos motivos que fizeram com que o ITA superasse o IME na preferência dos jovens, explica o professor de física Leonardo Bruno Lima, supervisor pedagógico do Ari de Sá. O propósito do IME é a formação de engenheiros para as Forças Armadas.
— Apesar dos vestibulares de nível semelhante, é mais fácil passar no IME, porque os primeiros colocados dão preferência ao ITA — afirmou Lima, que se formou no Ari de Sá e no ITA.
Carga de aulas pesada
Para conquistar a aprovação, a carga horária padrão de um aluno das turmas especiais, no caso do Ari de Sá, é de aulas de segunda a sábado e simulados todo domingo. Não é raro estudantes resolverem desistir, e as escolas oferecem apoio psicológico. No Farias Brito, além de psicólogos, professores de educação física acompanham as turmas especiais.
— É preciso cuidado, porque a rotina é estressante. Temos projetos para aliviar essa pressão. É nesse ponto que a escola faz diferença razoável, porque se ficar só em casa, não vai ter esse apoio. E ficamos em contato direto com a família — diz Lima.
Um dos alunos que pensaram em desistir em 2020 foi o fortalezense Marcelo Hippolyto, de 20 anos, aprovado no último vestibular, na sua quarta tentativa. Ele lembra que pensou em cursar medicina. Após conversar muito com os professores, manteve o plano original. Hippolyto, que se aproximou das ciências exatas após participações nas olimpíadas científicas, diz que aproveitou o início da pandemia, quando tinha mais tempo livre para estudar. O recém-aprovado destaca a importância dos próprios colegas de turma durante a preparação.
— Todo mundo te incentiva, estuda junto — diz.
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Mas que é o Programa?
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