O percentual dos brasileiros que acreditam em teorias da conspiração!

Terra plana, cloroquina como cura da Covid e homem na lua: o percentual dos brasileiros que acreditam em teorias da conspiração


Dados do levantamento 'A cara da democracia' apontam que escolaridade interfere em crença no terraplanismo, mas não pesa entre quem vê plano secreto da esquerda para tomar o poder


Por Flávio Tabak e Marlen Couto — São Paulo e Rio 03/07/2022.

Terra plana, cloroquina como cura da Covid e homem na lua: o percentual dos brasileiros que acreditam em teorias da conspiração
Pesquisa mede crença de brasileiros em teorias da conspiração André Mello/Arte/O Globo

O terraplanismo, um remédio milagroso contra o vírus que assolou o mundo ou a “mentira” que querem esconder de você sobre a chegada do homem à lua. Essas são algumas das teorias conspiratórias mobilizadas em diferentes segmentos da sociedade para recrutar medos e ansiedades e, ao mesmo tempo, oferecer conforto e explicações sobre a complexidade do mundo. Tema de estudos feitos por pesquisadores que articulam psicanálise ao fenômeno político, a adesão aos discursos conspiracionistas entre os brasileiros também foi medida e detalhada na pesquisa de opinião pública quantitativa “A cara da democracia”, divulgada neste domingo pelo Pulso.

Os dados ajudam a entender o perfil de quem acredita nessas teses comprovadamente falsas, que ganham escala com as redes sociais, e a evolução de seus resultados. Ao cruzar níveis de escolaridade e respostas a perguntas como se é verdadeiro ou falso que o homem já pisou na lua, verifica-se que, longe de projeto político extremista, os 27% que não compram a ideia de que o homem “deu grande passo para a humanidade” estão mais concentrados em grupos com menos escolaridade. Entre os entrevistados com ensino superior completo e incompleto, o índice cai para 21%.

O mesmo quadro é identificado quando a pergunta é se a terra é plana. Enquanto, na população geral, 20% acreditam na teoria falsa, esse percentual chega a 27% entre quem é analfabeto ou completou somente os anos inciais do ensino fundamental.

O que pensam os brasileiros sobre conspirações — Foto: Arte  / O Globo

O que pensam os brasileiros sobre conspirações — Foto: Arte / O Globo

Nas teorias consideradas mais ideológicas e associadas ao bolsonarismo, no entanto, a escolaridade deixa de ser fator relevante. Um dos casos mais emblemáticos é a afirmação de que há uma conspiração global da esquerda para tomar o poder.

Enquanto 28% da faixa com menor escolaridade dizem acreditar na conspiração, os índices ficam em 38% entre quem tem ensino médio completo ou incompleto e 37% na população com ensino superior completo ou incompleto. O patamar é próximo aos 41% que cursaram ou concluíram os anos finais do ensino fundamental e acreditam na teoria.

Feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), a pesquisa entrevistou presencialmente 2.538 eleitores em 201 cidades em todas as regiões do país entre os dias 4 e 16 de junho, e foi financiada pelo CNPq e Fapemig, com margem de erro total de 1,9 ponto percentual, e índice de confiança de 95%.

Desinformação

O cientista político Leonardo Avritzer, da UFMG, destaca que há os dois caminhos para entender a adesão de brasileiros aos apelos conspiratórios:

— Há, primeiramente, o nível baixo de escolaridade, especialmente em questões como se a terra é plana. Em outros temas, há um amplo processo de desinformação nas redes sociais, especialmente quando recebem informações das estruturas de confiança delas, como instituições religiosas, família, ou local de trabalho.

A pandemia é outro terreno fértil para teorias da conspiração. A afirmação de que a Covid-19 foi criada pelo governo chinês é ratificada por quase metade da população (49%), sem diferenças nas diversas faixas de escolaridade, com exceção do grupo com ensino superior, no qual o índice fica em 42%.

As teorias envolvendo a China costumam ser compartilhadas por políticos e influenciadores ligados ao bolsonarismo. Ao longo da pandemia, o próprio presidente e seus aliados passaram a chamar o novo coronavírus de “vírus chinês”. Bolsonaro também já insinuou publicamente que o país asiático pode ter criado o vírus.

Outro discurso recorrente do presidente medido pela pesquisa é o de que a cloroquina cura a Covid-19. A afirmação falsa perdeu força na comparação com 2021. No ano passado, 30% acreditavam que o remédio sem eficácia contra o vírus combatia a doença, contra 55%. Hoje, 21% dizem que a cloroquina tem efeito, enquanto 67% consideram a afirmação falsa. Nesse caso, a crença no medicamento é maior entre os segmentos menos escolarizados.

Já a avaliação de que a vacina contra a Covid-19 tem efeitos colaterais perigosos é refutada pela maioria da população (51%). Não há diferenças relevantes nos recortes por escolaridade. A eficácia das vacinas contra o novo coronavírus também entrou na mira dos apoiadores do presidente nos últimos meses.

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