82 ANOS DE ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA

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No dia 11 de dezembro comemora-se o aniversário de criação da Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).


Foi nesta data que, em 11 de dezembro de 1940, Carl Rogers realizou uma palestra na Universidade de Minesota, num evento sobre Psicoterapia promovido por Edmund Williamson.

Segundo o relato do próprio Rogers, ele acreditava estar apresentando apenas um trabalho sobre as antigas e as novas tendências em psicoterapia.

Ao falar sobre uma abordagem mais permissiva e acolhedora, que enfocava mais os sentimentos e o potencial do próprio cliente para se reorganizar, Rogers estava, sem saber, atacando tudo o que se fazia até então em Psicoterapia.

De fato, os próprios organizadores do evento defendiam uma abordagem mais diretiva, assim como todo o campo da Psicoterapia da época, que ainda estava sob um poder hegemônico da influência médica, psicanalítica e psicométrica.

Segundo Rogers, a audiência reagiu fortemente depois de sua palestra:

“Eu estava totalmente despreparado para o furor que a fala provocou. Fui criticado, fui exaltado, atacado, fui olhado com perplexidade”.


O fato é que somente depois dessa palestra, Rogers percebeu que tinha algo de novo a contribuir para o campo da Psicoterapia. Foi a partir da mesma que ele escreveu parte do seu livro "Psicoterapia e Consulta Psicológica" e a data acabou se tornando um marco inaugural de criação da ACP.

A Abordagem Centrada na Pessoa é um termo que designa todas as práticas, metodologias e formulações teóricas iniciadas por Rogers desde 1940. Este nome veio substituir as antigas denominações Orientação Não-diretiva e Terapia Centrada no Cliente.

Como proposta para a Psicologia, a ACP tem como base a crença nos potenciais positivos da pessoa, que podem ser atualizados mediante uma relação na qual estejam presentes as condições facilitadoras do crescimento psicológico humano.

Como proposta ética e filosófica, a ACP se mostra como um jeito de ser e de se relacionar com o mundo, afirmando em sua prática valores como a liberdade, a dignidade e a realização humana.

(Texto de Luis Maciel, Psicólogo, Psicoterapeuta e Professor, Supervisor e Palestrante)



MAS O QUE É A "ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA"?

É uma modalidade de terapia que foca na pessoa e sua autodescoberta

A abordagem centrada na pessoa foi desenvolvida em 1940 pelo psicólogo Carl Rogers. Também conhecida como terapia centrada na pessoa, ela procura estimular e expor a tendência humana de autoatualização das pessoas. Nesse caso, é privilegiada a experiência subjetiva do indivíduo.

O psicólogo Carl Rogers desenvolveu essa abordagem baseado no cerne de que os seres humanos buscam a saúde mental e o crescimento, ao contrário de outras linhas da Psicologia, que em sua maioria são baseadas na ideia de que há por trás uma neurose básica, ou seja algum tipo de doença ou distúrbio mental.

Para Rogers, essa tendência humana de buscar a saúde e o bem-estar foi batizada de Tendência Atualizante. Esse termo foi resultado de uma pesquisa científica de observação de comportamentos humanos.

A partir desse conceito basilar, a ideia é desenvolver o descobrimento ou redescobrimento da essência da pessoa. Ou seja, consiste em explorar e expor o núcleo verdadeiro da personalidade do indivíduo. Isso acarretará na descoberta ou redescoberta da autoestima, da autoconfiança e do amadurecimento emocional.

Dessa maneira, a abordagem é essencialmente positiva, já que esse núcleo de personalidade a ser redescoberto ou descoberto é também positivo. Ainda, esse potencial de núcleo positivo está presente em todas as pessoa, mas para que ele seja explorado deve-se adotar a abordagem centrada na pessoa.

Segundo Rogers, existem 3 (três) condições básicas, necessárias e simultâneas para que o indivíduo consiga de fato exercer o seu cerne positivo. 

São elas: 
  • a consideração positiva incondicional;
  • a empatia;
  • a congruência.

Vamos agora aprofundar um pouco mais nossos conhecimentos sobre o que consiste a Tendência Atualizante definida por Rogers e essas três condições básicas, para melhor entender como funciona a terapia centrada na pessoa.


Tendência de Atualização

Esse postulado fundamental da abordagem centrada na pessoa constitui a satisfação das necessidades básicas e complexas do indivíduo. Isso permite uma confirmação dele, assim como a preservação de seu corpo. Dessa maneira, a pessoa pode ter maior sinergia entre a experiência vivida por ela e a simbolização que faz dessas vivências.

Quando há uma dissonância entre a experiência vivida e a simbolização, o indivíduo pode viver uma espécie de incongruência consigo mesmo. Isso pode significar uma espécie de distúrbio comportamental, que pode ser explicado pelo fato da pessoa não estar em contato com sua real personalidade, levando a um comportamento desajustado e um maior distanciamento de sua verdadeira essência.

Nesse sentido, a Tendência da Atualização, que é o pilar da abordagem centrada na pessoa, vai possibilitar ao indivíduo se reconectar com sua verdadeira personalidade. Esse pilar vai proporcionar a autoatualização do indivíduo com relação a suas potencialidades e tomar decisões mais autênticas, que realmente se conectem com seu eu essencial.

Segundo Carl Rogers, em seu livro “Tornar-se pessoa”, “o indivíduo tem dentro de si amplos recursos para autocompreensão, para alterar seu autoconceito, suas atitudes e seu comportamento autodirigido”.

Nesse sentido, o indivíduo pode retomar a confiança de tomar as rédeas de sua vida.


Aceitação Positiva Incondicional

Esse princípio basilar está apoiado na ideia principal da abordagem centrada na pessoa que é a Tendência Atualizante. A aceitação positiva incondicional consiste em aceitar a essência da pessoa da maneira que ela é. Ou seja, é a aceitação da personalidade do indivíduo em sua forma completa, sem expressar qualquer juízo de valor ou críticas.

Ainda, aceitar a pessoa como ela é deve ser recebido com afeto positivo pelo simples fato da pessoa existir. Os outros ao redor devem deixar de colocar pressão para que ela atenda suas expectativas, para que seja isso ou aquilo.
Empatia

A empatia está em voga atualmente, mas pode ser que muito do que se fala sobre empatia não é praticado, ou pode ser mesmo incorreto. Não se trata a empatia de se colocar no lugar do outro. Essa conceituação é errada, porque é impraticável se colocar no lugar do outro, não se consegue de fato simular como o outro se sente e enxerga determinada situação.

Dessa forma, a empatia é na verdade estar verdadeiramente disponível para o outro. É buscar se aproximar da visão da outra pessoa, sem a pretensão de se colocar no lugar dela.

Para isso, é imprescindível ter em mente que a empatia requer que a pessoa esteja disponível internamente para se distanciar dos seus princípios e valores. Esse exercício possibilitará que ela possa melhor compreender o outro, sob a própria perspectiva dele.

Nesse sentido, vai se estar mais distante de julgamentos pessoais e, mesmo compreender os motivos, os medos e os sentimentos do outro. Isso possibilita também que a ajuda que se oferece para ele não seja direcionada pelas crenças, princípios e valores da pessoa que oferece essa ajuda.


Congruência

A congruência é a assimilação coerente que a pessoa tem das suas atitudes com a sua personalidade. Nesse sentido, espera-se que o indivíduo seja o mais autêntico possível nas suas relações com os outros.

Para isso, é necessário que a pessoa aceite e compreenda seus sentimentos, experiências e ações de maneira genuína.

A congruência inicia um processo na pessoa para que ela passe a se aceitar, ao passo que possa se tornar a pessoa que deseja ser. É importante que nesse processo ela tenha em mente que as metas devem ser adaptáveis à realidade da sua própria personalidade. É preciso também ser mais flexível com sua própria essência e também ser mais tolerável com a essência dos outros.

Vale lembrar que a abordagem centrada na pessoa deve iniciar, não só a aceitação de si próprio, mas também dos outros.

O modelo que tratamos aqui, da abordagem centrada na pessoa, procura desenvolver o potencial natural que o indivíduo possui para o crescimento e para a saúde, através das experiências que esse indivíduo tiver. A partir do desenvolvimento de relações empáticas, ele estará em um contato maior com sua verdadeira essência, que possibilita uma vida mais congruente com a realidade.






CARL ROGERS (1) – TENDÊNCIAS FORMATIVA E ATUALIZADORA na  ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA








CARL ROGERS (2) – O SELF E A AUTORREALIZAÇÃO na ABORDAGEM CENTRADA NA PESSOA



Este texto foi construído em função da comemoração ao centenário do trabalho ALGUNS TIPOS DE CARÁTER
ENCONTRADOS NO TRABALHO PSICANALÍTICO, de S. Freud. Assim, a Febrapsi solicitou
que alguns profissionais escrevessem textos dedicados a cada um dos três tipos de
caráter descritos no trabalho de Freud, sendo este fala sobre CRIMINOSOS EM CONSEQUÊNCIA DE UM SENTIMENTO
DE CULPA, texto feito pelo Médico, Psiquiatra e Psicanalista Ignacio A. Paim Filho.




Criminosos em Consequência de um Sentimento de Culpa ~ Uma Questão Contemporânea?

Em 1916, ainda, sob as ressonâncias da primeira guerra – o homem matando
o homem – Freud vai escrever uma trilogia, Alguns Tipos de Caráter Encontrados no
Trabalho analítico. Entre eles encontra-se o ensaio, que da titulo a esse texto.
Ensaio breve de apenas duas paginas. Entretanto, traz para reflexão o conceito
paradigmático da psicanalise: o complexo de Édipo, fazendo a interlocução entre o
individual e o coletivo. Nesse sentido, recorda que nos constituímos como sujeito e
um ser da cultura, a partir da interdição – função paterna – das duas grandes
intenções criminosas: matar o pai e ter relações sexuais com a mãe.

Esses desejos universais seguem vigente na vida psíquica, sepultados nas
profundezas da alma, e desde esse lugar influenciam o modo de ser de cada um de
nós. Com essa visão em mente, Freud pergunta-se, pensando das pequenas
transgressões da vida cotidiana ao crime propriamente dito, o porquê destes? Suas
cogitações direcionam-se no sentido inverso do pensamento vigente – a culpa
como consequência do ato – para afirmar que essa é movedora desse agir. Culpa
muitas vezes vivida, mas, não sentida. Tal assertiva referenda a tese do pecado
original, todos somos pecadores. Nesse contexto o criminoso, por sua precária
constituição psíquica, nos possibilita pensar na força da destrutividade humana de
maneira mais explicita. Não esqueçamos, Freud (1913) sustenta a tese da presença
de sentimento idênticos na vítima e no carrasco: o que varia são suas intensidades.
Com essa proposição pretende lançar uma luz na psicologia do crime.
Assim sendo, o castigo há de ser executado.

 Resumidamente, podemos dizer:
a culpa – com a angustia decorrente – por ter desejado em fantasia inconsciente,
matar o pai e casar com a mãe, fragilmente metabolizada pela psique, determina
que esses sujeitos realizem o ato criminoso. Ato esse que dá um sentido consciente
a angustia culposa – paradoxalmente, produzindo alivio – abre as portas para o
acontecer da punição. Com isso feito, o cenário para o desfecho da tragédia edípica.

COLETÂNEA PARA APRESENTAR JUNG