Embora gostemos de imaginar que nossas opiniões são racionais, lógicas e objetivas, essa nunca foi bem a verdade. Muitas de nossas ideias se baseiam no fato de que prestamos atenção seletivamente às informações que estão de acordo com nossas ideias e crenças. Em vista disso, nós ignoramos inconscientemente aquilo que não afina com o nosso modo de pensar. Nos afastamos ou simplesmente ficamos cegos a toda informação que não entra na zona de conforto de nossos atalhos mentais.
Isto era é importante no passado e continua sendo importante até hoje. Poupa tempo entre uma situação "X" e a tomada de decisão sobre o que fazer nessa situação "X" na próxima vez que ela ocorrer. Mas TAMBÉM cria um atalho para decidir que "toda vez" que uma situação for PACERIDA com a situação "X", usemos a MESMA RECEITA de soluções. São como Atalhos mentais.
VIESES INCONSCIENTES
O psicólogo e vencedor do Nobel de economia Daniel Kahneman foi um dos estudiosos que contribuíram para o entendimento dos viéses. Ele notou que o pensamento automático é, em muitas ocasiões, crucial para a nossa sobrevivência. Contudo, em outros momentos, esse mecanismo intuitivo nos leva a raciocínios equivocados e decisões erradas.
Mas voltando aos "Viéses", vamos apontar alguns dos mais comuns e recorrentes identificados pelos psicólogos:
EFEITO HÀLO ou AURÉOLA - É a propensão que temos, após identificar uma característica positiva sobre uma pessoa, ou coisa, avaliar todo o resto das informações sobre ela de forma igualmente positiva. Esse viés surge quando CONSTRIUMOS uma forte impressão geral sobre alguém - tanto positiva quanto negativa - e usamos de parâmetro para OURAS referências que não são necessariamente ligadas! Isso atrapalha nosso julgamento, pois essa escolha de ponto de vista se coloca a frente, inclusive de novas evidências que apontem para o contrário. É o que acontece, por exemplo, quando você gosta de um prato em um restaurante e passa a presumir que TODOS os pratos deste restaurante serão igualmente gostosos. Ou quando uma pessoa é boa parceira para ir em uma festa e você presume que ela será uma boa companhia para ir ao Teatro também. "Inocentemente" você fantasia que a capacidade de fazer UM prato do modo que você gostou ou a experiência de curtir em um determinado tipo de balada faz com que tudo que o restaurante faça sejam igualmente bom ou que a pessoa TAMBÉM goste de teatro.
EFEITO CHIFRE - É a propensão que temos, após identificar uma característica negativa sobre uma pessoa e incorporamos nela OUTRAS CARACTERÍSTICAS NEGATIVAS. Trata-se do oposto ao efeito halo. Este viés nos leva a ter uma imagem negativa de alguém em função de uma ÚNICA característica ou experiência. A grande ênfase numa única característica ou interação com alguém pode levar a juízos imprecisos e injustos do caráter da pessoa. Para evitar esse viés, lembre-se que todas as pessoas e empresas têm pontos fortes e também áreas frágeis. É preciso EVITAR o atalho.
VIÉS DE RECÊNCIA - Esse é um fenômeno que se caracteriza pela extrema confiança que temos das últimas informações, sem considerar o histórico ou conhecimentos anteriores. Ele surge porque damos mais importância a evidências que aconteceram a pouco tempo do que evidências históricas. Daí nascem os sentimentos de que AS COISAS SEMPRE FORAM ASSIM, por exemplo. É o que acontece, por exemplo, quando uma pessoa pensa: "Tal pessoa pública fala tal coisa com frequência!" Quando na verdade essa mesma pessoa pública passou anos falando o contrário. Sua memória ESQUECE as informações mais antigas para se apegar às mais RECENTES pois estas estão MAIS FRESCAS na memória.
EFEITO AFINIDADE - Esse viés surge quando o nível de proximidade/identificação a uma pessoa ou um grupo influencia positivamente ou negativamente na forma de avaliar as ações dessas pessoas ou grupos. Por exemplo, no caso de pessoas que temos baixa afinidade, os nossos julgamentos serão MAIS FACILMENTE críticos, mesmo quando evidências apontem ao contrário.
VIÉS DE CONFIRMAÇÃO - É a clássica tendência de procurar e utilizar informações que confirmem certas opiniões e expectativas. Em outras palavras, trata-se de selecionar a dedo informações para validar certas perspectivas. Isto afeta a nossa capacidade de pensar de forma crítica e objetiva, o que pode levar a interpretações distorcidas das informações e a ignorá-las com pontos de vista opostos.
VIES DE CONCORDÂNCIA - É evidenciado quando mudamos de ideia ou comportamento para nos adequarmos à opinião do grupo mais amplo, mesmo se ela não reflete a nossa perspectiva. Geralmente ocorre quando estamos sob pressão dos colegas ou quando tentamos nos encaixar em certo grupo social ou ambiente profissional. Evolutivamente a "concordância" progrediu no nosso comportamento para evitar conflitos, mas também pode limitar a criatividade, a abertura para debates e a possibilidade de se observar perspectivas distintas.
VIES DO ESTATUS QUO - Este viés descreve a nossa preferência pela forma como as coisas JÁ ESTÃO ou pela permanência das coisas como nos acostumamos, o que pode resultar em resistência à mudança. Seguir o status quo é uma opção segura e demanda menos esforço, mas também resulta em estagnação. Acaba que o medo de mudanças impedem de "percebermos" como positivas mudanças que poderiam nos fazer bem, apenas por serem uma mudança de rotina ou paradigma.
VIÉS DE ANCORAGEM - Da mesma forma que a anterior, esta ocorre quando confiamos exageradamente na primeira informação que recebemos como se ela fosse uma âncora em que baseamos a nossa tomada de decisões. Isso nos leva a ver as coisas de uma perspectiva estreita. Ela não chega a precisar de estabilidade da continuidade de um modo de ser... mas em uma confiança inadequada de que as coisas não mudam a primeira impressão.
VIÉS DE AUTORIDADE - se refere à tendência de acreditar em símbolos de autoridade (pessoas importantes, cargos, etc) e seguir as suas instruções. Seguir uma autoridade de confiança com conhecimentos relevantes é uma boa ideia, evolutivamente. No entanto, seguir cegamente a direção de um líder sem ter pensamento crítico pode causar problemas graves.
CORRELAÇÃO ILUSÓRIA - Essa é mais comum do que se imagina! Ocorre quando associamos duas variáveis, ocasiões ou ações a um resultado mesmo que não estejam relacionadas entre si de fato. Acontecem mais em circunstâncias em que não sejamos entendidos em um assunto ou das quais temos pouca informação. É o que acontece quando tendemos rotular pessoas com tatuagens e piercings como perigosas, enquanto fantasiamos que pessoas com uniformes sejam pessoas educadas e justas.