O que você descreve não é só ingratidão; é um sinal clássico de um padrão de desequilíbrio relacional. Seu mapa interno (forjado naquela infância de privação) esta registrando uma crença: "Para ser amada e pertencer, preciso me sacrificar completamente. Meu valor está no que eu faço pelos outros."
Isso leva ao excesso em favor do coletivo – você apaga suas próprias necessidades para cumprir um "roteiro" de ser a pessoa indispensável, pois sem ser assim não se é amado!
A dor que você sente agora não é uma prova de que o mundo é irremediavelmente ingrato, mas um alerta de que o sistema que você usa para se relacionar está falindo.
Começando pelo mais importante: Todo ser humano precisa entender que somos feitos para viver em conexão!
Nosso cérebro tem sistemas que nos ligam aos outros desde bebês — é como se fôssemos "programados" para “precisar” de vínculos. Por isso, o sentido da vida raramente se constrói no isolamento!
Entendendo que os laços de apego são a base emocional que sustenta tudo, as nossas “primeiras experiências” com quem cuida da gente é que criam os "mapas internos" que respondem perguntas: "eu sou digno de amor?", "o mundo é seguro?", "posso confiar nos outros?" e “Quem sou Eu!”
Quem tem muita sorte constrói um “apego seguro” que nos dá liberdade para explorar o mundo e construir projetos com mais confiança.
Já a maioria das pessoas desenvolve um apego mais inseguro ou até traumático, que tende a nos deixar presos em modos de sobrevivência, com medo, desconfiança e significados limitados. Isso existe para TE PROTEGER.
Isso porque o mundo JÁ FOI muito mais, mas é um lugar complexo e bem longe do ideal pra gigantesca maioria das pessoas!
Essa maioria são as pessoas NORMAIS!
Precisam construir o seu equilíbrio adequado entre as imposições do coletivo e as necessidades do individual!
O coletivo tem coisas importantes para todos nós: nos dá pertencimento, estabilidade e "roteiros" prontos — tradições, crenças, papéis sociais.
O individual traz autenticidade, vontade própria e a capacidade de questionar e adaptar esses roteiros à nossa história única.
NÃO DÁ PARA VIVER BEM SEM UM DOS DOIS!
É essa dança entre os dois que torna a vida saudável e necessária.
Quando esse equilíbrio falha, surgem problemas.
Excesso de coletivo pode gerar conformismo, fanatismo e perda da identidade — a vida vira obrigação, não escolha.
Excesso de individual pode levar ao narcisismo, alienação e solidão profunda, porque sem vínculos e reconhecimento, o significado perde sustentação emocional.
Nos dois casos, o cérebro fica sem a regulação relacional que precisa para integrar quem somos e onde pertencemos.
No fim, uma vida plena é uma co-criação constante entre o que vem de fora e o que temos por dentro!
A biologia nos dá um cérebro social e plástico, capaz de se modificar.
A história de apego e a cultura nos dão as ferramentas — e os limites.
Aí, nas situações onde esse equilíbrio falhou por algum motivo, SEMPRE TEMOS ALTERNATIVAS, como o autoconhecimento, a psicoterapia e a nossa própria biologia que nos deu a neuroplasticidade que ajudam a revisar nossos padrões que nos travam, ampliando nossa capacidade de criar significados mais saudáveis.
Não é sobre achar um sentido pronto ou viver sem problemas, mas sobre aprender a construir um sentido novo todos os dias, em parceria com nossa própria história, nosso próprio corpo e das pessoas ao nosso redor.
Você não perdeu anos. Você investiu em um modelo de relação que, agora se mostra insustentável.
A sua dor atual é o combustível para uma transformação necessária. A neuroplasticidade que mencionei não é teoria: é a capacidade concreta do seu cérebro de, com práticas consistentes, criar novos caminhos.
A sua dor atual é o combustível para uma transformação necessária. A neuroplasticidade que mencionei não é teoria: é a capacidade concreta do seu cérebro de, com práticas consistentes, criar novos caminhos.
O sentido não será encontrado no arrependimento do passado ou no cinismo sobre o futuro, mas na coragem de, a partir dessa dor, se relacionar de um jeito novo. Comece se relacionando de forma diferente consigo mesma. O pertencimento verdadeiro não vem de se tornar indispensável, mas de se apresentar ao mundo de forma mais completa – com suas necessidades, seus limites e sua história, incluindo a criança que ainda quer, com razão, um Natal com luz. Isso atrai um tipo diferente de pessoa. Mas o primeiro passo é atrair uma nova relação com você mesma.
Não se torne uma versão do tal "Cara Valente" da musica da Maria Rita!
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