À procura da felicidade no templo budista de Três Coroas
FONTE DIÁRIO GAÚCHO
Há duas semanas no ar, Joia Rara colocou na roda um assunto interessante: uma religião e filosofia de vida constituída de várias tradições e práticas
Rosângela Monteiro
Há duas semanas no ar, Joia Rara colocou na roda um assunto interessante: o budismo, uma religião e filosofia de vida constituída de várias tradições e práticas. Os ensinamentos são baseados em Siddhartha Gautama, conhecido como Buda, e falam em amor, compaixão, generosidade, compreensão e tolerância. A meditação faz parte das atividades.
Para entender melhor esta história, a equipe de Retratos da Fama passou uma tarde no Khadro Ling, o Templo Budista de Três Coroas, no Vale do Paranhana, primeiro templo tibetano tradicional da América Latina. Uma comunidade com cerca de 35 praticantes budistas mora no lugar, idealizado pelo tibetano Chagdud Tulku Rinpoche.
Lama (sacerdote budista) Sherab Drolma é uma das professoras de budismo que vive lá e esclarece diversas questões mostradas na novela. Assim como outros moradores do Khadro Ling, ela está adorando ver a religião ser mostrada em Joia Rara e já percebe um aumento do número de visitantes ao Templo.
Ficou com vontade de saber mais? Leia esta reportagem e, neste domingo, vá passear em Três Coroas: Lama Sherab fará uma palestra gratuita de introdução ao budismo às 10h30min, no Templo.
Para restabelecer o equilíbrio
As autoras Thelma Guedes e Duca Rachid voltam 80 anos no tempo para, em um mundo à beira do colapso (a Segunda Guerra Mundial), falar de uma menina especial. Filha de Franz (Bruno Gagliasso) e de Amélia (Bianca Bin), Pérola (Mel Maia) é a reencarnação de Ananda Rinpoche (Nelson Xavier), que ajudou a salvar Franz após uma avalanche e morreu logo depois.
- Pérola vem para equilibrar - afirma Thelma.
A menina é encontrada no Rio pelos monges Sonan (Caio Blat), Tempa (Ângelo Antônio) e Jampa (Fabio Yoshihara), nos capítulos da semana que vem. Eles vêm direto do Nepal porque têm certeza, por intermédio de sonhos, de que Pérola é a reencarnação do seu mestre.
Os sinais são muitos: ela reconhece os objetos pessoais do líder e faz desenhos do mosteiro onde ele morou. Lama Sherab garante que uma história igual já aconteceu!
Um passeio e tanto
O Khadro Ling, mais conhecido como Templo Budista de Três Coroas, é a sede do Chagdud Gonpa Brasil, uma organização sem fins lucrativos destinada ao estudo e à prática do budismo tibetano. O lugar começou a ser pensado em 1994, quando Chagdud Tulku Rinpoche encantou-se com a beleza da região e decidiu estabelecer um centro no lugar. Em 1995, Rinpoche (título do budismo tibetano que se dá a um lama considerado precioso por seu conhecimento) mudou-se para onde hoje está o Khadro Ling. Desde então, artistas tibetanos, brasileiros e indianos, entre outros de diferentes nacionalidades, ajudaram a construir o local com belas pinturas e monumentos.
Confira o vídeo com as imagens do templo:
A morte de Rinpoche, em 2002, não comprometeu a continuidade das atividades do local, que tem como diretora espiritual sua viúva, Chagdud Khadro.
- Endereço: Estrada Linha Águas Brancas, 1211, em Três Coroas, fone (51) 3546-8200
- Visitação gratuita: de quarta a sexta, das 9h30min às 11h30min e das 14h às 17h. Sábados e domingos: das 9h às 16h30min. É fechado nas segundas e terças-feiras.
Uma pessoa bem melhor
Sibele Corrêa, 48 anos, vive no Khadro Ling desde 1998. Lá, conheceu o seu amor e exerce diferentes tarefas. Ela conta como é a rotina por lá:
- Temos duas práticas de meditação, às 6h30min e depois da janta. Geralmente, faço uma individual antes. Durante o dia, trabalho em projetos de tradução (de publicações do inglês e do tibetano para o português, que são vendidas na loja que há no Khadro Ling). Também atuo na área administrativa, fazendo escalas de trabalho.
Nestes rituais, Sibele toca o gyaling, instrumento tradicional no Tibete - confira a sua performance em diariogaucho.com.br/videos.
- Uma mudança de vida de filha para a mãe
A mãe de Sibele, Leda Volino, 75 anos, gostou tanto do lugar que encantou a filha que construiu uma casa num terreno ao lado do Templo. Ela faz uma atividade muito interessante.
- É uma prática de meditação específica patrocinada. Pedem para ela rezar para determinada pessoa, e isto envolve recitação de mantras. É particularmente útil pra quem sofreu uma morte muito violenta, porque tem poder pacificador. Dizem que, se você fizer 100 mil recitações de determinado mantra, isto vai pacificar a pessoa. No Tibete, é muito comum! - explica Sibele.
Budista desde 1995, ela garante que é uma pessoa bem melhor agora.
- Se eu olhar pra trás há 15 anos, me sinto melhor e mais feliz hoje. Eu era extremamente crítica e sarcástica. Isso me incomoda, não sei como me aguentavam! - diz.
Um passeio pelo budismo: saiba mais
É uma religião e uma filosofia de vida com várias tradições e práticas. Os ensinamentos são baseados em Buda, que nasceu na Índia, no século VI a.C, e, aos 29 anos, abandonou a vida de príncipe. Por seis anos, seguiu os maiores mestres da época, mas, apesar do esforço, não encontrou a resposta para alcançar a liberdade do sofrimento. Passou, então, 49 dias e noites de meditação embaixo de uma árvore, onde alcançou o estado iluminado. Buda ensinou para as pessoas o caminho da sabedoria, isto é, como alcançar a completa liberdade do sofrimento, a iluminação. O Brasil conta com mais de 60 centros de estudo e de meditação.
Ensinamentos
Mesmo que não seja budista, você pode seguir os ensinamentos. Lama Sherab explica como:
- A primeira coisa é empenhar-se em ter um bom coração, em observar e constatar que, assim como você, todas as pessoas buscam felicidade. E todos temos potencial de gerar felicidade para o outro. Ter o conhecimento de que as coisas são impermanentes também é importante. Assim, sua mente não sofre tanto por ter ou não alguma coisa.
Dalai Lama
É para o budismo, nas palavras de Lama Sherab, o que o Papa Francisco representa para os católicos: um líder. O atual Dalai Lama é Tenzin Gyatso, 78 anos. Considerado a reencarnação do bodisatva (aquele que pode vir a se tornar Buda) da compaixão, Tenzin é monge e doutor em filosofia budista. Recebeu o Nobel da Paz em 1989.
Por que os monges são carecas?
- Quando você segue a vida monástica, a primeira coisa a fazer é eliminar circunstâncias que estimulem ou provoquem emoções negativas. Você tira os ornamentos, raspa a cabeça, não usa joias. Tudo é um suporte para esse treinamento da mente. As monjas também cortam os fios - explica Lama Sherab.
Monastério
No Brasil, não há monastério com monges budistas tibetanos - o da novela é no Tibete. Aqui, há comunidades com praticantes como a de Três Coroas. Para ser monge, deve-se ser devoto à vida monástica, abdicando dos objetivos comuns dos homens em prol da prática religiosa, morando em monastérios. Os mais comuns são na Índia e no Nepal.
Para todos
- Não esperamos que a pessoa se converta ao vir no Templo. O Rinpoche falava: a paz está dentro de todos, só é preciso acessá-la. Quando se vem aqui, é uma sementinha para que possa buscar o próprio caminho espiritual, a ter mais paz - diz Lama Sherab.
TSOG
É uma cerimônia do budismo tibetano, que utiliza alimentos e bebidas de diferentes sabores como objeto de meditação e de purificação.
Bandeiras
No Tibete, é comum os praticantes pendurarem bandeiras com mantras e orações ao ar livre. Acredita-se que o vento, ao soprar pelas palavras impressas, espalha bênçãos que tocam todos os seres. No Khadro Ling, há um espaço onde os visitantes podem pendurar bandeiras e gerar energia positiva.
Iluminação e libertação
A Lama Sherab Drolma considera maravilhoso o budismo entrar na casa dos brasileiros por intermédio de Joia Rara. Ela conversou com Retratos da Fama nesta semana e explicou muito sobre a filosofia.
A estudiosa avalia os pontos positivos e negativos da novela das seis. Felizmente, há muito mais positivos!
Diário Gaúcho - Na novela, o monge Sonan ficou meses meditando numa caverna, em busca da iluminação. Em nenhum momento, apareceu ele alimentando-se. Acontece assim?
Lama Sherab Drolma - Não apareceu, mas ele comia. Antigamente, era muito comum fazer retiro em cavernas no Tibete porque os monges procuravam lugares mais isolados. Hoje, a gente se isola dentro de uma casa. No caso de Joia Rara, o retirante leva alimentos, e há um patrocinador, aquela pessoa que leva comida.
DG - Quando tiraram Sonan do retiro, ele parecia debilitado. É assim mesmo?
Lama Sherab - Não! Quando você está em retiro, fazendo prática de meditação, faz com o propósito de alcançar realização do que é a natureza da sua mente, de sabedoria. Você não está nem interessado nem atento às coisas comuns, mas fica desperto e consciente.
DG - Por que o isolamento é importante?
Lama Sherab - Quando você se isola, se treina na meditação de uma forma mais intensa. Saindo do retiro e retornando para as atividades comuns, a sua percepção do mundo e das pessoas muda. A princípio, por você se tornar uma pessoa mais de bom coração, amorosa e tolerante.
DG - Quais são os ensinamentos do budismo?
Lama Sherab - Um dos aspectos é você se treinar para diminuir as emoções aflitivas, como raiva, inveja e orgulho, e incrementar as qualidades, principalmente amor, compaixão e ser mais generoso, compreensivo e tolerante. É difícil, mas é possível.
DG - A reencarnação de Ananda Rinpoche, em Joia Rara, está sendo exibida corretamente?
Lama Sherab - Quando uma pessoa que já alcançou completa realização morre, como o Ananda, a consciência dela deixa o corpo, porém, como já possui completa sabedoria, tem a escolha de voltar a renascer num corpo humano para beneficiar os seres que ainda estão presos ao ciclo de existência: de morrer e renascer diversas vezes. Já aconteceu no Tibete. Um grande mestre faleceu, e os alunos dele perceberam que um menino que tinha acabado de nascer, ao longo do tempo, dizia coisas que não tinha como saber. Eram indícios que lembravam o falecido. Chegaram à conclusão de que aquele menino era a reencarnação dele.
DG - E quando acaba este ciclo?
Lama Sherab - Budismo não afirma e não acredita que exista algo, uma entidade, que tenha vida eterna, que fique mudando de corpo. O que renasce é o conceito da existência de uma identidade. Vai haver vidas, mortes e renascimentos até a consciência alcançar a libertação, que vem com estudo, meditação e contemplação.
DG - Na novela, Ananda faleceu e ficou alguns dias meditando. Como é possível?
Lama Sherab - Com pessoas que, durante a vida, alcançam realização com a meditação. Isso aconteceu com nosso professor (Chagdud Tulku Rinpoche, que faleceu em 2002 e permaneceu em profunda meditação durante seis dias antes de a consciência deixar o seu corpo). Esta realização está muito relacionada à questão de controle da mente.
Fonte DIÁRIO GAÚCHO
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