Psicologia e filosofia são meus passatempos prediletos... O que quer dizer que, se tenho tempo livre, eu dedico a ler e aprender sobre psicologia e filosofia em vez de assistir futebol ou praticar um esporte. Ontem eu assisti uma matéria legal sobre “Pobreza”. Assisti a apresentação do historiador e jornalista holandês Rutger Bregman, no TED com uma ideia provocadora: o rendimento mínimo garantido.
Rutger Bregman é autor de "Utopia para Realistas" (2014) e defende ideias como o rendimento básico universal, a semana de trabalho de 15 horas e a liberdade de circulação para todos. A motivação não é “psicológica”, é econômica. Mas a argumentação é o efeito psocológico da pobreza e como supera-la.
Some os fatos... Apesar de lucros recorde na iniciativa privada, sobre tudo dos bancos, a maioria da população (de qualquer país) não se beneficia em NADA com isso.
No mundo o que se vê são salários estagnados, a taxa de desemprego cada ano mais alta, as dívidas para financiar estudos e com cuidados com a saúde crescem a olhos vistos, e o mercado de trabalho não recompensa bem aqueles já empregados com dinheiro o bastante para viver decentemente. A tal uberização da mão-de-obra – em que os trabalhadores são pagos por tarefa realizada e não um salário ou taxa estabelecida por hora – aumenta a precariedade das relações de trabalho. Sem contar a informatização e os avanços tecnológicos da produção, os robôs e a inteligência artificial que cada vez mais tomam empregos ou extingue outros tantos. Enquanto os Governos discutem conceitos de atendimento médico universal, manutenção ou não de salários mínimo, discussões sobre repensar, terminar ou expandir a previdência social em todos os países sem nenhuma solução exemplar poder nortear as opiniões.
A perspectiva não é boa.
Mas Islan... é a psicologia? Cadê? Bregman apresenta dados como os levantados alguns psicólogos americanos que tinham realizado um estudo fascinante na Índia. Foi um experimento com fazendeiros de cana-de-açúcar. Esses fazendeiros recebem em torno de 60% da sua renda anual de uma só vez, logo depois da colheita e precisavam gerenciar o resto do ano com uma renda insignificante. Isso significa que eles são relativamente pobres durante uma parte do ano e “ricos” em outra.
Os pesquisadores fizeram testes de QI antes e depois da colheita nos fazendeiros e o que eles descobriram foi surpreendente. Os fazendeiros mesmos fazendeiros tiveram pontuação DIFERENTE nos períodos anteriores e posteriores as colheitas. Detalhe: Os valores eram significativamente piores antes da colheita, ou seja, nos períodos de pobreza do ano.
Os efeitos de viver na pobreza, na verdade, correspondem a perder 14 pontos de QI.
Para vocês terem uma ideia, isto é comparável aos efeitos do alcoolismo em uma pessoa.
Bregman falou também do trabalho de Eldar Shafir, um professor da Universidade de Princeton e um dos autores de uma nova teoria sobre a pobreza. Resumidamente ele estuda a “mentalidade de escassez”.
As pessoas se comportam de forma diferente quando “percebem” a escassez de alguma coisa. E não importa o que seja, pode ser falta de tempo, dinheiro ou comida. Elas tomam decisões ERRADAS quando em percepção de escassez.
Compare isto a um computador novo rodando dez programas pesados de uma vez. Ele fica mais lento, dá erro. Até que ele trava, não por ser um computador ruim, mas porque tem que fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
Pobres têm o mesmo problema. Eles não estão tomando decisões burras porque são burros, mas porque estão vivendo em um contexto no qual todos tomariam decisões burras.
Escassez gera respostas ruins.
Rutger Bregman aponta que por este motivo os programas “antipobreza” das inúmeras nações não funcionam.
Investimentos em educação, por exemplo, são frequentemente ineficazes porquê “Pobreza” não é falta de conhecimento. É um estado de mente congesto.
Uma análise recente de 201 estudos sobre a eficácia de treinamentos em gestão financeira para pobres concluiu que eles quase não têm efeito prático algum.
Não quer dizer que os pobres não aprendem nada, eles podem ganhar sabedoria, é claro. Mas isso não é suficiente. Ou, como o professor Shafir me disse: "É como ensinar alguém a nadar e jogá-lo em um mar revolto".
Rutger Bregman disse :”Na verdade, percebi que já tinha lido sobre a psicologia da pobreza. George Orwell, um dos maiores escritores que já existiu, viveu a pobreza de fato na década de 1920. "A essência da pobreza", ele escreveu na época, é que ela "aniquila o futuro". E ele ficou admirado: "As pessoas assumem que têm o direito de pregar e rezar para você quando sua renda cai abaixo de um certo nível". Estas palavras ressoam até hoje.”
Então ele falou da experiência em “Dauphin”, Canadá, em 1974.
Durante o experimento, todos na cidade tiveram uma renda básica garantida, para que ninguém ficasse abaixo da linha de pobreza. No início um exército de pesquisadores aportou na cidade. Por quatro anos tudo deu certo. Mas aí um novo governo foi eleito e não viu muito motivo para continuar um "experimento social" caro. Quando ficou claro que não havia mais dinheiro para analisar os resultados, os pesquisadores decidiram guardar seus arquivos em 2 mil caixas. Vinte e cinco anos se passaram, e uma professora canadense, Evelyn Forget, encontrou os arquivos. Por três anos ela submeteu os dados a todo tipo de análise estatística, e de todas as formas que tentava, os resultados eram os mesmos: o experimento tinha sido um sucesso tremendo.
Evelyn Forget descobriu que as pessoas em Dauphin não só ficaram mais ricas, mas mais inteligentes e saudáveis. O desempenho escolar das crianças melhorou substancialmente. A taxa de hospitalização diminuiu em 8,5%. Havia poucos incidentes de violência doméstica e reclamações de saúde mental. E as pessoas não largaram seus empregos. Os únicos que trabalharam um pouco menos foram as novas mães e os estudantes, que ficavam mais tempo na escola. Resultados semelhantes foram encontrados em diversos outros experimentos em todo mundo, dos EUA à Índia.
Então... o que eu aprendi foi: quando se trata de pobreza, os ricos, precisam parar de achar que sabem mais que os pobres. Se um rico conseguiu um dia sair da “zona” de pobreza e progredir não foram suas “oportunidades” ou receitas que os retiraram dali. Mas foi uma complexa e intrincada cadeia de eventos e decisões que nunca vão se repetir.
Precisamos parar de mandar sapatos e ursinhos para pessoas que nunca conhecemos. E deveríamos nos livrar da vasta indústria de burocratas paternalistas.
Poderíamos simplesmente dar um salário “mínimo” aos pobres.
Isto geraria o ambiente mental que desestruturaria a cadeia de bloqueios que sustentam a pobreza.
Pense nisso.
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