Fracasso das políticas capitalistas torna o socialismo um atrativo nos EUA








Ultimamente, tenho me preocupado com o estado de espírito dos capitalistas dos Estados Unidos. Todos estes socialistas que estão saindo da escuridão devem deixá-los particularmente agitados. Por isso, escrevo para dar alguns conselhos de amigo à classe capitalista a respeito dos tais socialistas. Vocês querem que haja menos socialistas? É fácil. Parem de criá-los.

Volta e meia, na história, causa e efeito nos atingem como um soco no rosto. As condições nas quais os russos foram obrigados a viver pelos czares geraram o bolchevismo. Os termos impostos no Tratado de Versailles impulsionaram a ascensão de Hitler. Os fracassos dos keynesianos nos anos 1970 prepararam o caminho para a economia da demanda e da oferta.


O apelo do socialismo desapareceu de 1945 a 1975, mas registrou um boom recentemente em razão das falhas do capitalismo. Foto: Amy Osborne/Agence France-Presse-Getty Images


O mesmo acontece aqui. O capitalismo americano das últimas décadas fez com que o socialismo parecesse muito mais atraente, em particular para os jovens. Pergunte si mesmo: se você tivesse 28 anos como Alexandria Ocasio-Cortez, a candidata ao Congresso por Nova York que se define uma socialista democrática, o que você já teria visto na vida?

Você teria visto os Estados Unidos, um país que seus pais - ou, se você têm 28 anos, mais provavelmente seus avós - descreviam como um lugar onde a vida melhorava a cada nova geração - tornar-se um país em que, para milhões de pessoas, inclusive para você, isso deixou de ser verdade.

Enquanto isso acontecia, você teria visto os ricos ficarem ainda mais ricos, e talvez tivesse notado que a principal medida adotada pelo governo a este propósito foi cortar seus impostos (a bem da verdade, em 2013 o presidente Barack Obama elevou a alíquota mais alta de 35% para 39,6%).

Você teria testemunhado o derretimento de 2008, provocado pelos grandes bancos que apostavam contra si mesmos. Os capitalistas talvez queiram saber como um jovem que vem de uma família da classe trabalhadora, e que provavelmente conhece alguém que perdeu o emprego ou a casa, vê tudo isso, enquanto alguns dos banqueiros que ajudaram a criar esse caos safaram-se sem problemas.

Você teria visto as corporações guardarem os lucros, recomprar suas ações e não reinvestir em seus funcionários como faziam antes, preferindo mudar-se para o Canadá ou Bangladesh. Se você lê razoavelmente, sabe que a recompra de ações foi permitida pela Seção 10b-18 da Comissão de Títulos e Câmbios, que data da era Reagan, desde então chamada apenas norma da SEC, e que pode ser modificada sem que seja preciso criar uma lei, mas ninguém nos dois governos democratas desde então se importou.

Eu poderia continuar dessa maneira por 20 parágrafos. Mas vocês já entenderam. Na época em que a economia americana crescia sem parar, tínhamos um governo e uma classe capitalista que investiam em seu povo e no futuro - em rodovias interestaduais, universidades populares, na pesquisa científica, nas generosas verbas federais destinadas aos transportes e ao desenvolvimento regional.

E, engraçado, durante todo esse tempo, o socialismo não exercia um grande apelo. Nos anos 1910 e 1920, em uma era de intensos conflitos trabalhistas e antes da criação do estado do bem-estar, havia apenas dois integrantes no Partido Socialista na Câmara dos Deputados - Victor Berger de Wisconsin e Meyer London de Nova York -, além de centenas de prefeitos, legisladores estaduais e funcionários municipais socialistas.

Mas durante os "Trente Glorieuses", para usar o termo francês - os gloriosos 30 anos de 1945 a 1975, quando quase tudo funcionava nas economias ocidentais - o apelo do socialismo nos Estados Unidos desapareceu. Nas décadas de 1910 e 1920, os candidatos à presidência do Partido Socialista recebiam centenas de milhares de votos, ou mais. Em 1956, Darlington Hoopes, candidato do partido, ganhou apenas 2.044 votos (outros partidos menores de esquerda tiveram uma votação um pouco melhor).

Nesta época e na era Reagan, a esquerda americana como um todo - definida não pelo partido, mas por suas convicções - desempenhou um papel construtivo na defesa dos direitos civis, opôs-se à Guerra no Vietnã e fez o que pôde para combater a nova concentração da riqueza. Mas, enquanto a guerra fria se intensificava, seus partidários eram poucos e sua influência, negligenciável.

Portanto, voltando agora à nossa jovem de 28 anos. Nasceu em 1990. Provavelmente, ela lembrará que no final dos anos 1990, seus pais tinham uma situação bastante tranquila - no governo de Bill Clinton a renda média das famílias subiu, mais do que sob qualquer outro presidente em muitos anos. Mas, desde então, o quadro da renda média se tornou muito mais irregular, subindo raramente em termos de dólares deflacionados ao longo de 18 anos. Enquanto as rendas mais elevadas dispararam.

Logo, se você fosse uma pessoa de meios modestos ou mesmo de classe média, como se sentiria em relação ao capitalismo? O capitalismo que este país viu durante todos estes anos decepcionou a maioria dos cidadãos.

Sim, ele nos deu muitos objetos que brilham para nos impressionar. O smartphone que exibe um vídeo em câmara lenta é uma maravilha. Mas uma educação superior ao nosso alcance, embora talvez não seja uma maravilha, é uma necessidade para uma sociedade bem organizada. Assim como uma solução para a crise nacional da droga, em razão da qual 115 pessoas morrem diariamente, e muitos outros problemas que o capitalismo da nossa era simplesmente ignorou.

Eu me sinto um pouco confuso diante deste pequeno boom do socialismo. Ele ainda precisa provar que é politicamente viável nas eleições gerais fora de algumas áreas, e em 2021 talvez acordemos para ver que foi um desastre para os democratas. Mas compreendo por que isso está acontecendo. Considerando a atual situação nesse país, isso não poderia deixar de acontecer.

E se você é capitalista, seria melhor que tentasse compreendê-lo, também - e fizesse alguma coisa para atender aos mais que legítimos apelos que o alimentam.

Michael Tomasky é colunista de “The Daily Beast” e editor de “Democracy: A Journal of Ideas”.

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