Revisando a relação "Meditação e Medicina"

Em fevereiro de 2006, a agência do governo dos Estados Unidos responsável pelas pesquisas médicas (Institutos Nacionais de Saúde dos. EUA, NIH na sigla em inglês) reconheceu formalmente a meditação como uma prática terapêutica que pode ser associada à medicina convencional. Em maio do mesmo ano, o Ministério da Saúde brasileiro baixou uma portaria em que incentiva postos de saúde e hospitais públicos a oferecer a meditação em todo o País.

Essas recentes ações governamentais são sinais da tendência de encarar a meditação não simplesmente como uma prática de bem-estar, que faz bem apenas à mente e ao espírito. Parar por alguns minutos diariamente para se concentrar e se desligar do turbilhão de pensamentos que constantemente ocupa a cabeça também ajuda a manter a saúde física.

"A meditação é diferente da medicina convencional porque quem cuida de você não é o médico. É você mesmo", explica a médica Kátia Silva, que coordena as atividades de meditação no Hospital Municipal Vila Nova Cachoeirinha, em São Paulo.. Na cidade, 70% dos postos de saúde oferecem atividades da chamada medicina tradicional, que inclui acupuntura, tai chi chuan e meditação.

Uma pesquisa com a palavra meditação no acervo online da Biblioteca Nacional de Medicina, do governo americano, traz mais de 300 estudos científicos sobre o tema. Entre outros benefícios, eles mostram que meditar previne e combate a depressão, a hipertensão arterial, a dor crônica, a insônia, a ansiedade e os sintomas da síndrome pré-menstrual, além de ajudar a reduzir a dependência de drogas.

Segundo sugerem esses estudos, a meditação interfere no funcionamento do sistema nervoso autônomo, que é responsável, por exemplo, pela liberação de noradrenalina durante os momentos de estresse. Em quem medita, a duração dessas "reações de alarme" são mais curtas. Dessa forma, a pressão do sangue e a força de contração do coração ficam alteradas por pouco tempo, comprometendo menos a saúde.

Apesar de serem evidentes os benefícios, a ciência ainda não consegue entender de forma detalhada como a meditação age no sistema nervoso.

Segundo especialistas, os efeitos iniciais são sentidos logo nas primeiras semanas. A aposentada Maria Elza Lima dos Santos, de 60 anos, descobriu a meditação no Hospital Vila Nova Cachoeirinha. Ela vivia com crises de pressão alta, que passaram após quatro meses de práticas diárias. "Antes, eu era muito nervosa. A minha cabeça estava sempre cheia de problemas. Aí a pressão subia. Agora fico mais relaxada, sinto uma paz de espírito", conta ela, explicando que no princípio teve dificuldades com a técnica. "Levei um mês para aprender a me concentrar."

De acordo com o obstetra Roberto Cardoso, autor do livro "Medicina e Meditação - Um Médico Ensina a Meditar" (MG Editores; 136 págs), muitos profissionais de saúde ainda têm preconceitos em relação à prática. "Mas isso deve mudar com o avanço das pesquisas. A meditação começa a trilhar os passos da acupuntura, que já é um recurso reconhecido pela classe médica."

No Brasil, a instituição pública que mais estuda o tema é a escola médica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), uma das mais conceituadas do País. Isso, de acordo com os especialistas, ajuda a separar a imagem religiosa e mística que normalmente se tem da meditação. A meditação, explicam, não precisa ser necessariamente ligada a uma crença oriental.

Para que a meditação cumpra seu papel de medicina complementar e preventiva, o psicólogo José Roberto Leite, coordenador da Unidade de Medicina Comportamental da Unifesp, explica que ela deve ser constante. "É como comer ou fazer exercícios. Não adianta só uma semana para que você se mantenha saudável. A meditação precisa ser uma atividade diária. Os efeitos se sentem a longo prazo."

A meditação provoca sempre os mesmos efeitos sobre o organismo, não importa qual seja a linha ou a técnica. Todas usam a concentração para manter o pensamento focado - pode ser um som (como um mantra), um ponto fixo ou a própria respiração. Com a mente fixa em algo, a pessoa não se perde no turbilhão de pensamentos que tomam conta da cabeça no dia-a-dia.

Normalmente as pessoas meditam sentadas. Mas há quem consiga fazê-lo caminhando e até lavando os pratos - o importante é a mente concentrada em algo.

Segundo especialistas, é possível aprender a meditar sozinho, mas o processo é mais fácil com um instrutor. Recomenda-se que a prática dure entre 10 e 20 minutos e seja feita uma ou duas vezes ao dia.

Fontes:

Agência Estado http://sna.saude.gov.br/imprimir.cfm?id=3232

e www.ericabrandt.net/clipping_pdf/04_fev_2010_1_ClicNews.pdf



A minha sugestão de meditação é o "Zazen"

Zazen (japonês: 坐禅; chinês: zuò chán (pinyin) ou tso-chan) é a base da prática Zen Budista.

O objetivo do zazen é "apenas sentar", com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal método Rinzai, ou o sentar-se completamnete alerta (o "apenas sentar", shikantaza), o qual é o método da escola Soto. [1]


O princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica, atingindo-se a iluminação (satori).

 

Prática

 

A prática do zazen consiste basicamente em sentar-se em uma posição confortável, com a coluna ereta, em períodos de até 40 minutos, intercalados com meditação andando (Kinhin).

 

Durante esse tempo deve-se procurar observar os pensamentos e sensações que surgem, sem buscar reprimi-los, causá-los ou julgá-los. É tradicional o uso de zafu e zabuton como almofadas, na qual o praticante fica sentado.


Um excelente guia para a prática do zazen foi escrita pelo monge zen budista japonês Dogen[2] no século XIII[3]

 

Referências: Instruções para o Zazen e aqui: http://zendovirtual.wordpress.com/pratica-em-casa/praticar-zazen-em-casa/

  1. Rinzai e Soto são as principais escolas de Zen no Japão; ambas tiveram origem na China como as escolas Linji e Caodong, respectivamente.
  2. Dogen é considerado o fundador da escola Soto de Zen no Japão.
  3. Zazengi numa tradução do Soto Zen Text Project(em japonês com tradução para o inglês).

 

Palavras chave:

Mulher espera três dias e viaja 7 horas para fazer parto no RS

Grávida foi internada na quinta-feira e aguardou leito até domingo.

Mãe e filhos gêmeos estão na UTI; prefeitura diz que dará apoio à família.

Do G1, em São Paulo
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Uma mulher de 34 anos está internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, após ter de esperar três dias e ter de viajar 534 quilômetros para realizar o parto de gêmeos, segundo a assessoria de imprensa do hospital.

Os bebês, dois meninos, nasceram prematuros de sete meses após a mãe fazer o deslocamento de 7 horas de ambulância após o rompimento da bolsa. Eles estão na UTI neonatal do hospital e o estado deles inspira cuidados.

Conforme o hospital, a mulher mora em Santa Vitória do Palmar, no sul do Rio Grande do Sul, e procurou uma unidade de atendimento na cidade na quinta-feira (20), quando a bolsa se rompeu. Desde então, a mulher aguardava uma vaga na rede pública, que só foi disponibilizada no domingo (23), em Novo Hamburgo, diz hospital.

A paciente foi levada de ambulância para Novo Hamburgo, onde deu entrada no hospital municipal às 17h30 e o parto foi realizado. A assessoria do hospital de Novo Hamburgo diz desconhecer o motivo da demora e que, depois que a mãe deu entrada na unidade, recebeu todos os cuidados necessários.

O prefeito de Santa Vitória do Palmar, Eduardo Morrone, informou que a prefeitura possui convênio com a Santa Casa municipal e que, em casos graves em que o município não consegue prestar atendimento imediato, são solicitadas vagas nas cidades mais próximas, de Pelotas e Rio Grande. Ele defende a ideia de um acordo para que a população seja atendida no Uruguai, país cuja cidade faz fronteira e que seria mais próximo em casos de gravidade.

Morrone confirmou que a grávida foi internada na cidade na quinta-feira e disse que só foi informado da gravidade do caso no domingo. A prefeitura informou que dará todo o apoio e solidariedade à família.

A Secretaria Estadual de Saúde informou que apura o fato e que retornaria com mais dados sobre o caso.

Médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) devem suspender nesta terça-feira, um período de 24 horas, o atendimento eletivo em 18 Estados...

Cerca de 100 mil médicos do SUS devem suspender atendimento em 21 Estados nesta terça-feira

Segundo o Conselho Federal de Medicina, o serviço de emergência deve ser mantido


Médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) devem suspender nesta terça-feira, um período de 24 horas, o atendimento eletivo em 18 Estados – Acre, Alagoas, Amapá, Amazonas, Bahia, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia e Sergipe. A estimativa é que 100 mil profissionais de saúde deixem de trabalhar amanhã.

No Piauí, a paralisação chegará a 72 horas. Em Santa Catarina e em São Paulo, algumas unidades de saúde devem suspender o atendimento somente por algumas horas. No Distrito Federal, em Mato Grosso do Sul, no Paraná, no Rio de Janeiro, no Tocantins e em Roraima, estão previstas apenas manifestações e atos públicos.

O movimento, coordenado pela Associação Médica Brasileira (AMB), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Federação Nacional dos Médicos (Fenam), tem o objetivo de protestar contra a baixa remuneração e as más condições de trabalho no SUS.

Nos Estados onde haverá paralisação, serão suspensos os exames, as consultas, as cirurgias eletivas e outros procedimentos. O vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá, garantiu que o atendimento a emergências será mantido.

— O movimento é a favor da população e não contra. Não vamos negar esse tipo de assistência — disse.

Os médicos também reclamam da não implantação da Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos (CBHPM), da defasagem da tabela do SUS, da ausência de um plano de carreira, das contratações sem concurso e da falta de isonomia salarial na rede pública.

O piso salarial definido pela Fenam em 2011 é R$ 9.188,22 para uma jornada de 20 horas semanais. Um levantamento divulgado pelo movimento indica que os valores pagos atualmente variam entre R$ 723,81 e R$ 4.143,6 – resultando em uma média nacional de R$ 1.946,91.

Previsão do futuro...

Cientistas tentam prever o futuro usando dados da internet, por : JOHN MARKOFF do "NEW YORK TIMES"


Mais de 60 anos atrás, em sua série Fundação, o escritor de ficção científica Isaac Asimov inventou a psico-história, que combinava matemática e psicologia, para prever o futuro.

Hoje, os cientistas sociais tentam garimpar os vastos recursos da internet --pesquisas na web e mensagens do Twitter, postagens no Facebook e em blogs, pistas de localização digital geradas por bilhões de telefones celulares-- para fazer a mesma coisa.

Os pesquisadores mais otimistas acreditam que os "grandes dados" desses estoques vão revelar pela primeira vez as leis sociológicas do comportamento humano, permitindo que eles prevejam crises políticas, revoluções e outras formas de instabilidade.

"Este é um importante passo adiante", disse Thomas Malone, diretor do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). "Temos à disposição tipos de dados mais detalhados e mais ricos, assim como algoritmos de previsão, o que possibilita um tipo de previsão que antes era impensável."

O governo americano está demonstrando interesse. Neste verão, uma agência pouco conhecida --a Atividade de Projetos de Pesquisa Avançada de Inteligência, ou Iarpa na sigla em inglês, que faz parte do gabinete do diretor da inteligência nacional-- começou a procurar ideias de cientistas sociais acadêmicos e corporações sobre maneiras de se rastrear automaticamente a internet em 21 países latino-americanos atrás de "grandes dados".

O sistema de coleta de dados automático se concentrará em padrões de comunicação, consumo e movimento das populações. Ele vai usar dados publicamente acessíveis, que incluem pesquisas na web, entradas em blogs, fluxo de tráfego na internet, indicadores do mercado financeiro, webcams de trânsito e alterações em verbetes da Wikipédia.

Ele pretende ser um sistema totalmente automatizado, um "olho para dados no céu" sem intervenção humana, segundo a proposta do programa. A pesquisa também exploraria a capacidade de prever epidemias e outros tipos de contaminação generalizada.

Para um crítico, o projeto evoca memórias de um programa do Pentágono pós-11 de Setembro para caçar potenciais ameaças, identificando padrões em acervos de dados públicos e privados.

"Por um lado é compreensível que um país queira rastrear coisas como o aparecimento de uma pandemia, mas devo me perguntar sobre a automatização total disso e o quê de produtivo sairá dele", disse David Price, que escreveu sobre cooperação entre cientistas sociais e agências de inteligência.

Um projeto semelhante da Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa, ou Darpa, pretende identificar automaticamente redes sociais insurgentes no Afeganistão.

No ano passado, pesquisadores do HP Labs usaram dados do Twitter para prever com precisão as receitas de bilheterias de filmes de Hollywood. Em agosto, a Fundação Nacional de Ciências em Arlington, Virgínia, aprovou verbas para pesquisa usando mídias sociais como Twitter e Facebook para avaliar danos de terremotos.

"Os grandes dados permitem ir além da inferência e da importância estatística e avançar para análises mais significativas e precisas", disse Norman Nie, um desenvolvedor de instrumentos estatísticos para cientistas sociais.

Os cientistas sociais que operam com as agências de pesquisa afirmam que, no balanço, as novas tecnologias terão um efeito sobretudo positivo.

"O resultado será uma compreensão melhor do que acontece no mundo e como os governos locais estão lidando com a situação", disse Sandy Pentland, um cientista do Laboratório de Mídia do MIT. "Eu acho tudo isso muito esperançoso, mais que assustador, porque esta talvez seja a primeira oportunidade real de toda a humanidade ter transparência de governo."

Os defensores da privacidade se preocupam. "Essas técnicas têm dois lados", disse Marc Rotenberg, presidente do Centro de Informação de Privacidade Eletrônica em Washington. "Podem ser usadas com a mesma facilidade contra adversários políticos nos Estados Unidos e contra ameaças de países estrangeiros."

Mas Prabhakar Raghavan, diretor do Yahoo! Labs e especialista em obtenção de informação, notou que prever epidemias de gripe examinando buscas na web pela palavra "gripe" não melhorou significativamente a informação já existente sobre um surto.

Outros pesquisadores são mais otimistas. "Existe uma enorme quantidade de poder de previsão nesses dados", disse Albert-Laszlo Barabasi, um físico especializado em ciência de redes.

"Se eu tiver dados hora a hora de sua localização, posso prever com 93% de precisão onde você estará uma hora ou um dia depois."

Sobre Buddha e Karma

Sobre Buddha e Karma   sábado, 22 de outubro de 2011


Uma publicação no blog do Monge Genshô:

Um sermão do Bhikkhu Katukurunde Nanananda (em inglês), indicado por um amigo:

Comentário: A Símile do Oceano já era minha favorita, pois foi a que despertou a minha fé em Buddha, mas eu não tinha captado toda a profundidade e extensão da mesma. Também achei interessantíssima a exposição do mais profundo ensinamento de Buddha, da originação interdependente, sendo apresentada por um professor Theravada como idêntica à interdependência da consciência primária com nome-e-forma, ou seja, semelhanta à forma que é exposta no Sutra do Coração, Mahayana. Também me chamou atenção a descrição do "Nantariko Samadhi".

Trecho do sermão:
Como as oito e maravilhosas qualidades do grande oceano Paharada dizem que há enormes criaturas tais como baleias, tubarões, Asuras, Nagas e Gandhabbas. O Buddha por comparação diz que em sua exposição também há essas criaturas enormes. E quem são eles? As oito nobre pessoas da comunidade, a saber, o Que-entrou-na-Corrente, o que está trilhando o Caminho para a realização do Fruto de Entrar-na-Corrente, aquele Que-retornará-uma-vez, o que está trilhando o caminho para a realização do fruto de Rotornar-uma-vez, aquele Que-não-retornará, aquele que está trilhando o caminha para a realização do fruto de Não-retornar, o Arahant, e aquele que está trilhando o Caminho para se tornar um Arahant.

Apenas as oito nobres pessoas são mencionadas. O Arahant que faleceu ou obteve o Parinibbana não são mencionados aqui, embora esse fosse o contexto apropriado para isso. Ele aqui parece ser notável pela sua ausência. Por que é assim? Como entendemos essa problemática quinta qualidade dessa exposição?

Vamos supor que existem redemoinhos no grande oceano. Se por um ou outro motivo eles cessassem ou desaparecessem, não há consequente decréscimo ou acréscimo nas águas do grande oceano...


Caso 2 (segundo koan do Mumonkan): A Raposa de Hyakujo:

Sempre que Hyakujo proferia uma palestra Zen, um velho sempre estava lá com os monges de ouvindo-a; e quando eles deixaram o Salão, assim o fazia. Um dia, porém, ele ficou para trás, e Hyakujo perguntou: “Quem é você?”

O velho respondeu: “Sim, eu não sou um ser humano, mas no passado distante, quando o Buda Kashapa (o Sexto Buda dos Sete Antigos Budas) pregou neste mundo, eu era o monge-chefe nesta área da montanha. Em uma ocasião, um monge perguntou-me se um homem iluminado poderia cair novamente sob a lei do karma (causa e efeito), e eu respondi que não podia. Assim me tornei uma raposa por 500 renascimentos e ainda sou uma raposa. Peço-lhe que me libere desta condição através de suas palavras Zen".

Então ele perguntou a Hyakujo, “Um homem iluminado está sujeito à lei do karma?” Hyakujo respondeu:”Ninguém está livre da lei do Karma.”

Às palavras de Hyakujo, o velho estava iluminado, e disse com uma reverência, “Agora estou liberado do renascimento como raposa e meu corpo será encontrado no outro lado da montanha. Posso pedir que me enterrem como um monge morto? ”

No dia seguinte, Hyakujo mandou Karmadana, ou diácono, bater o badalo (do sino) e informou aos monges que após o almoço haveria um funeral para um monge morto. “Ninguém estava doente ou morreu”, imaginaram os monges. “O que o nosso Roshi [velho mestre] quer dizer?” Depois de terem comido, Hyakujo os levou ao sopé de uma rocha no lado mais distante da montanha, e com seu cajado mexeu no cadáver de uma raposa e mandou que ele fosse ritualmente cremado.

À noite Hyakujo deu uma palestra aos monges e contou-lhes esta história da lei do Karma. Ao ouvir a história, Obaku perguntou a Hyakujo: “Você disse que porque um longo tempo atrás um velho mestre Zen deu uma resposta errada ele tornou-se uma raposa por 500 renascimentos. Mas suponha que toda vez que ele respondesse ele não tivesse cometido um erro, o que teria acontecido então?” Hyakujo respondeu: “Apenas venha até aqui, e eu lhe direi a resposta!” Obaku então foi até Hyakujo — e bateu no rosto do professor. Hyakujo, batendo palmas e rindo, exclamou: “Eu pensei que o persa* tinha uma barba vermelha, mas eis aqui outro com uma barba vermelha!”

Comentário de Mumon:

“O homem iluminado não está sujeito ao Karma.” Como pode esta resposta transformar o monge em raposa? “O homem iluminado não está livre da lei do karma.” Como pode esta resposta liberá-lo de sua vida de raposa? Se você está focado nisso, então você entende os impressionantes 500 renascimentos do velho de Hyakujo.

Livre do karma ou sujeito a ele,
Eles são duas faces da mesma moeda.
Sujeito ao karma ou livre dele,
Ambos são erros irremediáveis.

* Uma referência a Bodhidharma, que mais provavelmente era indiano.

Só para corrigir... o texto do link sobre o filme de Freud e Jung estava com problemas nas letras... Então agora corrigidos.


Sobre o tema: "Filme sobre Freud e Jung tem primeiro trailer divulgado":

Segundo o G1 Longa conta história do encontro entre os pioneiros da psicanálise e tem a direção de David Cronenberg, de 'A mosca'; não há data de estreia no circuito comercial no Brasil.

Viggo Mortensen, como Freud, e Michael Fassbender, como Jung, em cena de 'A dangerous method' (Foto: Reprodução)
Viggo Mortensen, como Freud, e Michael Fassbender,
como Jung, em cena de 'A dangerous method'
(Foto: Reprodução)



O trailer de "A dangerous method", longa-metragem do cineasta canadense David Cronenberg ("A mosca"), esta disponível no site oficial do filme. Assista aqui.


Estrelado por Viggo Mortensen ("O senhor dos anéis") e Michael Fassbender ("X-Men: primeira classe"), o filme conta a história da relação entre Sigmund Freud e Carl Jung, pioneiros da psicanálise. Além deles, também estão no elenco a atriz Keira Knightley e o ator Vincent Cassel.

O canadense David Cronenberg, mostrou no Festival de Veneza sua nova produção, "A Dangerous Method", um dos principais candidatos ao Leão de Ouro.

Diretor famoso nos anos 80 por filmes fantásticos como "A Mosca", Cronenberg agora aborda Freud e Jung durante a virada para o século 20, momento do surgimento da psicanálise.

Baseado em cartas trocadas entre seus personagens na vida real, "A Dangerous Method" mostra o papel fundamental desempenhado por Sabina Spielrein (Keira Knightley), inicialmente uma paciente de Carl Jung (Michael Fassbender) e posteriormente de Sigmund Freud (Viggo Mortensen). Segundo historiadores, Sabina teve um caso com Jung.

Na coletiva de imprensa, Cronenberg brincou com jornalistas ao afirmar que escolheu seus atores usando a psicanálise como critério. "Foi como sugerir sutilmente que eles precisavam de análise; foi por isso que os escolhi. Você pode ver que agora eles são pessoas bem melhores. Eles estavam em um estado lamentável antes", disse o diretor.
Na vida real, Sabina volta para sua terra natal, a Rússia, e se torna uma das mais conhecidas psicanalistas da União Soviética. Em 1941 ela seria morta junto com suas duas filhas pelas forças nazistas, durante a ocupação alemã na Segunda Guerra Mundial. No filme, suas ideias fazem tanto Freud quanto Jung reavaliar conceitos. Para o diretor, a relação entre essas figuras históricas foi um "ménage à trois".
" Há muitas informações nas cartas que eles trocavam. Eram entre cinco e oito cartas por dia: era como a Internet antes da Internet "


"Há muitas informações nas cartas que eles trocavam. Eram entre cinco e oito cartas por dia: era como a Internet antes da Internet."

A atriz Keira Knightley foi além dessas cartas, lendo biografias e diários de Spielrein, além de conversar com analistas para compreender melhor a personagem. Michael Fassbender disse que sua principal fonte de pesquisa foi o roteiro, com apenas uma concessão.

"Descobri um grande livro sobre Jung chamado 'Jung para crianças'. Uma espécie de livro para idiotas. E encontrei quase tudo que precisava nele", conta o ator.

Já Viggo Mortensen, que trabalho com Cronenberg em "Marcas da violência" e "Senhores do crime") revelou ainda não ter lido tudo o que queria. Ele pediu que os descendentes de Jung liberem mais cartaz do psicanalista suíço.

"Gostaria que a família Jung fosse decente o suficiente para liberar o que resta das cartas escritas para a senhorita Spielrein", disse ele, "Porque são uma leitura muito boa e eu gostaria de ver mais."

Segundo o diretor, as ideias de Freud foram consideradas perigosas à época, uma vez que desafiavam o pensamento então corrente de que o homem caminhava para um mundo de progresso e razão.

"Com a psicanálise, Freud disse que isso não era verdade. Há uma camada muito fina entre a chamada civilização e as coisas inconscientes que podem explodir de uma forma desastrosa. Isso foi na véspera da Primeira Guerra Mundial [1914-1918]."

"A Dangerous Method" esta prometido para 2012 nos cinemas do Brasil.





Segue a entrevista do diretor para a "Folha.com":

Pergunta- A mostra de seus filmes que aconteceu recentemente em São Paulo se chamou "Cinema em Carne Viva David Cronenberg: Corpo, Imagem e Tecnologia". 
O sr. acha essa uma boa maneira de resumir sua carreira?

David Cronenberg - Quando você faz uma retrospectiva, precisa atrair o público, e esse é um nome atraente e suficientemente preciso, até onde ele vai. Para mim, é apenas uma parte do que eu faço com meu cinema, mas tudo bem. Por exemplo, se você for assistir a "A Dangerous Method" com esse título em mente, vai ficar desapontado, porque ele é um filme biográfico bem direto, você não vai ver o mesmo tipo de coisa que viu em "Mistérios e Paixões" ou nos meus filmes de horror, então pode ser enganador. Mas mesmo em "A Dangerous Method", se você pensar nas teorias de Sigmund Freud, elas sempre foram muito relacionadas ao corpo, ele insistia na realidade do corpo, falava sobre sexualidade, mesmo sexualidade infantil, coisas que as pessoas achavam perturbadoras e não queriam ouvir. Então você poderia dizer que, tematicamente, há uma ligação muito forte entre este filme e os meus anteriores, só são retratados de forma diferente na tela, abordagens dramáticas diferentes para temas semelhantes.

O sr. já disse que nunca faz um filme pensando em temas determinados, para retratar conceitos abstratos.

Os críticos e jornalistas que analisam filmes confundem o que eles fazem com o que eu faço. Eu consigo me afastar, após ter terminado um filme, e analisá-lo como os críticos fazem, vendo as conexões temáticas com outros filmes, mas não tenho, antes de começar a filmagem, uma lista de temas que eu deva tratar. As pessoas às vezes acham que, na hora de filmar, sigo um tipo de lista de compras, "tenho de ter imagens de corpos, horror corporal, tecnologia, isso e aquilo". É tudo intuitivo, eu penso nos aspectos visuais e de diálogo, nos personagens, penso se o filme vai manter meu interesse pelo longo tempo que eu precisarei dedicar a ele. Não penso nos meus outros filmes nem no que as pessoas esperam de mim. Então o público pode se surpreender por eu fazer um filme sobre Freud e Jung, um filme de época, um drama histórico, uma cinebiografia, você pode chamá-lo de tudo isso. Para mim, era um projeto de ressurreição, eu queria trazer esses personagens de volta à vida, para vê-los e ouvi-los. Foi um período maravilhosamente estimulante intelectualmente, o início da psicanálise. Essas são as coisas que têm apelo para mim, não penso em temas ou nas conexões com meus outros filmes. Ouvi pessoas dizerem que "A Dangerous Method" não é "um filme cronenberguiano". Ouvi o mesmo sobre "M.Butterfly" e "Marcas da Violência", que as pessoas diziam que era um filme de gângster. Nem sei o que dizer sobre isso porque não penso no que seria um "filme cronenberguiano", isso para mim é qualquer filme que o Cronenberg fez, nada mais.

O sr. costuma assistir a seus filmes antigos?

Não, nunca. Se estou passando pelos canais de TV e de repente aparece um filme meu, só consigo assistir por alguns segundos, mudo de canal. Não consigo vê-los como filmes, para mim são como documentários do que eu estava fazendo naquele ano, só consigo pensar nas pessoas com quem estava trabalhando, que idade eu tinha, em que estado mental estava, o que acontecia no mundo naquela época. Não consigo ser objetivo, não sei porque, não vejo nenhum motivo em particular para isso. Talvez tenha de ficar um pouco mais velho. Mas não sinto nenhuma necessidade de assistir a eles.

Olhando para sua carreira como um todo, que sensação o sr. tem?

Não vejo uma carreira, na verdade. Me lembro de quando meus agentes falavam que eu devia fazer algo porque ia ser bom para a minha carreira, como se ela fosse algo à parte, como se existisse algo que, apesar de não ser bom para mim, seria bom para minha carreira. Como se a carreira fosse um cachorro que você tivesse de alimentar. Sinto que mudei como cineasta, mas isso não tem a ver com minha carreira, tem a ver com meu trabalho como diretor. Meu diretor de fotografia, com quem trabalho desde "Gêmeos - Mórbida Semelhança" [1988], me disse que hoje filmo de maneira muito diferente de quando começamos, e isso é algo que eu sinto, uma sensação de domínio da técnica, de mais confiança. É preciso fazer um bom número de filmes até ter confiança para dizer "não preciso dessa tomada, não preciso filmar aquilo". E é exatamente o que eu sinto, que minha direção ficou muito, muito simples e muito eficiente porque eu tenho a confiança para saber do que eu não preciso. Isso foi uma mudança no meu trabalho de direção, mas não tem nada a ver com minha carreira ou com os projetos que escolho. Outra confusão comum que acontece é as pessoas me perguntarem por que, "nesse ponto em sua carreira", fazer um filme como "A Dangerous Method". Eu respondo que teria feito há 15 anos se soubesse dele e se tivesse conseguido financiamento. Foi a mesma coisa com "Gêmeos", levei dez anos para conseguir fazê-lo, teria feito dez anos antes se pudesse. É lisonjeiro quando as pessoas pensam "bom, com a sua reputação e todos os filmes que você já fez, pode fazer o que quiser agora", mas não posso. Estava conversando com Martin Scorsese sobre isso, as pessoas têm certeza de que ele pode fazer o filme que quiser, mas não, ele ainda precisa lutar por cada filme, e eu também. É comum você não conseguir fazer o filme que queria, por falta de financiamento, e acabar fazendo outro filme. Por isso digo que não há um grande plano sobre a carreira, cada filme é um mundo próprio, você se concentra nele e tenta fazer o melhor.

O sr. é um diretor autodidata. Isso fez diferença na sua direção?

Não. Você pode ir a quantas escolas de cinema quiser, mas quando está fazendo um filme de verdade é muito diferente. Não há escola que possa ensinar a experiência real de fazer um filme, elas só podem ir até certo ponto. É verdade que nunca frequentei uma, mas acho que a melhor escola é fazer o filme. Meus anos na Cinépix, em Montreal, onde fiz "Calafrios" [1975] e "Enraivecida - Na Fúria do Sexo" [1977], foram minha escola. Foi a melhor escola de cinema possível, porque eu aprendi fazendo os filmes, cercado de pessoas muito boas que me ajudavam a entender o que significava fazer cinema. Eu havia feito dois filmes underground antes ["Stereo", 1969, e "Crimes do Futuro", 1970], mas é algo completamente diferente de uma produção profissional, com a pressão do tempo e do dinheiro. Então eu digo que isso foi uma escola para mim, e acho que depois de alguns filmes você está no mesmo nível de qualquer outro, é uma questão de descobrir que tipo de cineasta você é. Eu digo aos estudantes de cinema que há infinitas maneiras de ser um diretor, não há regra. Recebo jovens com frequência nos meus sets, e eles me dizem que não vão conseguir ser diretores porque não são suficientemente cruéis, nervosos ou exigentes, não gritam. Eu digo a eles que isso é ridículo, que é uma mitologia do que é ser um cineasta que algum professor lhes ensinou. Na verdade, você desenvolve um modo de dirigir que se encaixe no seu temperamento. Se você for doce e gentil, ainda pode ser um diretor, assim como pode se for cruel e bravo.

Divulgação
O ator Viggo Mortensen interpreta Sigmund Freud em "A Dangerous Method", novo filme de David Cronenberg

E que tipo de diretor o sr. é?

Sou doce e gentil. Gosto de me divertir, temos muito humor no set. Fazendo um filme você se lembra da infância, há um sentido de brincadeira, você se fantasia, coloca roupas engraçadas, um bigode, finge ser pessoas que não é, isso se parece com brincadeiras de criança, e eu gosto de manter esse sentimento.

O sr. crê que seus primeiros filmes passaram por uma espécie de revisionismo neste século? Os críticos passaram a valorizar mais as obras do início da sua carreira?

Acho que essas coisas acontecem. Devo dizer que "A Mosca" [1986] recebeu críticas muito boas quando foi lançado, ao menos na América do Norte, o que foi uma certa surpresa, porque muitos dos meus filmes anteriores não tiveram boas críticas. Mas isso varia de país para país. Acho que é importante viver muito tempo se você quer ser apreciado, se fizer algo fora do comum, algo que não é óbvio ou, em outras palavras, se você trabalha com um gênero que é considerado desrespeitoso, que tem má reputação. Quando comecei, não havia grande estúdio distribuindo um filme de horror, você só conseguia pequenos distribuidores. Quando "Halloween" [1978], do John Carpenter, rendeu muito dinheiro, os estúdios começaram a pensar que talvez devessem fazer filmes do gênero. Para as pessoas que gostavam de filme de horror, o fato de serem considerados underground era algo positivo, a ideia de que éramos fãs de algo que não era do gosto normal, mainstream, e que era considerado perigoso, isso agradava aos fãs. Eventualmente, no entanto, os filmes precisam se sustentar como cinema. E, quando são tirados do contexto daquele tempo, as pessoas podem começar a vê-los com um olhar novo. Então não é incomum que haja uma reavaliação constante. Houve um tempo em que Shakespeare era considerado um dramaturgo muito ruim. Acho que é bom poder ter uma carreira longa, porque você provavelmente verá todo tipo de altos e baixos, e isso te dá uma boa perspectiva. Você pode lançar um filme que não é tão bem recebido e ao menos esperar que um dia a crítica volte a ele e veja algum valor.

O sr. acredita que as cenas violentas e chocantes de seus filmes podem distrair o espectador da história, prejudicando a interpretação do filme?

Tenho certeza de que isso é verdade com relação a alguns dos filmes. O interessante é que, quando você tem fãs do gênero assistindo a filmes de horror, eles não ficam tão distraídos com isso, porque estão acostumados, esperam aquele tipo de imagem, a apreciam e a entendem. Eles têm um conceito para ela, mesmo em termos de cinema. Mas, quando é um crítico mainstream vendo um filme de horror, acho que é uma distração muito grande. Mesmo em, por exemplo, "Senhores do Crime". Um crítico da [revista] "New Yorker" adorou a luta na sauna, mas achou que fui longe demais quando mostrei a faca entrando no olho do cara, achou que era um erro de minha parte.

Em seus primeiros filmes, o senhor escrevia todos os roteiros, mas a partir de "A Hora da Zona Morta" (1983), basicamente só adaptou textos de outras pessoas, com exceção de "eXistenZ" (1999). O que aconteceu, o sr. perdeu o interesse em escrever?

Não foi isso, é que pode levar um ano ou mais para escrever um roteiro original, é uma questão de tempo e pressão. Se você pensar, caras como o Coppola e o Brian De Palma também costumavam escrever seus roteiros, e aí suas carreiras atingiram um certo ritmo e eles pararam, não porque perderam o interesse, mas porque teriam que decidir tirar um ano de férias, não olhar nenhuma proposta, nenhum roteiro, livro ou adaptação. É difícil fazer isso se você está com sua carreira em movimento. Fora isso, tenho um ou dois roteiros que nunca foram produzidos. Não é porque você escreveu que conseguirá financiamento. Há alguns roteiros sobre os quais você talvez não tenha ouvido falar e que não se transformaram em filmes, por várias razões.

O sr. fez muitos filmes nas primeiras duas décadas da sua carreira, e nos anos 90 desacelerou um pouco. Foi um movimento natural?

Não, acontece de você se envolver em projetos que caem. Agora, por exemplo, já rodei outro filme, "Cosmopolis", e foi a primeira vez que fiz dois filmes em sequência, quase ao mesmo tempo, em dois anos. E fiquei feliz, tenho energia para fazer isso, foi divertido, mas foi acidental, na verdade, porque funcionou em termos de financiamento, roteiro, reunir os atores.

Há tantas coisas que têm de funcionar para fazer um filme. Por exemplo, um dos roteiros que eu fiz e não foram filmados era para "O Vingador do Futuro" [baseado num conto de Philip K. Dick, acabou com outros roteiristas]. Passei um ano escrevendo 12 versões do roteiro e acabei não fazendo aquele filme [foi dirigido por Paul Verhoeven em 1990], por diversas razões. Foi um ano em que ganhei algum dinheiro e não fiz um filme. Nos anos 70, você ganhava o dinheiro antes mesmo de fazer um filme, você nem precisava ter um roteiro, e é claro que isso mudou. A outra coisa que você deve notar é que fazer filmes é um negócio, depende da economia. Quando aconteceu a crise recente, isso derrubou um bom número de filmes independentes. Certamente o dinheiro que receberiam não estava mais lá, porque quem os apoiava faliu. Então você não é completamente senhor do seu destino, você não faz filmes no vácuo. Todas essas coisas provavelmente são razões para essa desaceleração que você menciona.

A partir de "eXistenZ" (1999) o sr. parece ter se afastado do universo fantástico que lhe deu fama e passado a fazer filmes cada vez mais clássicos nos temas e nos tratamentos. As mutações que a tecnologia e a biologia impuseram ao mundo em que vivemos ultrapassaram sua imaginação?

Escrevi nesse período alguns roteiros que não foram filmados e que se encaixariam nessa categorização, então não acho que seja correto dizer isso. É verdade que em certos momentos você está interessado em explorar diferentes formas dramáticas, mas não é como se eu tivesse me afastado delas, é que eu sinto que já as explorei da melhor forma que podia e contribuí tanto quanto pude, seja para o gênero do horror ou da ficção científica. Se eu sentisse que tenho algo novo a oferecer, não hesitaria em fazê-lo, não é como se eu tivesse dito a mim mesmo "não devo mais fazer filmes fantásticos". À medida que você envelhece, sua sensibilidade e sua cabeça mudam, é um outro momento. Por outro lado, "Gêmeos - Mórbida Semelhança" e "M. Butterfly" [ambos anteriores a "eXistenZ"] não são filmes fantásticos.

Como o sr. vê a evolução da tecnologia no mundo e no cinema em particular?

Vivemos num mundo de ficção científica, sem dúvida. Os ataques dos drones [aviões-robô militares] no Paquistão, comandados por americanos em Nevada, isso é inacreditável, vai além de Philip K. Dick. É claro que sempre há aspectos assustadores na tecnologia, mas eu a adoro. Acabei de fazer "Cosmopolis" com câmera digital, foi a primeira vez que a usei em um longa e nunca mais quero filmar em película. Me sinto muito confortável, as ferramentas que temos hoje em dia são fantásticas, muito mais flexíveis do que os velhos meios analógicos. A edição de filmes já é digital há muitos anos e não há muita gente disposta a editar como nos velhos tempos.

E o que acha do cinema 3D?

Parece déjà vu para mim, é algo que eu vi nos anos 1950. Foi desenvolvido naquela época porque os estúdios estavam com medo de perder público para a televisão, então tiveram de criar coisas novas como o Cinemascope, o som estereofônico e o 3D. Assisti a muitos filmes 3D nos anos 50, como "Museu de Cera" e "Bwana Devil", e eles eram muito eficientes, mas, por razões diversas, a técnica não durou. E hoje, como então, não tenho certeza de que vá durar. Algumas coisas se tornam inevitáveis em cinema, como a cor e o som estéreo, mas não creio que seja o caso do 3D. Ele é uma possibilidade, não é essencial. Assisti a "Avatar" em Imax 3D e pensei "ok, legal", mas não achei que fez o filme ser melhor. Ainda não estou convencido sobre o 3D, em termos criativos. Conversei com Martin Scorsese sobre isso, ele estava fazendo "Hugo" em 3D e estava muito animado, me disse que há várias coisas que você pode fazer e que é muito interessante. Mas, de certa forma, é um retrocesso, torna a filmagem mais desajeitada e difícil, você precisa lidar com câmeras grandes. É claro que isso pode mudar, elas gradualmente ficarão menores, mas no momento há muitos movimentos de câmera que não é possível fazer em 3D. E é também muito mais caro, o que para mim significa ter menos chance de fazer algo criativo e interessante em termos da trama e dos temas do filme, porque ele terá de ser mais convencional já que é mais caro, você acaba tendo de fazer um filme mainstream de estúdio, não tem a chance de fazer algo experimental.

Como o sr. lida com a internet?

Uso a internet desde 1985, quando era apenas um message board, só palavras. Me sinto muito familiarizado e confortável com a internet, é um fenômeno incrível, uma das mudanças tecnológicas mais importantes da história. Como toda tecnologia, tem um enorme potencial para coisas boas e ruins, e temos visto ambas, juntas. As pessoas às vezes falam de tecnologia como se fosse algo vindo do espaço, mas obviamente vem de nós, é um reflexo do que somos como criaturas, e como temos potencial para coisas boas e ruins, assim é com a tecnologia. Ela é uma projeção nossa, uma extensão do nosso corpo, do nosso sistema nervoso.

E como lida com o fato de seus filmes serem pirateados na rede?

Quando fui à China para promover "M. Butterfly" [1993], me lembro de ter conhecido artistas que disseram ter assistido a meus filmes em versões piratas, e achei ótimo porque pelo menos meus filmes tiveram uma vida na China e essas pessoas puderam conhecê-los apesar da censura do governo. Me disseram que o mesmo aconteceu em Cuba. Ou seja, há um aspecto desse mundo de filmes piratas que é positivo. Por outro lado, eles realmente são piratas, estão roubando dinheiro de mim. Não em casos como o de "From the Drain", que é um dos primeiros curtas que eu fiz [e que está disponível no YouTube], porque não havia dinheiro ali. Mas no caso dos meus filmes mais recentes, é realmente furto, e é difícil porque você está tentando sobreviver como cineasta, o que já é suficientemente difícil, pode acreditar. As pessoas pensam nas estrelas ricas de Hollywood, mas elas não são cineastas. Você provavelmente ganharia mais sendo um advogado.

O sr. já recusou a direção de filmes hollywoodianos como "Flashdance", "Top Gun" e "Entrevista com o Vampiro". Não gosta de Hollywood?

Houve uma era em Hollywood, nos anos 40, 50 e também nos 70, que foi fantástica. Eu não diria que odeio Hollywood, é só que não me achava o diretor certo para filmes como "Top Gun". E certamente não queria viver em Los Angeles, porque acho que lá você perde a perspectiva, é uma cidade de uma única indústria, que é Hollywood, e você perde a perspectiva que tem no Canadá. Em Toronto, me sinto no meio do caminho entre a Europa e Hollywood, há muita influência europeia na minha maneira de filmar e eu gosto disso, não gostaria de perder isso me mudando para Los Angeles. Quanto mais você adentra LA, mais se afasta da Europa. Mas não odeio Hollywood, sei que, se você trabalha para um estúdio, é um jogo diferente do de fazer um filme independente. Mas se você conhece o jogo que está jogando e quer jogá-lo, não deve haver problema. Você sabe que, quando está trabalhando para um estúdio, não terá a liberdade que teria fazendo, por exemplo, um filme independente com Jeremy Thomas, o produtor de "A Dangerous Method". Mas terá provavelmente mais dinheiro, então é uma troca. Você tem de decidir se quer jogar esse jogo.

O que aconteceu com "Maps to the Stars", seu filme sobre a indústria de Hollywood?

Não consegui fazê-lo, era muito extremo, acho que as pessoas estavam com medo dele. Era um roteiro maravilhoso do Bruce Wagner, um escritor e roteirista que é meu amigo e que escreve muito sobre Hollywood e Los Angeles. Achei a história fantástica, mas ela é muito extrema, muito cruel, acho que foi considerada muito chocante e por isso não tivemos a chance de fazê-lo. Mas nunca se sabe, pode ser que ainda saia, é um roteiro de que gosto.

O sr. conhece o Brasil?

Não, nunca estive na América do Sul, é bizarro. Conheci Ayrton Senna, estive com ele no México e na Austrália em 1986, assistindo aos GPs, porque queria fazer um filme sobre corridas de Fórmula 1, então o encontrei algumas vezes, e isso é o mais próximo que já estive do Brasil. Gostei muito de Senna, era muito doce e gentil, conversamos sobre corridas e perguntei se ele sonhava com as pistas, porque eu fui corredor não profissional e sempre sonhava com as pistas, era como se praticasse durante meus sonhos. Ele me disse que também sonhava assim às vezes, que via as corridas em detalhe e era como se estivesse treinando. Eu era um grande fã de Senna, assim como de Gilles Villeneuve, o melhor piloto canadense.

E o que conhece de cinema brasileiro?

Alguns diretores brasileiros dos anos 1970, de filmes de arte, causaram um grande impacto em mim. Não me lembro dos nomes, minha memória é ruim para isso. Quem dirigiu "Antonio das Mortes" [título internacional de "O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro, de Glauber Rocha]? [Ao ouvir a resposta] É, isso.

Viu algo da produção mais recente?

Sim, "Cidade de Deus" é um filme incrível. Conheço Fernando Meirelles, o encontrei algumas vezes e assisti a vários de seus filmes, inclusive "Ensaio sobre a Cegueira", que é uma coprodução entre Brasil e Canadá e também é muito bom. E conheço Walter [Salles] também, assisti a alguns de seus filmes, ele também trabalhou com Viggo Mortensen [ator dos últimos três filmes de Cronenberg], em "On the Road", e eu fiz "Mistérios e Paixões" ["Naked Lunch" no original, que, assim como "On the Road", é uma adaptação de clássico da literatura beat], então temos essa estranha conexão.

Tudo o que somos é resultado do que pensamos.

“Tudo o que somos é resultado do que pensamos.

A mente é o seu fundamento e todos os pensamentos são criados pela nossa própria mente.

Se falarmos ou agirmos com uma mente impura, então o sofrimento seguir-nos-á da mesma maneira que a roda segue o boi que puxa a carroça.

Tudo que somos é resultado do que pensamos.

A mente é o seu fundamento e todos os pensamentos são criados pela nossa própria mente.

Se falarmos ou agirmos com uma mente pura, então a felicidade seguir-nos-á como a sombra que nunca nos abandona.

‘Maltrataram-me, golpearam-me, despojaram-me do que era meu.’ Se guardarmos esses pensamentos, nunca libertar-nos-emos do ódio.

‘Maltrataram-me, golpearam-me, despojaram-me do que era meu.’ Se abandonarmos esses pensamentos, libertar-nos-emos do ódio e viveremos em paz.

Pois que, neste mundo, o ódio nunca se extinguiu através do ódio. Ele só dissipa através do amor.

Esta é a lei.

Muitos desconhecemos que, ao brigar, perecemos. Mas se conseguirmos compreender isso, deixaremos para sempre de brigar.

Se vivermos apegados ao prazer, com os sentidos sem freio, sem moderação ao comer, indolentes e inativos, Mara, o tentador, derrubar-nos-á, assim como o vento derruba uma árvore enfraquecida.

Se vivermos sem ânsia pelos prazeres, freando nossos sentidos, moderando a comida, cheios de fé e energia, Mara não poderá nos derrubar, assim como o vento não pode derrubar a montanha que é firme.

Se não pudermos nos dominar e nos afastarmos da verdade, mesmo que vistamos a túnica amarela, não seremos merecedores dela.

Mas se tivermos nos limpado de todos os pecados e seguirmos o caminho da verdade, então seremos merecedores de vestir a túnica amarela.

Se tentarmos achar o falso dentro do que é verdadeiro e o verdadeiro dentro do que é falso, estaremos errando e nunca alcançaremos a verdade.

Assim como a chuva entra em uma casa mal coberta, assim a paixão inunda a nossa mente irresponsável.

Assim como a água não entra em uma casa bem coberta, assim a paixão não penetra em nossa mente quando ela está em equilíbrio.

Se agirmos mal, lamentar-nos-emos agora e lamentar-nos-emos depois. Sempre lamentar-nos-emos e sofreremos ao perceber a impureza dos nossos próprios atos.

Se agirmos bem, regozijar-nos-emos agora e depois também.

Sempre regozijar-nos-emos e seremos felizes ao perceber a pureza dos nossos próprios atos.

Sofremos agora e sofreremos depois.

Sempre sofremos.

‘Agimos mal’, dizemos sofrendo.

Sofremos ao saber do mal que fizemos, quando seguimos pelo mau caminho.

Gozamos agora e gozamos depois.

Somos sempre felizes.

‘Agimos bem’, dizemos felizes.

Gozamos ao saber o bem que fizemos e ao seguir pelo bom caminho.

Mesmo que repitamos, a todo momento, os Ensinamentos, se formos negligentes e não colocarmos em prática o que falamos, seremos como o vaqueiro que só sabe contar as vacas dos outros.

Assim não podemos seguir pela Senda.

Mesmo que recitemos pouco os Ensinamentos, mas se nos guiamos por eles, abandonando o desejo, o ódio e a ilusão, tendo uma mente liberta e não tendo apego a nada neste mundo nem ao mundo que possa vir depois:

Assim poderemos seguir a Senda.”




Do livro "Dhammapada, Pelos Caminhos de Buddha".

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