Como se deve iniciar a prática de Zazen?


Antes de se sentar para praticar Zazen, decida quanto tempo quer ficar sentado, recomenda-se que determine uma duração que seja viável para praticar numa base regular, mesmo que seja somente 5 minutos. É preferível fazer 5 minutos com regularidade (todos os dias ou 3 vezes por semana, por exemplo) do que 40 minutos de 15 em 15 dias, mas 40 minutos uma vez por mês é melhor que nada...

Uma vez decidido o tempo que quer praticar, é bom respeitar sempre esse tempo. Assim, no dia em que está difícil sentar-se, use a sua perseverança para continuar sentado até terminar o tempo e use a sua disciplina para parar quando terminar. Esta regularidade é muito importante.

Pode fazer Zazen numa cadeira, usando um banquinho especial para a prática, uma almofada chamada Zafu, também um cobertor dobrado ou directamente no chão.


Ao sentar-se numa cadeira, é preferível não se encostar no espaldar, mas manter as costas bem rectas, porém sem tensão.


Sentando-se num zafu, deve ajustar as pernas em lótus completo (os dois pés descansando sobre a coxa oposta), meio-lótus (um dos pés sobre a coxa oposta e o outro pé descansando no chão), na posição lótus com os dois pés no chão ou de seiza (posição ajoelhado - sentado no zafu com o mesmo entre as pernas).




Assim que ajeitar as pernas, ajuste o corpo: Os lábios devem tocar-se sem pressão e a ponta da língua tocar o palato perto da raiz dos dentes; endireite as costas e ajustando a posição da cabeça para que o nariz fique alinhado com o umbigo e as orelhas com os ombros. É muito comum o praticante ficar sentado com a cabeça e queixo inclinados para a frente. Deve-se colocar o queixo para dentro e manter a cabeça recta.

Ajuste a coluna para que fique recta, porém sem tensão, especialmente na região lombar. Solte os ombros, sem deixar que caiam para a frente.

Descanse o dorso da mão direita no colo, junto ao abdómen três dedos abaixo do umbigo - centro físico e subtil do corpo (hara) e coloque os dedos da mão esquerda sobre os dedos da mão direita. Junte as pontas dos polegares levemente.


Descanse a vista mais ou menos um metro à frente no chão, sem fixar em nada com os olhos entreabertos.

Inspire e expire profundamente uma ou duas vezes – sem fazer barulho – e comece o seu Zazen. Se tiver uma taça, pode tocá-la três vezes.

Para fortalecer o seu foco e concentração  conte as suas respirações, enquanto respira normal e naturalmente, sem tentar controlá-las. Conte “um” na inspiração, “dois” na expiração, “três” na inspiração, “quatro” na expiração e assim em diante até chegar a “dez”. Aí, recomeça a contagem a partir de “um”. Da mesma forma que a função do pâncreas é produzir insulina, a da mente é produzir pensamentos. Sem perceber, acabamos por nos deixar levar por estes pensamentos, nos identificando com eles, imaginando que “somos os nossos pensamentos”. Então, esquecemos a nossa contagem, esquecemos de observar a nossa respiração e “viajamos” nos pensamentos, criando "as nossas" estórias. Aparece um pensamento qualquer na nossa mente e, em lugar de simplesmente observá-lo e deixá-lo passar da mesma forma que veio, adicionamos mais um e mais um e mais um, criando as nossas novelas preferidas com lembranças do passado ou estórias imaginárias sobre desastres futuros que tememos… Saímos do Aqui e 

Agora, esquecemos da nossa respiração.

No momento que deu conta que se distraiu, sem qualquer tipo de autocrítica ou auto julgamento, simplesmente volte à contagem das respirações, a partir de “um”.

Faça isto quantas vezes necessárias até que termine o tempo do seu Zazen. O valor desta prática é o treino em se dar conta do facto de que se distraiu e retornar ao centro, retornar ao foco, retornar à respiração e à contagem.

Aprendemos a deixar os nossos pensamentos vir e ir embora por si mesmos, aprendemos a simplesmente observá-los, sem “tocar neles”, sem ficar “envolvidos”. Com este “não tocar” nem “agarrar os pensamentos que surgem na mente, dando continuidade ao fluxo de ideias, e nem ficar a tentar “empurrá-los para longe” fazendo um esforço para não pensar. 

Deixamo-los lá, como deixamos as nuvens no céu. Mantemo-nos focados na nossa respiração e os pensamentos passam sozinhos, naturalmente. Não lhes dando atenção, acabam indo embora, como uma visita inconveniente que acaba por sair mesmo quando não abrimos a porta…

Com a prática, você passará a distrair-se com menos frequência e este “dar-se conta e retornar ao foco” vai-se tornando cada vez mais fácil. Neste momento, pode notar que a mente começa a aquietar-se naturalmente, sem que você precise de fazer nada para isso, além de manter o seu foco.

Terminado o tempo de seu Zazen balance o corpo para frente e para trás e para os lados, espreguice-se. Progressivamente ative o corpo. Mexa os pés, as pernas até que volte a circulação. Não tente levantar-se com uma perna ou pé adormecidos. Assim que estiver pronto, levante-se e faça uma saudação (vénia) de agradecimento. Volte às actividades regulares de uma forma suave, procure manter este estado de tranquilidade interna durante as suas actividades diárias.

Somos como um lago. A cada vez que aprofundamos a nossa observação sobre este lago, conhecemos ainda mais qual a sua profundidade e, cada vez que sabemos o quão profundo ele é, mais imersos passamos a perceber melhor o mundo e as coisas como realmente são.

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