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Percebendo uma sala pela visão do Nirvana e pela visão do Sansara

Postado originalmente no ótimo Dharmalog
Retirado do "Os Seis Mundos do Samsara", do livro “O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan”, páginas 1 a 13.



Por Ming Zhen Shakya





Espiritualmente falando, a existência humana é dividida em dez mundos. Os primeiros seis mundos são retratados como sendo partes de uma roda que gira perpetuamente; os últimos quatro são vistos como platôs de uma alta montanha. 

Os seis mundos pertencem ao Samsara, o reino da ilusão, no qual a realidade é distorcida pela intervenção do ego. Os quatro mundos pertencem ao Nirvana, o reino da pura consciência no qual, em graus ascendentes, a realidade é experimentada diretamente sem as interpretações do ego. O objetivo do Chan é chegar ao topo dessa montanha, ou seja, experimentar a vida espontaneamente, sem a submissão de toda informação que nos chega às explicações e determinações do ego. 

Por ser tão importante entender exatamente o que significam esses dois termos, Samsara e Nirvana, ou Forma e Vazio, como eles são frequentemente chamados, nós vamos ilustrar a distinção entre eles. 

Imaginemos uma sala na casa da senhora Jane Doe. Nesse quarto há um ser humano sentado em um sofá de veludo azul. Do lado oposto ao do sofá há duas cadeiras de seda clara. Nas extremidades do sofá há mesas, sobre as quais há abajures com grandes venezianas franzidas. No chão há um tapete circular rosa e creme e nas paredes há várias pinturas a óleo com a assinatura de Jane Doe. As janelas estão abertas e uma forte brisa faz as cortinas esvoaçarem dentro do quarto. Do lado de fora, um galho de árvore bate ritmadamente contra uma das abas da janela. Um relógio na parede soa as onze horas. 

Essa descrição das coisas exatamente como elas são é a realidade do Nirvana ou do Vazio. 

Agora, imaginemos essa mesma sala como visto através dos olhos da pessoa que está sentada no sofá. Vamos supor que essa pessoa é Louisa Doe, a sobrinha da senhora Jane Doe, que aceitou um convite para o chá. Enquanto a tia está ocupada na cozinha, a sobrinha olha ao redor do aposento e diz para si mesma:


“Essas pinturas são horríveis. Não me espanta que a pobre mulher nunca tenha se casado. E aqueles abajures… que lástima! Mas o sofá é de primeira categoria. Ela deve ter pago uma fortuna nele. Eu me lembro de tê-lo visto há alguns anos atrás e ele ainda parece o mesmo. Tão macio.. É uma pena que eu não esteja com Duncan Phyfe. Meu Deus, ela precisa reformar aquelas cadeiras! Os braços estão sem dúvida encardidos. Mas esse tapete.. eu aposto que é um legítimo oriental. Sim… isso deve ter sido um dos que ela comprou no Cairo. Aquela brisa me traz lembranças. Será que deixei as janelas do carro abertas? Seria melhor se ela podasse aquele galho ou algum dia ainda vai acabar quebrando esse vidro. Onze horas! Ah, aquele é o velho relógio Hamilton que papai diz que por direito é dele. Eu espero que possa sair daqui ao meio dia. Me pergunto se ela planeja deixar este lugar para mim...”

 * O texto é um trecho do quinto capítulo, “Os Seis Mundos do Samsara“, do livro “O Sétimo Mundo do Buddhismo Chan” (Um Guia para Principiantes da História, a Psicologia, e a Prática da Escola do Sul do Buddhismo Chan), da autora Ming Zhen Shakya.tradução para o português foi realizada pela Ordem Zen-Budista de Hsu Yun, do grande mestre zen chinês Hsu Yun (1840–1959). 

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