Por Bryan da Fonseca Araújo
Dado o ambiente político e institucional conturbado, no qual nos encontramos desde 2016, acrescido da maior crise sanitária desde a pandemia da gripe espanhola, vivido no início do século passado, é normal que nossas atenções não estejam voltadas às eleições municipais. O que falar então das eleições presidenciais no longínquo 2022?!
Contudo, pleiteio que, agora, mais do que nunca, devemos nos preocupar com os rumos do país nos próximos anos, bem como com o caminho a ser seguido daqui para frente. Isso pois, qualquer que seja o governante que venha a assumir a cadeira presidencial, encontrará um país arrasado humanitária e economicamente.
Por isso, uma análise sobre os nomes do espectro progressista e o que eles trazem a essa discussão torna-se essencial. Hoje, falaremos de Ciro Gomes.
Ciro não é nenhuma persona desconhecida no meio político. Reconhecido no cenário nacional pelo o que alguns chamariam de uma inconfundível “verborragia”, Ciro não poupa ninguém de suas críticas, seja de esquerda ou de direita, sejam históricos rivais ou aliados de um passado recente. Se fez, vai ouvir e acabou. Alguns dizem que este é o motivo pelo qual o presidenciável pedetista afasta as chances de assumir a Presidência. Outros, entretanto, afirmam que sua autenticidade é um dos motivos que atrai tanto interesse.
Mas procurarei me ater ao papel do Ciro no espaço de tempo entre as eleições de 2018 até agora.
Ao se lançar como candidato naquele ano, e por estar afastado do cenário político nacional desde 2002, ano do sua última corrida presidencial, Ciro sequer aparecia nas pesquisas espontâneas de voto em 2017. Nas pesquisas com as opções de voto, figurava abaixo de nomes mais conhecidos do grande público à época, como Lula, Bolsanaro, Marina e Alckmin. Isso faltando pouco mais de um ano para as eleições. Contudo, o que se viu foi um Ciro, até então desconhecido, assumir o papel de terceira via ante a polarização Bolsonaro/PT e, de forma isolada, angariar uma terceira colocação.
Eu sei o que você está pensando, nobre leitor: “Qual é?! Um terceiro lugar em uma corrida presidencial não quer dizer lá muita coisa”. Analisando apenas este dado de forma isolada, concordaria com você. Afinal, a Marina havia tirado o terceiro lugar duas vezes. Contudo, quando levamos em conta o contexto, de alguém que era desconhecido para a maioria da população jovem até um ano antes, sem apoio de grandes partidos, sem tempo de televisão e rádio e com uma chapa “puro sangue”, diria que o resultado ficou longe de ser desapontador.
Vale ressaltar, que o que o Ciro deixou de legado pós-eleitoral foi algo que nenhum outro político havia conseguido, nem mesmo a Marina: incomodar o PT dentro de um campo no qual este reinava absoluto, à esquerda.
Ciro, hoje, não é mais aquele candidato que recebe apenas os votos chapa-branca ou os votos de protestos. Ciro, possui, hoje, uma militância própria que não é derivada de qualquer outro movimento. Pessoas que atuam em torno não só do seu nome, mas do seu Projeto Nacional de Desenvolvimento (PND). Hoje, apenas quatro nomes do cenário político podem dizer que possuem um apoio genuíno, são eles: Bolsonaro, Lula, Moro com o dito “Lavajatismo” e Ciro Ferreira Gomes. Destes nomes, o único confirmado para o próximo pleito e já em aberta campanha eleitoral é o Ciro.
Atualmente, não há como negar que há um claro e evidente racha na esquerda. Críticas ao PT em blogs e páginas de esquerda, algo impensável até pouco tempo atrás, borbulham de forma incontrolável entre progressistas. Reflexo disso, é o aumento do tom contra o Ciro das lideranças e do eleitorado petistas. Alguns, inclusive, praticando aquilo que foi feito contra a Marina Silva, ou seja, lançá-lo para o outro lado do espectro ideológico.
Contudo, dado o eleitorado e as ideias do Ciro, esta não tem sido uma tarefa fácil.
A esquerda sempre se diferenciou da direita pelo seu alto grau de ceticismo e sua capacidade crítica, algo que há muito estava em falta em movimentos esquerdistas. Essa nova capacidade de criticar os atos cometido nos governos passados sem a necessidade de ter que explicar escândalos de corrupção ou alianças, no mínimo, duvidosas, dá ao movimento uma certa oxigenação e uma nova chance para a tão pedida e merecida renovação da esquerda.
Resta saber se tal movimento em torno do Ciro terá forças para quebrar certas hegemonias e bases já estabelecidas há muitos anos na esquerda e se esta terá a coragem necessária para se reinventar
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