Elucubrações sobre a Força, Fragilidade e Evolução! Três leituras e alguma ideias...

A Biosfera 2 foi uma tentativa ambiciosa de criar um ecossistema fechado e autossustentável no deserto do Arizona em meados de 1991. A ideia era simular as situações de uma estação fora do planeta terra e produzir um laboratório auto suficiente em alimentos e oxigênio... O projeto envolveu oito voluntários vivendo dentro da estrutura por dois anos, com o objetivo de simular uma colônia humana em Marte ou na Lua! Uma das coisa interessantes foram as tentativas de cultivar árvores nesse ambientes controlados, lhes trazendo água e nutrientes de forma ótima para o bom desenvolvimento destas...


Curiosamente, no ambiente fechado e autossuficiente montado para simular a biosfera terrestre, as árvores lá cultivadas não desenvolveram corretamente! Muitas até morreram 
ou não cresceram adequadamente, caindo sob próprio peso! Segundo estudos posteriores as árvores não desenvolveram a "resistência" necessária porque estavam protegidas do vento e de outras adversidades naturais.  Suas raízes eram incompatíveis com a função natural de sustentá-las 

Uma árvore criada na natureza é periodicamente empurrada pelas brisas, pelo vento e pela chuva... nessa contínua interação com o ambiente e com a natureza lhe dá uma firmeza progressiva e maleabilidade. Obrigando a criar RAÍZES que sejam compatíveis com o clima e com o terreno onde esta plantada.

O Matemático e financista Nassim Taleb menciona o programa Biosfera 2 em seu livro “Antifrágil”, usa o exemplo dessa experiência para ilustrar como sistemas protegidos de estressores externos acabam por se tornar frágeis. Taleb usa esse exemplo das árvores para argumentar que ele chama de a exposição a estressores e desafios parte são essencial para o desenvolvimento da condição de "antifragilidade". Isso quer dizer que sistemas que são protegidos de qualquer tipo de estresse tendem a se tornar frágeis e menos capazes de lidar com adversidades quando elas inevitavelmente surgem. Mas o contrário (sistemas que geram padrões rígidos) também são ruins, pois a rigidez não permitem adaptações e mudanças necessárias.

O "senso comum" nos faz crer que a "felicidade" e o "sucesso individual" não é muito diferente de uma grande maratona, que exige disciplina e perseverança. Poucas pessoas tem capacidade de suportar fracasso atrás de fracasso até alcançar a vitória. Mas afinal, é isso mesmo? E a estabilidade emocional se dá pela mesma estratégia?

Seja Forte?

Se buscarmos definições de
Força teremos em comum a noção de que é a capacidade de um corpo ou sistema de resistir a uma carga ou pressão sem se deformar ou quebrar. É algo que NÃO MUDA diante das circunstâncias e do ambiente. Algo que não muda sob pressão. 


Nassim Taleb chama a força de "Robustez", a capacidade de um sistema ou pessoa de resistir e se manter forte diante de desafios e adversidades. Em engenharia e ciência dos materiais, robustez refere-se à resistência de um material a falhas sob condições variadas. Não muda.

Uma pessoa que é extremamente rígida e inflexível em suas decisões, com ideas duras, recusando-se a considerar novas ideias ou adaptar-se a mudanças se percebe como uma "pessoa forte", determinada. Difícil até... Embora possa sentir-se forte, essa rigidez vai lhe trazer sérios problemas quando surgem situações inesperadas, pois a falta de adaptabilidade vai resultar em falhas. Falhas por ser rígido e inflexível. Então, o forte acaba sendo frágil!

Seja fragil?

Já a Fragilidade é a condição de algo ou alguém que possui pouca resistência e é facilmente alterado ou danificado. Pode ser aplicada em diferentes contextos: Física: Refere-se a objetos ou materiais que são delicados e suscetíveis a danos, como um copo de vidro. Emocionalmente se refere à sensibilidade e vulnerabilidade emocional de uma pessoa, que pode ser mais suscetível a estresse e ansiedade. Ou à vulnerabilidade de determinados grupos ou indivíduos em relação às condições sociais e econômicas, como pessoas em situação de pobreza ou idosos. Essas definições ajudam a entender como esses conceitos se aplicam em diferentes áreas e contextos. Se precisar de mais detalhes ou exemplos, estou aqui para ajudar!

Nesse contexto a Fragilidade seria
 uma pessoa que foi super protegida quando criança. Resguardada de perigos sociais, como criminalidade e violência, bem alimentada e com cuidados com a saúde. Ela naturalmente foi "educada" a evitar qualquer tipo de conflito ou desafio, foi incapacitada de adquirir ferramentas emocionais para lidar com conflitos, preferindo sempre a zona de conforto. Potencialmente essa pessoa será alguém que nunca tenta aprender novas habilidades por medo de se expor! Não esta acostumada a lidar com falhas. Essa pessoa é frágil porque qualquer pequena adversidade pode causar um grande impacto negativo em sua vida.

Da mesma forma, muitas crianças e adolescentes hoje foram podadas de experiências que lhe dessem parâmetros de frustração saudáveis e simplesmente não sabem lidar com opiniões adversas e alteridades. 

Nessa interpretação uma pessoa forte e uma pessoa frágil tem um problema comum: Respostas ruins as adversidades naturais da vida... e nesse sentido são iguais!

Segundo o psicólogo social Jonathan Haidt, pesquisador e autor do livro “A Geração Ansiosa: Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais” o entendimento errado dos conceitos de "resiliência", de "força" e de "fragilidade" somados a cultura da hiperconectividade e o uso excessivo de telas estão reforçando os erros e afetando negativamente a saúde mental de crianças e adolescentes... e de adultos.


Brené Brown é uma pesquisadora Social e autora renomada, conhecida por seu trabalho sobre vulnerabilidade, coragem, vergonha e empatia. Ela argumenta que a vulnerabilidade não é uma fraqueza, mas sim uma medida de coragem. Segundo Brown, a vulnerabilidade é essencial para a autenticidade e a conexão genuína com os outros.

Em seu livro “A Coragem de Ser Imperfeito”, Brown explora como aceitar nossa vulnerabilidade pode nos levar a uma vida mais plena e significativa. Ela destaca que, ao nos permitirmos ser vulneráveis, estamos nos abrindo para experiências de incerteza, risco e exposição emocional, o que pode ser assustador, mas também extremamente recompensador. Brown inclusive aponta a importância de abraçar a vulnerabilidade no ambiente de trabalho inclusive, argumentando que líderes que evitam a vulnerabilidade tendem a evitar conversas difíceis e feedbacks honestos, o que pode levar a um ambiente de pouca confiança e inovação.

O caminho do meio: Não é a luta, mas Aceitar a fragilidade e as adversidades da vida! E se permitir A APRENDER com elas.

Assim como as árvores na Biosfera 2, que não desenvolveram a resistência necessária devido à ausência dos ventos, tão naturais no mundo externo, os seres humanos também precisam voltar a enfrentar desafios, adversidades e contrariedades para se tornarem verdadeiramente resilientes, diferente do que tem sido quando tutelados pelos algoritmos e suportes das redes sociais e "sites" de busca. Então não é exposição as dificuldades que é o maior problema, mas não se permitir interagir com DIVERSIADES de opiniões e pontos de vista divergentes que são responsáveis por fundamentarem a nossa capacidade de nos adaptar as idiossincrasias alheias, que são essenciais para o desenvolvimento da “antifragilidade”. Evoluir não é apenas "resistir" ao estresse, e se recondicionar, mas principalmente  se fortalecer "com" ele. Se permitir MUDAR!

Portanto, ao invés de buscar desenvolver uma posição rígida para com o mundo presumido ser "
força" e inflexibilidade para si mesmo, como uma armadura, é muito mais benéfico cultivar uma "resiliência adaptativa", que nos permita crescer e evoluir diante das adversidades. Buscar propositadamente conviver com pessoas que não tenham as mesmas afinidades e opiniões distintas nos torna melhores! A verdadeira força está na capacidade de se adaptar para prosperar, não na rigidez de vencer. Encara o que nos torna vulneráveis e as inevitáveis mudanças e desafios da vida depende de nos permitirmos nos expor e encarar o que a vida nos apresenta.

A rigidez na forma de pensar e sentir é antiadaptativa. A
o invés de nos isolarmos em bolhas de pensamento homogêneo, devemos buscar ativamente ambientes que nos desafiem a pensar de maneira diferente e a crescer com essas experiências. A rigidez na forma de pensar e sentir é, portanto, antiadaptativa e nos torna mais vulneráveis às inevitáveis mudanças e desafios da vida. Cultivar uma resiliência adaptativa, que nos permita prosperar em meio às adversidades, é a verdadeira força que devemos almejar



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