Pode não ter sido trauma! Ou Formulações sobre o papel da NEGLIGÊNCIA EMOCIONAL no Desenvolvimento Emocional Humano!

Pode não ter sido trauma!

Ou

"Formulações sobre o papel da NEGLIGÊNCIA EMOCIONAL no Desenvolvimento Emocional Humano"!

Para criar uma Criança é preciso uma Aldeia!


 Um rascunho.


Nossa espécie é incrivelmente FRÁGIL ao nascer… Diferente de uma tartaruga, por exemplo, que nasce sozinha de um ovo enterrado na areia de uma praia cheia de predadores, que cava sua saída do ninho, corre para o mar, e lá chegando já começa a caçar pequenos animaizinhos e a comer plantinhas…. tudo isso sem ajuda e nos primeiros minutos de vida. Nós não…

Nas palavras do renomado pediatra e psicanalista Donald Winnicott, nos primeiros meses de vida, o bebê está em um estado de dependência absoluta, necessitando de cuidados constantes e imediatos para sobreviver. E um bebe humano não nasce pronto para sobreviver… ele nasce INCOMPLETO fisicamente incompetente e NEUROLOGICAMENTE frágil. 


Durante esse período, o bebê não distingue entre si mesmo e o ambiente. Seu cérebro acredita que tudo é o bebê… Pois não entende a sua realidade a sua volta. Ouve mas não entende o que os sons significa… enxerga mal e não tem força… sente frio, calor, fome... e nada disso faz sentido.

Absolutamente TODOS os bebês humanos são dependentes dos ambientes onde estão. Física e Emocionalmente.

Sigmund Freud
 foi um dos primeiros a enfatizar a importância das experiências infantis no desenvolvimento da personalidade e na formação emocional, mas não foi o único.

Ainda nas palavras de Winnicott, os cuidadores (pais, avós, babás, quem estiver ao alcance do papel de cuidar da criança recém nascida) presentes são RESPONSÁVEIS por ajudar a constituir o AMBIENTE que vai ser FORMADOR do que a criança irá se tornar.

O conceito de “mãe suficientemente boa”, que é a mãe (estende-se a QUALQUER UM que se coloque na posição de cuidador da criança, não exclusivamente a mulher que pariu) que consegue atender às necessidades do bebê de forma consistente e adaptativa. Essa “mãe” cria um ambiente seguro que permite ao bebê desenvolver um senso de confiança e segurança. Preocupação Materna Primária Este é um estado psicológico que a mãe entra durante as últimas semanas de gravidez e as primeiras semanas após o nascimento. Nesse estado, a mãe está altamente sintonizada com as necessidades do bebê, o que é crucial para o desenvolvimento saudável do bebê.

John Bowlby, psicanalista, psiquiatra e psicólogo britânico, notável por seu interesse no desenvolvimento infantil e por seu trabalho pioneiro na teoria do apego, argumentou que os vínculos formados entre a criança e seus cuidadores primários são fundamentais para o desenvolvimento emocional saudável.

Jean Piaget, embora seja mais lembrado por seu trabalho sobre o desenvolvimento cognitivo, também reconheceu a importância das experiências precoces no desenvolvimento emocional e social. Assim como Lev Vygotsky, Erik Erikson, Melanie Klein… Não faltam autores dedicados a escrutinar como a construção emocional do Adulto são dependentes dos primeiros Ambientes Emocionais e da qualidade da segurança emocional das crianças!

Evolutivamente somos PROGRAMADOS PARA DEPENDER dos cuidadores que deveriam nos trazer conforto, nutrição e segurança ideal para o nosso desenvolvimento como bebê. FAZ PARTE DO PROCESSO DE ANIMAIS SOCIAIS!

Crianças brincando em Gaza.
MAS E SE NÃO FOR UM BOM AMBIENTE? Se for um ambiente insuficiente? E se o ambiente afetivo ou material ao qual a criança recém nascida estiver inserida NÃO for o mais adequado para um bom desenvolvimento? Apesar de toda a nossa fragilidade, AINDA TEMOS FERRAMENTAS que a evolução separou para a criança se tornar um adulto… minimamente eficiente?



Sim. Como foi dito antes, Crianças se ADAPTAM ao ambiente que os cuidadores entregam… Aprendem em quem podem confiar e o que podem fazer para conseguir atenção e afeto!

Em ambientes saudáveis a criança aprende o que é “ela” e o que são os outros…


Mas E SE O AMBIENTE NÃO É MINIMAMENTE SAUDÁVEL??? Bom, por uma questão evolutiva a criança humana constituiu ferramentas que constroem uma espécie de HIERARQUIA DO MENOS PIOR!


E ISSO É IMPORTANTE!


Na ausência de um ambiente “ótimo” todas as crianças procuram valorizar o que tem para evitar o RISCO de ficar SEM AO MENOS ISSO!!!

Percebe? Se a criança tem de escolher entre um ambiente INSUFICIENTE, mesmo que numa relação apática, pelo medo da possibilidade de arriscar ficar sozinha… a criança aprende a SUSTENTAR a relação insuficiente!!! Aceitando como NORMAL. Natural e até inescapável!


Mesmo se tóxicas?


Sim, mesmo que tóxica!

Adultos não precisam sofrer traumas agudos de violência e/ou sofrimento drástico para desenvolverem FERIDAS EMOCIONAIS GRAVES!!!

Basta que o seu ambiente original tenha sido NEGLIGENTE EMOCIONALMENTE em construir uma relação segura de afeto, conforto, nutrição e alguma estabilidade. Um ambiente de negligência emocional básica é aquele onde as necessidades emocionais de uma pessoa, especialmente quando criança, não são atendidas de forma minimamente adequada.

Isso pode ocorrer de várias maneiras, como quando os pais ou cuidadores não oferecem suporte emocional durante momentos difíceis... Ignoram ou minimizam os sentimentos das crianças desvalorizando-os.

Por exemplo, na falta de respostas a sinais emocionais, como choro ou sorriso, e falta de iniciativa para interagir e se conectar emocionalmente. As necessidades emocionais das pessoas, quando não são reconhecidas ou são tratadas como relevantes nesses tipos de ambientes podem levar a problemas como baixa autoestima, dificuldade em manter relações interpessoais, e até distúrbios psicológicos mais graves. É importante estar atento a esses sinais e buscar ajuda profissional se necessário.

Ninguém gosta de sofrer…

Mas TODOS preferem (inconscientemente) o insuficiente… SE foi educado pela vida a crer que o insuficiente é tudo que lhe é possível ou é tudo que merece.

A menos que se permita MUDAR essa estrutura neurótica.




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