Fonte:
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Misticismo (do grego μυστικός, transl. mystikos, um iniciado em uma religião de mistérios) é a busca da comunhão com a "identidade", consciente ou consciência de uma derradeira realidade, divindade, verdade espiritual, ou Deus através da experiência direta ou intuitiva.[1]
Do livro de Jakob Böhme "O Príncipe dos Filósofos Divinos"[2], define por:
o misticismo, em seu mais simples e essencial significado, é um tipo de religião que enfatiza a atenção imediata da relação direta e íntima com Deus,ou com a espiritualidade, com a consciência da Divina Presença. É a religião em seu mais apurado e intenso estágio de vida. O iniciado que alcançou o "segredo" foi chamado um místico. Os antigos cristãos empregavam a palavra "contemplação" para designar a experiência mística.
Ja Ralph M. Lewis: "
O místico é aquele que aspira a uma união pessoal ou a unidade com o Absoluto, que ele pode chamar de Deus, Cósmico, Mente Universal, Ser Supremo, etc."*[3]
A palavra "místico" era empregada pela primeira vez no Mundo Ocidental, nos escritos atribuídos a Dionysius, o Aeropagite, que apareceu no final do século V. Dionysius empregou a palavra para expressar um tipo de "Teologia", mais do que uma experiência. Para ele e para muitos intérpretes, desde então, o misticismo se baseava em uma teoria ou sistema religioso que concebe Deus como absolutamente transcendente, além da Razão, do pensamento, do intelecto e de todos os processos mentais.
A palavra, desde então, tem sido usada para os tipos de "conhecimento" esotérico e teosófico, não suscetiveis de verificação. A essência do misiticismo é a experiência da comunicação direta com Deus.
A palavra misticismo tem origem no idioma Grêgo μυστικός = "iniciado" (nos "Mistérios de Eleusinian", μυστήρια = "mistérios", referindo-se as "Iniciações"[4]) é a busca para alcançar comunhão ou identidade consigo mesmo, lucidez ou consciência da realidade última, do divino, Verdade espiritual, ou Deus através da experiência direta, intuição, ou insight; e a crença que tal experiência é uma fonte importante de conhecimento, entendimento e sabedoria. As tradições podem incluir a crença na existência literal de realidades empíricas, além da percepção, ou a crença que uma verdadeira percepção humana do mundo trancenda o raciocínio lógico ou a compreensão intelectual.
O termo "misticismo" é freqüentemente usado para se referir a crenças que são externas a uma religião ou corrente principal, mas relacionado ou baseado numa doutrina religiosa da corrente principal. Por exemplo, Kabala é a seita mística dominante do judaísmo, Sufismo é a seita mística do Islã, e Gnosticismo refere geralmente a várias seitas místicas que surgiram como alternativas ao cristianismo. Enquanto religiões do Oriente tendem a achar o conceito de misticismo redundante, e o conhecimento tradicional e ritual são considerados como Esotericos, por exemplo, Vajrayana e Budismo.
Uma definição de misticismo não poderia ser ao mesmo tempo significativa e de abrangência suficiente para incluir todos os tipos de experiências que têm sido descritas como "místicas".
Por definição natural, misticismo é a prática, estudo e aplicação das leis que unem o homem à Natureza e a Deus.
Desta forma, a Mística se distingue da Religião por referir-se à experiência direta e pessoal, com a divindade, com o transcendente, sem a necessidade de intermediários, dogmas ou de uma Teologia.
Na teologia
Conjunto de práticas religiosas que levam à contemplação dos atributos divinos. Estado natural ou disposição para as coisas místicas, religiosas; religiosidade.
Citando o livro "O Mundo de Sophia", quando fala sobre Misticismo:
"Uma experiência mística significa experimentar a sensação de fundir sua alma com Deus. É que o "eu" que conhecemos não é nosso "eu" verdadeiro e os místicos procuravam conhecer um "eu" maior que pode possuir várias denominações: Deus, espírito cósmico, universo, etc. No entanto, para chegar a esse estado de plenitude, é preciso passar por um caminho de purificação e iluminação através de uma vida simples. Encontra-se tendências místicas nas maiorias religiões do mundo. Na mística ocidental ( judaísmo, cristianismo e islamismo ), o místico diz que seu encontro é com um Deus pessoal. Na oriental ( hinduísmo, budismo e religião chinesa ) o que se afirma é que há uma fusão total com deus, que é o espírito cósmico. É importante notar que essas correntes místicas já existiam muito antes de Platão e que pessoas de nossa época têm relatado experiências místicas como uma forma de experimentar o mundo sob a perspectiva da eternidade."(O Mundo de Sophia).
As correntes místicas pregam a experiência direta do divino, comumente chamada de experiência mística, e muitas vezes descrita como iluminação. A experiência mística é um estado de consciência em que o místico tem um vislumbre daquilo que está além deste plano físico, e muitas vezes é descrito como união com o Todo. Isto só pode ser alcançado, segundo os místicos, por uma disciplina espiritual que visa distanciar-se das coisas mundanas.
Muitas vezes a experiência mística é descrita por aqueles que a sentem como uma "visão ou percepção direta de Deus". Tais fenômenos estão presentes tanto no Velho Testamento quanto no Novo Testamento da Bíblia e na cultura oriental (budismo, hinduísmo, yoga, etc.).
O místico procura na prática espiritual e no estudo das coisas divinas, mais que na racionalidade, as bases para suas concepções de vida, embora muitas vezes o misticismo esteja envolvido com intrincados sistemas que o fundamentam. Este é o caso da Cabala, a tradição esotérica dos judeus.
A experiência mística é o modo como o místico entra em contato com o Divino?
Notas:
1.↑ James, William. The Varieties of Religious Experience: A Study in Human Nature. [S.l.: s.n.], 1902. ISBN 0-679-64011-8
2.↑ Do livro: Jacob Boehme - O Príncipe dos Filósofos Divinos página 29 (Título original: BOEME (RAD10 - SUPREMA GRANDE LOJA - AMORC) 1º Edição em Língua Portuguesa, Setembro de 1983 Biblioteca Rosacruz. Composto e Impresso na Grande Loja do Brasil - Curitiba, Paraná
3.↑ * ::Lewis, Ralph M., ALQUIMIA MENTAL, Biblioteca Rosacruz, Editora Renes, Rio de Janeiro, número XX, 1982.
4.↑ Os Mistérios Eleusinianos, ou Religião de mistérios em geral, não necessáriamente envolvendo o misticismo; o significado presente do termo surgiu, antes, via Platonismo e Neoplatonismo, que faz referência à iniciação de Eleusinian como uma metáfora para a "iniciação" as verdades espirituais.
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Neuroteologia", também conhecida como
Bioteologia ou
Neurociência Espiritual é o estudo da base neural da
espiritualidade e emoção religiosa. A meta da
Neuroteologia está em descobrir os processos cognitivos que produzem
experiências espirituais ou religiosas e relacioná-las com padrões de atividade no
cérebro, como elas evoluíram nos humanos, e os benefícios dessas
experiências.
Dossiê: Cérebro, mente e experiências transcendentais
Fonte Revista
PSIQUE Ciencia & Vida Edicão 56.
A última década testemunhou um interesse crescente na compreensão dos mecanismos cerebrais que medeiam experiências transcendentais, caracterizadas por estados alterados ou expandidos de consciência.
Envolvidas numa dimensão fundamental da existência humana são observadas em todas as culturas, e frequentemente relatadas em tradições religiosas e espirituais.
De acordo com o filósofo Walter Stace, experiências místicas envolvem a vivência integrativa com o Todo em unidade, o Um completo sem fragmentos sensoriais ou racionais dispersos.
Stace propõe que os principais aspectos das experiências místicas são:
(1) o desaparecimento de todos os objetos mentais da consciência ordinária e a emergência de uma consciência pura ou unitária;
(2) um sentido de objetividade ou realidade;
(3) sentimentos de paz, leveza e alegria;
(4) a sensação de ter encontrado o sagrado ou divino (algumas vezes identificado como "Deus") e
(5) a transcendência do espaço e do tempo.
As experiências transcendentais podem ser provocadas pela ingestão de medicamentos que alteram a mente, substâncias naturais com impacto neuroquímico, práticas xamânicas, meditação, hipnose, e experiências de quase morte (EQM).
São também decorrentes de práticas religiosas/espirituais regulares e, além disso, podem ocorrer sem nenhuma razão aparente.
Tais experiências, muitas vezes, levam a profundas mudanças dos sistemas de crenças, da visão de mundo e transformam atitudes e comportamentos diários, assim como as relações interpessoais e a autopercepção da identidade.
Microestímulos elétricos
Michael Persinger, neurocientista da Universidade Laurentian, especulou que as experiências transcendentais são evocadas por microestímulos elétricos nas estruturas do lobo temporal. Persinger e seus colegas desenvolveram um capacete que emite fracos campos eletromagnéticos nessa região, e afirmou que um grande número de participantes relataram uma presença espiritual próxima a eles.
Pehr Granqvist e colegas da Universidade de Uppsala, com o mesmo equipamento, testaram estudantes universitários, alguns dos quais foram expostos a campos eletromagnéticos no lobo temporal e outros não.
Dos únicos três participantes que relataram fortes experiências espirituais, dois eram membros do grupo controle (ou seja, eles não foram expostos a estes campos). Esta tentativa de replicação sugere que a sugestão psicológica pode ser a melhor explicação para os resultados de Persinger.
Estudos de neuroimagem funcional também investigaram indivíduos com experiências transcendentais.
Andrew Newberg e colegas utilizaram o método SPECT (Single Photon Emission Computed Tomography), para avaliar o fluxo sanguíneo cerebral de freiras franciscanas, enquanto realizavam uma "oração guiada" para abertura da conexão com Deus.
O estudo mostrou o decréscimo significativo da atividade no lobo parietal, envolvido na orientação espacial e temporal. Os autores propuseram que essa mudança estava relacionada com um sentido modificado do espaço e do tempo experimentado pelas freiras durante a oração.
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As experiências transcendentais podem ser provocadas pela ingestão de medicamentos que alteram a mente, substâncias naturais com impacto neuroquímico, ou pelas práticas xamânicas, de meditação, hipnose, e experiências de quase morte (EQM) |
Recentemente, utilizamos a ressonância magnética funcional (fMRI) e a eletroencefalografia (EEG), para mensurar a atividade cerebral durante um estado místico em 15 freiras carmelitas. Experimentalmente, as freiras sentiram a presença de Deus, seu amor incondicional e infinito, assim como plenitude e paz. Os resultados mostraram que várias regiões e sistemas cerebrais mediaram os diferentes aspectos da experiência mística. Esta conclusão não foi uma surpresa, dado que estas experiências são complexas e multidimensionais, isto é, implicam em mudanças na percepção (como a imagem mental visual), na cognição (por exemplo, as representações do Eu), e na emoção (a paz, alegria e amor incondicional). Quanto ao estudo de EEG, os resultados indicaram que experiências místicas estiveram associadas a mudanças neuroelétricas relativas a várias áreas corticais em ambos os hemisférios.
Portanto, a teoria sobre "o ponto de Deus" - postulava que um ponto no cérebro seria responsável pela criação da experiência com o divino - foi derrubada com os estudos recentes em neuroimagem.
Vale lembrar que, elucidar os circuitos neurais envolvidos nas experiências subjetivas como a prece, o contato com Deus ou a vivência mística não diminui e tampouco deprecia seus significados e valores.
Preservação da lucidez
Nos últimos anos, vários estudos independentes levantaram a possibilidade de testar a hipótese de a consciência existir a despeito do funcionamento do cérebro investigando a mente humana durante a parada cardíaca.
Após a parada cardíaca, a pressão arterial média torna-se imensurável e os sinais de sinapses elétricas próximas ao escalpo, indicadoras da atividade neural, são nulos.
A perda de reflexos e funções do tronco cerebral, que ativa as áreas corticais através do tálamo também são observadas nesse estado crítico.
Alguns pacientes que chegaram ao pronto socorro com parada cardíaca e apresentaram pensamentos lúcidos bem estruturados, processos cognitivos de raciocínio e formação de memória, assim como a preservação da consciência durante a parada, chamaram a atenção de vários investigadores. Entre eles, Sam Parnia e Pin Van Lommel mostraram que os conteúdos experimentados variam entre imagens de luzes e túneis brilhantes.
Além disso, os procedimentos do
staff médico relatados pelos pacientes durante a parada cardíaca foram verificados corretamente.
Os autores dessa linha de pesquisa postulam que a preservação da lucidez, de processos cognitivos de raciocínio e formação de memórias, bem como a capacidade de alguns indivíduos de recordarem episódios pormenorizados é um paradoxo científico.
Isto é: nas condições neurofisiológicas durante a parada cardíaca seria esperada a ausência da manifestação consciente e de processos cognitivos complexos.
O interessante caso de Pam Reynolds, que aparentemente sofreu uma profunda experiência transcendental enquanto foi operada de um aneurisma da artéria basilar, merece atenção.
A intervenção cirúrgica requer um estado clinicamente morto do paciente: a temperatura corporal reduzida a 17°C, sem batimento cardíaco e respiração, e o sangue drenado de sua cabeça. Reynolds estava sob monitoramento médico durante toda a operação e após a cirurgia fez observações sobre o procedimento que mais tarde foram confirmadas pela equipe médica como surpreendentemente precisas.
Entre outros, o caso de Pam Reynolds desafia a doutrina materialista em relação ao problema mente-cérebro, sugerindo que os processos mentais podem ser experimentados no momento em que as funções do cérebro aparentemente não estão ativas.
A acurácia de alguns relatos como este, sugere que experiências transcendentais não são necessariamente ilusões criadas pelo cérebro.
Em outras palavras, seria possível para os seres humanos a experiência de uma realidade transcendente, na qual o funcionamento da percepção, da cognição, da emoção e da identidade, acontece independentemente do cérebro.
Os interessados podem acompanhar o crescente número de estudos controlados, independentes e multicêntricos, atualmente conduzidos sobre as fronteiras do complexo mente-cérebro.
Experiências místicas no cérebro
Correlatos neurais da experiência mística de Freiras Carmelitas. Estes resultados sugerem que experiências místicas são mediadas por diversas regiões e sistemas cerebrais (Neurosci Lett. 25; 405(3):186-90).
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Elucidar os circuitos neurais envolvidos em experiências
como a prece não deprecia seus significados e valores
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Entre os estudos conduzidos sobre as experiências de quase morte, Sam Parnia e Pin Van Lommel mostraram que os conteúdos experimentados variam entre imagens de luzes e túneis brilhantes |
Novo paradigma
Em O cérebro espiritual (editora Best Seller), os autores discutem a intuição, a fé, as premonições, o efeito placebo e revisam estudos que refutam as hipóteses da ciência tradicional. Beauregard e O´Leary (os autores) perguntam "Seriam essas experiências apenas produtos do cérebro?" e defendem a existência de um estado ampliado de consciência, no qual seria possível vivenciar aspectos da realidade não acessíveis em outros estados.
Referências:
BEAUREGARD, M. Change the mind and you change the brain: effects of cognitive behavioral therapy on the neural correlates of spider phobia. Neuroimage, 2003. 18(2), 401-9.
Mind does really matter: evidence from neuroimaging studies of emotional selfregulation, psychotherapy, and placebo effect. Prog Neurobiol, 2007. 81(4):218-36. BEAUREGARD, M.; PAQUETTE, V. Neural correlates of a mystical experience in Carmelite nuns. Neurosci Lett. 2006. 25; 405(3):186-90.