Tem gente que não se enxerga!
Postado na Zero Hora 11/05/2013
Postado na Zero Hora 11/05/2013
Por Gabrieli Chanas
Autoestima: um problema sério entre as mulheres
Na batalha para se aceitar, não ajuda muito viver cercada de modelos de beleza praticamente impossíveis de copiar
Espelho, espelho meu, existe alguém mais crítica com a aparência do que eu? Sim, e aos montes. Nesse exato momento, existem mais mulheres se martirizando por uma barriga flácida do que se considerando bonitas apesar dela.
A parcela de mulheres felizes com sua aparência é assustadoramente pequena. Uma pesquisa feita em diversos países por uma multinacional cosmética apontou que só 4% das entrevistadas se consideravam bonitas. É uma característica peculiar ao jeito feminino de encarar o espelho que explica o fenômeno.
— Somos mais detalhistas. O homem nota o olho. A mulher nota cílios, pálpebras, a ruga em volta do olho — diz Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association no Brasil (ISMA-BR).
Analisando tantos elementos, é fácil encontrar algum que desagrade. Entra aí um outro problema: a mulher costuma se fixar no que é ruim e não identifica algo bom para compensar. É mais uma diferença de comportamento entre os gêneros. Enquanto ele pensa: "Estou barrigudo, mas musculoso, então estou bem", ela pensa: "Estou barriguda e isso é o fim".
O foco no errado forma uma cascata de consequências. Colocando rótulo em cima de rótulo ("sou gorda demais, meu nariz é feio, meus quadris são enormes") a mulher cria uma ideia sobre si mesma que é centrada apenas em pontos que ela considera negativos. A tão falada autoestima, que nada mais é do que a forma como você se vê, fica abalada, e na carona dela aparecem problemas como depressão, ansiedade, dores de cabeça, conflitos no relacionamento amoroso e no trabalho.
Na batalha para se aceitar, não ajuda muito viver cercada de modelos de beleza praticamente impossíveis de copiar. Pesquisando sobre a influência das supermodelos na autoestima de adolescentes, o psiquiatra Raj Persaud, do Maudsley Hospital, em Londres, descobriu que a confiança das garotas caía 80% após 60 minutos olhando revistas de moda.
A ironia é que até as consideradas mais belas não se veem assim tão belas. As atrizes Juliana Paes, Anne Hathaway e Maria Fernanda Cândido, sempre bem colocadas nas listas das mais sexies e donas de cabelo, boca e pernas cobiçadas por muitas de nós, já declararam que gostariam de mexer em uma ou mais partes do corpo.
O marido não é cego
Se a autoestima é uma consequência direta do nível de autocrítica, é natural que os homens, bem menos analíticos, se saiam melhor que as mulheres. No ano passado, a ISMA-BR ouviu quase 2 mil pessoas sobre o tema. Resultado: 73% dos homens disseram que sua autoestima estava em alta, contra 56% das entrevistadas.
Essa diferença entre as formas masculina e feminina de se enxergar e de ver o outro explica muita coisa que acontece em casa. O marido pode mesmo estar sendo sincero quando diz que nem percebe sua celulite. Ele se concentra em ver a esposa como um todo, e por isso também tem dificuldade de perceber quando ela corta dois centímetros do cabelo.
Imagem da famosa campanha da marca Dove
O teste do desenho
A pesquisa que apontou que apenas 4% das mulheres se consideram bonitas foi encomendada pela marca de produtos de beleza Dove, que há alguns anos levantou a bandeira da autoestima como mote de suas campanhas publicitárias, trocando modelos magérrimas - aquele ideal de beleza distante - por mulheres reais, com suas rugas, cabelo branco e gordurinhas na barriga.
O último comercial da marca se tornou viral na internet, com mais de quatro milhões de visualizações. Nele, mulheres são submetidas a um teste que tem o objetivo de mostrar o abismo que existe entre o que enxergam no espelho e como os outros as percebem.
As participantes foram convidadas a descrever seu rosto para um especialista em retrato falado. Sem nenhum contato visual com elas, o artista forense Gil Zamora, treinado pelo FBI, foi criando uma imagem baseada exclusivamente em como a mulher se descreveu. A crítica excessiva aparece na ênfase a "maxilar grande, sardas demais, rosto muito redondo".
Na segunda parte do experimento, uma outra pessoa é chamada para descrever a mulher que acabou de ser desenhada. Por estar falando sobre outra pessoa, e não sobre ela mesma, a crítica some - e o desenhista recebe informações como "belos olhos, queixo bonito". Ao final do teste, as participantes confrontam os dois desenhos feitos e chegam à inevitável conclusão: no retrato feito a partir de suas próprias descrições, parecem feias, tristes, envelhecidas. Já no outro, estão bem mais parecidas com o que são na realidade.
Veja o vídeo:
O teste fez com que as participantes repensassem a forma como se veem. O resultado impressionou até mesmo o desenhista do FBI.
— Em tantos anos fazendo desenhos de outras pessoas, percebo que são as pequenas coisas que importam mais para elas. Podemos ser extremamente críticos sobre a forma como nos vemos, mas quem está à nossa volta não percebe. Se aceitássemos que os outros não são tão analíticos, não seríamos tão obcecados em parecer de um jeito específico — reflete Gil Zamora.
Mude o foco
A elevação da autoestima é um processo gradual. Ângela Leggerini de Figueiredo, especialista em Psicoterapia Cognitiva e Comportamental e professora da Faculdade de Psicologia da PUCRS, conta por onde começar.
* Tenha uma visão realista (nem pessimista nem otimista demais) de si mesma, visando metas de beleza e corpo atingíveis com o seu biotipo.
* Tenha claro onde quer chegar e o que quer comunicar através da sua imagem física.
* Mantenha-se o mais fiel possível aos seus objetivos, levando em conta que todo ser humano é passível de falhas.
* Dê ao corpo a dimensão que ele realmente tem na sua vida, sem depositar nele toda e qualquer razão para felicidade ou infelicidade. O corpo é uma parte do ser e não todo o ser.
* Tente afastar-se de lógicas 8 ou 80: ou sou perfeita ou não valho nada.
* Lembre-se: sempre que nos comparamos a alguém só enxergamos o resultado final e não o processo que a pessoa passou para alcançar o objetivo.
Autoestima em alta
Pesquisa feita pela Unimed mapeou o bem-estar de quem mora em Porto Alegre. Na seção sobre bem-estar psicológico, o estudo investigou a questão da autoestima.
— À medida em que aumenta a confiança e a atitude positiva da mulher sobre si mesma, cresce também a satisfação com relação ao convívio social e ao trabalho. As mulheres que são mães têm atitudes mais positivas sobre si mesmas e sentem-se mais contentes do que aquelas que não exercem a maternidade. Além disso, as mais auto-confiantes até acham seus companheiros mais atraentes — relata a pesquisadora Teniza Silveira.
Autoestima em baixa
Apresentada no Congresso Europeu de Terapia Cognitivo-Comportamental em 2012, uma pesquisa realizada pela ISMA-BR mapeou a cascata de efeitos que a baixa autoestima causa numa pessoa. Foram entrevistadas 1.086 mulheres., entre as quais 44% disseram ter problemas de autoestima. Sobre essas, os pesquisadores apontaram que:
89% têm dores musculares ou dor de cabeça
13% têm taquicardia ou arritmia cardíaca
26% têm problemas gastrointestinais
77% sofrem de angústia
83% sofrem de ansiedade
46% sofrem de depressão
59% passam por conflitos interpessoais (como problemas em relações amorosas)
De mãe para filha
Começa em casa a criação de uma boa autoestima. As meninas tendem a repetir a abordagem das mães em relação à aparência. Sabendo de todos os problemas que o excesso de críticas pode causar, policie-se:
- Evite se depreciar em frente às crianças, reclamando do corpo em frente ao espelho.
- Jamais use apelidos negativos relacionados à aparência física. Repreenda se outro membro da família fizer isso.
- Não desmereça perguntas ou queixas sobre mudanças no corpo.
60% das meninas evitam determinadas atividades porque se sentem mal com sua aparência.
23% deixam de ir à praia ou piscina
13% deixam de dar opiniões em discussões
15% deixam de ir à escola
Fonte: The Real Truth About Beauty,
pesquisa feita pela Dove em 2010
DONNA ZH
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