Pular para o conteúdo principal

15 anos de Hospital Presidente Vargas . . . . . . . Por Simone.

Gostaria de me despedir do Hospital Presidente Vargas de outra maneira. Dar de ombros e seguir sem olhar para traz não é a forma mais adequada de dar adeus para um lar onde se viveu 15 anos.

Porquê não é um trabalho qualquer, que se sai aliviado quando se deixa... ou aqueles empregos onde se entra e sai sem fazer diferença ou deixar lembranças.

Não é possível sair do HMIPV sem perder uma parte de mim.

Porquê? Bem, nestes 15 anos se misturam uma soma de lembranças que transcendem o profissional... não é apenas o lugar onde trabalhei... é uma segunda casa que me viu chegar, então uma jovem de 23 anos, solteira e cheia de juventude, estimulada em proteger a vida e cuidar de crianças, preocupada em aprender e em me aperfeiçoar... e me viu evoluir profissionalmente e como pessoa, me tornando uma técnica segura e adaptada ao tenso trabalho sem perder a ternura de mãe. 

Não foi o local onde se passaram 15 anos convivendo com colegas de trabalho, foi o lar onde tive o constante encontro com pessoas boas de alma e coração que foram tomando lugar em minha vida como amigas e até irmãs. Vi mulheres que cuidavam das crianças dos outros terem seus próprios filhos... e os vi crescer.

Neste tempo relativamente curto para uns e que parece uma eternidade para outros acompanhamos muito da vida uns dos outros.

Foram tecnologias que evoluiram e mudaram, políticas e sonhos vieram e partiram... profissionais que chegavam como estranhos, tornaram-se amigos que partiram, uns para vida, outros da vida (saudades, Valéria). Em fim, foram anos de “Vida”. Dedicado a vida. A poder cuidar. Continua a paixão pela proteção e carinho dedicado a vida de “nossas crianças”.

“Nossas crianças”! Cada criança que nasceu nestes últimos 15 anos tornou-se um pouco filha “nossa”... e um pedaço “nosso” segue com cada uma delas... Cada colega que participou direta ou indiretamente com cada criança deixa sua presença e recebe em troca um pedaçinho delas também. Sabe que, por cima, ajudamos a trazer ao mundo 36 mil pessoas??? 36 mil pessoas! 36 mil crianças estiveram no colo de algum colega da FUGAST. Técnica, cuidado e carinho. Por 15 anos.

Então deixar para traz estes 15 anos é falar de deixar para traz uma grande parte de minha história como pessoa, como colega, como amiga, como mãe e como profissional que se dedica ao cuidado e a vida. Falar destes 15 anos é falar de vidas que chegaram neste mundo atravéz de muitas mãos. Falar destes 15 anos é falar de vidas que mudaram muitas vidas.

Entende porquê é difícil dizer adeus para estes lugar. Quem olha de fora não vê todas as nossas histórias se cruzando e acontecendo. Não enxerga nosso suor, nossas lágrimas, nossa vida entremeada aos cantos destas paredes.

Quem vê de fora não percebe a simbiose e a constante troca de amor e vida. Não é um emprego que estamos deixando. É uma parte de nós. Uma parte de nossa identidade. Uma parte de nossa vida.

Eu mudei nestes 15 anos. Entrei uma jovem cheia de sonhos. Realizei muitos graças a este Hospital. Conheci o amor das amizades verdadeiras. O amor de meu marido. O amor de ter minha própria minha filha. O amor da gratidão nos olhos de mães e pais que só tinham os nossos olhos e nossas mãos para obter apoio. Tantos tipos de amor.

Este é o hospital Presidente Vargas.







 




 







Por isto é tão difícil dizer "adeus".

Comentários

Márcia H.Balz - HPV disse…
Oi!Meu comentário vai prá Simone.
Sou Márcia do laboratório e fiquei emocionada com teu depoimento. Mesmo tendo passado tantos meses da nossa separação os sentimentos permanecem os mesmos: incredulidade,indignação,raiva,negociação e frustração. E finalmente para elaborarmos nosso luto pela perda do trabalho e dos companheiros que tanto amávamos precisamos formalizar a rescisão de contrato e o devido pagamento.
No caso Justiça não haverá porque será tardia. Não há indenização que
que repare o sofrimento causado pela forma que fomos tratados. Não tiraram de nós só postos de trabalho. Abortaram nossos sonhos de manter nossos filhos em boas escolas ou faculdades, das casa própria cujas prestações não podemos mais manter ou da segurança para algumas de uma aposentadoria digna.
Triste saber que algumas colegas hoje estão desempregadas sobrevivendo graças a terceiros, ou sub-empregadas nas atividades para as quais estudaram e foram treinadas ou pior vivendo de bicos.
O governo ao qual servimos durante
15 anos também retirou da população
muitos leitos de internação neonatológica e pediátricas quanto demitiu profissionais especializadas oferecendo menos vagas no HPV e menor qualidade na prestação de serviços em saúde materno-infantil. Enfim Simone ler teu depoimento e olhar as fotos me fizeram viajar no tempo e sentir muita saudade pelo tempo que foi.
Espero que tua família esteja bem e gostaria de enviar algumas fotos do pessoal da Neo e o endereço do blog do Rogério da Psiquiatria;http://demitidosdafugast.tumblr.com/post/13253469596/rescisaodafugast. Um beijão!
Meu email é m.balz@hotmail.com

Postagens mais visitadas deste blog

ACALME-SE

A técnica A.C.A.L.M.E.-S.E. é um acrônimo (uma palavra formada pela junção das primeiras letras ou das sílabas iniciais de um grupo de palavras) usado como estratégia da Psicoterapia Cognitivo-Comportamental que oferece passos práticos para lidar com a ansiedade durante uma crise. Esses passos ajudam a pessoa a se acalmar e a lidar com as sensações desagradáveis de forma mais eficaz. É uma técnica útil que pode ser praticada sozinha ou com a ajuda de um terapeuta. Aqui está um resumo dos passos: 1. ACEITE a sua ansiedade. Aceitar é o primeiro passo para a mudança. Um dicionário define aceitar como dar “consentimento em receber”. Concorde em receber as suas sensações de ansiedade. Mesmo que lhe pareça absurdo no momento, aceite as sensações em seu corpo assim como você aceitaria em sua casa um visitante inesperado ou desconhecido ou uma dor incômoda. Substitua seu medo, raiva e rejeição por aceitação. Não lute contra as sensações. Resistindo você estará prolongando e intensificando o

Escuta Compassiva.

O monge budista Thich Nhat Hanh diz que OUVIR pode ajudar a acabar com o sofrimento de um indivíduo.  A escuta profunda é o tipo de escuta que pode ajudar a aliviar o sofrimento de outra pessoa.  Podemos chamar-lhe escuta compassiva.  Escuta-se com um único objetivo: ajudar a pessoa a esvaziar o seu coração.  Mesmo que ele diga coisas cheias de percepções erradas, cheias de amargura, somos capazes de continuar a ouvir com compaixão.  Porque sabe que, ouvindo assim, dá a essa pessoa a possibilidade de sofrer menos.  Se quisermos ajudá-la a corrigir a sua percepção, esperamos por outra altura.  Para já, não interrompe.  Não discute.  Se o fizer, ela perde a sua oportunidade.  Limita-se a ouvir com compaixão e ajuda-o a sofrer menos.  Uma hora como essa pode trazer transformação e cura.