Psicologia da Abordagem Existencial


Não sendo uma verdadeira escola psicológica, é uma atitude que tem influenciado quase todas as formas de terapia que surgiram em oposição à psicanálise ortodoxa. Aliando-se à chamada terceira força em psicologia, a psicologia humanista passou a ser considerada existencial-humanista.

Por existencialismo entende-se “o conjunto de doutrinas segundo as quais a filosofia tem como objetivo a análise e a descrição da existência concreta, considerada como ato e como uma liberdade que se constitui afirmando-se que tem unicamente como gênese ou fundamento esta afirmação de si” (Jolivet, 1975). Não se trata de uma única doutrina. Entretanto, existe algo de comum entre eles, que é a preocupação em compreender e explicar a existência humana. O existencialismo moderno surgiu na França e na Alemanha há mais de 40 anos. Parece não haver dúvidas em que o pensamento filosófico existencial procede das meditações de Kierkegaard, mas HeideggerSartreJaspersNietzscheBuber são também nomes importantes na expressão da convicção de que a realidade última somente pode ser encontrada na existência individual e concreta.

O existencialismo caracteriza-se primeiramente pela afirmação de que a “existência precede à essência”. Até o século XIX, o pensamento predominante era intelectualista.

Hegel faz uma tentativa de compreender o mundo racionalmente. Acreditando em uma razão universal, acredita também que nossos pensamentos e sentimentos apenas têm significado por que cada sentimento ou pensamento está ligado à nossa personalidade; toma lugar em uma história e um estado, isto é, em uma época específica na evolução dessa idéia universal. Não há como compreender a nossa interioridade, segundo ele, se não formos primeiro à totalidade do nosso self, depois para a totalidade da espécie humana e chegando à totalidade maior que é a idéia absoluta. O homem era visto como uma idéia universal. A essência ficava, pois em primeiro plano. 

O existencialismo focaliza o ser particular e concreto cuja responsabilidade e liberdade se fazem presentes. É o homem a categoria central da existência na expressão de Kierkegaard. E o que são essência e existência? A essência de uma coisa é o que resta, despojando-se-lhe de todo o contingente. É a coisa em si sem precisar de algo que a qualifique. A existência não é caracterizada como uma entidade estável, senão como uma relação constante consigo mesma e como o mundo; é uma contínua criação, um contínuo vir-a-ser.

Existência precede à essência” significa dizer que o homem precisa escolher a cada momento o que será no momento seguinte; só existindo poderá ser. Significa dizer que o indivíduo é um ser de quem não se pode afirmar nenhuma essência, uma vez que a essência invocaria uma idéia permanente e contraditória como a proposta de autocriação.

Segundo Tillich (1952), o existencialismo “é um elemento inserido no essencialismo. A fim de descrever o negativo no ser e na vida, é necessário considerar seu impacto sobre o positivo, mas somente através desse impacto o negativo adquire realidade. Não existe nenhuma descrição existencialista do negativo na situação humana sem uma imagem subjetiva do que o homem é essencialmente e, por fim, deveria ser”.

Para ele, é possível descrever a natureza essencial do homem, assim como a sua situação existencial. Na sua expressão existe uma natureza particular, que é a capacidade para criar-se. O que se questiona é a forma pela qual essa capacidade é possível e como é estruturada. O existencialismo puro não existe, nem na teologia nem na filosofia, já que só pode existir dentro do marco essencialista. Assim, só pode haver liberdade de criação se houver uma infra-estrutura na qual o indivíduo atua.




Existencial Humanista

A Psicologia Humanista fundamenta-se nos pressupostos da Fenomenologia e Filosofia Existencial; é centrada na pessoa e não no comportamento, enfatiza a condição de liberdade contra a pretensão determinista. Visa à compreensão e o bem-estar da pessoa não o controle. Segundo esta concepção, a psicologia não seria a ciência do comportamento, seria a ciência da pessoa.
Caracteriza-se também, por uma contínua crença nas responsabilidades do indivíduo e na sua capacidade de prever que passos o levarão a um confronto mais decisivo com sua realidade. Segundo esta teoria, o indivíduo é o único que tem potencialidade de saber a totalidade da dinâmica de seu comportamento e das suas percepções da realidade e de descobrir comportamentos mais apropriados para si.
Os principais constituintes deste movimento são: Carl Rogers (1902-1985) e Abraham Maslow (1908-1970).
Um ponto fundamental da teoria de Rogers, é que as pessoas se definem por sua experiência. Segundo Rogers “todo indivíduo vive num mundo de experiência no qual é o centro. Este mundo particular é denominado de campo fenomenal ou campo experiencial que contém tudo que passa no organismo em qualquer momento, e que está potencialmente disponível à consciência. Esse mundo inclui eventos, percepções, sensações e impactos dos quais a pessoa não toma consciência, mas poderia tomar se focalizasse a atenção nesses estímulos. É um mundo particular e pessoal que pode ou não corresponder à realidade objetiva”.
Segundo esta concepção, a atenção que o indivíduo focaliza em um certo evento é determinada pelo modo como cada um percebe o seu mundo, não na realidade comum. Deste modo, o indivíduo não reage a uma realidade absoluta, mas a uma percepção pessoal dessa realidade. Essa percepção é para cada um sua realidade. Partindo-se deste pressuposto, cada percepção é essencialmente uma hipótese – uma hipótese relativa à necessidade do indivíduo.
Segundo Rogers, pelo fato de o organismo ser sempre um sistema total organizado em que, a alteração de qualquer das partes provoca uma alteração nas outras partes, reage ao seu campo fenomenal como um todo organizado.
O mesmo autor afirma que, há um aspecto básico da natureza humana que leva um indivíduo em direção a uma maior congruência e a um funcionamento realista.
Segundo este, “o impulso evidente em toda a vida humana e orgânica, o impulso de expandir-se, estender-se, tornar-se autônomo, desenvolver-se, amadurecer-se, a tendência a expressar e ativar todas as capacidades do organismo na medida em que tal ativação valoriza o organismo ou o self”. Sendo assim, cada indivíduo possui este impulso inerente em direção a ser competente e capaz quanto está apto biologicamente.

O comportamento de uma pessoa será voltado para a manutenção, a intensificação e a reprodução do eu em direção à autonomia, oposto ao controle externo por forças externas. Isso se aplica quer o estímulo venha de dentro ou de fora, quer seja o meio ambiente favorável ou desfavorável.

A tendência para a realização plena das potencialidades individuais é expressa nos indivíduos através de uma variada gama de comportamentos, em resposta a uma gama variada de necessidades. A tendência do organismo, num momento, pode levar à procura de alimento ou gratificação sexual. No entanto, a menos que essas necessidades sejam demasiadamente fortes, sua satisfação será procurada segundo uma forma que intensifique, e que, não diminua a necessidade de auto-estima, por exemplo. Outras atividades tais como, as necessidades de explorar, produzir e a necessidade brincar, por exemplo, são basicamente motivadas, segundo este pressuposto, pela tendência à realização.
A conduta segundo Rogers, seria fundamentalmente um esforço dirigido à consecução de um objetivo do organismo, para satisfazer as suas necessidades. A reação, o comportamento, não se dá em face da realidade mas, da percepção da realidade que o indivíduo possui. Consequentemente, a conduta não seria então causada por algo que aconteceu no passado, como postulado pela psicanálise mas, causada pelas tensões e necessidades presentes que o organismo se esforça por reduzir ou satisfazer. Embora a experiência passada contribua para modificar o sentido que será dado as experiências atuais, só há conduta para enfrentar uma necessidade presente. A conduta é sempre intencional e em resposta à realidade tal como é aprendida. A melhor forma então para compreendê-la, é a partir do quadro de referência interna do próprio indivíduo.
Para Rogers, a estrutura do eu é formada como resultado da interação do indivíduo com o ambiente e, de modo particular, como resultado da interação valorativa com os outros. Assim, o ego é um modelo conceitual organizado, constituído de percepções, de características e relações do eu, juntamente com valores ligados a esses conceitos.
O eu está dentro do campo da experiência, não sendo apenas uma mera acumulação de numerosas aprendizagens e condicionamentos. É uma configuração organizada de percepções que são acessíveis à consciência, formada por elementos tais como as percepções das características e capacidades próprias; os conteúdos perceptivos e os conceitos de si em relação com os outros e com o ambiente. Basicamente é um conjunto de significações vividas sendo suscetível de mudar sensivelmente em consequência das mudanças ocorridas em seu meio. Em síntese, é um conjunto organizado e consistente de experiências, num processo constante de formar-se e transformar-se à medida que as situações mudam.
Os esquemas de autoconceito do indivíduo são estruturados à medida que o indivíduo começa a vivenciar alguns eventos, incluindo tudo o que é experimentado por seu organismo, conscientemente ou não. Em decorrência a tudo o que está acontecendo em seu meio, o indivíduo começa gradativamente, a tornar-se atento às experiências que ele discrimina como sendo o eu. Pouco a pouco, forma-se um conjunto de conceitos organizados e coerentes, chamados de valores.
Para Rogers, alguns fenômenos são ignorados e tidos como isentos de significado para a pessoa. Outros fenômenos são percebidos conscientemente e organizados em sua estrutura. Alguns parecem impor-se a percepção consciente, outros fenômenos são negados ou distorcidos porque ameaçam a percepção organizada do eu.
Em síntese, a teoria de Rogers afirma que, todo organismo tem uma tendência inerente e natural a auto-realização, sendo expressa nos seres humanos numa variada gama de comportamentos em resposta a uma variada gama de necessidades. Esta tendência do organismo num momento pode levar à procura de alimento e gratificação sexual, em outro à procura de status.
Outro expoente do pensamento humanista foi Abraham Maslow. Maslow era psicólogo e foi considerado um dos fundadores da psicologia humanista. Durante toda a sua carreira interessou-se profundamente pelo estudo do crescimento e desenvolvimento pessoais, e pelo uso da psicologia como um instrumento de promoção do bem estar social e psicológico.
O fato de ser considerado Humanista lhe desagradava, ao ponto de afirmar: “Nós não deveríamos ter que dizer Psicologia Humanista. O adjetivo deveria ser desnecessário. Eu sou autodotrinário…. Eu sou contra qualquer coisa que feche portas e corte possibilidades”.
Maslow começou por estudar a questão da auto-realização mais profundamente através da análise das vidas, valores e atitudes das pessoas que considerava mais saudáveis e criativas. Começou por estudar aqueles que achava que eram mais auto realizados, os que haviam alcançado um nível de funcionamento melhor, mais eficiente e saudável do que o homem ou a mulher comuns. Assim, suas primeiras investigações sobre auto-realização foram inicialmente estimuladas por sua vontade de entender de uma forma mais completa os dois professores que mais o influenciaram, Ruth Benedickt e Max Wertheimer. Maslow não somente os considerava cientistas brilhantes e extraordinários, mas seres humanos profundamente realizados e criativos. Assim, iniciou seu próprio estudo para procurar tentar descobrir o que os fazia tão especiais.
Maslow definia a questão da auto-realização como ” o uso e a exploração pleno de talentos, capacidades, potencialidades, etc. Eu penso no homem que se auto-atualiza não como um homem comum a que alguma coisa foi acrescentada, mas sim como um homem comum de quem nada foi tirado. O homem comum é um ser humano completo com poderes e capacidades amortecidos e inibidos”.

Em seu livro, The Farther Reaches of Humam Nature (1971), Maslow faz algumas considerações a respeito dos modos pelos quais os indivíduos se auto-realizam:
• Auto-realização significa experienciar de modo pleno, intenso e desinteressado, com plena concentração e total absorção. Em geral estamos alheios ao que acontece dentro de nós e ao nosso redor.• Se pensarmos na vida como um processo de escolhas, então a auto-realização significa fazer de cada escolha uma opção para o crescimento. Escolher o crescimento é abrir-se para experiências novas e desafiadoras, mas arriscar o novo e o desconhecido.• Auto-realizar é aprender a sintonizar-se com sua própria natureza íntima. Isto significa decidir sozinho se gosta de determinadas coisas, independente das idéias e opiniões dos outros.• A honestidade e o assumir responsabilidade de seus próprios atos são elementos essenciais na auto-realização.• Ao invés de, dar respostas calculadas para agradar outra pessoa ou dar a impressão de sermos bons Maslow pensa que as respostas devem ser procuradas em nós mesmos.• Auto-realização é também um processo contínuo de desenvolvimento das próprias potencialidades. Isto significa usar suas habilidades e inteligência para trabalhar e fazer bem, aquilo que queremos fazer.• Um passo para além da auto-realização é reconhecer as próprias defesas e então trabalhar para abandoná-las. Precisamos nos tornar mais conscientes das maneiras pelas quais distorcemos nossa auto-imagem e a do mundo exterior através da repressão, projeção e outros mecanismos de defesa.

Maslow acentua que o crescimento ocorre através do trabalho de auto-realização. Auto-realização representa um compromisso a longo prazo com o crescimento e o desenvolvimento máximo das capacidades. O trabalho de auto-realização envolve a escolha de problemas criativos e valiosos. Maslow afirma que, indivíduos auto-realizados são atraídos por problemas mais desafiantes e intrigantes, por questões que exigem os maiores e mais criativos esforços. Estão dispostos a enfrentar a incerteza e a ambiguidade e preferem o desafio à soluções fáceis.
Maslow afirma que, o crescimento psicológico ocorre em termos de satisfação bem sucedida de necessidades mais elevadas. As primeiras necessidades, as fisiológicas (fome, sono..), segurança (estabilidade, ordem) geralmente são preponderantes, isto é, elas devem ser satisfeitas antes que apareçam aquelas relacionadas posteriormente, como; necessidade de amor e pertinência (família,amizade), necessidade de estima (auto-respeito, aprovação) e necessidade de auto-atualização (desenvolvimento de capacidades).
Portanto, a busca de auto-realização não pode começar até que o indivíduo esteja livre da dominação de necessidades inferiores, tais como fisiológicas e segurança.
O desajustamento psicológico é definido como doenças de carência, causadas pela privação de certas necessidades básicas, assim como a falta de vitaminas causa doenças. Outras necessidades, segundo Maslow, também devem ser satisfeitas para manter a saúde.
Maslow afirma que, um exame acurado do comportamento animal ou humano revela outro tipo de motivação. Quando um organismo não está com fome, dor e medo novas motivações emergem, tais como curiosidade e alegria. Sob estas condições, as atividades podem ser desfrutadas como fins em si mesmas, nem sempre buscadas apenas como meio de gratificação de necessidades. A este tipo de motivação denomina motivação do ser, pois, refere-se principalmente ao prazer e a satisfação no presente ou ao desejo de procurar uma meta considerada positiva. Por outro lado, a motivação de deficiência inclui uma necessidade de mudar o estado da coisa atual porque este é sentido como insatisfatório ou frustrador.
Maslow define o self como essência interior da pessoa ou sua natureza, inerente a seus próprios gostos, valores e objetivos. Compreender a própria natureza interna e agir de acordo com ela é essencial para atualizar o self.

Maslow aborda a compreensão do self através do estudo daqueles indivíduos que estão em maior harmonia com suas próprias naturezas, daqueles que fornecem os melhores exemplos de autoexpressão ou autoatualização. Em síntese, o trabalho de Maslow, ofereceu uma contribuição considerável tanto prática quanto teórica para os fundamentos de uma alternativa para o Behaviorismo e a Psicanálise, correntes estas que segundo ele, tendem a ignorar e ou deixar de explicar a criatividade, o amor, o altruísmo e os outros grandes feitos culturais, sociais e individuais da natureza humana.

Fonte: Inspetra

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