A lâmpada centenária Por Rafael Arrais ver profile
O comercial acima tem, talvez, o conjunto dos clichés mais utilizados pela publicidade atual para que um homem troque de carro. Mas não vou falar aqui das aeromoças de rosa dando o "sinal de ok", nem sobre como o sujeito parece "deixar de existir" enquanto não tem um carro adequado: o que quero destacar é que o consumidor já tinha um carro, provavelmente não tão antigo assim, mas é incentivado a comprar um novo.
Na época atual, onde todos parecem seguir o deus do consumo, trocar de carro a cada 1-2 anos, e de celular a cada 6-12 meses, parece ser algo não apenas perfeitamente natural, como enormemente incentivado por todo tipo de propaganda... Engraçado que todos enalteçam os benefícios de se estar sempre "atualizado", com um carro zero, um widget "de ponta", e ainda falem em sustentabilidade, em ecologia, em um "mundo verde"...
Ora, tudo o que é consumido deve ser descartado, deve virar lixo. Até aí tudo bem, contanto que o lixo possa ser reciclado, ou que não se avolume tão depressa assim. O nosso problema é, portanto, um modelo econômico que foi planejado para ser o exato oposto da sustentabilidade: é difícil mudar tal paradigma quando as mesmas grandes empresas que ditam a economia mundial, e se dizem favoráveis a sustentabilidade, muitas vezes continuam investindo pesado na prática da obsolência programada.
Por exemplo, a lógica da indústria de computadores é semelhante à das montadoras de carros. Ambas lançam novos produtos para nos fazer descartar os antigos. Essa estratégia foi criada na década de 1920 por Alfred Sloan, então presidente da General Motors. Sloan decidiu seduzir os consumidores para que trocassem de carro com frequência, apelando para a mudança anual de modelos, cores e acessórios. Bill Gates, o fundador da Microsoft, adotou a mesma fórmula nas atualizações do Windows, e o fabricante de chips Intel usa o mesmo procedimento para lançar seus chips. Não é à toa que o livro de cabeceira de Gates é a autobiografia de Sloan.
Você pode achar que isso é perfeitamente comum e corriqueiro, que faz parte da economia industrial e etc. De certa forma, terá total razão, mas a grande questão é que, de tão seduzidos pelas maravilhas das novas tecnologias, muitas vezes esquecemos que elas não são tão "de ponta" assim... Se já são maravilhosas, poderiam ser ainda muito mais, poderiam mesmo durar anos, décadas, e quem sabe até, séculos...
Em Livermore, na Califórnia, um corpo de bombeiros possuí uma lâmpada que está acesa já há mais de um século. Difícil de acreditar? O Cartel Phoebus, fundado em 1924 por empresas como General Eletric, Philips e Osram (todas ainda existentes), determinou que todas as grandes produtoras de lâmpadas elétricas propositadamente reduzissem seu tempo de duração para 1.000 horas. E, até hoje, isso não mudou muito... Você acha que tem mesmo tanta tecnologia em casa? A lâmpada centenária de Livermore talvez lhe faça mudar de paradigma:
Comprar, descartar, comprar. Documentário espanhol (legendado) sobre a história da obsolência programada, com cerca de 52min. de duração.
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