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Eu o Introvertido

"Em uma cultura onde ser sociável e extrovertido é valorizado como nunca, pode ser difícil, até vergonhoso, ser introvertido."


SINTO ISTO NA PELE.


Nunca foi confortável ou divertido qualquer atividade social para mim. É terrivelmente sofrido participar de festas, shows ou "baladas". É REALMENTE desconfortável.

Olho para as pessoas rido e se divertindo e fico pensando "Mas do que eles estão rindo???"; "Mas exatamente o que que é tão divertido???"

Me foge a capacidade de ter prazer nestas ocasiões.

Sou o pior tipo de introvertido.


O que tenta "acompanhar" os demais e sofre.



É como se eu fosse daltônico: Simplesmente não enxergo as "cores" que alegram as pessoas. E finjo ver. Mas sei qeu não enxergo as coisas como as outras pessoas.

Minha felicidade se dá em atividades AVESSAS as estas mais sociais.

Acho que a maior prova de amor que já dei em minha vida foi a festa de casamento para Simone. Sabia que era um desejo antigo e significativo para ela e fiz tudo para ela ter a festa mais linda e "tradicional" que eu pudesse fazer. Foram muitos dias de planejamento e investimento de recursos e suor... MUITA gente ajudou mas foi, basicamente, um trabalho em dupla. E foi bacana elaborar tudo (lugares, igreja, fotos, músicas, convites, cardápios, roupas...) MAS NADA, NADA FOI TÃO DIFÍCIL QUANTO FICAR NA FRENTE DE TODOS. e esta parte só era problema para mim. E um problema "secreto".

 

Foi uma das coisas mais difíceis que já vivi.

Quando eu era uma criança descobri que era um introvertido. Não usava nem conhecia esta palavra, mas conhecia a sensação de ser "deslocado" em atividades públicas. Mesmo as mais, ditas, "naturais". Escola era um verdadeiro martírio. Falar em público, apresentar trabalhos, fazer trabalhinhos em grupo... Tudo era um desafio. Mas sempre fui criativo e razoavelmente inteligente, assim sempre dei um jeito para lidar com isto. Sempre me oferecia para ser o primeiro a apresentar.

Acontecem duas coisas para os que apresentam primeiro: 1º eles sofrem menos em esperar sua vez ~ vale como um conforto se livrar do foco rápido e 2º os primeiro acabam sendo avaliados com mais parcimônia por quem avalia pois não tem muitos parâmetros de comparação... se quem vier depois apresentar um trabalho muito legal vão esquecer de ti se o teu for ruim...  mas não vão diminuir seus méritos se for bom.

Depois descobri um truque que uso já a mais de 20 anos... e ele me ajudou muito:



  • PLANEJE PASSO A PASSO;
  • ENSAIE SOZINHO;
  • ACEITE SUAS LIMITAÇÕES e
  • NÃO ESPERE PERFEIÇÃO.

Descobri que as pessoas (principalmente quem avalia) gostam mais de quem TENTA COM ESFORÇO do que gostam das que CONSEGUEM.

Então quando tenho de fazer algo que envolve "platéia" eu elaboro um roteiro passo a passo, ensaio sozinho e dadas as minhas características eu imagino uma margem de "falha aceitável". Assim quando sou obrigado a apresentar-me em público fica mais fácil.

Uso isto para TUDO. No trabalho, quando tenho de falar ou ajudar alguém a lidar com um equipamento que esta não conhece, tenho um roteiro standard (até com piadinhas) que me ajuda. Na família quando tem uma festinha da qual não consigo escapar, bingo, lá esta o modelo festinha de família, com assuntos (e mais piadinhas) para manter a situação sob controle...

Funciona sempre? NÃO. Mas sem planejamento é pior.


Agora não tem NADA PIOR que você ser um introvertido NEGANDO sua natureza.

Aí é o inferno.

Meu método é um instrumento de ADAPTAÇÃO: "sei que sou assim", Sei que sou um introvertido. Sei que ser introvertido é publicamente inadequado. Ser assim não é uma resposta socialmente aceitável. Então uma saída é  "treinar" respostas úteis para não ser pego desprevenido.

O mundo de hoje AMA os extrovertidos. Dizem que para sermos bem-sucedidos temos que ser ousados, que para sermos felizes temos que ser sociáveis.

A mídia vende a ideia da "eficiência da 
nação de extrovertidos". Se você não for um extrovertido, certamente está criando, gerenciando, namorando ou casado com um. Mas o contrário é verdadeiro também! Se você não for um "INtrovertido", certamente está criando, gerenciando, namorando ou casado com um.

Como diz Susan Cain: 

Faz sentido que tantos introvertidos escondam-se até de si mesmos. Vivemos em um sistema de valores que chamo de "ideal da extroversão" --a crença onipresente de que o ser ideal é gregário, alfa, sente-se confortável sob a luz dos holofotes. O típico extrovertido prefere a ação à contemplação, a tomada de riscos à cautela, a certeza à dúvida. Ele prefere as decisões rápidas, mesmo correndo o risco de estar errado. Ele trabalha bem em equipes e socializa em grupos. 
Gostamos de acreditar que prezamos a individualidade, mas muitas vezes admiramos um determinado tipo de indivíduo --o que fica confortável sendo o centro das atenções. É claro que permitimos que solitários com talento para a tecnologia que criam empresas em garagens tenham a personalidade que quiserem, mas estes são exceções, não a regra, e nossa tolerância estende-se principalmente àqueles que ficaram incrivelmente ricos ou que prometem fazê-lo. 

DECEPÇÃO 
Introversão --com suas companheiras sensibilidade, seriedade e timidez-- é, hoje, um traço de personalidade de segunda classe, classificada em algum lugar entre uma decepção e uma patologia. Introvertidos vivendo sob o ideal da extroversão são como mulheres vivendo em um mundo de homens, desprezadas por um traço que define o que são. A extroversão é um estilo de personalidade extremamente atraente, mas a transformamos em um padrão opressivo que a maioria de nós acha que deve seguir. 
O ideal da extroversão tem sido bem documentado em vários estudos, apesar dessa pesquisa nunca ter sido agrupada sob um único nome. Pessoas loquazes, por exemplo, são avaliadas como mais espertas, mais bonitas, mais interessantes e mais desejáveis como amigas. A velocidade do discurso conta tanto quanto o volume: colocamos aqueles que falam rápido como mais competentes e simpáticas que aqueles que falam devagar. 
A mesma dinâmica aplica-se a grupos, em que pesquisas mostram que os eloquentes são considerados mais inteligentes que os reticentes --apesar de não haver nenhuma correlação entre o dom do falatório e boas ideias. Até a palavra "introvertido" ficou estigmatizada --um estudo informal feito pela psicóloga Laurie Helgoe mostrou que os introvertidos descrevem a própria aparência física com uma linguagem vívida ("olhos verde-azulados", "exótico", "maçãs do rosto salientes"), mas quando se pede para descreverem introvertidos em geral eles delineiam uma imagem insossa e desagradável ("desajeitado", "cores neutras", "problemas de pele"). 
Mas cometemos um erro grave ao abraçar o ideal da extroversão tão inconsequentemente. Algumas das nossas maiores ideias, a arte, as invenções --desde a teoria da evolução até os girassóis de Van Gogh e os computadores pessoais-- vieram de pessoas quietas e cerebrais que sabiam como se comunicar com seu mundo interior e os tesouros que lá seriam encontrados. 
Sem introvertidos, o mundo não teria: a teoria da gravidade; a teoria da relatividade; "O Segundo Advento", de W.B. Yeats; Os "Noturnos" de Chopin; "Em Busca do Tempo Perdido", de Proust; Peter Pan; "1984" e "A Revolução dos Bichos, de George Orwell; "O Gato do Chapéu", do Dr. Seuss; Charlie Brown; "A Lista de Schindler", "E.T." e "Contatos Imediatos de Terceiro Grau", de Steven Spielberg; o Google; Harry Potter.

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